28 de fevereiro de 2010

Informação rápida: links de posts sobre a pesquisa do Datafolha

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Deixo-lhes alguns links sobre posts de outros blogueiros que destrincham a última pesquisa do Datafolha, que mostrou Dilma quase empatando com Serra.

Nassif 1

Nassif 2

E os últimos posts do Eduardo.

Aviso: Posts novos agora só na madrugada de domingo para segunda-feira, a partir das 5 horas da manhã

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Quer saber mais sobre o Sindicato dos Blogueiros? Inscreva-se no grupo

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Essa idéia de criar um Sindicato de Blogueiros é muito digamos, original, para não dizer maluca, por isso nem quis constranger meus amigos blogueiros, nem entrei em contato com os medalhões da blogosfera, fazendo-lhes convites que lhes forçariam a dar respostas antes do tempo e sobre algo ainda tão incerto. Preferi lançar a idéia assim, no escuro, sem abordar ninguém pessoalmente, aqui no blog, abrindo a discussão antes para o mundo, para ver no que acontecia. De qualquer forma é bom entender que o sindicato é uma entidade de caráter privado e constitui um direito político de todo cidadão ou grupo de cidadãos. Minha idéia é que, no futuro, existam diversos sindicatos de blogueiros, e que os mesmos se organizem numa central única. Minha idéia é norteada, basicamente, por apenas um fundamento: lutar pela profissionalização e existência da figura do blogueiro independente. É a única profissão que realmente me apaixonou na minha sofrida carreira de jornalista e escritor e por isso quero lutar por ela. Sempre poderia continuar agindo solitariamente. Até gostaria que continuasse assim. As dificuldades colossais que vejo se erguerem à minha frente, contudo, me obrigam a buscar auxílio no coletivo, antes que seja tarde demais. Acho que as chances de sobrevivência podem ser melhores se nos organizarmos coletivamente.

Paro por aqui, porque não quero ocupar este blog com as conversas de caráter interno do Sindicato (que nem existe ainda na prática). Para isso, criei um grupo de discussão. Quem estiver interessado em participar do Sindicato ou colaborar para sua construção, basta entrar e se inscrever.

http://groups.google.com.br/group/sindicato-dos-blogueiros

Agora este blog pode voltar a outros assuntos.

27 de fevereiro de 2010

Quem quer participar?

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Prezados, recebi vários emails muito legais elogiando a proposta de se criar um Sindicato dos Blogueiros Independentes, o Sindblog, além dos comentários no post em que falo sobre a idéia. Gostaria porém de enfatizar o meu convite. Quem deseja participar? Estou propondo a criação de um sindicato de blogueiros. Participação gratuita e livre de qualquer blogueiro, independente da quantidade de visistas, tempo de vida do blog ou tema do blog. Quem estiver interessado, favor deixar um comentário abaixo, ou enviar um email para migueldorosario@gmail.com.

Saliento que é uma idéia quase experimental. Quase uma brincadeira. Espero que se torne algo sério no futuro, mas por enquanto é melhor algo ainda um tanto incerto. O fundamento é a tentativa de unir forças, em torno de uma entidade ágil, simples, moderna, imparcial, que poderá fazer coisas que o blogueiro sozinho não pode.

Por enquanto, se trata apenas de uma carta de intenção. Quando tivermos um grupo razoável, daremos prosseguimento à fundação do Sindicato. Os fundadores, ou seja, aqueles que acreditaram primeiro na proposta, que é algo infinitamente simples, quase inocente, mas com potencial de ser algo importante, naturalmente terão algumas vantagens.

A única condição para ser membro é possuir um blog ativo há mais de três meses e aceitar mostrar o logo do Sindicato em algum lugar visível do seu blog. E incluir no blog, em lugar de destaque, um RSS do blog do Sindicato (ainda a ser criado). A presidência do sindicato será rotativa entre os membros fundadores ou entre aqueles com mais de seis meses de registro. Todas essas regras são provisórias, naturalmente. No primeiro mês, até que o sindicato seja devidamente organizado, eu mesmo, idealizador, serei o presidente.

Não estou contando com muitos membros. Quanto mais melhor, claro, mas tanto faz a quantidade nesse primeiro momento. Aos poucos iremos crescendo, conforme formos ganhando a confiança das pessoas. O importante é criarmos um patrimônio coletivo, que possa concentrar nossa força e nos ajudar a enfrentar os grandes tubarões do universo midiático tradicional. Qualquer coletivo, mesmo que de três pessoas, já tem mais poder do que um só.

Dilma encosta em Serra, diz Datafolha

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27 de fevereiro de 2010

Pesquisa Datafolha publicada na edição de domingo da Folha, mostra que a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) cresceu cinco pontos nas pesquisas de intenção de voto de dezembro para janeiro, atingindo 28%.

No mesmo período, a taxa de intenção de voto no governador de São Paulo, José Serra (PSDB), recuou de 37% para 32%.

Com isso, a diferença entre os dois pré-candidatos recuou de 14 pontos para 4 pontos de dezembro para cá.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No entanto, é impreciso dizer que o levantamento indica um empate técnico entre Serra e Dilma. Ficou faltando um ponto.

A pesquisa foi realizada entre os dias 24 e 25 de fevereiro. Foram ouvidas 2.623 pessoas com maiores de 16 anos.A pesquisa será divulgada amanhã pelo Datafolha

Com o blog Amigos da Presidente Dilma.

Istoé ressuscita mensalão para atacar Pimentel

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A revista Istoé atacou pesado nesta edição. A reportagem completa está aqui. Fernando Pimentel, coordenador da campanha de Dilma Rousseff, é o principal alvo, mas a matéria tenta resgatar a fúria mensaleira em todo seu vigor original.

Li a matéria inteira, com paciência hercúlea, porque a maior parte são repetições, ilações, adjetivação excessiva. Para vocês terem uma idéia, logo no primeiro parágrafo, topamos com a seguinte frase:

O calhamaço faz a mais ampla e fiel radiografia do maior esquema de corrupção do País.

O que é risível. Os valores do mensalão são superados (para infelicidade da sociedade brasileira) por qualquer outro escândalo de corrupção. Aliás, sempre que eu leio as quantias estimadas de desvio de dinheiro público por grupos políticos eu penso naqueles filmes americanos em que as pessoas se matam por 200 mil dólares, por meio milhão, por 1 milhão de dólares. Os valores aqui são de centenas de milhões de dólares. Como é que era o nome daquela senhora da Previdência, que roubou uns 200 milhões de reais?

A tentativa de abafar o Arrudagate é clara. O mensalão foi caixa 2 de campanha é não resultou no enriquecimento ilícito de nenhum petista. Todos continuaram pobres. Já em Brasília, os desvios tinham como objetivo, pura e simplesmente, o enriquecimento ilícito e enriqueceram efetivamente todos os que participaram do processo. Só isso já caracteriza uma diferença moral considerável.

Fernando Pimentel procurou reagir rápido. Deu entrevista ao Estadão, onde esclareceu alguns pontos. Mas não adianta. O repórter, esperto, faz o petista repetir diversas vezes que se trata de um ataque político visando atingir a ministra Dilma. A repetição faz ficar parecendo uma desculpa esfarrapada do ex-prefeito de Belo Horizonte.

Mas o principal ponto de defesa de Pimentel veio, finalmente, do próprio Ministério Público Federal, que desmentiu a Istoé e afirmou que não há nenhuma prova ligando o petista mineiro ao mensalão.

Com isso, temos mais uma denúncia esvaziada. De qualquer forma, acredito que a população está bastante cansada deste tipo de acusaçao

De fato, o mensalão fez emergir graves irregularidades de campanha. Mas foi positivo para o Brasil saber como são as vísceras das campanhas políticas no país. Esse tipo de coisa sempre aconteceu e continua acontecendo e a sociedade não sabia. Mesmo autoridades invesgativas não sabiam. Muitos políticos mais ingênuos também não sabiam. Agora todos sabem e com isso ficou mais fácil o processo de prevenção e repressão.

De qualquer forma, os brasileiros devem ter consciência que uma campanha política no Brasil movimenta centenas de milhões de reais. Esse dinheiro circula para lá e para cá, muitas vezes em dinheiro vivo para evitar tributações duplas ou excessivas, ou mesmo para para não serem tributados. É o custo e o risco da democracia. A solução passa pela reforma política e pelo aperfeiçoamento das instituições investigativas, e não pela criminalização da política, dos representantes politicos e do processo eleitoral.

O Nassif fez um post didático sobre o caso.

Imprensa brasileira vira garoto de recado de Washington

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Nós, brasileiros, queríamos testemunhar uma oportunidade, apenas uma, em que a imprensa brasileira, diante de qualquer impasse entre Brasil e Estados Unidos, ficasse ao lado de seu próprio país.

Agora viraram todos mocinhos de recado das alas mais conservadoras da Casa Branca e Pentágono. O Irã não é flor que se cheire. Já falei e repito aqui que não gosto do Irã, não gosto de sua cultura chauvinista, teocrática, violenta. Mas é evidente que o Irã precisa da energia nuclear. Ele não tem rios para fazer hidrelétrica. Quando seu petróleo acabar, e uma dia vai acabar, com certeza, como o país irá se desenvolver?

Alguém já parou para pensar que o Irã é um dos poucos países do oriente médio que não é uma odiosa monarquia teocrática? Que possui sufrágio universal? A mídia brasileira e os eternos #forasarney da sociedade civil (a turminha que considera Marcelo Tas o seu guru político) continuam comprando acriticamente todas as teses dos falcões do Pentágono.

Neste quesito, aliás, vale salientar que a imprensa européia é igualmente previsível. O mundo árabe e africano é assolado por ditaduras corruptas e cruéis, mas aliadas do ocidente. Em todos essas nações há ditaduras abertas ou disfarçadas. Mas o vilão é apenas o Irã. Vários tradutores especializados já mostraram que as declarações do líder iraniano são sistematicamente distorcidas nas traduções ocidentais. Se ele fala que o Irã irá se defender duramente de um ataque israelense, eles traduzem que Ahmadinejad afirmou que o Irã quer destruir Israel.

Eu não gosto do Ahmadinejad, um camponês bruto e preconceituoso. Mas está claro para mim que não é sufocando o Irã, nem inventando uma oposição, que o ocidente irá impor uma abertura política ao regime dos aiatolás.

No filme Syriana, do George Clooney, há uma denúncia constante, a de que os grupos de oposição ao governo iraniano são financiados pela CIA. Há inclusive uma cena onde um grupo se reúne com a diretoria da agência, e inicia um relato de otimismo exagerado sobre a debilidade do regime. O personagem de Clooney não resiste e desmascara a mentira. Afirma que o regime ainda é forte. É posto na geladeira por causa disso. A oposição ao regime iraniano costuma aumentar sua importância para ganhar mais recursos internacionais.

É sabido, inclusive, que o movimento estudantil iraniano recebe dinheiro da CIA.

Claro que há oposição legítima ao regime iraniano. Por isso mesmo a interferência estrangeira é tão nociva, por tirar legitimidade de grupos que poderiam, por si mesmos, tornarem-se uma força autêntica no país.

Além disso, a cobertura da mídia sobre o Irã sempre omite o histórico dos crimes ocidentais contra o país. O Irã foi a principal cobaia das armas químicas e biológicas pesquisadas e produzidas nos EUA e Inglaterra. Saddam Hussein recebeu toneladas dessas armas para usar na guerra que travava contra o Irã.

Lula age muito bem em procurar não queimar as pontes do mundo ocidental com o Irã. Hoje é criticado, mas amanhã pode levar até o Prêmio Nobel da Paz por isso. A guerra ainda é o mais lucrativo dos negócios, e os falcões da guerra, na maioria homens com mais de 70 anos, não estão preocupados com o futuro da humanidade. Entopem-se de Viagra, drogas, e querem aproveitar o máximo a vida suntuosa que a histeria bélica americana lhes proporciona.

