27 de abril de 2010

Comentários sobre Belo Monte

Tenho evitado falar sobre esse tema porque não entendo nada de hidrelétricas. Mas nos últimos dias li bastante coisa sobre e arrisco-me a tecer alguns comentários.

Em primeiro lugar, os principais especialistas em energia do país concordam que o Brasil precisa construir hidrelétricas e que as energias alternativas, como eólica e solar, não têm capacidade para substituir as fontes tradicionais. O que não impede, naturalmente, que o país invista nelas. Se o governo não está fazendo, é um erro.

A maioria das pessoas que pensam a questão da energia no Brasil aprovam a construção de Belo Monte.

O que parece estar incomodando muito setores da mídia é o esforço do governo em oferecer preço baixo aos consumidores. Essa nunca foi uma preocupação relevante nas (raras) obras feitas por tucanos.

O projeto ganhou projeção internacional por conta de uma espécie de contaminação viral internáutica. As pessoas entram no twitter e, em menos de 140 caracteres, "informam" ao mundo que a usina irá destruir a floresta amazônica. Então, say no to #belomonte.

Marina Silva diz que é uma obra muito "cara". Ora, a estimativa do governo é que Belo Monte deve custar algo em torno de 19 bilhões de reais. O "mercado" estima que o valor deva ultrapassar 30 bilhões.

Você acha caro, Marina? Pois eu lhe recordo que, segundo o Tribunal de Contas da União, o "apagão" de Fernando Henrique Cardoso, causou um prejuízo de 45 bilhões de reais ao Brasil.

Com uma diferença singela. Os 19 ou 30 bilhões de Belo Monte serão gastos em geração de empregos. Os 45 bilhões do apagão tucano apenas serviram para ampliar o desemprego e a pobreza.

Eu defendo a natureza, claro. Não sou ecoxiita, mas também não sou nenhum estúpido anti-ambiental como esses engraçadinhos da ultradireita. Se me provarem que Belo Monte representa um desastre ambiental, então ficarei contra.

Mas ninguém me provou isso.

Hidrelétricas, todavia, sempre implicam em algum custo ambiental. A de Itaipu, por exemplo, inundou as famosas Sete Quedas, uma das maiores maravilhas do mundo. Dói pensar nisso. A de Belo Monte, ao que me consta, inundará uma área pequena, que já se inunda naturalmente em época de cheia. O dano à floresta será praticamente zero, porque a área devastada será insignificante e o projeto incorporou inúmeros cuidados ambientais que o país nunca teve em hidrelétricas anteriores. É claro, porém, que haverá algum custo. Mas é inevitável. Nenhuma hidrelétrica do mundo, e ainda mais do porte da que será feita, jamais foi construída sem beliscar a natureza.

Um trecho do artigo de Marina:

Surpreendem também as condições à disposição dos interessados em comercializar a energia gerada pelo rio Xingu. Tem-se R$ 13,5 bilhões em crédito subsidiado pelo BNDES, com prazo de 30 anos para pagamento, a juros de 4% ao ano.

Isenção de impostos sobre os lucros, o comprometimento do capital de empresas estatais e de fundos de pensão e, de quebra, o absurdo comprometimento de licenciamento ambiental com prazo preestabelecido para a obra começar já em setembro.

Mesmo assim, as duas empresas privadas que melhor conheciam o projeto não participaram do leilão.

Preferem a posição de contratadas aos de investidoras, enquanto outras, vitoriosas, ameaçam desistir dos benefícios aparentemente irrecusáveis. Imaginem se todas essas condições excepcionais fossem para melhorias da eficiência do sistema elétrico e para redução da demanda por energia?

Marina prefere omitir que a saída dessas empresas deveu-se à exigência do governo de que oferecessem preços baixos, forçando-as, portanto, a uma lucratividade reduzida. Também omitiu que o consórcio vencedor inclui a Eletrobrás, que desde o início participou dos estudos de Belo Monte. Também não diz que as empresas perdedoras devem participar da construção da usina.

