17 de junho de 2010

Um dia bom

Eu gosto muito de acordar cedo. Infelizmente, é difícil para mim, porque tenho passado as noites acordado, lendo jornais & blogs, e escrevendo. Mas estou tentando mudar meus hábitos e hoje eu consegui. O ideal para mim é acordar às 5 da manhã e trabalhar no blog pela parte da manhã, o que me daria tempo para resolver os pepinos do cotidiano na parte da tarde. À noite, assisto tv, leio um livro e dou umas risadas com minha esposa. Oxalá eu mantenha essa disciplina.

Ainda mais no inverno do Rio, o clima perfeito. Tempo seco e limpo. Temperatura amena. Basta olhar o céu azul lá fora para levantar o astral. Naturalmente, o fato das vendas de assinatura e as doações terem sido generosas esta semana também ajuda a melhorar o humor do blogueiro.

Mas nada contribuiu tanto para me fazer feliz nesta bela manhã de sol do que esta notícia, publicada na Folha. É tão absurdamente divertida, que reproduzo aqui mesmo no blog:

PSDB agora quer candidato próprio no RJ

PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010


A dois dias do lançamento formal de Gabeira, tucanos trabalham para implodir palanque do verde no Estado

Comando do partido alega que Serra precisa de palanque eletrônico e de campanha para fixar número 45 no Rio

CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

A dois dias do lançamento formal de sua candidatura, o palanque do pré-candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, está sob risco de demolição.
Com o aval do candidato tucano à Presidência, José Serra, o comando do PSDB decidiu lançar um candidato majoritário -com o número 45- no Estado.
A decisão é que Márcio Fortes (PSDB) deixe a vice de Gabeira para tentar o Senado, no lugar de Marcelo Cerqueira (PPS).
Hoje, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, desembarca no Rio para viabilizar a substituição. Fracassada a negociação, não se descarta a hipótese de ruptura com o PV para lançamento de uma candidatura própria.
Guerra sugeriu a troca aos presidentes do PPS, Roberto Freire, e do DEM, Rodrigo Maia, em duas reuniões. Os dois rechaçaram.
Freire se recusou a conversar com Cerqueira para que abra mão da candidatura ao Senado em favor de um tucano. "O PSDB precisa respeitar os aliados", disse Freire, chamando a proposta de "invenção de marqueteiro".
Maia também reagiu: "Se não confiam que vamos pedir votos para o Serra, por que estamos aliados?".
O lançamento de um candidato do PSDB ao Senado poderia prejudicar seu pai, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), que também tenta vaga na Casa. "Faltam dois dias para a convenção", lembrou Cesar Maia.
Seguindo orientação da coordenação de comunicação, o comando do PSDB alega que Serra precisa de um palanque eletrônico no Rio, uma campanha exclusivamente dedicada à fixação do 45 no Estado.
Terça, no café com Freire, Guerra chegou a ventilar a ideia de candidatura própria ao governo do Rio. À mesa, Fortes discordou. "De que adianta um candidato próprio com 2%?".
Gabeira reconhece o risco de implosão. Mas diz não poder se "manifestar sobre o que não aconteceu".

MARINA
Hoje, os tucanos avaliam como errada uma aliança sem um único palanque exclusivo de Serra no Rio.
Avalista do acordo, a candidata do PV, Marina Silva, também demonstra desconforto com a situação. Ontem, recomendou aos aliados um roteiro em que não se encontre com Serra na convenção estadual do PV.
A pedido de Marina, a participação dos dois acontecerá em momentos diferentes.
Na oposição, a possibilidade de apoio a Joaquim Roriz (PSC) no DF também abala a aliança. "O PPS não apoiará Roriz", avisou Freire.

Evidentemente, só mesmo quem acompanha a trajetória de Gabeira, e mais particularmente nos últimos dois anos, quando virou um fenômeno da zona sul carioca, poderá saborear plenamente o prazer de imaginar a cara de tacho do verde ao se deparar com esta notícia.

Do jeito que são os tucanos, não me espantaria que Gabeira tenha tomado conhecimento desta decisão do PSDB através da imprensa.