Para as lideranças européias, é igualmente útil a satanização do Irã, ainda mais agora, em que se vêem atrapalhadas com uma grave recessão econômica. A indústria bélica é poderosa em todo planeta. Transmite-se ao mundo que o Irã é liderado por insanos dispostos a destruir o planeta. Por que os iranianos seriam mais loucos que outros povos do mundo? As próprias manifestações políticas no país são uma mostra de vitalidade democrática. Você vê algo parecido na Arábia Saudita? Na China? Em algum país africano?

As últimas ameaças de Washington, alertando o Brasil a não estabelecer relações com o Irã acontecem porque eles tem medo que Lula atrapalhe a sua estratégia de fazer a mesma satanização do Irã e de suas lideranças como fizeram com o Iraque. O triste é ver a nossa imprensa se posicionar, invariavelmente, do lado oposto ao interesse brasileiro. O Irã é um país importantíssimo no oriente médio e com o qual o Brasil mantém relações comerciais cada vez mais intensas. Por que vocês acham que as exportações brasileiras quase triplicaram nos últimos seis anos? Por causa de países como o Irã.


Export.Brasileiras para o Irã (Sistema Alice)
PeríodoUS$ FOBPeso Líquido(Kg)
02/2009 até 01/20101.258.296.3913.418.511.430
02/2000 até 01/2001317.403.5582.562.951.022


As exportações brasileiras para o Irã totalizaram 1,26 bilhões de dólares nos últimos 12 meses (até janeiro de 2010), um aumento de 296% sobre o valor registrado em 2000/01. O Irã é um dos principais compradores de carnes brasileiras. Se fôssemos seguir a cartilha da Casa Branca, todavia, na esteira da diplomacia pusilânime, sem personalidade, submissa, da era fernandista, nunca teríamos números exuberantes assim. Qual o interesse do Brasil, portanto, em participar de sanções ao Irã? É ridículo. Quero ver o Lampreia bancar o salário dos desempregados que uma recessão econômica forçada do Irã criaria no Brasil.

O Irã tem aceitado inspeções da comunidade internacional às suas instalações nucleares. O aitolá supremo do país acaba de declarar que o Alcorão proíbe o uso de armas nucleares. Queriam declaração mais importante que essa? Resta ao mundo continuar vigiando o país para que não consiga armas nucleares, mas sem tentar sufocá-lo economicamente, o que só dificulta a abertura política do regime e enfurece suas lideranças. Ah, o Irã desenvolve mísseis de longa distância? Ahaha. Coitado do Irã. Tem um ou dois mísseis mal ajambrados que mal chegam a Israel, além de, lógico, procurar exagerar ao máximo suas conquistas, na tentativa de intimidar Israel e seus vizinhos, e o mundo acha que o Irã é que representa o maior perigo mundial? Impressiona-me diplomatas teoricamente bem informados deixarem-se levar por esse papo furado.

Por que os jornais perdem assinaturas e tiragem

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Eu gostaria de saber o que passa pela cabeça de um editor para dar uma capa dessas. Ele tinha várias opções mais interessantes:


  1. Aliados de Arruda aprovam seu impeachment. A notícia abre caminho para o primeiro impeachment de governador da história recente brasileira (e até onde eu me lembre, da história antiga também). 
  2. IBGE abre 192 mil vagas este ano. É um número monstruoso, que afetará o mercado de trabalho nacional, facilitando a queda do desemprego em 2010. O jornal bem que podia colocar na manchete, e trazer uma matéria legal sobre o IBGE e sobre as vagas em questão.
  3. Lula anuncia que governo vai financiar mais 1 milhão de casas este ano. Outra notícia de grande impacto na economia nacional. Divulgá-la seria importante para que os agentes econômicos se preparassem melhor para a elevação de demanda, evitando o que aconteceu no ano passado, quando faltou material de construção em todo país. Boa parte dos financiamentos pode ser usado pela classe média, que assina e compra jornais. 
  4. Governo cria uma força nacional para combater o crack. Eis uma notícia muito importante, porque todo mundo sabe o que essa droga maldita vem causando em nossas cidades grandes. Está mutilando mentalmente milhares e milhares de brasileiros, além de produzir um brutal aumento da criminalidade. Uma divulgação ampla da decisão do governo de criar este grupo de combate ao crack permitiria aos estados, indivíduos e entidades civis se posicionarem de forma a somar esforços, além de trazer um pouco de esperança para milhões de brasileiros que temem por seus filhos, amigos e parentes.
Não. Em vez de qualquer uma dessas, o Globo decidiu dar a seguinte manchete:

Inflação bate aplicações e BC fala em "medida impopular"


Pelo amor de Deus!

Organizar a blogosfera? (Brain Storm 1)

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Tem uma pilha de assuntos aqui do meu lado, gritando para serem transpostos logo para a rede. É um berreiro danado, todos querendo passar à frente uns dos outros. Eu digo a eles: calma! Eles continuam gritando. Como castigo, deixo-os todos esperando e passo para um outro tema, que nem estava na pilha. Para irritá-los ainda mais, escreverei calmamente, sem pressa, porque se trata de um tópico deveras importante.

Trata-se de um post do Eduardo Guimarães, intitulado Seminário da mídia alternativa, onde o blogueiro reproduz uma carta recebida do proprietário do site Carta Maior, Joaquim Ernesto Palhares. Guimarães já havia escrito, em várias ocasiões, sobre reuniões entre representantes da imprensa "alternativa", visando criar uma entidade de classe que represente o setor, e sirva de suporte político nas disputas ideológicas contra a imprensa hegemônica, que por sua vez conta com poderosas organizações políticas próprias.

Cito um trecho da mensagem de Palhares, que, segundo ele, dirige-se a todos os interessados.

Agora é hora de buscar a articulação necessária para também podermos fazer o enfrentamento político que o momento exige. Queremos que essa entidade possa cumprir um papel fundamental, porque fará a disputa ideológica com ABERT, ABRAS, ANJ, TELEBRASIL, etc., todas elas representantes da grande imprensa hegemônica.

A carta de Palhares, porém, não me empolgou. A reunião, que se realiza hoje no Hotel Maksoud Plaza, das 8 às 18 horas, terá os seguintes participantes:

Coordenador: Flavio Aguiar – USP
Facilitadora: Angela Serino - Socióloga/USP
Debatedores: Bernardo Kucinski - ECA/USP
Venicio Lima – UNB
Denis Oliveira/ECA/USP
Laurindo Leal Filho - ECA/USP

Não foi a lista dos participantes que me desanimou. São nomes ilustres da comunicação social no país e muito me honraria participar de um debate com eles. O que me desanimou foi esse trecho da carta:

A organização do evento convidará para o Seminário representantes de entidades como a CUT, o MST e o INTERVOZES, além de outros da sociedade civil organizada.

Agora tenho que explicar, né? E aí está a razão pela qual não me entusiasmei pela reunião. Em vez de falar sobre a associação, tenho que explicar minha opinião sobre o MST... Entendo a importância histórica do movimento dos sem terra, mas não consigo entender o que ele tem a ver com uma reunião para discutir a formação de uma nova entidade de comunicação social no Brasil. Quer dizer, entendo sim. Mas não concordo. Se chamar o MST, e a CUT, então que se chame a UNE, o sindicato dos catadores de lixo, os sem teto. Todo mundo tem a ver com social, todo mundo precisa de comunicação. Não se esqueçam das torcidas organizadas de futebol. Mas aí não teremos mais um encontro focado na criação de uma entidade de comunicação "alternativa", e sim um pagode esquerdista mal ajambrado!

O MST tem dinheiro. Mas é dinheiro para atender as suas demandas, que são muitas. E o dinheiro do MST é para fazer uma imprensa do jeito que o MST quer; e, com perdão da palavra, a entidade não entende patavinas de imprensa. Lembro das "reuniões" para criar o Brasil de Fato. Centenas de reuniões... Participei de uma, em Niterói. Queriam reinventar a roda. Uma imprensa com milhares de voluntários espalhados pelo Brasil... Queriam escravos trabalhando, isso sim.

Claro que não deu certo. Acabou que contrataram uma equipe profissional e só aí o negócio andou.

E a escolha do nome do jornal? Outra novela. Milhares de votações. Acabou que escolheram o nome mais horrível da história da imprensa brasileira: Brasil de Fato. O mais óbvio, mais insosso, mais arrogante, mais conservador. Brasil de Fato? Ora, só Brasil? E a América Latina? E o mundo? De fato? E a fantasia? E a arte?

Logo nas primeiras edições, que eram bancadas com verba do MST (e acho que da CUT também), o jornal inicia uma campanha de boicote aos produtos americanos. Maravilha. Estratégia genial de publicidade! Isso é que é buscar a sustentabilidade! O fato de noventa por cento das agências de publicidade mais atuantes no Brasil terem capital norte-americano era só um detalhe, não? Tudo bem, havia a guerra no Iraque. Mas por acaso os EUA bombardeavam o oriente médio com bombas de coca-cola e mísseis de Big Mac?

Aí novamente eu vejo que as discussões em torno da criação de organizações de comunicação independentes continuam amarradas aos mesmos conceitos politicamente ineptos, ao mesmo esquerdismo infantil, esquerdismo - com todo respeito - de professor universitário... Com o salário garantido, é fácil...

Eu observo, sobretudo, uma arrogância desmesurada no ar. Uma atmosfera ideológica ridiculamente competitiva. Todo mundo querendo ser mais esquerda do que o outro. Todo mundo se olhando de soslaio, desconfiados, com aquele eterno ar blasé.

Desculpem se pinto uma imagem caricata. Afinal, o que você quer, sr.Óleo do Diabo?

Não sei, admito. Não sou sério o suficiente para frequentar essas reuniões. Eu sou apenas um blogueiro obsessivo e irreverente (ou que tenta ser), como quase todos os blogueiros. Não tenho tempo nem dinheiro para frequentar seminários Brasil a fora, discutindo interminavelmente o futuro da blogosfera ou da imprensa "contra-hegemônica".

Sou novo, 34 anos, mas já experiente o bastante para desenvolver um ceticismo salutar em relação a essas reuniões...

Eles ainda estão discutindo o nome da entidade a ser criada. Outro trecho da carta do Palhares:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS E EMPREENDEDORES DE COMUNICAÇÃO.

Ou o nome deve, desde logo, anunciar quais os princípios da entidade que estarão dispostos na Carta de Princípios e no Estatuto?

Um outro grupo defende uma entidade que, desde o nome, deixe claro seus objetivos políticos e econômicos, nesta ordem.

Por exemplo:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS E EMPREENDEDORES INDIVIDUAIS DA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA.


Ótimo. Eu, particularmente, gostei do termo "Empreendedores individuais da comunicação alternativa". É lindo isso. Dá vontade de chorar. Claro, talvez fosse mais sucinto dizer: blogueiros, mas Empreendores individuais da comunicação alternativa é muito mais... nobre. Não é?

Então, fala logo, Sr.Óleo, o que você propõe?

Na verdade, eu tenho milhares de idéias, há tempos. Eu sempre tive medo, porém, de que elas sejam como as cigarras: vivem muito tempo embaixo da terra; quando ganham asas, contudo, e podem cantar ao ar livre, não duram mais que alguns dias. Tenho medo porque sei que é assim. As idéias sempre duram mais enquanto permanecem enterradas no subsolo das utopias. Quando a coisa começa a acontecer, surgem os vícios, as disputas, as invejas.

Os barões da mídia conseguem se organizar porque são poucos e são ricos. É sempre mais fácil nessas condições.

Por outro lado, há um fator econômico fundamental aqui, e creio que é atrás dele que todos estão atrás: a publicidade estatal. Até hoje, os velhos grupos midiáticos abocanham a maior parte dela.