A senadora igualmente finge ignorar o fator urgência. Adiar por mais um ou dois anos a construção de uma usina importante irá restringir o crescimento brasileiro. Quem pagará, como sempre, é o pobrinho da periferia.

Quanto ao uso da verba em conservação, manutenção e melhora de eficiência, nada impede que o governo disponibilize recursos para isso. Como senadora, ela deveria propor projetos de lei nesse sentido; e não só propor, mas articular politicamente para aprová-los. Queria ver Marina Silva pôr de lado seu purismo e pedir votos a Fernando Collor e Sarney para aprovar seus projetos ambientais. Como não articula, não aprova nada. SUA pureza continua intacta, mas Gaia continua sendo violentada.

Por outro lado, seria interessante que os críticos de Belo Monte, a começar pela senhora Marina Silva, oferecessem uma alternativa viável e que apresentassem estudos sérios e incontestáveis. Que fizessem alarde dessas alternativas, e que, reitero, se articulassem politicamente para torná-los realidade. Taí, este seria um bom exercício para uma oposição que periga se tornar inútil.

O artigo da senadora termina assim:

Definitivamente precisamos expandir a oferta de energia, mas não necessitamos, para isso, manter a cultura do desperdício e comprometer o patrimônio ambiental e os recursos do país, quando temos alternativas de geração.

Marina está certa quando afirma que o governo deve reduzir o desperdício. Ponto para ela, mas isso é óbvio. E quais alternativas? Ela não diz, claro, porque os especialistas em energia no Brasil e no mundo sabem que nenhuma usina de energia eólica ou solar pode substituir uma hidrelétrica em termos de quantidade e custo da energia gerada. E uma coisa não exclui a outra. Que se invistam em alternativas TAMBÉM.

Belo Monte, aliás, é só o começo. O Brasil terá que construir várias novas hidrelétricas. É o preço do desenvolvimento. Em todas, haverá o dilema ambiental, que deve ser enfrentado com inteligência e pragmatismo.

Está me parecendo que o debate em torno de Belo Monte foi contaminado pelo clima eleitoral. A mídia de oposição, como de praxe, é contra porque o governo é a favor.

De qualquer forma, acho que o governo cometeu vários erros no processo. Poderia tê-lo transformado num debate em torno das energias alternativas. Mas é sempre fácil a gente criticar, do conforto de uma lanhouse, a ação das autoridades. Ainda mais se tratando de erros políticos ou de relações públicas.

O que importa é que Belo Monte é necessária, porque o Brasil precisa urgentemente de novas hidrelétricas e este é o projeto mais maduro. Os erros políticos podem ser consertados depois.

10 comentarios

Galvão disse...

Se depender da Marina logo, logo estaremos comendo capim e usando o Fifó como luminária.

Patrick disse...

Caro Miguel, Tucuruí foi construída, com todo o impacto que gerou, para atender a indústria do alumínio em Belém. A do alumínio é uma indústria que é uma das maiores consumidoras de energia do mundo. Desloca-se ao redor do mundo procurando energia barata. E, cá pra nós, gera muito pouco emprego em proporção aos recursos que nós como sociedade empregamos na construção da hidrelétrica de Tucuruí. Ok, o governo Lula é contemporizador e não pretende modificar contratos (cobrar energia a preço de mercado dessas indústrias). Mas devemos ter a perfeita noção de quanto essas empresas nos custam.

Walter disse...

Bem, temos um sistema econômico social implantado no Brasil, e a Usina de Belo Monte está inserida neste contexto.
Também não elegemos um governo revolucionário, como foi eleito na Bolívia ou na Venezuela.
Assim queria o que, um projeto revolucionário na sua concepção??? Nada mais sem sentido.
É um projeto de perfil conservador como é o atual governo eleito democraticamente.
É questionável? Claro, aliás qualquer projeto é. Já estamos questionando a 30 anos, então, temos várias opções, ficamos questionando por mais trinta (opção Serra), abandonamos (opção Marina) ou construímos.
Aliás foi um projeto super conciliatório, nunca se teve tanto estudo e compensação ambiental e social em outro projeto de hidrelétrica.
Energia elétrica abundante é essencial para o desenvolvimento, e a melhor opção entre custo e benefício é a hidrelétrica.
Impacto ambiental, criar um lago? Que que é isto, o lago é uma dádiva para fazer a regulação hídrica do rio, melhor administrando cheias e secas, maior produtividade de geração.
Ainda se fossem dejetos radioativos tóxicos, vá lá, mas um lago de água? Algo que existe na natureza, no mundo inteiro.
Só por que é artificial? Quer dizer que se tivesse um terremoto e formasse um lago no lugar, teríamos que processar a mãe terra pelos impactos ambientais?

