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11 de julho de 2011

A melancólica banda larga de Paulo Bernardo e a revolução #mimimi

12 comentarios

(Militante digital reage com expressões furiosas ao anúncio
do plano de banda larga do ministro Paulo Bernardo)

No primeiro dia de julho, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou mais uma etapa do famigerado Plano Nacional de Banda Larga. Dessa vez, porém, não são decisões palacianas sobre o uso ou não da Telebrás, e sim medidas concretas para oferecer banda larga a milhões de brasileiros que hoje não dispõem do serviço. A opção do governo em fazer uma parceria com as empresas telefônicas provocou uma perplexidade algo hipócrita entre a militância de esquerda, visto que o governo desde o início sinalizara que assim o faria. A Telebrás seria usada para tampar os buracos de infra-estrutura, usando as redes de fibra ótica que andavam abandonadas; poderia até oferecer o serviço final ao consumidor, mas só em caso de última necessidade, para atender regiões isoladas. Nunca houve qualquer sinal de que as teles ficariam de fora.

Mas a perplexidade gera combustível para o proselitismo ideológico que a esquerda adora, que pode assim praticar seu esporte preferido: vomitar profecias apocalípticas, culpar Israel, dizer que o PT mudou de lado, lamuriar-se, decepcionar-se. É a revolução #mimimi.

Falo isso na boa, entendam bem. Tem mais é que bater no plano mesmo. Li os artigos de Marcos Dantas e do Bajonas Brito, dois feras no assunto. Eles batem impiedosamente no PT, no Ministério das Comunicações e no governo Dilma, pelas deficiências notórias do plano apresentado por Paulo Bernardo.

O plano é ruim, de fato, mas as pessoas, na ânsia de criticá-lo, iniciam uma choradeira tão ruidosa que acabam deturpando as informações.

Por exemplo, Brito protesta - com muita razão - que as teles serão obrigadas a fornecer apenas 10% do serviço contratado. Eu mesmo soube disso há pouco e minha reação foi... engasgar-me com a cerveja. Como é possível tal disparate! No entanto, o artigo dele dá a entender que isso é uma característica do novo plano, e não uma realidade (ou surrealidade) jurídica que vivemos desde que existe banda larga no país. A diretriz do governo é mudar isso. Segundo o ministro Paulo Bernardo, a Anatel assumiu compromisso de votar a regulamentação da qualidade contratada até 31 de outubro deste ano. A nova regulamentação terá força de lei e as empresas terão que cumprir exigências mais severas de qualidade. É o ministro que diz isso; não sei se ele fala a verdade. Ao menos hoje temos um prazo e uma promessa concreta. Não lembro de termos sequer isso durante o governo Lula.

Outra confusão gerada é sobre a existência de uma franquia de somente 300 Mb de download. O professor Brito reclama - com mais razão ainda - que este limite esgota-se com o uso de algumas horas de acesso ao youtube. É preciso esclarecer, porém, que esse é o limite inicial apenas da Telefônica, e que a companhia terá a obrigação de ampliá-lo para 600 Mb após alguns meses, e para 1 giga, antes de 2013. A OI, por outro lado, oferecerá limite inicial de 500 Mb e, após 6 meses, 1 giga.

Em relação à velocidade, também é honesto informar que o plano, iniciado agora em 1 Mb (por determinação de Dilma; antes era de 500 Kb e ninguém protestava) prevê a oferta de  5 MB para todas as cidades brasileiras até 2014. O preço poderá ficar em R$ 29 nos estados que derem desconto no ICMS, e o o ministro prometeu criar planos de acesso grátis a segmentos que não puderem pagar (quem recebe bolsa família, por exemplo).

É ruim de qualquer jeito, mas cumpre informar corretamente, inclusive para que a nossa crítica seja mais acurada.

Não douremos a pílula: é um plano péssimo.

Mais que péssimo: perigoso, porque as teles poderão cobrar extra caso o cliente ultrapasse a franquia. Todavia, dos males, o menor: o plano proíbe as teles de bloquear o uso após o "estouro da franquia"; o cliente poderá continuar usando até o final do mês, quando a franquia reinicia do zero; mas terá velocidade reduzida (esperemos que não tão reduzida a ponto de inviabilizar o uso, porque aí corresponderia a um bloqueio).

Minha bandeira (e do meu companheiro de lutas do #rioblogprog, Theo Rodrigues, do blog Fatos Sociais) é que a banda larga se torne um direito básico e que seja oferecida gratuitamente para todos os brasileiros. E que o regime seja inteiramente público.

Este lamentável plano de banda larga deverá ser implementado pelo Ministério das Comunicações, em menos de 90 dias, em milhares de cidades brasileiras e cobrirá 100% do território nacional até meados de 2014. É a promessa do governo; não sei se é verdade.

O resultado? Bem, se o plano der certo, dezenas de milhões de brasileiros serão incluídos digitalmente. Terão que ser moderados no uso do youtube e no download de músicas (como sou hoje com meu 3G...), mas poderão ler blogs, sites, pesquisar no Google, ler jornais estrangeiros, estudar línguas, fazer cursos à distância.

Quero acreditar que esses milhões de novos internautas, a partir do exato momento em que ingressarem no maravilhoso mundo virtual, poderão se converter em "militantes" digitais, e exigir do governo e das teles que aumentem o tamanho da franquia para um patamar razoável: 10 giga ao mês. Ou melhor: ilimitado!

O ministro Paulo Berrnardo, esse covarde que se rendeu às teles, esse incompetente que discrimina os pobres ao lhes oferecer franquias humilhantes, será então julgado pelos milhões de internautas nascidos de seu melancólico plano de banda larga. Mesmo com internet ruim, eles poderão manifestar sua insatisfação, criando hashtags terríveis contra o ministro e contra o governo Dilma.