É legal isso. Mas suspeito que, assim que essa verba aparecer, surgirão trinta milhões de blogueiros no Brasil. Haverá gente que escreverá até duzentos posts por dia para provar que é um blogueiro no mínimo esforçado e que, portanto, merece tanto como qualquer outro receber a verba.

Tornei-me cético, portanto, em relação a muitas coisas.

Em relação ao Estado, que não creio capaz de julgar o mérito de blogs.

Em relação à publicidade das empresas, dominada por quase insuperáveis preconceitos ideológicos.

Para que anunciar em blogs?

Não há razão. A visibilidade é pouca, e blogueiros são imprevisíveis. Se der na telha, eu tasco a falar palavrão no meu sítio, e aí, o que será do anúncio da Pousada das Famílias que eu vinha publicando na coluna da direita?

Vai pro espaço. E eu arrisco a ganhar um processo judicial.

O pior, todavia, não é nada disso.

O pior é a liberdade, essa menina travessa e arredia e, sejamos francos, imoral. A liberdade é imoral. Indecente mesmo. Não convive bem com o mundo dos negócios e da alta política.

Há outro problema, ainda mais grave: as ideologias. Ah, meu Deus, aí estamos perdidos. As entidades terão uma linha ideológica? Tem que ser de esquerda, certo? Tem de ser? Mas quem definirá o que é esquerdismo? Para a turma do PSOL, o PT é direita. Para o PSTU, o Lula é o mais direitão dos presidentes da história do Brasil.

Na verdade, a turma que vem se organizando para montar essas entidades de "comunicação alternativa" só consegue se unir ideologicamente em função do surgimento de grande inimigo em comum: a "mídia golpista". Parece que estou sendo sarcástico, mas falo sério. Não fosse esse adversário, estariam todos se engalfinhando na luta pelo cálice socialista sagrado... Um cálice de cristal austríaco, provavelmente, onde podemos beber, no singelo Hotel Maksud, uma cerveja de vinte reais a garrafa. E o pior nem é isso. O pior é nem beber nada, nem água, com medo do olhar acusativo do representante do MST sentado atrás.

*

De vez em quando alguém vem falar comigo sobre a necessidade de juntar as forças da blogosfera. Montar um site, um portal, que centralize os blogs.

Isso já foi feito. Mas perdeu a graça. Os leitores preferem entrar num blog específico, do qual eles gostam, e não num site caótico, babilônico, com neguinho atirando para todo lado.

Pensando nisso, nunca achei uma boa idéia esse tipo de iniciativa.

A saída, então, é deixar rolar? Laissez faire?

Muito bem, então façamos isso. Sejamos um bando de blogueiros miseráveis, inseguros, utópicos. Alguns de nós se cruzarão durante as Conferências de Comunicação organizadas bianualmente pelo governo, ou em manifestações de rua lideradas pelo blog Cidadania.

Não. A organização é sempre útil. O coletivo, quando chega na hora certa, fortalece o indivíduo.

Pensando nisso, eu tive uma idéia. É uma idéia bem antiga, mas que agora, eu, devido às circunstâncias, acho que está madura.

Minha idéia é criar o Sindicato dos Blogueiros Independentes, o SindBlog. Inclusive já até pensei em alguns tópicos para o Estatuto:

1) A entidade será apartidária e aceitará de bom grado membros de todos os espectros ideológicos. Com exceção, é claro, de nazistas declarados, participantes de seitas satânicas, fanáticos religiosos, etc. (É melhor assim do que enfrentar dores de cabeça mais tarde. Pessoas que tem afinidade politica ou ideológica hoje, podem não ter amanhã. De qualquer forma, embates políticos sempre haverão. É inevitável. Por isso mesmo é preciso criar uma atmosfera de tolerância e respeito quanto às escolhas partidárias e ideológicas de cada um).

2) A inscrição será gratuita e a entidade não movimentará recursos financeiros próprios. Pelo menos não num primeiro momento, para evitar desconfianças & problemas & cobiça.

3) O capital da entidade será puramente político. Os membros incluirão em seus respectivos blogs, o logo do sindicato, e reservarão um espaço para publicação do RSS do blog do sindicato. Essas serão as únicas condições obrigatórias.

4) A partir daí, as adesões às políticas serão voluntárias. Por exemplo, o sindicato sugere a publicação de tais ou quais matérias, e os membros decidem, cada um, se seguem as orientações.

5) A presidência do Sindicato será rotativa, de uma semana por exemplo. Para publicar alguma orientação no blog da entidade, todavia, deverá apresentar o apoio de ao menos 1/4 dos membros.

6) As reuniões serão sempre feitas via emails de grupo. É o modo mais fácil, mais confortável e mais barato.

7) Os objetivos do sindicato são:

  • Oficializar a profissão de blogueiro junto ao Ministério do Trabalho.
  • Ajudar cada blogueiro a encontrar a sua sustentabilidade própria.
  • Criar uma rede de proteção jurídica para os membros.
  • Criar um fórum de discussão dos problemas próprios à blogosfera.
  • Ser uma ferramenta de diálogo dos blogueiros entre si e dos blogueiros com outros setores da sociedade.

8) Por não possuir capital, o sindicato será, de inicio, informal, baseado apenas na boa-fé dos participantes. Num futuro momento, estudar-se-á a viabilidade de se formalizar a criação de uma figura jurídica do sindicato. Quem sabe, aí sim, não podemos receber apoio de alguma central sindical. Aí sim a CUT ou outra central pode entrar para nos ajudar a existir formalmente. Não vejo sentido em  envolver a CUT antes de nós mesmos nos organizarmos.

*

Os outros temas, que berravam ao lado, perderam a voz, exaustos, e agora dormem. Eu também vou dormir. Pensem com carinho na minha idéia. Lembrem-se que o partido comunista do Brasil foi fundado com apenas 22 pessoas. Nem precisamos de tantos. O importante é criarmos uma entidade sem necessidade de centenas de reuniões em diferentes cidades do Brasil, onde somente participam pessoas que ganham passagens e ajuda de custo dos organizadores do evento, ou das universidades onde trabalham, ou do governo, ou de empresas.

Quem quiser discutir o assunto, pode comentar aí abaixo, ou mandar um email para: migueldorosario@gmail.com.

Iniciando os trabalhos (e terremoto no Chile)

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Prezados, são 6.31 da manhã. Já terminei de ler todos os jornais. Assisti também à entrevista da Marina para CBN, e agora começo a escrever. Dentro de 30 ou 40 minutos, o pão sai do forno. Queria fazer as coisas ainda mais cedo, mas não me adaptei totalmente ao novo ritmo de trabalho. Meu projeto é apresentar o blog atualizado, com 4 ou 5 posts antes das sete horas da manhã. Com isso, ajudo o Brasil a enfrentar essas manhãs sempre carregadas de ameaças. Até semana que vem eu me acostumo. Tiro folga aos domingos. Talvez reserve os domingos para alguma coisa relacionada à literatura, minha paixão primeira.

Notícia de última hora:

Terremoto de 8,5 na escala Ritcher atinge Chile
Informações ao vivo por aqui

26 de fevereiro de 2010

Mídia ajuda Dilma a crescer

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As pessoas às vezes não entendem esse fenômeno tão frequente na política. Acontece com políticos bons e maus. Quanto mais são criticados na imprensa, mais ganham popularidade. O que a mídia vem fazendo com Dilma entra na mesma regra. Confiram o fác-símile da capa do caderno Dinheiro 2, da Folha desta sexta-feira:



A matéria tem chamada na primeira página do jornal:



O texto da matéria está aqui.

A chamada na capa da primeira página mente. A Eletrobrás sempre afirmou, e agora há uma decisão judicial lhe dando razão, que a rede de cabos de fibras óticas lhe pertence, e não à Eletronet.

A matéria é praticamente um pedido de desculpas da Folha à ministra, e apesar da linguagem meio tortuosa, isenta-a de uma eventual culpa de um crime que, alias, nem existiu. O jornal aborda o assunto sob um prisma totalmente distinto do que vinha fazendo, apresentando fatos que, curiosamente, chocam-se com o que havia informado em dias anteriores, e mesmo com o editorial do mesmo dia. Choca-se inclusive com a chamada da primeira página, porque lá refere-se à rede de fibras óticas como propriedade da Eletronet, e na matéria informa que a Justiça entendeu que a mesma pertence, na verdade, à Eletrobrás.

Voltando ao raciocínio inicial, a Folha, ainda que tentando fazer intriga contra a ministra Dilma Rousseff, acaba projetando sua imagem junto à opinião pública, tornando-a mais conhecida e abrindo espaços para que ela exponha sua personalidade e suas idéias. Ao criar pautas sucessivas envolvendo a ministra, mesmo que negativas, a Folha dá oportunidade para que ela ganhe mais visibilidade. Considerando que o maior problema de Dilma ainda é a falta de projeção junto à sociedade, sobretudo na comparação com seu principal adversário, Serra, essa exposição é muito benéfica à candidata, que, por sua vez, parece entender bem este fenômeno, e vem reagindo com muita tranquilidade e bom humor. O medo de que Dilma partisse para um enfrentamento rancoroso já se dissipou. Ela se revelou suficientemente astuta para compreender que, se a grande mídia é sua adversária ideológica, a saída é explorar os limites que esta possui para revelar seu partidarismo, os mesmos limites que a forçam a divulgar imagens e palavras da ministra.

O editorial lombrosiano da Folha

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Pensei que pudesse fugir a esse assunto, mas ainda não é possível. Mal começo minhas leituras dos jornais, o assunto vem morder-me o calcanhar. A Folha aborda-o em seu editorial primeiro, que reproduzo abaixo. Vale a pena ler como experiência antropológica. Ele revela como o jornal de maior circulação no país é controlado por crianças mimadas e perigosas. A denúncia da Folha sobre o lobby de Dirceu caiu do viaduto e foi atropelado pelos fatos. O empresário que contratou o ex-deputado não conseguiu o que queria. Se houve lobby, portanto, ele foi recusado pelo governo. Saliente-se que a oposição e os principais colunistas da mídia defendem a descriminalização do lobby no Brasil, a exemplo dos EUA, onde o mesmo é legalizado. Até porque todas as grandes empresas no país contratam empresas e indivíduos cuja função é justamente fazer lobby junto às autoridades.

Com seus argumentos em terra, a Folha tenta desesperadamente manter uma brasinha acesa não mais se embasando em fatos, mas na própria figura de Dirceu. O editorial é lombrosiano. Lembra aqueles acusadores da idade média que apontavam o acusado ao júri dizendo: "Vejam! Não tenho provas conclusivas, mas observem esse nariz curvo, essas têmporas pronunciadas, esse queixo quadrado! É o rosto de um criminoso!"

Abaixo o editorial, intercalado de comentários meus.


Banda turva

Atuação de Dirceu expõe alianças entre empresas favorecidas pelo governo e grupos de interesse que se aninham no Estado

A CADA ENXADADA, uma minhoca. Natural da cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais, José Dirceu certamente conhece esse dito popular, segundo o qual basta procurar para encontrar.
E minhocas não parecem faltar quando o assunto são os negócios de consultoria a que passou a se dedicar o ex-ministro do governo Lula. Desde que deixou a Casa Civil e teve o mandato de deputado cassado pela Câmara, em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão, Dirceu tem se mostrado uma figura equívoca. A militância política e a atividade profissional, os contatos no mundo privado e as incursões pelos porões do poder público se misturam nebulosamente na vida deste personagem anfíbio.