Confira abaixo uma série com os fatos mais marcantes do gabeirismo:


  1. Em 2006, Gabeira se lança como candidato à prefeito do Rio. Em função de seu antilulismo inexorável, recebe imediatamente grande apoio midiático. Artistas e celebridades, até então constrangidas em declarar seu voto, sentem-se aliviadas em poder participar de uma campanha política, já que Gabeira era queridinho dos meios de comunicação. O maior aliado do verde era o PSDB, que doou milhões para sua campanha. 
  2. A esquerda percebe a manobra tucana para construir um palanque no Rio para seu candidato em 2010 e com muita determinação e até mesmo espírito de sacrifício se engaja na campanha de Eduardo Paes, um zé mané cujas únicas qualidades consistiam em manter boas relações políticas com o governador Sérgio Cabral, e com o presidente Lula. Eduardo Paes toca uma administração medíocre, conservadora, com pinceladas fascistas, como a ridícula e cruel perseguição aos trabalhadores informais. Sua aliança com Sérgio Cabral, porém, deixou a cidade aberta para obras do governo estadual e federal, que estão transformando de maneira profunda a vida de milhares de cariocas. As boas políticas de segurança pública e saúde do governador se desenvolvem na cidade sem a obstrução  da prefeitura. Por incrível que pareça, a prefeitura do Rio bloqueava, nos tempos de César Maia, qualquer intervenção positiva do governo estadual ou federal, ambos da oposição. 
  3. Gabeira, embora registrando uma vitória acachapante nas zonas mais nobres do município, perde as eleições. Eduardo Paes é muito bem sucedido em explorar uma lamentável gafe de Gabeira, que chamara uma de suas principais aliadas de "muito suburbana". As áreas periféricas do Rio, como em toda parte, representam a maioria do eleitorado.
  4. Nasce o gabeirismo, um movimento desde sempre marcado pelo apoio midiático e pela militância virtual. Wanderley Guilherme dos Santos cunha uma expressão genial para caracterizar o verde: "ele é uma instalação". Com votos garantidos junto à esquerda festiva, que é muito forte no Rio (e não só na zona sul; no centro também), Gabeira tenta atrair o voto conservador, antilulista. A estratégia lhe obriga a manter um silêncio constrangido sobre tudo e uma atitude misteriosa. Não fala mais de drogas. Não fala mais de aborto. Não fala mais de Lula. Não fala de seu novo aliado, o PSDB. Não fala nada. Deixa que as pessoas lhe admirem, através da imagem cuidadosamente elaborada pela grande mídia, com destaque para O Globo, onde o candidato é apoiado entusiasticamente por todos seus colunistas. 
  5. A derrota de Gabeira produz uma certa histeria entre os gabeiristas, que organizam protestos de rua contra o resultado releitoral. Acusam fraude. Mas o vitorioso, Eduardo Paes, não é nenhum Ahmadinejad, e Ali Kamel tem o bom senso de acatar a decisão do povo. 
  6. A febre Gabeira esfria um pouco. Volta a crescer, no entanto, quando a mídia de oposição tenta derrubar Sarney. A esquerda organizada, no entanto, novamente mostra maturidade e não cai na esparrela moralista. Não foi a esquerda que elegeu Sarney para a vaga de presidente do Senado, e também não seria ela quem iria ajudar o PSDB a ocupar o posto sem a necessidade de enfrentar eleições. Com a queda de Sarney, o lugar seria assumido, no mínimo por 30 dias, pelo vice-presidente do Senado, Marconi Perillo, um bandidão do PSDB goiano.
  7. Segundo semestre de 2009. O PSDB inicia a movimentação para as eleições do ano seguinte. No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, os tucanos se vêem sem palanque. Fernando Gabeira havia decidido se candidatar à vaga de deputado federal. Os tucanos se esforçam para convencê-lo ser candidato a governador. Gabeira rechaça a ideia veementemente por semanas a fio. Por fim, cede, ao que parece após uma intervenção pessoal de José Serra. A imprensa vaza a informação que Serra teria lhe prometido uma embaixada em Paris.
  8. Inicialmente bem nas pesquisas, empatado em segundo lugar com Garotinho, o verde tem esperanças de chegar ao segundo turno e, com apoio da mídia e da classe média "ilustrada", vencer o bonachão e ultra-lulista Sérgio Cabral. 
  9. O DEM entra no jogo. César Maia exige que Gabeira o aceite como candidato oficial ao Senado. Gabeira participa de convenção do DEM na Barra da Tijuca e diz que César Maia será um grande senador. 
  10. César Maia é figura extremamente desgastada junto aos "gabeiristas", e carrega nas costas toneladas de denúncias de corrupção e malversação de dinheiro público. Ninguém sabe até hoje onde foi parar o dinheiro do PAN. Gabeira volta atrás, e diz que não apoia mais César Maia. 
  11. César Maia esnoba Gabeira e diz que agora é ele quem não quer mais o apoio de Gabeira.
  12. Gabeira muda de idéia e resolve assumir o risco de se aliar à César Maia.
  13. Gabeira dá declarações de apoio à Serra que constrangem os verdes do estado, que ainda tem esperanças em Marina Silva, adversária de Serra na campanha presidencial. 
  14. Gabeira cai nas pesquisas. Sérgio Cabral assume a liderança isolada. 
  15. Dilma dispara nas pesquisas de intenção de voto no Rio.
  16. E agora chegamos à data presente. Serra, irritado com o fracasso de Gabeira, articula para o PSDB ter um candidato próprio. Os tucanos devem ter feito alguns cálculos eleitorais, e concluido que não é interessante investir dinheiro numa campanha que não irá contribuir efetivamente para trazer votos à Serra. Se é para perder no Rio, é mais inteligente para os tucanos investir num nome próprio, pensando no futuro.
  17. Gabeira se lasca. Faz sol no Rio. Penso numa frase banal: "nada como um dia após o outro".