Em 2014, haverá eleições presidenciais. Esses milhões de cidadãos recém incluídos na internet serão cortejados pelos candidatos. José Serra oferecerá, além de um salário mínimo de 1.600 reais, banda larga grátis para todos... Tendo Aécio como seu vice e Marina Silva como noiva (Mônica Serra terá que sair do páreo...) , ganhará o pleito e aí todos serão felizes para sempre. #mimimi, nunca mais...

Ou pode acontecer outra coisa: Paulo Bernardo poderá anunciar uma segunda etapa em seu programa;  não por ser bonzinho, naturalmente, mas por interesse eleitoral, oferecendo um plano de banda larga 2.0, com franquias ilimitadas e preços ainda mais acessíveis. Os milhões de internautas beneficiados (ou vítimas) pelo plano do ministro poderão, por algum motivo misterioso, acreditar nele e darem mais uma chance à presidente Dilma.

Nunca se sabe o que pode acontecer. Só uma coisa é certa. Se o plano de Paulo Bernardo for bem sucedido, assistiremos, até o final deste ano, a uma inclusão digital de proporções colossais. Até 2014, incluiremos possivelmente mais que a população inteira do Egito. E não apenas em função deste plano falho do governo, mas porque os brasileiros querem e precisam acessar a internet. Estão curiosos. O aumento do poder aquisitivo das classes emergentes e a queda no desemprego também contribuirão. Em 2014, uma boa parte dos brasileiros que talvez precisassem hoje de um plano de banda larga subsidiado (e ruim) para acessar a internet, poderão assinar um plano de melhor qualidade, com dinheiro de seu próprio salário.

Não vejo, portanto, motivos para previsões apocalípticas. O plano de Paulo Bernardo pode ser ruim, mas é algo concreto que o governo oferece a uma enorme parcela da população brasileira que hoje está excluída do emocionante universo digital.

A gente quer mais, naturalmente. Muito mais. Preparemos, portanto, desde já, uma cordial recepção aos milhões de novos visitantes que teremos em breve. Se nossas ideias são mesmo tão boas quanto achamos que elas são, então nós os persuadiremos a se juntar a nossa luta por um download melhor...

23 de dezembro de 2010

Magnoli ataca Assange e blogueiros

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Eu gostaria de saber o que se passa pela cabeça do Magnoli quando fala em caráter. Deixemos, porém, a moral para os moralistas e para Deus. Respiremos fundo e analisemos esse pedaço de carne putrefata enrolado em papel jornal.

Tenho consciência do perigo que é analisar trechos de um texto. Mas é a maneira mais fácil e rápida, tanto para quem escreve quanto para quem lê. Contanto que não sejamos levianos e mantermos em mente o texto inteiro, e não somente o trecho pinçado, dá para levar adiante, sem descontextualizações injustas, uma análise equilibrada.

Portanto, ao texto!
Herói sem nenhum caráter

DEMÉTRIO MAGNOLI - O Estado de S.Paulo
Lula jamais protestou contra o monopólio da imprensa pelo governo cubano e nunca deu um passo à frente para pedir pelo direito à expressão dos dissidentes no Irã. Ele sempre ofereceu respaldo aos arautos da ideia de cerceamento da liberdade de imprensa no Brasil. Mas é incondicional quando se trata de Julian Assange: "Vamos protestar contra aqueles que censuraram o WikiLeaks. Vamos fazer manifestação, porque liberdade de imprensa não tem meia cara, liberdade de imprensa é total e absoluta."

Magnoli realiza a proeza de ser leviano, burro e desonesto, ao mesmo tempo. Lula não comenta sobre o monopólio de imprensa pelo governo cubano assim como Obama não comenta sobre o oligopólio de imprensa no Brasil. Um estadista responsável evita meter a colher em problemas domésticos de vizinhos. A discussão sobre Cuba deve acontecer no âmbito da ONU. A mesma coisa vale para os dissidentes do Irã. Todo mundo sabe que os EUA financiam parte da dissidência iraniana. Em 24 de maio de 2010, o New York Times publicou matéria sobre uma operação clandestina do governo americano para financiar grupos dissidentes no regime dos aiatolás. Seria irresponsabilidade de Lula envolver-se nesse imbróglio onde ninguém é inocente. Aí ele dá uma piruetinha retórica e diz que Lula "sempre deu respaldo aos arautos da ideia de cerceamento da liberdade de imprensa", uma afirmação que tem tanto valor como dizer que ele, Magnoli, sempre deu respaldo aos arautos do uso do crack para curar enxaqueca de mulher grávida...

Quanto a Julian Assange, comentaremos em seguida.
Assange é um estranho herói. No Brasil, o chefe do WikiLeaks converteu-se em ícone da turba de militantes fanáticos do "controle social da mídia" e de blogueiros chapa-branca, que operam como porta-vozes informais de Franklin Martins, o ministro da Verdade Oficial. Até mesmo os governos de Cuba e da Venezuela ensaiaram incensá-lo, antes de emergirem mensagens que os constrangem. Por que os inimigos da imprensa independente adotaram Assange como um dos seus?

Magnoli está tremendamente mal informado. Assange se converteu em ícone mundial, e não apenas para os "blogueiros chapa-branca", chamados assim, sabemos muito bem, porque tem impedido que a propaganda conservadora pró-tucana se torne voz única na sociedade brasileira. O ódio dos colunistas aos blogueiros sujos cresce na medida em que estes ganham influência. Assage é admirado em todo planeta. Grandes artistas, jornalistas, escritores, tem se mobilizado a seu favor. Milhões de blogueiros, internautas, ativistas da rede, transformaram-no num herói justamente porque ele passou a ser perseguido pelas forças obscuras e covardes do imperialismo. Um homem sozinho contra todo um império. Não somos apenas nós, blogueiros sujos, que apoiamos Assange. Ao dizê-lo, Magnoli comete uma desonestidade intelectual grosseira.
A resposta tem duas partes. A primeira: o WikiLeaks não é imprensa - e, num sentido crucial, representa o avesso do jornalismo. O WikiLeaks publica - ou ameaça publicar, o que dá no mesmo - tudo que cai nas suas mãos. Assange pretende atingir aquilo que julga serem "poderes malignos". No caso de tais alvos, selecionados segundo critérios ideológicos pessoais, não reconhece nenhum direito à confidencialidade. Cinco grandes jornais (The Guardian, El País, The New York Times, Le Monde e Der Spiegel) emprestaram suas etiquetas e sua credibilidade à mais recente série de vazamentos. Nesse episódio, que é diferente dos documentos sobre a guerra no Afeganistão, os cinco veículos rompem um princípio venerável do jornalismo.