[Bem, Dirceu teve seu mandato de parlamentar cassado, num processo que até a oposição admite ter sido puramente político. Não é mais funcionário público. Também afastou-se do PT, pelas mesmas razões políticas. Ao mesmo tempo, toda a sua vida foi dedicada à política. É só isso que ele sabe fazer. As pessoas se especializam. Dirceu se especializou em política, e política envolve necessariamente relações com o Estado e seus representantes. Acredito que ele precise ganhar dinheiro para viver. É natural que suas consultorias tenham relação com a política. Queriam que ele desse consultoria sobre esportes? Vai ver ele está fazendo algo de errado em alguma parte. Não boto a mão no fogo por ninguém. Mas é preciso provar, ou na impossibilidade disso, ao menos apontar indícios consistentes de infração, o que não foi o caso nas matérias sobre a Eletronet. Acusações genéricas como "incursões pelos porões do poder público" e "se misturam nebulosamente" são levianas e não tem valor nenhum. ]

O próprio Dirceu, vale dizer, alimenta uma certa mitologia em torno de seu personagem, sem que se saiba quanto disso é lobby de si próprio e quanto corresponde à influência que ainda exerceria sobre setores do Estado e da máquina petista.

Em 2007, numa longa entrevista à revista "Playboy", a certa altura ele explicava seu trabalho nos seguintes termos: "No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque, no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas do que com empresas que têm relações com o governo".

Primeiro, há esses telefonemas com exclamação, que mais mereceriam pontos de interrogação. Segundo, há o fato incontestável de que Dirceu trabalha, sim, com empresas que têm relações com o governo. Como revelou esta Folha, é o caso da consultoria que prestou ao empresário Nelson Santos entre 2007 e 2009, pela qual recebeu R$ 620 mil.

[Até onde eu sei não é proibido fazer propaganda de si mesmo. A Folha tenta transformar o ponto de exclamação (que foi escrito pelo redator, não pelo entrevistado), em prova de um crime... Dirceu foi um dos ministros mais importantes do primeiro governo Lula. É claro que seu telefonema tem peso. Que eu saiba, Nelson Santos não tem relação com o governo. Se ele comprou ações da Eletronet, uma empresa que possuía uma rede de fibras óticas, e a empresa perdeu essa rede para o governo, através de uma batalha judicial que durou anos, é problema dele. Se for levado ao pé da letra, eu também tenho relações com o governo, porque tenho conta no Banco do Brasil. Qualquer empresa no Brasil tem relações com o governo. ]

Dono de uma "offshore" num paraíso fiscal, Santos adquiriu em 2005, por R$ 1, uma participação na Eletronet, empresa em processo de falência que o governo Lula planeja recuperar para usar seu principal ativo -uma rede de 16 mil km de fibras óticas- na oferta de internet a 68% dos domicílios até 2014.

[Mentira. O governo Lula não pretende "recuperar" a Eletronet. O que ele fez foi recuperar, na Justiça, a posse da referida rede, que, portanto, não é "principal ativo" da Eletronet, mas um patrimônio da Eletrobrás e do povo brasileiro. A Folha, como sempre, desinforma. Nelson Santos fez uma aposta. A Eletronet é uma empresa privada; privatizada, é bom lembrar, em 1999, no governo FHC. Qualquer um podia comprar participação nela, se quisesse arcar com o risco de levar pra casa também uma dívida imensa. Esse tipo de coisa sempre tem utilidade, nem que seja para lavar dinheiro Mas aí é problema de Santos e, se ele cometer alguma irregularidade, da Justiça.]

É no mínimo uma coincidência sugestiva o fato de que a massa falimentar da Eletronet tenha sido convertida em ouro pelo governo meses depois da contratação de Dirceu por Santos. Qualquer que seja o desfecho dessa história, ela constitui o mais recente capítulo do que se tem procurado ocultar sob a retórica do "Estado forte" lulo-petista: a aliança entre empresas privadas favorecidas pelo poder e grupos de interesse aninhados no Estado e no partido.

[Mentira. A massa falimentar da Eletronet não foi convertida em ouro depois da contratação de Dirceu. Santos é que contratou Dirceu no momento em que avançavam as discussões, dentro do governo, para recuperar a rede de fibra ótica da qual a Eletronet era gestora ou proprietária - mas que, por decisão da Justiça, entendeu-se pertencer apenas à Eletrobras, a saber, ao governo, e não à Eletronet, porque foi construída antes da privatização da empresa, a qual nunca investiu um centavo na dita rede. De qualquer forma, a Folha tenta iludir algum trouxa derradeiro que só tenha acompanhado a história através de suas páginas. Nelson Santos não ganhou. O governo recuperou a rede de fibra ótica sem pagar nada à Eletronet. Esse é o fato concreto. Isso é que importa. Não há "coinciência sugestiva". Santos contratou Dirceu para tentar reverter um processo que estava em trâmite da justiça. Ou para ser melhor informado sobre o caso e evitar perder dinheiro. Provavelmente a consultoria envolveu outras informações que devem ter feito valer os 620 paus pagos ao ex-deputado. Essa é vida, senhor redator da Folha. O Luciano Huck ganha 3 milhões por mês. Um professor de história ganha 600 reais no Rio de Janeiro.]

A operação de compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, que demandou mudanças importantes na legislação e contou com forte injeção de dinheiro do Banco do Brasil e do BNDES, é um exemplo acabado do neopatrimonialismo em curso no país.

[Isso é outra história. Mudar de assunto não vale. Neopatrimonialismo foi privatizar a Vale e a Telebrás com dinheiro do BNDES, entregando tudo na mão de amiguinhos, como o Benjamin Steinbruch e Daniel Dantas. Aliás, aquilo sim era aliança entre mercado e Estado... Receber de mão beijada uma Vale, uma Telebrás, meu caro...]

Com seu maquiavelismo de almanaque, Dirceu apenas mostra de maneira mais didática o que se tornou diretriz de governo.

[Dirceu não é mais governo. Está tentando voltar. Mas não integra o governo desde 2005. A conclusão é dúbia, incoerente, vaga. A Folha já soube morder mais forte.]

Governo Serra promove violência contra viciados

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Assisti estarrecido ontem na TV, em horário nobre, os âncoras da Band e da Globo, anunciarem uma espetaculosa operação da polícia paulista na famigerada Cracolândia. Não que eu seja contra a repressão ao consumo de crack, ainda mais como é em São Paulo (aqui no Rio também é assim), no meio da rua. O que houve ali, no entanto, não passou de uma brutalização imperdoável de pessoas doentes, fragilizadas psicologica e fisicamente pelo vício.

Uma operação deste tipo deveria ser feita sem alarde, sem presença de equipes de TV, com auxílio de especialistas em tratamento de viciados. Há traficantes perigosos nessas áreas, mas a maioria são viciados semi-destruídos mentalmente. Triste ver aqueles andrajos magrelas e inseguros sob a mira de metralhadoras automáticas, recebendo insultos, chutes e tapas na cara.

Para completar o quadro de incompetência e chauvinismo vulgar, os doentes foram encaminhados para um centro de tratamento que não fora previamente avisado, e que não possuía funcionários para atender a quase ninguém. Resultado: os viciados foram liberados e voltaram imediatamente à cracolândia, prontos para retornar ao consumo da droga.

Um dos maiores crimes observados nas grandes cidades brasileiras, com São Paulo em primeiro lugar, é o abandono de gerações inteiras de crianças e adolescentes, que passam os dias e noites consumindo crack nas ruas. Os governos deveriam investir pesado no tratamento desses seres humanos, que estão se convertendo em monstros terrivelmente perigosos à sociedade. Quer dizer, nem tão perigosos assim, porque o crack é tão letal que a maioria acaba morrendo muito cedo ou se tornando verdadeiros vegetais semi-vivos. Alguns, todavia, sobrevivem, mas com marcas sinistras do sofrimento vivido e sabe-se lá do que serão capazes de fazer. Seria importante que o governo de São Paulo fizesse um trabalho sério no combate ao crack, em grande escala, com apoio e participação das organizações sociais que já trabalham com o problema. Essas medidas brutalizantes, unilaterais, midiáticas, apenas agravam o problema.

Espanando a poeira

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Não comento tudo o que acontece por razões óbvias: é muita coisa e eu sou um só. Prefiro concentrar-me em poucos assuntos e aprofundá-los. Mesmo assim, os temas que não abordo ficam girando em torno de mim como nuvens de poeira. De vez em quando sinto necessidade de comentá-los rapidamente, para espaná-los para longe. Dois assuntos estão atrapalhando-me, neste exato momento, a manter uma concentração mais limpa sobre outras coisas: 1) o caso Eletronet; 2) o salariômetro do Serra. Comento-os:

1) Mico da Folha e do Globo. O Jornal Nacional repercutiu matéria usando como suporte o "segundo a Folha", mesmo que a reportagem não apresentasse nenhuma solidez. Ao cabo, a blogosfera desmascarou a história. O Nassif acompanhou de perto o negócio. Para quem não o entendeu muito bem, tentarei explicar por aqui:

Lá atrás, o governo FHC privatizou a Eletronet, uma empresa que possuía um importante patrimônio de fibras óticas, que são fiações ligando cidades e estados, que podem ser usadas na montagem de um sistema de internet banda larga. Pouco depois, a Eletronet, já privada, entrou em falência. Todo aquele cabedal de fibras óticas ficou largado ao vento, ocioso.

Há alguns anos o governo tenta recuperar para si as fibras óticas cuja posse era disputada juridicamente entre a Eletrobrás (governo federal) e a Eletronet. No entretempo, a Eletronet, com dívidas de até 800 milhões de reais, tornou-se joguete de especuladores, como o empresário Nelson Santos. Ele comprou ações da empresa por 1 real. Porque 1 real? É um preço simbólico. Como é uma empresa fortemente endividada, em concordata, na teoria ninguém quer comprá-la, porque isso acarreta em ligar-se à uma massa falida; mas na prática sempre há agentes interessados, por diversas razões: por exemplo, apostando em reviravoltas jurídicas que possam trazer dinheiro à empresa. É isso mesmo, uma aposta pesada, que pode resultar em lucro de milhões de reais. Sabe-se hoje que o tal Nelson Santos, que contratou consultoria de José Dirceu para avaliar a situação desta empresa e, possivelmente, buscar alguma influência junto ao governo, pensava num lucro de até 200 milhões de reais. Em caso de não obter o que se consegue, também não se perde muita coisa (às vezes), porque essas empresas conseguem arrastar suas dívidas por décadas, ainda mais se tratando de sócios minoritários recém-ingressos.

A Folha trouxe uma reportagem, assinada por Marcio Aith, em tom de denúncia, segundo a qual Nelson Santos teria contratado Dirceu por 620 mil reais (num serviço legal, com nota fiscal e tudo) para que o ex-deputado exercesse influência junto ao governo para que este comprasse a rede de fibra ótica pertencente à Eletronet. Com isso, anunciou a Folha bombasticamente, o empresário, que investira 1 real na empresa (além dos 600 paus pro Dirceu), poderia ganhar até 200 milhões. A denúncia, porém, não se sustentou por 24 horas. A Advogacia Geral da União e a Casa Civil rebateram-na imediatamente, afirmando que os sócios da empresa (entre eles, Nelson Santos) não receberiam um tostão do governo. As fibras óticas foram recuperadas para a União através de uma batalha judicial.

O Jornal Nacional deu a matéria, mas foi obrigado a apresentar o outro lado, do governo, e ficou tudo parecendo (como o era, de fato) não uma reportagem sobre um caso real, mas o registro sobre uma tentativa torpe do jornal em atingir a ministra Dilma, candidata à presidência da República, com base em fontes altamente suspeitas, como o empresário Nelson Santos.

