3 de abril de 2010

Para baixo dos umbrais!

(Francis Picabia)

Cuidado, amigos! Corram para baixo dos umbrais das portas. Saiam dos edifícios altos. Afastem-se das praias. Um terremoto e um tsunami chegam ao Brasil neste domingo. Nosso ex-presidente mais amado de todos os tempos, aquele que detêm a maior popularidade e que todos os políticos querem em seu palanque, publica um estrondoso e profundo artigo.

Não, não, admito. Esse é melhor que os outros. Pelo menos não vem com papo de "bons costumes". FHC deve ter melhorado a qualidade de seus baseados. Aliás, ele e Gabeira devem estar fumando vários juntos. Gabeira, depois de ser a estrela máxima no evento regional do DEM no Rio de Janeiro, onde rasgou elogios a César Maia, agora mudou de idéia e não quer mais ser visto passeando de mãos dadas com o ex-prefeito.

Trata-se, falando sério, de um artigo fortíssimo. FHC diz que Dilma transformará o Brasil numa nova China.

Bem, considerando que a China cresce mais de 15% ao ano e deve se tornar a economia número 1 do mundo em menos de 20 anos, creio que os prognósticos de FHC, longe de serem sinistros, provam que estamos no caminho certo.

A íntegra do artigo está aqui, no site da Zero Hora. É engraçado que o PSDB tente esconder FHC, mas a imprensa o mantenha sempre sob os holofotes.

Desta vez, porém, poupar-vos-ei e deixo aqui somente um trecho:

Há quem acredite que certo autoritarismo burocrático com poder econômico-financeiro pode favorecer o crescimento econômico. A China está aí para demonstrar que isso é possível. Mas é isso o que queremos para nós?

Entendo que amanhã haverá um terremoto político por conta desse artigo, e quero, desde já, oferecer um pouco de água potável e comida. O tal autoritarismo burocrático de que fala FHC nada mais é do que o Estado de Direito democrático. Ou não? Desde que a Justiça funcione com independência. Que o Legislativo funcione com independência. E os governantes evitem gracinhas como a realizada por Dom Fernando, como mudar as regras eleitorais com jogo andando (e sem consulta popular, como fizeram Chávez e Morales). Desde que assim seja, as críticas feitas por FHC são lamentavelmente antidemocráticas, porque deixam o campo das idéias para lançar suspeitas sobre o "caráter" do adversário. Ofuscam o debate político para cair num moralismo vulgar e hipócrita, ou então nesse macartismo forçado, nesse velho discurso do medo. O tucano procura vender à opinião pública uma teoria de botequim.

Mais um trecho:

A tendência que vem marcando os últimos 18 meses do atual governo nos levará, pouco a pouco, para um modelo de sociedade que se baseia na predominância de uma forma de capitalismo na qual governo e algumas grandes corporações, especialmente públicas, unem-se sob a tutela de uma burocracia permeada por interesses corporativos e partidários.

E para qual espécie de capitalismo os tucanos querem nos levar? Para uma sociedade dominada por conglomerados estrangeiros decadentes? Os tucanos são tão coerentes que venderam empresas públicas brasileiras para estatais da Espanha e Portugal. Para um capitalismo onde nossas plataformas serão construídas em Cingapura, em vez de o serem no Brasil? Um capitalismo onde seremos dependentes da performance da economia americana e européia, ao invés de ampliarmos a gama de parceiros comerciais e diluirmos os riscos?

Que mundinho cor de rosa os tucanos nos oferecem?

Este ano se prevê a criação de 2 milhões de empregos formais no Brasil. O salário minimo cresceu substancialmente. Até a aposentadoria de quem ganha mais de um salário registrará alta acima da inflação. O brasileiro está menos pobre e mais orgulhoso. FHC, porém, acredita que o sucesso da democracia brasileira deve ser medido pelo bom humor em restaurantes do Morumbi. Ele é subserviente à ideologia egoísta, corporativa, interessada, que emana de meia dúzia de redações do Rio, São Paulo e Porto Alegre. Sua concepção de democracia é fria, uma figura jurídica morta, sem espírito, sem justiça, sem solidariedade. E agora tenta confundir as pessoas com argumentos embolorados e suspeitas vagas, um emaranhado pseudo-acadêmico que visa reunir num mesmo feixe todas paranóias medíocres dos segmentos mais conservadores e, com isso, "unir" as oposições. Felizmente, o papinho fernandista não cola mais entre os brasileiros. As pessoas aprenderam a valorizar coisas mais palpáveis, como dados de geração de emprego e melhora das condições econômicas.  Os tucanos falam sempre em contas públicas, mas foram eles que estouraram a caixa, queimando nossas reservas, aumentando a dívida pública, interna e externa, vulnerabilizando o país. Falam sempre em aumento da carga tributária, mas foram eles que a elevaram da maneira mais brutal, e de uma forma tremendamente elitista, sobrecarregando a folha salarial e a classe média, em vez de focar nas grandes fortunas e nas instituições financeiras.

5 comentarios

ziulsorrab disse...

Cada coisa se encaixa. Quem é o dono da Zero Hora senão o ex presidente da ANJ da família Sirotsky, a mesma agora presidida pela Judith que disse ser da imprensa o papel da oposição quando esta está fragilizada. Então são esses os valores que a oposição veicula?

Julio Cezar Cruzeta disse...

Dilma vai nos transformar numa "nova China"??? rsss;

Uai, mas isso é bom dimais, sô, rsss;

Quer dizer que vamos começar a "crescer" a módica taxa de 10 % aa.

Putz, dá uma vontade de mandar esse "BHC" pra pqp.

H. Pires disse...

Com quem será que o ex-fhc estaria falando: "... mas é isso que queremos pra nós..."? Só pode ser com alguma "amante"(como no passado) jornalista da globo. O ex-fhc, se sabe tanto, qual o motivo de não dividir o palanque do ze serra? Seu ex-fhc, não se acovarde, suba no palanque do serra. Caso v.sa. não fique ao lado do serra, em todos os eventos de campanha que este apareça, voces dois serão encarados como COVARDES. Ex-fhc, use sua "imensa" popularidade pra ajudar seu candidato, o serra. O sr. sabe tudo ex-fhc. O sr. é o máximo ex-fhc. O sr. é o mais inteligente e culto dos inteligentes e cultos do mundo todo ex-fhc. Suba no palanque do serra ex-fhc, não queira ser reconhecido como COVARDE.

Karla disse...

Poupar-vos-ei, Miguel... Poupar-vos-ei!

Miguel do Rosário disse...

Obrigado, Karla. Já consertei. Uf, essa língua portuguesa cansa às vezes.

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