Quantas mentiras em tão pouco espaço! O Wikileaks reconhece sim o direito a confidencialidade: Assange tem declaradao reiteradamente que não publica informações pessoais de ninguém. Apenas e sobretudo o que é de interesse público. Quem é Magnoli para definir quais são os critérios ideológicos corretos? Não foram apenas esses cinco jornais. No Brasil, Globo e Folha também emprestaram sua credibilidade ao vazamento. Magnoli é tão cara de pau que omite esse fato apenas para que não atrapalhe a sua argumentação tosca. Qual é o princípio venerável do jornalismo? Servir de correia de transmissão aos interesses da Casa Branca, como fez o New York Times durante os meses que antecederam a guerra no Iraque?
A imprensa não publica tudo o que obtém. O jornalismo reconhece o direito à confidencialidade no intercâmbio normal de análises que circulam nas agências de Estado, nas instituições públicas e nas empresas. A ruptura do princípio constitui exceção, regulada pelo critério do interesse público. Os "Papéis do Pentágono" só foram expostos, em 1971, porque evidenciavam que o governo americano ludibriava sistematicamente a opinião pública, ao fornecer informações falsas sobre o envolvimento militar na Indochina. A mentira, a violação da legalidade, a corrupção não estão cobertas pelo direito à confidencialidade.

A imprensa não publica tudo que obtém? Mais cara de pau! O maior prazer da imprensa brasileira é publicar informações que correm em segredo de Justiça. Chegaram a publicar conversinha do Sarney com a neta. Nos últimos anos, a promiscuidade entre a imprensa e setores da PF levaram a publicação de inúmeras gravações, muitas completamente apócrifas, mas que serviam para desgastar figuras políticas importantes e por isso integravam a estratégia partidária da imprensa.

Ao mencionar os Papéis do Pentágono, Magnoli comete outra impropriedade ridícula. Os vazamentos do Wikileaks também revelam ilegalidades, corrupção e mentiras. A decisão sobre a legalidade na publicação dos papéis do Pentágono foi tomada pela suprema corte americana, após meses de intenso debate. Magnoli quer ser arvorar agora em juíz supremo sobre a legalidade ou não da publicação dos documentos vazados pelo Wikileaks?
Interesse público é um conceito irredutível à noção vulgar de curiosidade pública. Na imensa massa dos vazamentos mais recentes, não há novidades verdadeiras. De fato, não existem notícias - exceto, claro, o escândalo que é o próprio vazamento. A leitura de uma mensagem na qual um diplomata descreve traços do caráter de um estadista pode satisfazer a nossa curiosidade, mas não atende ao critério do interesse público. O jornalismo reconhece na confidencialidade um direito democrático - isto é, um interesse público. O WikiLeaks confunde o interesse público com a vontade de Assange porque não se enxerga como participante do jogo democrático. É apenas natural que tenha conquistado tantos admiradores entre os detratores da democracia.

O que Magnoli chama de interesse público, ele mesmo e seus coleguinhas dos jornalões, chamam em outros momentos de "mão pesada do Estado". Impressionante como a sua postura muda quando estão em jogo os interesses da Casa Branca, aí vira interesse público... Que raio de defensor da liberdade de imprensa é esse que pretende demarcar de maneira tão arbitrária o que é interesse público e o que não é? As mensagens diplomáticas onde líderes árabes pediam aos EUA que invadissem o Irã não são de interesse público? A mensagem onde a embaixada americana de Honduras afirma que o golpe ocorrido lá há dois anos foi golpe mesmo, e ilegal e antidemocrático, não é de interesse público? Quem seria o juiz para definir o que é ou não de interesse público? Os editores de jornais tem algum tipo de moral superior em relação aos funcionários do Wikileaks? Eles sabem o que é de interesse público e Assange não? E novamente Magnoli falseia a realidade ao se referir aos admiradores de Assange como "detratores da democracia". Os admiradores de Assange são milhões e milhões em todo mundo, e todos são defensores de valores democráticos. Mais uma vez, Magnoli se arvora, o que é uma contradição em si, em juiz de quem é democrata ou não. Em 1964, o golpe militar foi saudado pelos jornais onde Magnoli escreve como "vitória da democracia". É a esse tipo de democracia, definida por alguns engravatados ultraconservadores, milionários e truculentos, que o sociólogo se refere?
Há, porém, algo mais que uma afinidade ideológica, de resto precária. A segunda parte da resposta: os inimigos da liberdade de imprensa torcem pelo esmagamento do WikiLeaks por uma ofensiva ilegal de Washington. No Irã, na China ou em Cuba, um Assange sortudo passaria o resto de seus dias num cárcere. Nos EUA, não há leis que permitam condená-lo. As leis americanas sobre espionagem aplicam-se, talvez, ao soldado Bradley Manning, um técnico de informática, suposto agente original dos vazamentos. Não se aplicam ao veículo que decidiu publicá-los. A democracia é assim: na sua fragilidade aparente encontra-se a fonte de sua força.