O jornalista Luis Nassif entrou em cena, fazendo uma denúncia ainda mais forte. Houve lobby sim, mas da Folha. A fonte da reportagem sempre fora o empresário Nelson Santos, parte interessada, que tentou melar o Programa Nacional de Banda Larga, um projeto que entusiasma o universo web e que é fundamental para o país avançar na era digital. Nassif vai mais longe. A Folha também é parte interessada, porque proprietária do UOL, que presta serviço de provedor de banda larga, um serviço condenado e obsoleto, que provavelmente deixará de existir após a implantação do PNBD e da popularização da banda larga no Brasil, porque a banda larga é uma tecnologia que não precisa de provedor. É necessário somente uma linha, fornecida por uma empresa, pública ou privada, mas não um provedor. Como telefone. Não preciso de provedor para usar telefone, apenas de uma empresa que instale meu aparelho. Os especialistas me desculpem se simplifiquei demais e falei bobagem.

Nos dias seguintes, com a denúncia esvaziada, a Folha e o Globo voltam ao assunto por outros flancos, num ataque destrambelhado e inseguro. O Globo tentou dar ares de escândalo ao fato do governo ter respondido pronta e rapidamente às denúncias. Tentou-se converter a competência comunicacional da ministra Dilma num erro. A Folha retoma o tema apresentando um resmungo de Nelson Santos, o lado perdedor da história, que não ganhou o dinheiro que esperava, como uma contestação muito válida à versão apresentada pelas autoridades, por sua vez amparadas em decisões judiciais claras e, sobretudo, pelo interesse nacional, porque a implantação do Programa Nacional de Banda Larga será - repito - deveras importante para o desenvolvimento tecnológico do país. Se isso traz dividendos à candidatura Dilma, melhor ainda. Esse é o sentido de uma democracia eleitoral: governantes governam bem e recebem votos por isso.

Estamos ainda nesse pé. A Folha volta hoje com uma matéria manca, ingênua, uma mordidinha banguela, chorosa, no sapato da ministra. Diz que Dilma aconselhou a OI a não comprar a Eletronet, porque estaria adquirindo um mico, já que o governo não recuaria em sua intenção de recuperar judicialmente a rede de fibra ótica, que é, ao que parece, a única coisa realmente de valor que possuía a empresa. Ótimo. Dilma foi sincera. O processo não corria em segredo. Por mais críticas que se tenha à OI, ela é uma empresa autêntica, dona de concessões públicas, uma empresa estratégica para o sistema de comunicação no Brasil e o dever do governo é ser transparente e franco em suas relações com o mercado.

Quanto à Dirceu - cuja participação no processo foi acompanhada pela musiquinha de terror tocada pela mídia, mantida a estratégia de tratar o ex-deputado como um criminoso -acumulou mais uma cicatriz no lombo curtido. Não boto a mão por Dirceu nem por ninguém. A indignação da blogosfera não emergiu para defender Dirceu, e sim para impedir uma injustiça e uma falcatrua, que era atrasar ou impedir o lançamento do Programa Nacional de Banda Larga e com isso ajudar Nelson Santos a obter dinheiro fácil.

A história é cheia de nuances e jogadas de contra-informação. Acompanhar a jogatina de empresários malandros conluiados com jornalistas não é para qualquer um. O que se pede, somente, a quem se posiciona criticamente em relação ao governo, é que também mantenha um pé atrás em relação à mídia. O governo é amplamente vigiado por instâncias investigativas, e não se pode negar que estas vem trabalhando duro. O Arruda que o diga. Empresas privadas e mídia, por outro lado, não precisam apresentar relatórios a nenhum Tribunal de Contas. Apenas à Justiça e, a partir de um tempo para cá, à combativa e atenta blogosfera brasileira.

*

2) Salariômetro. Não, me recuso a me estender sobre uma coisa tão ridícula. Comentemos laconicamente. Governo Serra lançou um site com um medidor de salários. Através do qual você lança um emprego e vê o salário médio. É uma coisa que teria sentido ser feita por uma empresa privada qualquer com interesse em marketing na web. Não um governo de Estado. A sociedade brasileira espera que o governo paulista invista sua energia e tempo em coisas mais úteis e importantes à economia e ao bem estar da nação. Pois não é que o governo Serra levou tão à sério o tal site do salariômetro que organizou uma cerimônia de lançamento com a presença do governador e tudo? O caso é triste porque é óbvio que um medidor de salários desse tipo é sempre falho. É evidente que, para a mesma profissão, existem diversos níveis de renda, a depender do tamanho da empresa, do grau de responsabilidade do funcionário, do tipo de especialização. Os salários podem oscilar quase infinitamente. Enfim é um projeto que, numa era onde há cada vez mais necessidade, por parte de empregados, de versatilidade e multiplicidade de talentos, já nasce obsoleto. Em vez de investir na redução de congestionamentos e prevenção de enchentes, o governo Serra gasta seu tempo lançando sites apócrifos.

25 de fevereiro de 2010

Melhoras na Carta Diária

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Prezados, fiz alguns ajustes na Carta Diária que a tornaram mais interessante. Agora eu a envio às 6 horas da manhã, depois de ler todos os principais jornais, sites, blogs e revistas durante a noite. Ela contém assim uma síntese de tudo que será publicado no Óleo do Diabo naquela manhã. Além disso, envio aos assinantes o link para um clipping diário volumoso (mas seleto e essencial), de até 20 páginas, com as principais matérias, artigos e posts que encontrei durante a madrugada.

Para assinar, entre aqui.

Dorian Gray e o chanceler Lampreia

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Nada como acender a luz de repente para flagrar as baratas fazendo a festa na cozinha! Em entrevista a Folha, o ex-chanceler do Brasil disse algumas barbaridades. Confiram:

FOLHA - O governo Lula diz que deve haver uma relação estratégica com Cuba, prega ser o "sócio número 1" da ilha. Qual a sua avaliação?

LAMPREIA - O governo brasileiro tem há muito tempo, desde o governo Fernando Henrique Cardoso [1995-2002], uma posição contrária ao embargo que os EUA impõem a Cuba e o considera injusto e responsável por muitos dos problemas cubanos. Mas ter relações estratégicas? De forma nenhuma. Cuba é um país desimportante.

A íntegra da entrevista está aqui.

*

Muito bonito, seu Lampreia! Compreendo perfeitamente que se diga isso num boteco, na intimidade da redação de jornal, ou sussurrado entre quatro paredes. Mas um diplomata fazer tal afirmação, em alta voz, numa entrevista para o jornal de maior circulação do país? Lampreia demonstra, mais do que falta de educação, mais do que ausência de bom senso diplomático, o chanceler revela-se um grandessíssimo incompetente. Sim, porque a função dos diplomatas é justamente o contrário do praticado por Lampreia: é aproximar os povos, através do respeito e da cordialidade. Ao afirmar que Cuba é um país desimportante (o que é uma tremenda estupidez), Lampreia prova mais uma vez como a arrogância enlouqueceu totalmente o ninho paulista tucano. Cuba é um importante mercado latino-americano. Em 2008, o Brasil exportou o equivalente a 526,84 milhões de dólares para lá; em 2009, com a crise, as exportações brasileiras caíram para 277 milhões de dólares. Mas não se avalia um país por valores de comércio exterior. Não estamos falando aqui de mercadorias, mas de países, de cultura, de gente. E a pequena Cuba, todos sabem, é um grande país, o campeão latino-americano nos índices de desenvolvimento humano. O país com os melhores índices nas áreas de educação, saúde. Um dos primeiros países no continente a praticamente erradicar a mortalidade infantil. O primeiro a erradicar o analfabetismo. Não, Lampreia, Cuba não é desimportante.

Na mesma entrevista, Lampreia comete outra diatribe.

FOLHA - O sr. repetiria esse raciocínio para a relação entre Brasil e Irã, ou nesse caso entram outros fatores na avaliação?
LAMPREIA - Não adianta nada também. Eles também fazem o que querem, isso está muito evidente. Desde a visita do [presidente Mahmoud] Ahmadinejad, já anunciaram que estão enriquecendo urânio a mais de 20%, dez reatores adicionais. Só faltou anunciarem que estão fazendo a bomba, que na verdade é o que estão fazendo.

Lampreia chamou o presidente do Irã de mentiroso (pois Ahamadinejad sempre negou que o país tenha interesse em fabricar a bomba). Também afirmou, com isso, que o aiatolá supremo do país - que disse esta semana que a bomba atômica é contra o Alcorão - é mentiroso, irresponsável e... infiel.

Ora, mais uma vez, temos uma afirmação que qualquer um pode fazer na intimidade. Mas um diplomata que foi ministro de relações exteriores do Brasil durante dois mandatos presidenciais (1995 a 2001), falar isso?

Lampreia é mais um desses tucanos cegos e loucos de tanto olhar para a lâmpada da Casa Branca.

Além dessa manifestação na Folha, ele publica artigo no Globo e no Estadão onde destila um rancorzinho vulgar, pedante, previsível e neocon contra o Irã.

Por este artigo, podemos ver o perigo que é a volta dos tucanos ao poder. Com o Brasil dotado de um inédito poder de influência nas discussões internacionais, e, mais grave, ocupando temporariamente o Conselho de Segurança da ONU, a visão tacanha de um Lampreia poderia colocar em grave risco a paz mundial. Não se esqueçam que o próprio Serra, candidato a presidente da república, publicou há pouco um artigo violentíssimo contra o Irã, com argumentos que pareciam saídos diretamente da garganta de Dick Cheney, aquele ex-vice presidente do Bush, sócio de empresas de armamento e um dos principais falcões de guerra dos Estados Unidos.

Vamos analisar seu artigo, desde o início, com muita calma.

O Irã é hoje, sem dúvida, a maior ameaça à paz e à segurança do mundo. Seu programa nuclear avança velozmente, sendo composto por milhares de centrifugadoras enriquecendo urânio a um nível de concentração que já atingiu os 4% necessários para gerar eletricidade.

Seu presidente já afirmou que foi também atingido o nível de 20%.

Na primeira frase, encontramos três defeitos imperdoáveis num diplomata. Alarmismo, arrogância e falta de cientificidade. O uso da expressão "sem dúvida" é uma agressão ao leitor. Tenta forçá-lo a adotar o ponto-de-vista do articulista. É arrogância em estado puro. É vício de tucano acostumado a discutir política nos mesmos restaurantes de São Paulo, com as mesmas pessoas, repetindo os bordões de sempre. O maior perigo à paz e à segurança do mundo está, naturalmente, nos pontos de conflito já armado, como Iraque, Afeganistão e Palestina.

O Irã tem todo o direito de usar tecnologia nuclear. Lampreia não percebe que o petróleo do Irã irá acabar um dia e o país ver-se-á largado no meio do deserto sem nenhuma fonte de energia alternativa? Tem energia solar, mas esta não é suficiente para atender as necessidades de uma nação. A Europa possui centenas de usinas nucleares. Apenas a França opera com 59 reatores, que fornecem 78% da energia elétrica consumida no país.

A loucura de Lampreia não tem limites. Ele aventa - e parece aceitar, mesmo admitindo que as consequências serão gravíssimas - a possibilidade de um ataque militar ao Irã.

O cronômetro está avançando nos três tabuleiros acima referidos e, se o caminho do armamento nuclear for o mais rápido, é possível que a Europa, os Estados Unidos e Israel sejam forçados a um dilema terrível, uma verdadeira escolha de Sofia : aceitar um Irã nuclear ou atacá-lo para evitar que ocorra este desfecho. Qualquer das duas alternativas seria nefasta. Um ataque, além de militarmente difícil e incerto, semearia o caos total no Oriente Médio, onde já não faltam tensões e impasses.

A falta de escrúpulos de Lampreia chega a flertar com um antipatriotismo sombrio, delator, intriguista. O ex-chanceler lança no ar "suspeitas", sem nem ao menos dignar-se explicar do que se trata, deixando a imaginação do leitor flanar pelas possibilidades mais sinistras. Estaria a sugerir que o Brasil pensa em adquirir a bomba atômica em parceria com o Irã? Estaria o Brasil pensando em se associar ao Irã numa guerra contra Israel? São absurdos. Mas como Lampreia não fala o que é, cabe ao leitor usar a fantasia.