Miguel do Rosário disse...

Oi Patrick, mas Belo Monte não será gerador apenas para indústria de alumínio. Será para gerar energia, além de indústrias, para milhões de pessoas, estou certo?

Unknown disse...

Para mim, é curioso não só que se ataque uma alternativa de geração de eletricidade das mais limpas e renováveis, mas que se afirme que, em vez de Belo Monte, se deveria simplesmente investir em geração eólica. Por acaso aqueles que o afirmam desconhecem o fato de o parque eólico brasileiro ter crescido à taxa de dois dígitos na última década, partindo praticamente do zero em 2003 para mais de 600 MW instalados no ano passado, com dezenas de projetos em construção? Será que desconhecem o PROINFA, ou apenas acham conveniente ignorá-lo?

Lino disse...

Belo Monte, uma vergonha!
Dizem os “especialistas” que o custo da usina de Belo Monte poderá chegar ao “absurdo” de R$ 30 bi, pouco mais de 50% da arrecadação de março/2010 que foi de R$ 59 bi.
É como se criticassem um pai de família por gastar 50% do salário de um determinado mês para instalar energia elétrica na sua casa para conforto de sua família.
Dizem os “especialistas” que será alagada uma “enorme” área de 516 km², algo em torno de 0,001% da área da Amazônia Legal onde vivem 23 milhões (12% da população) de brasileiros dos quais 250 mil são índios (0,13% da população).
É como se criticassem um pai de família por desalojar um formigueiro ao construir um poço no seu terreno para suprir sua família com água potável.
Sabe onde vão parar os recursos gastos na construção da usina? De volta para a iniciativa privada. De volta para a economia. Muito diferente de outros tempos em que os recursos arrecadados iam direto para os banqueiros internacionais.
Sabe para onde vão as pessoas afetadas pelo alagamento da região. Elas vão um pouco mais para lá ou um pouco mais para cá. Existem mais alguns milhares de km² ao redor da região alagada completamente desocupados. Talvez esses movimentos de pessoas e a atração de novas pessoas em busca de emprego na usina possam melhorar o índice de ocupação da Amazônia por brasileiros e não por “missionários” estrangeiros.
Dizem os “especialistas” que “nunca antes neste país” o governo arrecadou tanto, “tomou” tanto dinheiro da sociedade. Afirmam que a arrecadação federal aumentou 11% em termos reais em 2009. Eles só não explicam porque o governo arrecadou tanto sem aumentar alíquotas de impostos, sem CPMF, com isenções de IPI para diversos setores, com as tão criticadas renúncias fiscais. Como? Ponham o Teco para ajudar o Tico ou deixem de ser desonestos.
Mas torçam porque o Serra, em discurso em Minas Gerais, disse que se eleito vai acabar com essa farra. Vai acabar com essa pretensão desse povo tupiniquim querer ser o dono de seu destino. De querer ser autônomo. De querer ocupar um patrimônio do mundo que é a Amazônia.
Definitivamente essa discussão não pode ser séria.


http://3.ly/sTUi

Unknown disse...

Qual a alternativa para se gerar energia mais limpa para Região Norte? Onde instalariam os cataventos ou coletores solares, no topo das árvores?

Unknown disse...

Dr. Antonio Carlos e um Heroi!!

Felizmente nao moro no Brasil...dos corruptos... e infelizmente nao tenho o pode que o joiz federal Antonio Carlos de Almeida tem .Sao pessoas como ele que me fazem acreditar novamente no Brasil.
O Brasil esta virando uma ditadura , so gente ignorante e que nao consegue enxergar isso.
O governo brasileiro e uma vergonha!
Ja viajei pelos quatro cantos do mondo e nunca vi um governo tao insano.