Aí Magnoli é simplesmente desonesto e infantil. Os admiradores de Assange querem sua liberdade e nada mais. Em vez de culpar o agressor, Magnoli tenta estigmatizar os que defendem a vítima, acusando-os de sádicos. Que espécie de análise maluca é essa? Sim, no Irã, China ou Cuba, Assange estaria em maus lençóis, e Demente Magnolia estaria incensando-o. Nos EUA, não há leis que permitam condená-lo? Ótimo. Magnoli é daqueles que acha que o mundo critica os EUA por birra. Um país tão legal. Com leis tão justas. Nunca incentivou golpes de Estado em outros países! A babação de ovo dos EUA é constrangedora. Brasil e Europa também tem leis tão ou mais democráticas que os EUA!
O governo Obama estará traindo a democracia se sucumbir à tentação de perseguir Assange por meios ilegais. O WikiLeaks foi abandonado pelos parceiros que asseguravam suas operações na internet. Amazon, Visa, PayPal, Mastercard e American Express tomaram decisões empresariais legítimas ou cederam a pressões de Washington? A promotoria sueca solicita a extradição de Assange para responder a acusações de crimes sexuais. O sistema judiciário da Suécia age segundo as leis do país ou se rebaixa à condição de sucursal da vontade de Washington? Certo número de antiamericanos incorrigíveis asseguram que, nos dois casos, a segunda hipótese é verdadeira. Como de costume, eles não têm indícios materiais para sustentar a acusação. Se estiverem certos, um escândalo devastador, de largas implicações, deixará na sombra toda a coleção de insignificantes revelações do WikiLeaks.

Magnoli finge uma candidez impossível. Como historiador, ele realmente se espantaria se o governo americano perseguisse Assange ou inventasse pretextos para incriminá-lo? Claro que não. Ele é falso apenas.
A bandeira da liberdade nunca é desmoralizada pelos que a desprezam, mas apenas pelos que juraram respeitá-la. Assange não representa a liberdade de imprensa ou de expressão, mas unicamente uma heresia anárquica da pós-modernidade. Contudo, nenhuma democracia tem o direito de violar a lei para destruir tal heresia. A mesma ferramenta que hoje calaria uma figura sem princípios servirá, amanhã, para suprimir a liberdade de expor novos Guantánamos e Abu Ghraibs.

A gororoba pseudo-libertária é apenas óbvia e melosa, usada desonestamente para chamar Assange de "heresia anárquica da pós-modernidade", como se se referisse a um artista incômodo da Bienal de Veneza, e não a uma figura concretíssima, perseguida pelo governo americano e que deixou o mundo de cabelo em pé ao mostrar a bunda peluda e perebenta do Tio Sam.
"Vamos fazer manifestação, porque liberdade de imprensa não tem meia cara, liberdade de imprensa é total e absoluta." Lula não teve essa ideia quando Hugo Chávez fechou a RCTV, nem quando os Castro negaram visto de viagem à blogueira Yoani Sánchez que lançaria seu livro no Brasil. Não a teve quando José Sarney usou suas conexões privilegiadas no Judiciário para intimidar Alcinéa Cavalcante, uma blogueira do Amapá, ou para obter uma ordem de censura contra O Estado de S. Paulo. Ele quase não disfarça o desejo de presenciar uma ofensiva ilegal dos EUA contra o WikiLeaks. Sob o seu ponto de vista, isso provaria que todos são iguais - e que os inimigos da liberdade de imprensa estão certos. Alguém notou um sorriso furtivo, o tom de escárnio com que o presidente pronunciou as palavras "total e absoluta"?

Pimba! Magnoli é tão criativo e surpreendente que mais uma vez ele faz um artigo onde, a pretexto de criticar Assange, apenas faz aquilo para o qual foi contratado: malhar o Lula, que desta vez é culpado até disso. A nossa imprensa, pelo jeito, continua totalmente incapaz de apreender as malícias e ironias de um simples operário-presidente... A conclusão do artigo me deixou um pouco na dúvida: seria Magnoli tão idiota a ponto de associar um simples sorriso de Lula e as palavras "total e absoluta" ao desejo sanguinário de impor um regime totalitário e absolutista? Não, né? Eu que estou sendo paranoico. Quando um sociólogo, ao invés de fazer uma análise minimanente embasada em conceitos, envereda para sombrias suposições psico-políticas acerca do sentido de um sorriso dado por um presidente feliz e brincalhão, eu me ponho a pensar em máximas milenares do tipo: inveja é foda.

Assange defende Falha de S Paulo

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Do Blog da Natália Viana & CartaCapital WikiLeaks (Via Nassif)

Assange defende FAlha de S Paulo e diz que gostaria de receber asilo político no Brasil

Em uma entrevista concedida ao Estadão ontem, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, citou o caso do blog satírico FAlha de São Paulo para defender a liberdade de expressão.

"Entendo a importância de proteger a marca e temos sites similares que se passam por WikiLeaks. Mas o blog não pretende ser o jornal e acho que deve ser liberado. A censura é um problema especial quando ocorre de forma camuflada. Sempre que haja censura, ela deve ser denunciada", disse Julian ao jornalista Jamil Chade.

O site FAlha de S Paulo foi retirado do ar por ordem da justiça paulista, após o jornal Folha de S Paulo entrar com processo por uso indevido da marca. O site humorístico satrizava o maior jornal do país.

Ontem a organização Repórteres sem Fronteiras pediu que a Folha de S Paulo retire o processo, dizendo que o jornal se "engrandeceria" ao tomar esta atitude.

O jornal nega que tenha censurado o conteúdo do site – diz que o problema é o nome parecido e o logo da Folha.

Asilo político no Brasil

Julian também falou que pensa em expandir a atuação do WikiLeaks no Brasil. "Vemos muito apoio vindo do Brasil, tanto da população, mídia, da forte e emergente cultura de internet. E também há muita corrupção. Portanto, haverá bons tempos no futuro no Brasil para nós".

Perguntado se já pensou em pedir asilo político no Brasil, o fundador do WikiLeaks disse que "seria ótimo" se fosse oferecido.

"É um país grande o suficiente para ser independente da pressão dos EUA, tem força econômica e militar suficiente para fazer isso. E não é um país como China e Rússia que não são tão tolerantes com a liberdade de imprensa. Talvez o Brasil seria um bom país para que coloquemos parte de nossas operações".

