11 de fevereiro de 2010

O neo-empate dos platinados

Prezados, ainda estou fora do país, por isso está difícil manter o blog atualizado. Contratei o 3G da Claro pensando em contornar o problema da distância mas a porcaria não funciona e a Claro não me dá nenhuma instrução. De vez em quando, porém, consigo entrar na internet e me manter informado. Sei, por exemplo, que o Farol de Alexandria publicou outro artigo cabotino e o debate político, na falta de coisa melhor, apegou-se ao texto fernandista. O Globo desta quinta-feira traz a seguinte abertura na página 3 (clique nela para ver a imagem inteira):


Esses jornalistas da Globo são engraçados. Inventaram agora um novo conceito. Quando o Fluminense perder de 4 a 3 para o Flamengo, poderá alegar "empate". É o que se depreende da matéria. Em oito anos, Fernando Henrique Cardoso assentou 540.704 famílias. Lula assentou 574.609 mil. Quase igual, né? Só que o jornal, misteriosamente (imaginem uma trilha de suspense), omite um detalhe: os dados para o governo Lula referem-se a sete anos, não a oito anos. Se quisesse realmente fazer uma comparação decente entre dois períodos distintos, o Globo poderia fazer algo bem singelo: dividia o número de assentamentos pelo número de anos. Assim chegaríamos a seguinte estatística: FHC assentou, em média, 67.588 famílias por ano. Lula assentou 82.087 por ano. Tudo bem. Não é o dobro. Não é o triplo. Mas também não se pode alegar empate. Lula assentou 21% a mais que FHC.

É no gráfico da direita, todavia, que nos deparamos com uma situação realmente inusitada. FHC desapropriou 21 milhões de hectares em oito anos, ou 2,6 milhões de hectares por ano. Lula desapropriou 46,6 milhões em sete anos, ou 5,82 milhões de hectares por ano. Aumento de 121%. Para o Globo, isso é empate. Se essa originalidade chega ao futebol, facilitará muito a vida do América...

*

De qualquer forma, uma política de reforma agrária não se mede apenas pela comparação numérica entre a quantidade de famílias assentadas. Isso é ridículo. É preciso averiguar a qualidade dos assentamentos realizados. Se havia auxílio técnico. Se havia crédito. E se os há agora. Onde eram feitos esses assentamentos. Onde são agora. É tão difícil isso?

Seria uma excelente oportunidade para a realização de reportagens mais densas sobre a realidade fundiária do Brasil. Somos uma nação continental, e seria importante que os segmentos urbanos que lêem O Globo tivessem melhores informações sobre o uso de nossos oito milhões de quilômetros quadrados.

4 comentarios

Sandro Stahl disse...

Olá Miguel, fugiu dos 40° do Rio ein, Miguel salvo um grande engano as fámilias assentadas recebem auxílio via PRONAF, e aí o Globo pode decretar mais um empate hehe, FHC investiu R$2,3 bulhões e o Lula investiu até o momento R$ 13 bilões, tá tudo empatado né.

Miguel do Rosário disse...

Pois é, sandro. vim parar numa cidade horrível e gelada, chamada Paris. Nem pergunte como um blogueiro durango como eu veio parar aqui. Nem eu sei. Volto no dia 21. Estou tentando trabalhar como posso, mas acho que o ritmo (e a temperatura ambiente) só voltará a esquentar mesmo quando eu voltar. Não só as famílias assentadas recebem o $ pelo Pronaf. A totalidade da agricultura familiar, que voltou hoje a ser sustentável, tem acesso ao crédito agrícola através do Pronaf, dentre outros programas. Isso também é reforma agrária.

carlos disse...

pois é ,miguel,

mais um exemplo da arte jornalística minimalística de nossa grande imprensa.
neguim recebe um merreca mensal e as editorias só cobram a lei do menor esforço. tudo sob as ordens das famílias proprietárias. os que ainda lêem jornais, ou se informam minimamente, ou, por outra, se muda pra blogosfera.
daí ser importante as políticas públicas do governo lula na área da comunicação. por aí.
abçs

Andre Lucato disse...

Miguel,
Veja que o "Brontossauros" também registrou a desonestidade:

http://scienceblogs.com.br/brontossauros/2010/02/mentiras_estatisticas.php

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