28 de junho de 2010

Lágrimas, lapsos & ultimatos

O pior a fazer, por parte da campanha de Dilma, é achar que a partida está ganha. Por outro lado, a oposição, ao que parece, não tem o mesmo cuidado em exibir seu derrotismo precoce. O triunfalismo que os tucanos e seus amigos na mídia exibiam até pouco tempo atrás, quando as matérias começavam todas com "Serra, que lidera isolado as pesquisas", esfumaçou-se bruscamente. A choradeira é alta. Nesta segunda-feira, mal comecei a ler os jornais, já topei com dois colunistas se debulhando em lágrimas, Sardenberg e Noblat.

Noblat é cruel a ponto de dizer que Serra é um Dunga - novo inimigo da Globo - piorado, e abre sua coluna citando a declaração definitiva de Rodrigo Maia sobre a iminente derrota de Serra.



*

Ciro Gomes, curado da picada da mosca azul, dá seus primeiros passos como defensor de Dilma Rousseff.

Resignado, Ciro pede votos para petista no Ceará

Carmen Pompeu

O deputado Ciro Gomes (PSB) fez, ontem, em Fortaleza, seus primeiros pronunciamentos públicos desde que teve rifada a sua candidatura a presidente da República. Em duas oportunidades, ele pediu votos para a petista Dilma Rousseff. A primeira delas aconteceu na convenção do PDT cearense. A segunda, durante a convenção estadual do PSB, onde o irmão dele, o governador do Ceará, Cid Gomes, deu ponta-pé inicial na disputa pela reeleição. Na ocasião, Ciro afirmou também que a decisão de não levar a candidatura dele adiante foi feita por quem queria o melhor para o Brasil e para o povo. (Do Estadão)

*



Vocês conhecem minha opinião sobre Serra. Eu quero mais que ele se lasque. Mesmo assim, meu lado cientista político está perplexo, quase lamentando, a incompetência do tucano. Porque o jogo está perdendo a graça. É como se Maradona, Messi e Tevez sofressem um acidente de carro na véspera da final contra o Brasil, que os impossibilitassem de jogar. Esse tipo de coisa tira o sabor da vitória. Felizmente, não estamos falando de futebol. A vitória de Dilma, mesmo contra um adversário fraco, será necessariamente um fato grandioso, um marco histórico, porque significará uma incontestável goleada sobre uma mídia reacionária e golpista.

Como é possível que Serra tenha sido tão estúpido a ponto de escolher o seu vice sem o aval de seu principal aliado? A sua fé no poder da mídia atingiu as raias da loucura, é a única explicação. Ele acreditava que o anúncio, através da imprensa, transformaria a decisão num ato consumado. Todos os colunistas louvariam-lhe a sabedoria, as manchetes seriam favoráveis e com isso todas as lideranças partidárias insatisfeitas iriam baixar a cabeça.

Roberto Freire, que lembra cada vez mais o mordomo submisso do filme Crepúsculo dos Deuses, afirmou que Serra "não aceitará pressão". O que achei uma excelente descrição da personalidade política de Serra. Acredito que Napoleão também não aceitava pressões. Vinte mil professores protestam na porta de seu palácio? Não aceita pressão. Estudantes e professores páram a maior universidade do país? Não aceita pressão. Policiais civis fazem greve? Não aceita pressão. E dá-lhe porrada em todo mundo, nos professores, nos policiais e nos aliados políticos.

A campanha de Serra, que já não ia bem das pernas, parece ter se desarticulado completamente. Se recuar da decisão de indicar Álvaro Dias, terá exibido um ridículo show de incompetência, hesitação e debilidade. Quanto ao DEM, é um partido traído, humilhado, quiçá vingativo. Se o DEM recuar, mostrará fraqueza, se romper com o PSDB, implodirá a oposição ao governo Lula. É uma verdadeira sinuca de bico.