Por favor povo brasileiro...tomem uma atitude, visto que a construcao desta usina nao e nada mais do que uma forma de pessoas corruptas ganharem milhoes e bilhoes...e mandarem para a os paraísos fiscais...o seu dinheiro... já rodeio o mundo e estou certo disso. o mundo precisa da conservacao da floresta amazonica e nao o que este governo imaturo e ladrao esta fazendo.

Vamos cair na real e deixar que os populistas façam lavagem cerebral na gente...sempre dando o peixe e não ensinando a pescar... ai ficamos dependentes... e tempos que votar neles ?? o que o Brasil já inventou ??? Japão cabe varias vezes no brazil...ja foi destruído uma vez...e por muito tempo e mais poderoso do que o Brasil... e nos?? Somente sugando da natureza e nos achando...quanta ignorância.
TA PASSANDO DA HORA DO BRASIL CAIR NA REAL !!

Dr. Antonio , estou com vc!!!! O admiro muito!! Não se deixe corromper! Vamos todos morrer , o que vale e pelo que lutamos

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Bom dia!

Estou chegando a este artigo através de um link que uma participante indicou no meu blogue, ao postar nos comentários do artigo de minha autoria "Nós temos o direito de construir a usina de Belo Monte?". Então, gostaria de compartilhar aqui a réplica que havia postado também lá, referindo-se a este texto.


"(...) seria interessante que os críticos de Belo Monte, a começar pela senhora Marina Silva, oferecessem uma alternativa viável e que apresentassem estudos sérios e incontestáveis (...)"

Realmente nós ambientalistas temos a tendência de sermos do contra e não oferecermos uma alternativa. Queremos impedir as hidrelétricas, mas também consumimos energia (neste momento, ao escrever estes comentários, o meu computador e a minha geladeira estão ligados além de que muitos bens que eu utilizo necessitaram do uso da energia para serem transformados). Só que a nossa cultura energívora está destruindo o planeta e isto é fato.

Assim, eu tô com a Marina quando ela fala sobre conter o desperdício e aí não se trata de debatermos restritamente acerca de custos de construções ou de prejuízos referentes aos apagões, bem como das cifras de 19, 30 ou 45 bilhões. Pois se trata-se de uma condição de sobrevivência que a natureza hoje nos impõe, visto que a humanidade já está excedendo os limites da sustentabilidade do planeta e que pode causar danos imensuráveis à vida.

Obviamente que não me preocupo apenas com uma Belo Monte, mas sim com várias condutas como esta usina e com o modelo de desenvolvimento que, décadas depois dos militares, ainda continua sendo o mesmo. Pois seguimos a mesma linha de crescimento predatório, desperdiçando energia, dispersando-nos equivocadamente pelo espaço geográfico sem planejamento.

Pergunto: quanto que Belo Monte poderá fornecer de energia para a indústria no Sudeste? Veja, não me refiro à geração na fonte, mas sim para o consumidor.

Neste sentido, fico a indagar se não sairia mais barato e proveitoso contruirmos usinas menores aqui pelo Centro-Sul do país e que terão impactos menores.

Também fico pensando se não seria mais inteligente o governo incentivar a expansão de atividades industriais para determiandas áreas onde já existe geração em abundância de energia. Pois, já que existe Itaipu (outra obra infeliz), então por que as fábricas não passam a se instalar no oeste paranaense?

Enfim, podemos obter mais energia a partir daquilo que já temos e, desta forma, evitarmos a construção de Belo Monte e de tantas outras hidrelétricas de grande porte que vêm por aí.

Olha, acho que a Marina está com a razão...

Gabriela Rodrigues da Silva disse...

Pessoal, eu e meus amigos da escola também fizemos um trabalho em forma de vídeo falando sobre a Hidrelétrica de Belo Monte e a Transposição do Rio São Francisco, acista lá...bjos e obrigado!
http://www.youtube.com/watch?v=i_S0hcjdEFU

Postar um comentário