Julian também falou da perseguição que tem sofrido por parte dos EUA - disse se considerar um preso político – e do recente vazamento de parte do processo que está sofrendo na Suécia por crimes sexuais.

"Transparência é para governos. Não para indivíduos. O objetivo de revelar informações sobre pessoas poderosas é cobrar responsabilidade deles. Quando um governo dá material legal para um jornal para prejudicar alguém, trata-se de um abuso. O repórter que foi escolhido para receber a informação é um conhecido crítico de nossa organização. O Guardian não perguntou por que foi liberada essa documentação antes de uma audiência na Corte. Quais são os motivos envolvidos. São perguntas que não foram respondidas".

Ele também e explicou os planos da organização para o próximo ano. "Para 2011, vamos publicar mais telegramas sobre países e sobre mais de cem organizações. Mas também teremos outras publicações. Vamos expandir nossa estrutura".

A entrevista completa pode ser lida neste link e na edição de hoje do jornal.

Do Estadão

''Ainda há material de impacto sobre EUA''

Australiano lembra que apenas pouco mais de 2.000 das 250.000 mensagens diplomáticas foram divulgadas

23 de dezembro de 2010 | 0h 00

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

Julian Assange, fundador do grupo WikiLeaks, tem causado uma série de embaraços a Washington com a divulgação de telegramas secretos da diplomacia americana. Em sua primeira entrevista a um jornal latino-americano desde que foi libertado sob fiança pela Justiça da Grã-Bretanha, no dia 16, Assange falou ao Estado, por telefone, sobre a pressão feita pelos EUA. Para ele, o que Washington faz hoje somente se compara aos anos do macarthismo - o período de perseguição política, entre os anos 40 e 50, por parte do Estado americano contra suspeitos de simpatizar com o comunismo. Ele garante que um material ainda mais explosivo está por surgir em 2011 em relação aos EUA. "Os valores americanos estão sendo jogados no lixo", alertou, sobre a pressão que tem recebido. O australiano mostra que conhece em detalhes a situação no Brasil. Critica a corrupção no País e a censura adotada por atos da Justiça contra a imprensa. Ele anuncia que poderá usar o Brasil como base de suas operações em 2011 e diz que não descartaria a possibilidade de ir ao Brasil se uma oferta de asilo fosse feita. O fundador do WikiLeaks admite que a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu apoio foi "corajosa", mas agora espera que o governo de Dilma Rousseff faça o mesmo. Assange também se defendeu da acusação de que cometeu crimes sexuais na Suécia. O australiano se classifica como "preso político", diz temer por sua vida e confirmou que ele e seus filhos têm recebido ameaças de morte. Eis os principais trechos da entrevista.

Para alguns, o sr. abriu uma nova fronteira na liberdade de imprensa, para outros, é um anarquista da internet. Como o sr. se define?

Vamos colocar de forma simples. Sou um publisher. E esse é meu papel. Como publisher tenho de organizar nosso pessoal e administrar a sequencia do material. Não pretendo ganhar dinheiro, mas levar conhecimento às pessoas para que entendam seu mundo.

O que se nota é a pressão feita pelo governo americano em relação ao sr. O vice-presidente americano, Joe Biden, o qualificou de terrorista high tech. Como essa pressão afeta sua vida?

Talvez o que mais se aproxime desse tipo de comportamento seja o período macarthista. Vemos declarações de que eu sou um terrorista high tech, de que toda nossa organização deve ser perseguida, como Osama bin Laden. Leis propostas no Senado nos qualificam de ameaça transnacional para que ações possam ser tomadas contra nós. Todo esse comportamento contra uma organização que apenas publicou o material a que teve acesso é alarmante. Isso revela algo que não víamos antes e o quanto a retórica dos EUA sobre a liberdade de imprensa na China ou outros países é falsa. Quando começamos a publicar algo sério, que poderia levar a reformas, e de fato eram informações embaraçosas, vimos as leis e os valores dos EUA serem jogados no lixo, de forma preocupante.

Como essa pressão tem sido traduzida em ações reais contra o sr. e outros membros do WikiLeaks?

O FBI foi ao País de Gales. Fizeram uma busca na casa da mãe de Bradley Manning (analista de inteligência do Exército americano acusado de ter revelado documentos secretos sobre as guerras no Afeganistão e Iraque). Os EUA tentam me indiciar por conspiração, espionagem ou outros crimes para garantir minha prisão pelo restante da vida. Vemos a pressão ampla dos EUA em países aliados como Austrália, Grã-Bretanha e Suécia para me espionar e processar.

Com toda essa pressão, como o WikiLeaks consegue sobreviver financeiramente?

Temos uma base de apoio, em todo o mundo, incluindo os EUA e Austrália. Na situação australiana, vimos uma petição com 600 mil pessoas num país de 20 milhões de habitantes; na América do Sul, e especialmente no Brasil, recebemos apoio político. O aspecto financeiro é difícil. É verdade que Visa, Mastercard e Bank of America, sem autorização judicial, cortaram nossas transações financeiras. Mas há mais formas de as pessoas nos ajudarem. Infelizmente, a forma mais fácil é por cartão de crédito - e isso foi tirado de nós.

O sr. estaria guardando algo ainda mais poderoso contra os EUA para ser publicado, que abalaria o governo americano?

Temos várias revelações ainda que teriam um impacto político grande para o governo americano e para outros governos. Mas vamos seguir nosso trabalho normal. Só revelamos 2.250 mil telegramas de 250 mil. Há muito, muito mais.

Qual o impacto disso tudo e dessas revelações que o sr. traz para a democracia no mundo?

O que eu espero é que nosso trabalho mostre às pessoas em todo o mundo como é que o mundo de fato funciona.

Para 2011, quais são os planos de WikiLeaks?