É patético que o PSDB use a desculpa do "mensalão de Brasília" para justificar sua deslealdade para com o DEM, visto que os tucanos tem seu próprio mensalão, em Minas, e Serra tem se exibido ao lado de Quércia e Roberto Jefferson, nomes com péssima imagem junto à opinião pública.

*

Na avaliação de Cesar Maia, segundo relatos, a eleição foi perdida no momento em que o candidato escolhido foi Serra, e não o ex-governador Aécio Neves.

(Do Globo)

*

Interessantíssimo esse artigo de Wanderley de Souza sobre o progresso científico do Irã nos últimos anos. Muda completamente o foco da questão iraniana. Segundo Souza, os persas estão realizando uma verdadeira revolução doméstica em termos de pesquisas biomédicas, nanotecnologia, e campos afins, ultrapassando rapidamente centros mundiais importantes como Rússia, Hong Kong, Israel e o próprio Brasil. São dados muito importantes para compreendermos a realidade política do Irã e sairmos do tatibitati preconceituoso que trata o país como um pária desprezível e atrasado, uma nação de fanáticos e loucos. Não é assim. É um dos países que mais tem evoluído cientificamente no mundo, o que torna as sanções contra ele ainda mais injustas e prejudiciais para toda a comunidade científica internacional.

Confiram um trecho:

Os dados em duas áreas estratégicas, a área biomédica e a nanotecnologia, são indicadores do estágio atual. Estudo publicado em dezembro último no "Clinical Trial Magnifier" aponta o Irã como o país onde ocorrem as taxas mais elevadas de crescimento da produção biomédica mundial, tendo crescido cerca de 25 vezes apenas nos últimos dez anos. Na área biomédica tem publicado mais artigos que Hong Kong, Nova Zelândia, Cingapura e a Rússia. Neste mesmo período o número de instituições de pesquisa iranianas na área biomédica aumentou de quatro para sessenta e quatro, o que explica o vigor do crescimento das ciências biomédicas no país. Cabe lembrar que esta é uma área que incorpora a moderna biotecnologia e suas aplicações em vários campos.

Na estratégica área da nanotecnologia, que vem produzindo uma revolução em vários setores industriais, a presença do Irã também é marcante. Em 2003, o Irã ocupava a qüinquagésima primeira posição na produção de conhecimentos nesta área. Neste mesmo ano Brasil, Israel e Turquia ocupavam a décima nona, a vigésima primeira e a trigésima quarta posições. Em 2009, o Irã já atingiu a décima quinta posição, enquanto os demais países ocuparam a décima nona, a vigésima terceira e a vigésima quarta posições, respectivamente.

*

Lapsos tucanos

Abaixo, três notícias (do Globo) que nem precisam ser comentadas. Repare nos trechos em negrito:
  1. Apesar da defesa enfática de Serra na entrevista, o nome do presidenciável não teve muito espaço na festa dos tucanos mineiros. Ele foi citado só uma vez nos discursos de Anastasia e Aécio. Os dois preferiram focar os discursos na campanha estadual, na qual enfrentarão a chapa composta pelo senador Hélio Costa (PMDB).
  2. Em Porto Alegre, numa convenção marcada pela ausência de Serra e de caciques nacionais do partido, o PSDB gaúcho lançou ontem a candidatura à reeleição da governadora Yeda Crusius. Duas grandes faixas com as fotos de Yeda e Serra foram as únicas referências no evento à corrida presidencial, já que a tucana não citou Serra em cerca de meia hora de discurso. Questionada sobre a razão de não tê-lo mencionado, Yeda disse que foi "um lapso".
  3. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) esqueceu de citar o candidato tucano à Presidência, José Serra, ao discursar neste sábado, por 23 minutos, na convenção do partido, que lançou, em Fortaleza, a candidatura do deputado estadual Marcos Cals ao governo do estado.

1 comentário

Anônimo disse...

E ninguém cala esse chororô!!!

Postar um comentário