A nova intimidade com o Irã cria suspeitas - infundadas, por certo, mas difíceis de desmentir, dado o tom de algumas declarações oficiais de apoio a Teerã — que em nada atendem aos nossos interesses e só podem criar dificuldade de toda ordem para nós.

Lampreia é positivamente malicioso, e nem consegue disfarçar. "Infundadas, por certo, mas difíceis de desmentir". Isso é frase de quem deseja fazer intriga sem se comprometer, embora seja uma artimanha tão óbvia, tão naïf, que só resta ter pena do Brasil ter tido, por oito anos, um chanceler tão mesquinho.

Como o personagem de Oscar Wilde, o diplomata tucano acha-se muito bonito e astuto, a ponto de tentar interferir na política externa nacional através de manifestações na mídia, e a mídia, por sua vez, parece também achá-lo um homem atraente. A verdade, porém, é encontrada quando exploramos o porão da casa onde Lampreia reside e olhamos para seu retrato pintado numa tela. Vemos aí o retrato de um diplomata decrépito, invejoso, irresponsável, incompetente, uma criança velha e mimada por uma imprensa partidária.

Cuba em seu labirinto

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(Foto publicada na capa do Estadão desta quinta-feira 25)

Rui Castro, numa de suas crônicas, escreveu que a humanidade se divide em duas: aqueles que dividem a humanidade em duas e os que não o fazem. A máxima vale para Cuba. Há os que dividem homens (e muchachas) entre os que gostam de Cuba e os que a odeiam, e há os que preferem não fazê-lo. Neste caso, eu sou maniqueísta. Eu divido a humanidade e me coloco ao lado dos que gostam de Cuba. No entanto, como também sou moderninho, moderado e cult (nem todos trabalham na Folha), tenho imenso respeito a quem pensa diferente e estou sempre pronto a jurar, com as mãos postas sobre as obras completas de Voltaire, que sou um apaixonado e fiel seguidor dos ideais democráticos.

Sou tão democrático que permito, do alto de minha tolerância (ou seria arrogância?) ocidental, que outros povos se organizem de forma distinta. Outro dia, li num jornal estrangeiro que o governo inglês decidiu pagar um curso de economia à rainha. Segundo declarou um figurão da cúpula do governo, a medida seria muito salutar, porque permitiria à monarca ajudar a Grã-Bretanha a superar suas crises econômicas.

Os ingleses são um dos povos que mais admiro entre todos no mundo, por sua arte, disciplina, bravura, pelo respeito que aprendeu a ter com seus trabalhadores. Em Sicko, o filme de Michael Moore que denuncia a precariedade do sistema de saúde americano, o cineasta vai à Inglaterra e nos mostra o que é, de fato, o primeiro mundo. As pessoas não apenas não precisam pagar nada para serem atendidas imediatamente por equipes médicas excelentes, como ainda recebem, na caixa do hospital, uns trocados para pagar o transporte de volta à casa. E isso num país com uma renda per capita de 35 mil dólares (a do Brasil é de 10 mil)!

Mesmo assim, acho ridículo essa história de monarquia. Não considero nada democrático que um monarca não eleito possa dar palpite nos destinos da Inglaterra.

Mas falemos de Cuba. Os três grandes jornais estamparam fotos imensas de Lula com Fidel e seu irmão na primeira página. Todos trazem também, previsivelmente, críticas ao regime comunista cubano e, mais importante, à postura "cúmplice" do governo brasileiro. Segundo esses críticos, entre eles o ex-chanceler tupi Luiz Felipe Lampreia (que hoje assina artigo publicado no Globo e Estadão, além de entrevista à Folha), o Brasil deveria cobrar de Cuba maior respeito aos direitos humanos.

Clóvis Rossi assina uma decorosa, pastosa, fanhosa pensata no site da Folha, intitulada "Quando o silêncio é cumplicidade". Concordo com algumas colocações de Rossi, como essas:

Não há ditaduras de direita e de esquerda. Há ditaduras. Ponto. Não há direitos humanos de direita e de esquerda.

Ou melhor, nem concordo tanto. Há os que derrubam ditadores e há os que derrubam democracias. A guerrilha cubana visava derrubar uma ditadura.

Continuo, todavia, achando que o Brasil, que deixa milhares de crianças dormindo na rua, passando fome, expostas ao crack, a toda espécie de violência, não tem o mínimo moral para cobrar direitos humanos de outro país. Mesmo desejando que houvesse democracia em Cuba, não consigo aceitar tão facilmente que nos façam de idiotas. Os EUA e as forças de direita do continente americano, incluindo aí os grupos de mídia, derrubaram todas as democracias da América Latina, com ênfase particularmente brutal na própria Cuba e nações vizinhas. Derrubaram na década de 50, na Guatemala; na década de 60, no Brasil; e continuaram derrubando democracias até a década de 80. Em 2002, os EUA apoiaram um golpe de Estado contra Chávez. Em 2009, quando pensávamos, enfim, que o pesadelo havia terminado, os militares derrubam o presidente eleito de Honduras e o deportam, na calada da noite, para outro país. E a direita comemora! Vários próceres da direita brasileira, os mesmos que hoje cobram democracia em Cuba, defenderam o golpe contra Zelaya. E o golpe deu certo, pois o líder golpista permaneceu no poder até o fim de seu "mandato" e não foi preso. Acabou perdoado, depois de dar um prejuízo de bilhões de dólares ao pobre país centro-americano e mutilar as esperanças dos milhões de hondurenhos que apoiavam Zelaya.

Como cobrar democracia em Cuba se as forças retrógradas do continente continuam dispostas a patrocinar golpes de Estado sempre que o povo eleger lideranças menos comprometidas com as velhas oligarquias?

A discussão em torno de Cuba costuma ser viciada e desinformada. Não foram os guerrilheiros de Sierra Maestra que derrubaram a democracia cubana. Quem a derrubou foi Fulgêncio Baptista, com apoio norte-americano. Fidel Castro era um jovem advogado cubano de grande capacidade intelectual, um idealista generoso e sonhador, cujas ambições políticas foram podadas pelo golpe de Estado, que cancelou eleições e instituiu uma ditadura sanguinária e corrupta. A história dos povos não pode ser explicada em 140 caracteres. Fidel, Che, e tantos outros, lutaram pela liberdade do povo cubano, e a liberdade naquele momento era derrubar Fulgêncio. E as circunstâncias históricas impossibilitaram a democracia em Cuba. Que incentivo os EUA e a mídia latino-americana deram ao processo de democratização cubana? Golpes militares sucessivos no continente?

Quando todos pensam que os golpes acabaram, que não há mais desculpas para o regime cubano não democratizar o regime, eis que a hidra golpista exibe sua cabeçorra peçonhenta em Honduras. E com apoio entusiástico da poderosa extrema direita norte-americana e indiferença do próprio Obama.

O regime cubano é mais uma vítima dos golpes de Estado que massacraram o continente moreno. Quem derrubou a democracia cubana, repito mais uma vez, foi Fulgêncio Baptista, um ditador cruel que sempre mereceu apoio incondicional dos Estados Unidos.

Prezado Clovis Rossi, existem sim diferenças entre ditaduras. Sua pensata de 404 palavras, definitivamente, não dá conta da complexidade do tema. Ao contrário, amesquinha-o. Faz os leitores pensarem que basta alguém vir ao meio da praça e gritar: faça-se democracia! E a democracia surgirá automaticamente. Cuba partilha com todo Caribe a desgraça de ser vizinha de um país dominado por instintos imperialistas extremamente egoístas, e que, até o momento, nunca deixou que uma democracia estável, contínua, sólida, assentada em princípios verdadeiramente humanistas (como deve ser uma democracia genuína), florescesse na região.

*

Quanto aos prisioneiros políticos de Cuba, eu me posiciono contra qualquer violência contra a liberdade individual. Eu não queria ser cubano nem viver em Cuba. Prezo muito minhas excentricidades e aprecio, mais que tudo, a originalidade. Tenho a mesma admiração por escritores tido como "reacionários", como Céline e Knut Hansum, como pelos "revolucionários", como Sartre. Sem preconceito. Na minha opinião, o regime cubano comete um terrível erro político - mais que isso, comete uma imperdoável injustiça - quando condena pessoas por divergência ideológica. Se o caso é de espionagem, então que se esclareça tudo.

Diante da enorme visibilidade de Cuba no mundo, esses processos judiciais deveriam ser transparentes e o regime deveria se preocupar mais com sua imagem junto à opinião pública internacional. O mundo mudou. Mesmo com o golpe em Honduras, é possível afirmar que a consciência democrática está hoje consolidada em toda a América, e os países latinos vivem um processo de integração extremamente saudável, sempre norteados por princípios democráticos, republicanos e modernos. Todos estão dispostos a ajudar Cuba. Todos sempre defenderam o fim do embargo econômico.

Eu pensei em terminar o parágrafo anterior com a seguinte frase: "É hora de Cuba ajudar-se a si mesma". Aí pensei: pô, que arrogância! Aqui na Lapa, dezenas de bueiros estão vazando merda. Há lixo jogado em toda parte. Perto dos Arcos e na Glória, vagam tropas enormes de crianças famintas e drogadas. O nível de educação e instrução das pessoas parece cair dia a dia. E eu aqui pregando melhorias em Cuba! Mas é isso mesmo. A coisa tem a ver com princípios. O antidemocratismo cubano, assim como o norte-coreano, prejudica o socialismo, trazendo prejuízo às causas trabalhistas em todo o globo. Por isso é importante discutir Cuba. Por isso Cuba é um tema sempre polêmico. Os anseios generalizados por mais democracia em Cuba, portanto, não tem origem apenas em intenções malevolamente antisocialistas. E mesmo que seja assim. A filosofia nos ensina que, em muitos casos, nossos adversários são nossa maior garantia de evolução. Ao nos confrontarem, eles, sem disso ter a consciência, nos oferecem um espelho de nós mesmos, sem a maquiagem de nossa vaidade, de nossa ambição. Oferecem-nos a dialética. Cuba apenas evoluirá quando aprender a confrontar a sua própria sombra, seu autoritarismo, sua escassez de liberdade, sua pobreza.

Atrasei um pouco

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Prometi publicar textos até 7 horas da manhã, mas hoje devo atrasar um pouco. Até 8:30 ou 9:00, o pão sai do forno.

Clipping só para os assinantes

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Prezados, tomei uma decisão sensata. O clipping com as notícias políticas do dia agora é enviado somente para os assinantes da Carta Diária. Evito assim problemas com propriedade intelectual e enriqueço o serviço que presto a custo módico. Como colher de chá, todavia, aqui vai o link do clipping de hoje.

24 de fevereiro de 2010

Recados

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Amigos, o lance é o seguinte. Todo dia, pela madrugada, preparo várias análises e comentários sobre as matérias que serão publicadas pela manhã nos principais jornais impressos do país. Comecei hoje. O negócio vai esquentar ainda mais dia a dia. Assim ajudo meus leitores a reforçarem o escudo psicológico do qual necessitam para enfrentar o mundo cão da política. Elaboro também um clipping, que vem aí ao lado, à direita, trazendo as matérias que comento e algumas outras que acho interessante dar uma olhada. Quem quiser ajudar o blogueiro, pode fazer uma assinatura da Carta Diária. Como este trabalho é voluntário, e não recebe dinheiro de nenhuma empresa pública ou privada, também aceitamos doações de toda espécie. O site abaixo, o PayPal, é o mais tradicional e seguro do mundo.