Para 2011, vamos publicar mais telegramas sobre países e sobre mais de cem organizações. Mas também teremos outras publicações. Vamos expandir nossa estrutura.

Que tipo de revelações estarão nas próximas publicações?

Temos milhares e milhares de documentos significativos. Alguns dos mais significativos foram sobre os bancos, na Suíça, Islândia, Ilhas Cayman, EUA e Grã-Bretanha.

Algum plano sobre ampliar sua organização no Brasil?

Sim. Temos alguns brasileiros já trabalhando nas últimas semanas. Mas vemos muito apoio vindo do Brasil, tanto da população, mídia, da forte e emergente cultura de internet. E também há muita corrupção. Portanto, haverá bons tempos no futuro no Brasil para nós.

Lula disse que o apoia. Mas esse apoio vem de um governo criticado por ter pensado em tomar medidas contra a imprensa. Como o sr. avalia essa posição?

O fato é que temos 2.855 telegramas sobre o Brasil (com a Embaixada dos EUA em Brasília como origem ou destino das mensagens). Mas há outros que vêm de outros países. São pelo menos outros 2.000. Sobre Lula, ele tem adotado uma posição corajosa em relação à independência do País há tempos. Mas agora está na posição de quem está terminando o mandato, que pode falar de forma mais livre sobre o que genuinamente pensa. Ao fazer essas declarações, talvez estabeleça a base e torne mais fácil para a próxima presidente tomar a mesma posição. Mas imagino que ela e o governo terão de tomar cuidado em relação os EUA.

Dilma seria mais hesitante...

Suspeito que isso seja verdade. Mas talvez ela surpreenda e demonstre ter suficiente coragem. Temos exposto a manipulação de muitos países pelos EUA, pelas ações do Departamento de Estado. Portanto, não será mais tão fácil fazer isso como era no passado. E talvez isso possa proteger o Brasil.

Sobre liberdade de informação na América Latina, qual a avaliação do sr.? É algo que o preocupa ou não mais do que em outras regiões?

Há boas leis e proteções constitucionais em vários países latino-americanos. Mas a questão é se essas leis estão sendo seguidas na prática. A associação entre Estados (e seus Poderes Judiciários) e empresas pode permitir a censura na prática. Entendo que há um grande escândalo em relação ao blog Falha de S. Paulo, que é uma sátira ao nome do jornal com o qual temos uma parceria no Brasil (mais informações nesta página). Entendo a importância de proteger a marca e temos sites similares que se passam por WikiLeaks. Mas o blog não pretende ser o jornal e acho que deve ser liberado. A censura é um problema especial quando ocorre de forma camuflada. Sempre que haja censura, ela deve ser denunciada.

O sr. se considera um preso político? Teme por sua vida?

Sim, nesse caso. Apesar das alegações não serem de crimes políticos, não há dúvidas de que nenhuma outra pessoa estaria na prisão esperando extradição. Ameaças de morte são feitas diariamente, contra meu pessoal, contra meus filhos.

Contra seus filhos... Em quais circunstâncias?

Sim, contra meus filhos. Há ainda ameaças contra meus advogados. Entramos em um assunto muito sério. Na noite passada, vimos no Canal Fox, comentaristas e políticos apelando pelo meu assassinato. Um deles até disse que tinham de se livrar de mim, mesmo de forma ilegal. Isso deve estar estimulando os militares americanos, militantes e loucos de todo o tipo. Não acho que seja provável, ainda que não seja impossível, que o governo dos EUA diretamente tente me assassinar. Mas o mais provável é que indivíduos, militares ou doentes mentais, influenciados pelos políticos, tentem fazer o trabalho. Ou que outros Estados, tentando agradar aos americanos, tentem se livrar de mim. Daniel Ellsberg, famoso por ter vazado os Papéis do Pentágono de 1971 [que revelaram segredos sobre a Guerra do Vietnã], disse que existe a possibilidade de que o governo americano me assassine, com base nos planos que existiram para assassiná-lo.

O sr. já pensou em pedir asilo no Brasil?

Seria ótimo ter isso oferecido. Há alguma reflexão sendo feita de que o Brasil seria um bom lugar para instalar algumas de nossas operações. É um país grande o suficiente para ser independente da pressão dos EUA, tem força econômica e militar suficiente para fazer isso. E não é um país como China e Rússia que não são tão tolerantes com a liberdade de imprensa. Talvez o Brasil seria um bom país para que coloquemos parte de nossas operações.

O que "The Guardian" fez ao divulgar seu caso de suposto assédio sexual foi da mesma natureza do que o WikiLeaks faz?

Não. Transparência é para governos. Não para indivíduos. O objetivo de revelar informações sobre pessoas poderosas é cobrar responsabilidade deles. Quando um governo dá material legal para um jornal para prejudicar alguém, trata-se de um abuso. O repórter que foi escolhido para receber a informação é um conhecido crítico de nossa organização. O Guardian não perguntou por que foi liberada essa documentação antes de uma audiência na Corte. Quais são os motivos envolvidos. São perguntas que não foram respondidas.

9 de dezembro de 2010

Lula defende Assange

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Do Blog do Planalto

O presidente Lula prestou solidariedade nesta quinta-feira (9/12) ao fundador do Wikileaks, Julian Assange, preso esta semana após seu grupo ter divulgado mensagens produzidas pela diplomacia americana, e criticou a imprensa brasileira por não defender o ativista australiano e a liberdade de expressão. ”O rapaz foi preso e eu não estou vendo nenhum protesto contra [o cerceamento à] a liberdade de expressão. É engraçado, não tem nada”, afirmou o presidente, que fez questão de registar o seu:

Ô, Stuckinha (Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial da Presidência), pode colocar no Blog do Planalto o primeiro protesto, então, contra [o cerceamento à] a liberdade de expressão na internet, para a gente poder protestar, porque o rapaz estava apenas colocando aquilo que ele leu. E se ele leu porque alguém escreveu, o culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu. Portanto, em vez de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a bobagem, porque senão não teria o escândalo que tem. Então, Wikileaks, minha solidariedade pela divulgação das coisas e meu protesto contra [o cerceamento à] da liberdade de expressão.


