28 de junho de 2010

A colossal besteira de Serra sobre o BC chileno

Continuando meu passeio pelos jornais, topo com mais um tucano chorando pelos cantos. Em artigo para o Estadão, Marcelo Paiva Abreu, nos diz o que já sabíamos: Serra enfiou-se num limbo eleitoral psicodélico que não agrada ninguém. Odiado por movimentos sociais e sindicatos, em função da truculência implacável com que trata qualquer tímido protesto. Temido por jornalistas comuns, pela forma deselegante e sectária com que reage à qualquer pergunta ou posicionamento crítico. Restaria a Serra o apoio dos liberais; eis que o tucano se revela, contudo, um intervencionista destemperado e, o pior de tudo, ignorante.

Em sua entrevista no Roda Viva, perguntado sobre como seria sua política para o BC, Serra falou uma besteira colossal, e que agora está sendo exibida, nua, em toda a parte.

Querendo se referir a um Banco Central onde o ministro da Fazenda (e portanto o presidente da república) teria mais influência, ele citou o caso chileno. De fato, por lá, o ministro da Fazenda participa das reuniões do BC. Mas não tem voto, e isso é um dado fundamental. Ele pode olhar, mas não pode tocar. Além disso, o BC chileno tem autonomia garantida pela Constituição.

Citando o chorão:

Mas quase tudo o que se sabe sobre o arranjo institucional chileno contraria as afirmações do candidato. O ministro da Fazenda do Chile de fato tem voz, mas não voto, em tais reuniões. Além disso, os diretores do Banco Central do Chile têm mandato fixo e a definição das metas inflacionárias e da política cambial cabe ao próprio banco.

Tudo leva a crer que o tucano protagonizaria intervenções estúpidas na economia, decididas solitariamente. Cada vez eu me convenço mais que o tal "preparo" de Serra para governar é uma ficção inverossímil. Ele não sabe articular, tem uma visão autoritária, truculenta e ignorante de política econômica; não possui sensibilidade social; é sectário demais para dialogar com movimentos sociais e sindicatos.

Serra é um blogueiro da Veja frustrado. Talvez ainda haja tempo de sê-lo. Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e José Serra constituiriam um poderoso trio de blogueiros políticos; tão poderoso que poderia, com algum esforço, derrubar o presidente... da Bolívia.

2 comentarios

Vera Pereira disse...

Xii, se até o Marcelo Paiva Abreu, conservador e elitista como ele só, escreveu isso, que me parece ser uma forma pública de declarar "não me comprometa", imagino os outros economistas da mesma geração e formação liberal (na economia)ligados à PUC, USP, FGV-SP e similares. Babau!!

thor disse...

Miguel,

Descobri o blog a pouco e gosto muito. Parabéns.

Mas olhe, estamos todo no mesmo barco, e temos as mesmas preferências em tempos de guerra. Agora, não podemos ser partisans incondicionais. Adorei saber que o Serra foi ignorante sobre o Chile nessa questão e que não tem uma visão articulada sobre sua maior especialidade.

Mas tenho certeza que é coerente com as suas ideias progressistas e democráticas que o banco central é um poder delegado e deve estar sujeito aos mecanismos de controle do povo. Estou (argh) com Serra nessa questão, e tenho certeza que Dilma pensa igual, embora não possa dize-lo. Essa foi sem dúvida a maior falha do governo Lula e o único ponto de valor na retórica serrista.

PS: Para um aprofundamento, se interessa, e para depois das eleições com certeza, recomendo um livro de vulgarização Galbraith que se chama Moeda: de onde veio para onde foi. Ali ele explica os mecanismos pelo qual o conservadorismo e o privatismo se infiltram nas politicas financeiras do estado como ninguém.

Abraço

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