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Nassif desmonta farsa da Folha (e que vazou pra Globo)

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O blog do Luis Nassif está desmontando a nova (e enésima) farsa montada pela Folha de São Paulo, sobre o suposto lobby de Dirceu, e que já contaminou toda a imprensa. O que dá gosto é ler os comentários dos leitores do post do Nassif. Ninguém se espanta com o jogo sujo. E todos acompanham os desdobramentos no Congresso, com os parlamentares de oposição comportando-se como marionetes previsíveis das argumentações midiáticas.

Urubu sobrevoa a Grécia

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Nossa já legendária figura mítica, o urubu em forma de gente, a rainha negra das desgraças, exausta de fazer macumba contra a economia brasileira e não ver resultado, decidiu lançar suas maldições para o outro lado do Atlântico. A vítima de Miriam Leitão, em sua coluna de hoje, é a pobre Grécia. As grandes figuras da Antiguidade clássica, que segundo Dante habitam um sítio privilegiado no Limbo, sentir-se-iam profundamente indignadas ao ver sua amada pátria ser tão vilmente caluniada.

Bem, talvez eu esteja exagerando. Confesso que não tenho tido muita boa vontade com nossa dark lady. O que ela fez talvez não causasse indignação no velho Sócrates. O filósofo provavelmente teria lido sua coluna com um sorrisinho irônico no rosto e, se a encontrasse na ágora, teria-a interpelado com algo como:

- Desculpe perturbá-la, senhora. Você sabe que não entendo patavinas de economia. Essas crises econômicas são para mim como os trovões do céu: inexplicáveis. Concordo com vários pontos de seu artigo. De fato, aposentar-se com 58 anos é demais. Nenhum país aguenta isso. Mas tenho uma dúvida. A senhora acha certo que os mesmos bancos que foram salvos pelos governos europeus com auxílios que chegaram a trilhões de euros se articulem para quebrar um governo europeu? E acha também certo que a União Européia tenha decidido, a toque de caixa, gastar trilhões para salvar bancos privados e que demore tantos meses para ajudar um governo democrático integrante da mesma comunidade, um governo irmão?

O bicho papão está de volta

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Há uma cena inesquecível no Scarface de Brian de Palma: Al Pacino (interpretando Scarface), capangas e sua mulher (Michele Pfeiffer) ocupam uma grande mesa redonda num restaurante de luxo em Miami. Michele está hiper-crazy de pó. Pacino, bêbado. Os dois discutem asperamente e a mulher se retira. Pacino olha em volta e vê que os grã-finos das mesas vizinhas os observam assustados. Ele faz um discurso. É algo mais ou menos assim:

- O que vocês estão olhando! Vocês precisam de mim! Precisam de alguém para apontar o dedo e dizerem para seus filhos: olha, este é o vilão! Este é o cara malvado! Mas vocês são muito piores que eu! Vocês também bandidos!

O cubano Scarface, como todo bandido inteligente, sabia a hora de lançar mão de discursos políticos. Não comparo Dirceu ao mafioso holliwoodiano, mas não pude evitar pensar na cena ao me deparar com esta nova temporada de caça ao ex-deputado petista. Dirceu se tornou uma espécie de "Chávez" consultor. Uma espécie de íncubo a aterrorizar as inocentes e honestas famílias do Alto Leblon. Observem a capa do Globo desta quarta-feira:


Qual o sentido jornalístico desta foto imensa em close fechado do rosto de José Dirceu? Ora, o jornalismo é uma ciência. O tamanho das fotos, sua disposição na página, a escolha da expressão facial do fotografado, tudo produz determinados efeitos psicológicos. Não estou sendo paranóico, por favor. Isso é uma coisa óbvia. Nem estou dizendo que Dirceu seja um santo, um inocente caipira do interior de São Paulo. Estou dizendo que o jornal sabe muito bem como maximizar uma denúncia. Mesmo que seja uma denúncia duvidosa.

Confiram o texto que encima a foto. Está escrito que o "governo corre para esvaziar denúncia de lobby de Dirceu". O que significa isso? Tirante os missivistas histéricos, os aposentados apopléticos e os raivosos lacerdistas em geral, creio que boa parte dos leitores do Globo lêem as manchetes do jornal com muita desconfiança e um tanto de humor. Eu leio assim: "Governo aprende a reagir à lombada nas costas com mais rapidez."

O leitor mais interessado, como se estivesse perante uma instalação pós-moderna, deverá subir uma longa escada, penetrar no sótão, avistar um tabuleta ao fundo, arrastar-se até lá, para enfim ler a notícia: os sócios privados da Eletronet não vão ganhar nada com a apropriação, pelo governo, das redes de fibra ótica da empresa; e que, portanto, a principal acusação à Dirceu perde força. Se tiver paciência e continuar participando da gincana lerá, no próprio jornal, uma defesa segura do próprio ex-deputado e declarações de diversos órgãos e autoridades desmentindo a matéria da Folha, que foi quem levantou primeiro a bola deste "escândalo". Algumas coisas, no entanto, terão de ser identificadas no escuro, porque os jornais se recusam a explicar. Por exemplo: trata-se de uma denúncia puramente midiática, sem a participação de nenhuma autoridade investigativa, como Ministério Público, polícias, Justiça. Até aí tudo bem, a imprensa também sabe, quando quer, encontrar os bodes pretos; mas se, mesmo depois de tanto sensacionalismo, nenhuma autoridade se manifestar, é porque não há consistência na acusação.

Não boto a mão no fogo por ninguém. Se os jornais intensificarem a caça a Dirceu, podem até topar com alguma infração, e não necessariamente vinculada a Eletronet. Um sobrinho de Dirceu pode ser flagrado, amanhã, fumando maconha em sala de aula. A mídia irá trazer gráficos e fotos do rapaz de mãos dadas com o tio, num dia de sol qualquer do interior de São Paulo.

Boa parte das pessoas entenderá apenas o seguinte: Dirceu ganhou 600 paus, e isso é um absurdo. Os aposentados de Copa que ganham 2 mil e protestam diariamente (com razão) contra a lei (de FHC, mas que agora virou culpa de Lula) que desvinculou seus salários do aumento do mínimo, esses aposentados cogitam diariamente atentados terroristas contra a República. Ninguém lembra nessas horas, claro, que o Faustão ganha 2 milhões de reais por mês... E não creio que o Faustão tenha um caráter assim tão superior ao de Dirceu.

Mas outra coisa chamou-me a atenção. A ciclópica manchete, temperada com a foto gigante do monstro petista, não é a matéria principal que ocupa as páginas 3 a 5, sobre os desdobramentos da mais grave crise política já enfrentada por um estado brasileiro.

A matéria, no entanto, recebe destaque no caderno de economia. Qual a acusação? O governo teria decidido usar as fibras óticas por influência de Dirceu? Ué? O que se deveria ter feito, então, com essas fibras óticas? Deixá-las apodrecendo?

A decisão do governo de usar as fibras óticas da Eletronet como base para a construção da plataforma de internet banda larga no país tem sido efusivamente comemorada nos meios digitais, porque é uma decisão sensata, urgente e necessária. O Brasil precisa ampliar a oferta de banda larga. Grande parte dos internautas brasileiros ainda usa a conexão telefônica, insuportavelmente lenta, e que se torna cada dia mais e mais obsoleta. As próprias empresas privadas que operam no setor de internet comemoraram, mesmo com receio de que o governo decida se responsabilizar também pelo serviço de ponta, pela relação com o consumidor final. Elas sabem que a inclusão de dezenas de milhões de pessoas no mercado digital lhes trará imensas vantagens.

Já a mídia, em vez de oferecer à sociedade um debate mais intenso sobre a necessidade premente de assegurar banda larga a todos os brasileiros, prefere se preocupar com os 600 mangos que o Dirceu levou de um empresário, através de um serviço convencional de consultoria, feito com nota fiscal, tudo certinho. É tudo tão mesquinho. Sou um blogueiro duro há muitos anos, mas sei que esse mundo da alta consultoria, assim como a alta advocacia, a alta moda, o alto esporte, enfim, os high business, envolvem valores altos mesmo. É a lei do capitalismo.

Além disso, de que se culpa Dirceu? De fazer lobby? Ora, Dirceu não é mais deputado, nem ministro. Não ganha mais salário público. Tem que ralar para ganhar dinheiro, como todo mundo. É um advogado. Pode prestar consultoria para quem quiser. É sua liberdade.

O que o leitor deve atentar é o seguinte. O governo agiu acertadamente ao lutar pelas fibras óticas da Eletronet. Recuperou para o contribuinte brasileiro um patrimônio de importância estratégica para o desenvolvimento econômico e cultural do país. Não creio que Dirceu tenha exercido qualquer influência determinante sobre o caso. E se tivesse, era o caso de lhe parabenizar por ter convencido o governo a ter tomado uma decisão inteligente.

O verdadeiro sentido da reportagem, todavia, fulgura intensamente logo no início da matéria:

BRASÍLIA, SÃO PAULO e CANCÚN - Quatro dias depois do lançamento da pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República pelo PT, o Palácio do Planalto se movimentou na terça-feira para esvaziar a denúncia de que o ex-ministro José Dirceu fez lobby para beneficiar interesses privados no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). É o que mostra reportagem de Gustavo Paul e Mônica Tavares, publicada nesta terça-feira, no GLOBO.


Realmente... a editoria do Globo perdeu qualquer resquício de escrúpulo em parecer isenta. O que tem a ver que a "denúncia" tenha ocorrido quatro dias depois do lançamento da pré-candidatura da ministra? Daqui a pouco, ao anunciar mais uma enchente na ilha da Madeira, o Globo poderia dizer que a tragédia ocorreu duas semanas após o anúncio da candidatura Dilma.

Os jornais estão desesperados atrás de um escândalo. Se envolver o plano de banda larga, então aí é perfeito. Esse plano mexe com poderosos interesses dos grupos de comunicação. Tenho ouvido muito por aí que a razão maior pela qual a mídia quer Serra em Brasília é para fechar grandes negociatas na área de telecomunicações, incluindo a banda larga - que é pedra fundalmental em todo processo. Em breve, tudo será internet. A TV e o telefone convergirão para a rede mundial, desde que haja banda com largura conveniente. Os grupos de mídia querem participação nestas grandes mudanças, porque esses momentos de transição oferecem oportunidades de lucros colossais, desde que os agentes possuam conexões políticas.

Os grupos midiáticos querem ser protagonistas no processo de revolução digital que o Brasil (assim como o mundo inteiro) está experimentando hoje e que ganhará velocidade nos próximos anos. Para isso, precisam de poder político. Precisam de Serra.

Reparem que o Globo mandou repórter para Cancun (ou teriam acionado alguém de férias por lá?), porque farejaram a possibilidade de produzirem um barulho suficiente para abafar os ruídos que chegam de Brasília e São Paulo. Nada melhor do que um escândalo tendo Dirceu papão como estrela principal para fazer os lacerdistas esquecerem do Arrudagate e dos imbróglios kassabianos.

Ajeitando a gravata e comentando o Ibope

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Agora é sério. O blog amadureceu de vez e sua filosofia, daqui em diante, será apenas trabalho duro, humilde e persistente. Sem choradeira, sem atraso, sem desculpas. Escreverei durante as noites, para colher as frutas ainda frescas no pomar midiático. Com isso, os leitores poderão encontrar, antes das 7 horas da manhã, análises sobre tudo que será notícia no dia. Fá-lo-ei de segunda a sábado, quer dizer nas madrugadas de domingo para segunda até a madrugada de sexta para sábado. Tirarei apenas uma noite de folga, a de sábado, que aproveitarei para visitar meu irmão na roça, tomar minha cerveja na Lapa, ir a um show, etc. A Carta Diária, que ainda sustenta o blog (por isso, se gostar do trabalho feito por aqui, assine), será feita às 21 horas, de segunda a sexta.

Seja o que Deus quiser.