Lula disse ainda desconhecer se seus embaixadores também enviam esse tipo de mensagem, como os diplomatas americanos, e alertou a presidente eleita Dilma Rousseff para que avise seu ministro (das Relações Exteriores) que “se não tiver o que escrever, não escreva bobagem, passe em branco a mensagem”.

[As moças da capa representam as suecas que se aliaram aos EUA para levar Julian Assange à prisão. Ele é acusado de "sex by surprise" por duas beldades nórdicas, sabe-se lá o que é isso].

Império apela às suecas

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Pepe Escobar: Imperador nu prega “sex by surprise”


8/12/2010


(Cuidado com as suecas, amigo!)


WikiLeaks — Imperador nu prega “sex by surprise[1]

por Pepe Escobar, Asia Times Online



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu (via Azenha)

Jamais a informação foi mais livre. Mesmo em países autoritários, há redes de informação que ajudam as pessoas a descobrir fatos e a exigir mais transparência dos governos. [Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, 21/1/2010]

Infelizmente, Julian Assange errou de estrada. Deveria ter escapado para Tora Bora – as montanhas escarpadas do Afeganistão, melhor local do mundo para escapar à ira do imperador, como o comprovam fartamente os ex-ícones da Al-Qaeda, Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri. Sim, sem banda larga; mas, pelo menos, a salvo de golpes sexuais e escândalos; risco, no máximo, de discretas refregas de turbantes com turbantes.   A opinião pública mundial evidentemente percebeu o espetacular contraste entre a bizarra saga sexual sueca de Assange, fundador de WikiLeaks, e a fúria do imperador e de sua subordinada-em-chefe. É matéria prima suficiente para mandar p’ro mato “A vida de Brian de Monty Python” (1979).

Para delírio daqueles ‘democratas’ que o querem destruído – ou morto –, Assange está firmemente instalado no trono de ícone underground global e passará os próximos dias na prisão Wandsworth, em Londres, que o jornal Guardian descreveu bizarramente como “belo exemplo da arquitetura prisional vitoriana”.

O secretário da Defesa Robert (El Supremo do Pentágono) Gates disse que a prisão é “boa notícia”. O que é bom para o Pentágono não é e jamais será bom para o resto do mundo.   A coisa está esquentando. Othriller pós-prisão de Assange mostrará e esclarecerá tudo que todos precisamos saber sobre o estado da democracia ocidental, avaliada pelo estado de três de supostas democracias-ícones – Grã-Bretanha, Suécia e EUA.   Imaginem se a narrativa-montanha-russa que corre o mundo – incluindo caçada histérica à bruxa (pirata) – estivesse acontecendo na China, na Rússia ou, que os aiatolás nos protejam, no Irã!   O imperador – e seus subalternos – mal podem esperar para voltar à rotina dos negócios, como a um oceano de hipocrisia jamais contaminado pela luta vale-tudo-na-lama que, como WikiLeaks revelou , é, afinal de contas, o que “a diplomacia faz” de fato.

No instante em que o autocomplacente Ocidente – esse sempre feliz eterno pós-fim-da-história – encara uma transgressão totalmente nova e radical, sua resposta é tentar virar pelo avesso o conceito de liberdade de informação. O imperador está desgostoso: Quem são esses “criminosos” – WikiLeaks – que se atrevem a roubar o nosso direito de só nós declararmos o que somos?

Sexo, mentiras e nenhum videoteipe

Como disse Mark Stephens, advogado londrino de Assange, falando a Asia Times Online News no fim-de-semana, os procuradores suecos caçam Assange “não por alguma acusação de estupro, como disseram antes” mas por prática conhecida como “sex by surprise”, a qual, disse Stephens “envolve multa de 5.000 kronor, cerca de 715 dólares”. Stephens acrescentou que “Nem sabemos o que significa “sex by surprise”. Ninguém nos falou sobre isso.”

Sex by surprise” é prática definida como agressão exclusivamente na Suécia.   Há quatro acusações nothriller Assange; uma “Miss A”, 31, loura, feminista e social democrata, autora de um tratado sobre como vingar-se dos homens, aparece como vítima de “coerção ilegal”; depois, de sexo com camisinha defeituosa; depois, de “molestação deliberada”. Finalmente, aparece a acusação de “sexo por surpresa” com uma “Miss W”, 27, fotógrafa de arte e fanzoca confessa de Assange.   “Miss A” deve ter gostado da confusão, porque, no dia seguinte, depois de a camisinha ter rebentado pela primeira vez, ela e Assange foram vistos juntos. E quanto a “Miss W”, foi ela quem convidou Assange ao seu apartamento – e até pagou-lhe a passagem de trem. Durante a viagem, Assange deu sinais de preferir seu computador à companhia da moça – nos termos da declaração da fanzoca rejeitada, à Polícia. Depois houve sexo, sim – e sem camisinha.   Supondo-se que essa seja a história real, Assange também poderia processar a moça; a fanzoca tão cheia de recursos deveria ter-lhe fornecido, além da passagem de trem, também a camisinha. Seja como for, uma coisa já está clara: longe vão os tempos em que havia suecas livres, independentes e sempre invejadas, já evidentemente substituídas por puritanas mais perigosas que mísseis teleguiados.