6 comentarios

Anônimo disse...

Excelente retrospecto, já tagueei. Obrigado

Anônimo disse...

Só faltou dizer que o Gabeira resistiu à idéia de ser candidato à Governador, queria continuar no parlamento. Não duvido, pois, que, na iminência da derrota, e com o aumento das chances de Dilma, ele refugue na corrida presidencial. O cenário é péssimo. Nem Palácio das Laranjeiras, nem Embaixada em Paris, além do desgaste que sofreu inclusive com aliados e amigos seus, como o Sirkis. Não duvido que o invertebrado verde refugue, invente uma desculpa qualquer para poupar-se do vexame e continuar na moleza da Câmara.

Pedro de Araújo Lima disse...

Brilhante análise! Com aliados desse naipe, a candidatura de Dom José não precisa de inimigos ;)

Adriano Matos disse...

Boa notícia.

O PV tem grande responsabilidade num país com os recursos e dimensões do Brasil e, na minha opinião, não está cumprindo com elas.

Aliar-se ao PSDB é de uma incoerência incrível. O governo dos tucanos foi catastrófico TAMBÉM na questão ambiental - derramamento de óleo, desmatamento récorde, afundamento P36, etc.

Faz sentido, porque a ideologia desses penosos é de administração de empresas e a variável a maximizar é só o lucro.

Espero que Gabeira e o PV tomem uma grande surra.

Regina Chaves disse...

Nada como um dia após o outro... o Gabeira morre com seu próprio veneno!

Anônimo disse...

Política é 1 ciência, mas nem por isso, exata.

Pois bem, Lady Gagabeirando a Loucura, faz de tudo 1 pouco prá ser o representante carioca da crasse mérdia fascista tupiniqim, e assim, ser reqisitado como ... vice de Aécio Never, no próximo embate de 2014.

Fez água, digo, fez merda.

E assim, terá q aprender q, mesmo sendo exata e nem por isso lógica, a política só aceita qem saca q:

"PÁU Q BATE EM CHICO; TMBM BATE EM FRANCISCO!"


E isso, o porco verde nao aprendeu.

Inté,
Murilo

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