6 de junho de 2010

A política abstrata e a arte concreta

Pois é, o Lanzetta caiu. A mídia provou que ainda sabe morder. E nós, analistas políticos, enveredamo-nos na crítica pós-moderna. O tal escândalo do dossiê semelha uma tela em branco, com um fio de cabelo pendurado no meio. O que significa? Diante do vazio, exercita-se a imaginação. Usa-se verbos na condicional. O adjetivo "suposto" ganha contornos neo-concretistas. Tudo é válido. O importante é produzir uma bienal de cem milhões de euros e debilitar, de alguma forma, o adversário.

Observem a imagem  abaixo.


Ops, errei! Eu queria mostrar essa:


Quer dizer, é essa! A manchete principal do Globo deste domingo:



As explicações mais plausíveis para a saída intempestiva de Lanzetta, para mim, são:

  1. Em primeiro lugar, a fornecida pelo próprio: desejo de se defender de uma calúnia sem estar preso a compromissos partidários ou eleitorais.
  2. Revolta contra alguma deslealdade interna, do próprio PT. Provavelmente da facção paulista. É insuportável trabalhar num ambiente no qual há desconfiança em relação a pessoas com as quais você é obrigado a conviver. 
  3. Desgaste natural do jornalista, em virtude das relações pessoais entre ele, sua empresa, e outros membros da campanha. 
  4. Desentendimentos profissionais, por causa de questões financeiras ou mesmo na orientação do trabalho.
  5. Incompatibilidade psicológica. Parece besteira mas esse é o elemento mais importante. É onde a mídia consegue ferir mais fundo. Lembro do Genoíno falando que nunca fora tão torturado quanto em 2005, durante os desdobramentos do escândalo do mensalão. É preciso não apenas ter nervos de aço, mas uma saúde de ferro. Se políticos cascudos como Genoíno, acostumadas à luta em campo aberto, mostram-se tão vulneráveis diante do trator midiático, que dirá profissionais da imprensa de personalidade reservada. O sujeito sente-se incapaz de continuar trabalhando normalmente. Depressão, ansiedade, insônia, alcoolismo, todos os problemas latentes de uma pessoa explodem em momentos assim. Isso explicaria também o nervosismo de Lanzetta, após receber o milésimo telefonema de jornalistas perguntando as mesmas coisas e com as mesmas malignas intenções.
  6. Incompatibilidade política. Lanzetta era o coordenador de imprensa da campanha de Dilma. Sua figura não pode ser alguém marcado como gerador de conflitos, mesmo que tudo não passe de factóides. À mulher de César não basta ser pura, há que parecê-lo. Essa é a grande arma da imprensa serrista, o seu descompromisso total com a verdade e a ética, aliado a seu poder de difamar as pessoas.
  7. Lula fez uma ligação e mandou dar um fim na história, mesmo cortando na própria carne. 

E que conclusões podemos tirar deste caso? Várias. Em primeiro lugar, que não se deve subestimar o poderio da imprensa. Ele pode ter declinado muito nos últimos anos, mas sempre é mais prudente não subestimar o adversário. A estratégia da Veja, desde alguns meses, era desestruturar a comunicação de Dilma Rousseff. Conseguiu. A demissão de Lanzetta, da forma como foi feita, é uma derrota. A semana, que começaria com as notícias grandiosas sobre o favoritismo eleitoral de Dilma na pesquisa Ibope, inaugura-se com o pendurar de chuteiras do coordenador da área de comunicação da campanha petista. Lamentável.

*

Não sei se vocês perceberam, mas houve talvez uma grande armação. Muito parecida com a que resultou no escândalo dos aloprados em 2006. A diferença é que, desta vez, não houve aloprados. Lanzetta e os petistas recusaram a oferta do araponga. O que era para ser, contudo, uma prova de integridade por parte da campanha petista, converteu-se em sensacionalismo de oposição. O tal Onésimo de Souza, o araponga, é ligado a Marcelo Itagiba e José Serra. O golpe consistia em oferecer os serviços de espionagem ilegal para a campanha de Dilma, esperar que estes fossem aceitos; na hora do pagamento, tudo explodiria num escândalo de proporções ciclópicas, matando a candidatura de Dilma Rousseff. A própria reação de Serra, culpando Dilma sem provas, mostra que a intenção era mesmo essa: culpar a petista e golpeá-la politicamente.

6 comentarios

reginaldo gadelha disse...

Miguel, sua tese é como vc diz: "uma tela branca com um fio de cabelo no meio" Melhor dizendo, não quer dizer nada, são só seus pensamentos. Que não quer dizer muita coisa.
Vc "tirou" essas conclusões de onde ? De sua bola de cristal ou leu na cartas?
Quanta besteira para defender um crime.
O "X" da questão é que os petralhas tentaram espionar o comitê do Serra e se deram mal. Mas isso não é novidade, sendo a dilma quem é e de onde ela veio, tudo é possível.
A questão é, os petralhas já tentaram fazer isso e se foderam, tentaram novamente e novamente se foderam. Miguel, vc não se cansa de defender o indefensável ?
Essa gente não aprende.

Miguel do Rosário disse...

Tentaram não. Não fizeram.

Ulisses disse...

É, mas tem ainda o livro do Amaury Ribeiro Jr e sua entrevista ao Nassif! Isto é só a ponta do iceberg!

Aldo disse...

É, quando até o Globope mostra que o Serra está indo ladeira abaixo, os tucanos entram em desespero. Vide o nosso colega comentarista Reginaldo Gadelha...
PS. Reginaldo, por favor não use a palavra f******* nos comentários.

Aldo

reginaldo gadelha disse...

Aos Ulisses.

Que livro, qual livro, onde encontro esse livro ?
O que tenho ouvido são ilações, conversas, fofocas, um diz que diz sem limites.
O Amaury já declarou que escreveu o tal livro ?
Ontem estive com uns amigos petralhas que falavam a mesma coisa. "O livro do Amaury vai ser uma bomba"
Cd o livro ?
Tou esperando......

Ao amigo Aldo.
Vc tem escrupulos da palavra "foderam ?
O lulla já a usou em público. Vc tb achou que ele passou dos limites, ou, com ele pode ?

Miguel do Rosário disse...

Lula usou "sifu", não fodendo. E disse num contexto de piada. Não é proibido falar palavrão no blog. O problema é a sua agressividade.

O livro vai sair. Pode esperar sentado. O jornalista que o escreveu tem mais prêmios de jornalismo que Titanic tem de Oscars. E agora nenhuma mídia, curiosamente, quer entrevistá-lo.

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