A coisa virou “assunto de garotas”. As duas mulheres reuniram-se para trocar impressões – e perceberam que tinham algo em comum: as duas partilharam o leito com Assange. Foi quanto “Miss W” sentiu-se terrivelmente perturbada com aquele “sexo sem proteção” e decidiu ir à Polícia com “Miss A”. O primeiro procurador – de fato, uma procuradora – expediu mandato de prisão por “estupro e molestação”. Dia seguinte, outra procuradora cassou o mandato de prisão. Até que a atual procuradora – também mulher – reabriu a investigação sob o argumento de que haveria “informação nova”.   O grande jornalista John Pilger, o qual, com o legendário diretor de cinema Ken Loach e outros ofereceram-se ao tribunal em Londres para pagar mais de $280 mil dólares, como parte da fiança de Assange[2] (depois, o direito à fiança foi negado), falou e foi diretamente ao que interessa:

“As acusações contra Assange na Suécia são absurdas e foram consideradas absurdas pela Procuradora-chefe sueca, que já havia encerrado o caso, até que uma figura política importante entrou em cena, e o caso foi reaberto”. Na calçada, à frente do tribunal de Westminster, Pilger resumiu tudo: “Os suecos deveriam ter vergonha do que fizeram.”

Nada confirmado até agora, mas especula-se que a tal “figura política importante” talvez tenha as maneiras sombrias do velho estilo da velha CIA. Mas a parte mais absurda é que a própria “Miss A” contou a um tabloide sueco que jamais pensara ou desejara acusar Assange de estupro. Talvez devesse contar também à nova Procuradora.

O que mais importa é que Stephens, advogado de Assange, disse já várias vezes que seu cliente permaneceu na Suécia durante 40 dias, oferecendo-se para depor ante a Procuradora e contar sua versão dos acontecimentos.   Em toda a Europa, as leis listam 32 violações – estupro é uma delas – que autorizam extradição. Os britânicos estão apenas cumprindo um pedido de extradição da Justiça sueca. Advogados europeus têm dito que, agora, o melhor para Assange é aceitar a extradição e esperar as decisões da Justiça sueca.

Campeões das liberdades

A jogada do “sex by surprise” não poderia ser mais adequada e conveniente para um sistema “ocidental democrático” que viciosamente tenta calar WikiLeaks a qualquer custo.   Assange inicia o artigo que publicou essa semana no The Australian [7/12/2010, “A verdade vencerá sempre”, com uma martelada: “Em 1958, um jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor de The News de Adelaide, escreveu: “na corrida entre segredo e verdade, parece inevitável que a verdade ganhe sempre”.

Compare-se com o que a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton escreveu em artigo publicado na revista Foreign Policy no início de 2010:

“Consideradas nelas mesmas, as novas tecnologias não escolhem lado na luta pela liberdade e pelo progresso. Mas os EUA, sim, escolhem. Defendemos uma única Internet na qual toda a humanidade tenha acesso ao conhecimento e a ideias. E reconhecemos que a infraestrutura de informação muncial será o que nós e outros fizermos dela. Esse desafio talvez seja novo, mas nossa responsabilidade para garantir o livre intercâmbio de ideias nasceu quando nasceu nossa República. As palavras da Primeira Emenda da Constituição [que garantem plena liberdade de expressão] estão gravadas em 50 toneladas do mármore do Tennessee à frente desse prédio. E todas as gerações de norte-americanos trabalharam para preservar os valores gravados naquela pedra.”

O que os dados realmente mostram

O que os dados mostram realmente é que Clinton – diferente de Assange e do jovem Murdoch – está sendo soterrada por 50 toneladas de mármore do Tennessee. “Livre intercâmbio de ideias?!”   Nesse momento, a ditadura militar em Myanmar, o presidente do Uzbequistão Islam Karimov, o pacote sortido de ditadores/autocratas aliados dos EUA no Oriente Médio e a liderança em Pequim devem estar pensando com seus botões que ‘tudo bem’ se se puserem a perseguir uma página de Internet, provedor, mecanismos de doação e de manutenção e ameaçar estrangeiros com mandatos de prisão – simplesmente porque não gostam do que o site publica.

O imperador declarou ao mundo: ou faz do meu jeito, ou cai fora (a estrada da não-informação é serventia da casa).   Os telegramas WikiVazados sugerem – outra vez – que a Arábia Saudita é a caixa de autoatendimento bancário que atende todo mundo, da al-Qaeda às facções dos Talibã. Mas por aqui, da Amazon e eBay a PayPal, Visa e Mastercard, todos também se ajoelharam ante o furioso imperador que quer porque quer porque quer calar um Blog.   O governo dos EUA sequer registra que a Espanha pode decidir extraditar George “Dábliu” Bush por crimes de guerra; mas todos os breques foram acionados, e inúmeras leis talvez também já estejam sendo quebradas, para conseguir que Assange seja extraditado (Atenção: a extradição é impossível, nos termos das leis norte-americanas de espionagem atualmente vigentes). E, isso, feito por um governo que, já passados nove anos, continua incapaz de encontrar os “terroristas” que, segundo a narrativa oficial teriam assassinado mais de 3.000 pessoas!   “Sex by surprise” e outras acusações forjadas talvez mantenham Assange na prisão. Mas ele não morrerá por isso, nem a prisão do mensageiro fará calar a mensagem.   Todos os telegramas vazados estão perfeitamente acessíveis na Internet, via BitTorrent – são totalmente virais (reproduzidos em 748 sites espelho até agora; e o número continua aumentando). Depois disso, dois, três, um milhão de Assanges brotarão da terra.   E esses novos Assanges já terão aprendido mais uma lição: se você quer exibir o imperador nu, aprenda a tomar, com seus parceiros de sexo, os mesmos cuidados que toma com as suas fontes.

NOTAS

[1] “Segundo amigos e amigas suecos, sex by surprise seria tradução para o inglês de uma expressão de gíria em sueco – “överraskningssex” – utilizada em piadas de caráter sexual, ou para negar que tenha havido estupro (Blog Rue89, Paris, 8/12/2010, em http://www.rue89.com/2010/12/08/julian-assange-arrete-cest-quoi-le-sexe-par-surprise-179729).

[2] Sobre isso ver “Realizador Ken Loach ofereceu-se para pagar parte da fiança de Julian Assange”, 8/12/2010, Jornal de Notícias, Portugal, em http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1729595 .