*

Começo os trabalhos tecendo algumas observações sobre a última pesquisa do Ibope (íntegra aqui). O assunto já está um pouco passado, mas como eu voltei ao batente só hoje, e não encontrei nada muito interessante publicado na mídia, creio que ainda pode sair um pouco de sumo dessa laranja.

(Atenção, para ver a tabela completa, basta clicar sobre a mesma).


Peço que observem e comparem as intenções espontâneas de voto em Dilma e Serra. Elas sinalizam uma enorme clivagem classista entre os candidatos. Serra se firma como candidatos dos "ricos", Dilma dos pobres e remediados. Serra tem 24% das intenções espontâneas de voto dos eleitores cujas famílias detêm renda familiar superior a 10 salários mínimos. É um número tremendo. Supera até mesmo Lula, que continua ganhando disparado em outros segmentos mas que, entre os afortunados, tem somente 13%. Dilma tem 13% também. Um numerólogo poderia extrair conclusões interessantes dessa coincidência... Treze é o número do PT.

Já entre os eleitores que ganham entre 5 e 10 salários, Dilma lidera com 14%, contra 11% de Serra e 15% de Lula.

Sempre é bom lembrar, porém, que as eleições brasileiras são decididas, para usar as palavras do chapeleiro Gaspari, pela turma do andar de baixo.


Acima, outra tabela, ainda do último Ibope, que merece um comentário. Com Ciro Gomes no páreo, com 11% das intenções de voto, Dilma tem 25%, contra 36% de Serra. Sem o cearense, Dilma vai a 28% e Serra, a 41%. Lembrem-se que essas pesquisas têm margens de erro, e considero que o Augusto Montenegro, presidente do Ibope, terá que inventar uma terceira margem do rio se quiser evitar que Ciro Gomes, antiserrista radical, não consiga melhorar sua capacidade de transferência de votos para as hostes dilmistas.

Por fim, duas tabelas que também considero importantes para se entender o vigor de cada candidato no momento. Segundo o Ibope, 15% das pessoas que ganham até 1 salário minimo afirmaram que nunca tinham ouvido falar da ministra.


Nesse mesmo grupo de pés-de-chileno (com todo respeito ao grupo e aos chilenos), apenas 2% admitiram que jamais ouviram falar de Serra.

Ou seja, Dilma ainda é desconhecida de enormes contingentes populacionais, com destaque para os mais pobres e nos estados. Cumpre observar que é no Nordeste, principal feudo eleitoral do lulismo, que Dilma é menos conhecida do eleitor. No NE, segundo o Ibope, apenas 7% dos entrevistados afirmaram conhecer "bem" a candidata Dilma, e 13% disseram que não a conheciam. O governador paulista, por outro lado, que ainda possui capital eleitoral por conta do recall das eleições de 2002, é amplamente conhecido por todos. Apenas 1% dos entrevistados asseguraram jamais ter ouvido falar de suas gengivas salientes.



Por fim, reproduzo dois gráficos que falam por si mesmos.



23 de fevereiro de 2010

Blogueiro volta ao batente

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Depois de umas férias inesperadas e malucas, o blogueiro volta ao batente. Estou aqui lendo jornais, revistas, sites, blogs, assistindo vídeos no youtube, etc. Daqui a pouco inicio a publicação dos textos.

18 de fevereiro de 2010

Quase voltando

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Fui abduzido para terras distantes nos últimos dias e não deu para atualizar o blog. Volto no domingo, então retomo as atividades a partir da segunda ou terça-feira que vem.

Descobri no Pompidou de Paris alguns artistas contemporâneos que me interessaram. Publico alguma coisa abaixo:


A pintura acima é de Bernard Requichot e foi extraída desse site.




Wols, Aile de papillon, 1947
Huile sur toile, 55 x 46 cm
Don de René de Montaigu 1979
AM 1979-255
© Adagp, Paris 2007

11 de fevereiro de 2010

Atacando pela frente

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Não tem jeito. A blogosfera deve conquistar um trabalho independente da mídia tradicional. Mas não é a hora. O artista deve ir aonde o povo está, e se a agenda política nacional é pautada pelos jornalões (apesar da queda nas tiragens), a blogosfera não deve ter a megalomania e a inocência de achar que pode exercer influência determinante na opinião pública. São Jorge teve que matar o dragão antes de virar santo. A missão da blogosfera, entre outras coisas, ainda é combater a manipulação política da qual importantes segmentos sociais são vítimas, através de notícias maliciosamente deturpadas pela imprensa brasileira.

Não é só isso. A imprensa também participa da luta ideológica. No caso da América Latina, onde décadas de ditadura extirparam todos os grupos midiáticos não-alinhados às ideologias ultraconservadoras importadas dos Estados Unidos, os partidos políticos de esquerda ficaram órfãos de uma imprensa minimamente imparcial no tocante aos interesses das classes trabalhadoras.

A blogosfera surge, portanto, como arma fundamental da esquerda para enfrentar o conservadorismo arrogante e tacanho que monopolizou as redações.

Digo tudo isto para justificar o trabalho que farei este ano, o qual deverá consistir, fundamentalmente, em análises diárias da mídia; ao mesmo tempo, será uma trincheira da guerra ideológica, da qual participo orgulhosamente (quiçá pretensiosamente) como um soldado de minhas próprias opiniões.

*

Para limpar as gavetas, falemos do editorial da Folha publicado ontem. Transcrevo-o abaixo:


Editorial da Folha: O Partido do Poder

Aos 30, PT abandonou ideia de "mudar a maneira de fazer política" e se tornou uma entidade paraestatal à sombra do lulismo

O VOCABULÁRIO dos partidos de esquerda sempre foi rico em palavras destinadas a identificar e condenar vícios de conduta. Termos como "obreirismo", "basismo" ou "principismo" costumavam fazer parte do arsenal da militância identificada com os ensinamentos de Marx e Lênin.

Ao longo de seus 30 anos de existência, que se completam na data de hoje, o Partido dos Trabalhadores sofreu, por parte dos agrupamentos de esquerda tradicionais, críticas formuladas em conceitos desse tipo.

Fundado em 1980, na luta contra o regime militar, o PT foi acusado, antes de tudo, de ser "divisionista": o momento, para seus críticos, era o de cerrar fileiras sob o guarda-chuva do PMDB.

Nascido de uma vigorosa mobilização operária, o partido de Lula rejeitava alianças com o empresariado e com políticos tradicionais. O "obreirismo" dessa fase vinha acompanhado do "espontaneísmo": confiava-se mais no potencial autônomo dos movimentos sociais do que nas orientações de uma direção monolítica. A influência da igreja, também decisiva naqueles anos de formação, trazia a forma organizativa das comunidades católicas para o interior do partido; naqueles tempos, nada se fazia sem "consultar as bases".

Uma mistura de descontentamento geral contra "tudo o que está aí" tingia de humor intransigente, e de forte puritanismo, uma ideologia ainda não completamente formulada, mas que sem dúvida buscava se apresentar como algo novo na tradição e na prática política brasileiras.

Não é preciso grande esforço analítico para notar de que modo o PT de hoje se afasta do PT de 1980. Se o escândalo do mensalão implodiu suas últimas pretensões a "mudar a forma de se fazer política no país", foi entretanto longo o caminho da sigla até a desmoralização, o conformismo e a esclerose.

De início, a necessidade de apresentar propostas nítidas fincou o PT como uma espécie de representante anacrônico e radicalizado do estatismo e do nacionalismo da era Vargas, carregando frequentemente as bandeiras da "reforma social na marra", do messianismo e da ilegalidade.

O projeto de poder do PT passava entretanto, e felizmente, pela via eleitoral. Foi a senha para que, dos princípios rígidos de origem, se transitasse para uma prática de acordos e alianças impostos de cima para baixo. O destino do PT não seria diferente do experimentado por seus congêneres social-democratas na Europa, ao longo do século 20.

Mas a democracia brasileira possui suas peculiaridades, dentre as quais o predomínio da oligarquia e do poder de Estado sobre a livre organização da sociedade. Pouco já se falava de "bases" e "princípios" quando estourou o caso do mensalão.

O pragmatismo transformou-se em cinismo, por parte dos envolvidos, e em perplexidade, por parte dos simpatizantes. Manteve-se, incrivelmente, a arrogância de sempre: prevaleceu a pose de indignação enquanto a força gravitacional do Estado tornava ridículas as intenções de "refundação" partidária aventadas no auge da crise.

À sombra do prestígio de Lula, que se sobrepôs à sigla, o PT hoje se resume a uma entidade paraestatal, reproduzindo uma história secular na política brasileira: é, como outros antes dele, meramente o Partido do Poder.

Belíssima peça partidária. Reuniu todos os clichês anti-esquerdistas e antipetistas dos últimos tempos num só petardo sovina e idiota. Terei muito trabalho este ano para dominar minha presunção pseudo-erudita e escarafunchar metodicamente os chiqueiros mau-cheirosos da big press.

A Folha defende a tese que o PT deveria ter continuado o mesmo partido de 1980. Arrecadando dinheiro com a venda de brochinhos vermelhos. Reunindo artistas da Globo para cantar Lulalá na TV. Um bando de trostkistas não-adeptos do desodorante trocando perdigotos. Claro, estou brincando. O PT tem uma história bonita desde sua fundação, com quadros intelectuais de primeira, como Antônio Cândido e Sérgio Buarque de Holanda, apenas para citar duas estrelas. Mas um partido deve, necessariamente, evoluir. O que incomoda a Folha é que o PT deixou de ser um representante do esquerdismo chic da classe média urbana para se tornar o maior partido de massas da América Latina. Um dos maiores, mais coerentes, mais coesos e mais bem sucedidos partidos de esquerda do mundo.

Problemas de corrupção? Ora pois pois. A mídia inventou que o PT era o partido da ética e depois do mensalão quis forçar um game-over. O PT nunca foi o partido da ética porque isso não existe. Ética é uma dimensão individual.

Observação importante. Não sou petista. Podia muito bem ser, mas não sou. Podia ser também do PCdoB, do PMDB, ou de qualquer outro partido com abertura para esquerda, mas não sou. Não sei porque exatamente. Não importa isso agora. Quero dizer que não tenho procuração para defender o PT. Muitas vezes o PT me dá nos nervos, o que é normal. Mas sou consciente da correlação de forças no universo político nacional. E estou seguro quanto ao lado da trincheira que desejo ocupar.

São acusações hipócritas, despolitizadas. A Folha trata o militante petista como um tonto, como um boçal que ainda acredita em seus editoriais. O pior é que estes existem - vide o Mercadante. O PT precisa fazer alianças. Estas não são apenas necessárias para a governabilidade, elas conformam a estrutura política do país. Se o PT errou e ainda erra - e esta é uma opinião pessoalíssima - é justamente em ainda alimentar visões não-aliancistas em seu bojo. Lembro que participei de debates, por aqui mesma na blogosfera, onde alguns defendiam que o PT procurasse se sustentar antes nos movimentos sociais do que em partidos como o PMDB. Discordei dessa colocação. O MST não vota no Senado. Nem no Congresso. Não aprova orçamento da União nem aumento de salário mínimo. O governo tem que se aliar aos partidos que existem eleitoralmente. O pragmatismo na política não é um remedinho que os partidos devem usar moderadamente, como um ópio. Fazer política é, essencialmente, ser pragmático. Outrossim é tese acadêmica, literatura, diletantismo.

A Folha malha o PT usando os mesmos argumentos com os quais o jornal defendeu o regime militar em 1964. Porque se trata de um representante das idéias mais conservadoras da sociedade brasileira. E eu não quero que essas idéias triunfem novamente. Ontem venceram na base do tiro de canhão, hoje querem repetir o feito através de golpes de astúcia. Reconheço que assim é bem melhor. Mas se antes era difícil revidar os tiros, agora a luta é protegida pelas regras da democracia.