29 de novembro de 2007

Quem tem medo do Grande Sertão?

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Muita gente, muita gente mesmo corrobora a fala de FHC. Que Lula é mesmo um analfabeto. Depois da repercussão do que disse o Farol de Alexandria, todos ficaram atentos para pegar o presidente falando errado. Ele deu entrevistas na televisão recentemente e, numa de suas viagens verbais, soltou a pérola: "principalidade". O Ancelmo Góes tascou uma notinha zoando o suposto erro. Eu também havia estranhado a tal "principalidade". Mas eu tinha compreendido exatamente o que o Lula queria dizer e quanto você entende bem uma frase a tendência é de que ela tenha sido expressa corretamente e não o contrário. Fui conferir no Mestre:


principalidade
[Do lat. principalitate.]
Substantivo feminino.
1.Qualidade de principal.


Ou seja, o Apedeuta usou a palavra certa. Usou uma palavra rara. Uma palavra culta. Uma palavra original.

O que me faz lembrar no que eu venho pensando há alguns dias. Como alguém pode dizer que Lula sabe mal o português se ele deve o prestígio que conquistou (ganhou duas vezes as eleições presidenciais, acumula índices altos de popularidade, é adorado na ONU, na Casa Branca e na Venezuela) justamente à seu talento retórico? Aliás, se os tucanos realmente acreditam que o governo Lula é uma merda, então eles deveriam, necessariamente, considerar Lula um mago da sedução verbal.

Eu sou intelectual e não me orgulho disso. São fatalidades da vida. Mas francamente, se eu aprendi uma coisa é isso: GRANDE MERDA SER INTELECTUAL. Não tem dinheiro, não tem pragmatismo, não tem confiança em nada. Ser intelectual é uma merda. Nem a inteligência é garantida. Ao contrário, todo intelectual é meio sonso. As pessoas confundem cultura com intelectualismo. Confundem inteligência com cultura. É importante ter cultura. Ser intelectual é uma desgraça poética à parte.

Voltando ao português do Lula, eu acho que o presidente fala bem melhor que qualquer tucano, tanto que ganhou eleições de lavada. Numa democracia, ganha quem fala melhor. Por isso a democracia é tão apaixonante, porque ela tem um componente puramente ideológico, linguístico, retórico. E desde Sócrates, a beleza reside no verdadeiro. Não na tola ostentação verbal. O português rude de um homem do povo pode ser mais belo e criativo que o português ornamental e enfadonho de tucanóides uspianos. FHC deveria reler os livros de Guimarães Rosa e enfiar a viola no saco para todo sempre.

Sobre a malaise da classe média e cachoeiras

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http://www.agenciacartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3775&boletim_id=385&componente_id=7154

28 de novembro de 2007

Liberdade web

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O leite das crianças

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27 de novembro de 2007

Entrevista de Paulo Henrique Amorim para a Folha de São Paulo

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http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/465501-466000/465510/465510_1.html

O livro da Bruna Surfistinha é bom

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Ontem à noite, sentado na minha poltrona preta acolchoada, comprada em São Paulo, passei a vista nos livros na estante ao lado e, quase que por acaso, acabei puxando o livro da Bruna Surfistinha.

O livro pertence a uma amiga da minha mulher e não sei como veio parar na minha estante. Não importa. Também não importa quem é o autor exato do texto. Há uma chamada na segunda capa informando que se trata de um depoimento a Jorque Tarquini. Se o texto final não é dela, os sentimentos e a história seguramente o são. O que o livro me passou foram sentimentos de uma garota muito corajosa e muito humana.

Nunca tive preconceito contra prostitutas, até porque elas me foram muito úteis nos primórdios da minha vida sexual. É bom esclarecer alguns pontos que o marketing do livro, na ânsia de maximizar vendas, deixou meio nebulosos. Por exemplo, Bruna é, de fato, uma garota de classe média alta de São Paulo. Mas também é uma filha adotiva e moça problemática, clepto e ninfo maníaca desde muito cedo, cujos pais, talvez com razão, decidem lhe voltar as costas, deixando-a sem dinheiro e sem afeto. Os pais, inclusive, denunciam-na à Justiça, pelo roubo de algumas jóias da família. A moça, com dezesseis anos, por pouco não vai para a Febem. Logo depois, escuta rumores de que será enviada para algum lugar. Temendo algum tipo de internato maluco, ela decide pôr em prática um plano que vinha desenvolvendo há tempos: trabalhar num prostíbulo.

O livro é bem escrito. Os sentimentos e a história da menina são narrados com clareza e sensibilidade. Está aí a razão do sucesso estrondoso do romance e não serão preconceitos morais ou intelectuais que vão mudar isso.

Na verdade, venho observando um fenômeno editorial interessante: uma divergência crescente entre escritores e intelectuais. Nem todo intelectual é escritor, nem todo escritor é intelectual. A falta de compreensão disso leva muitos intelectuais a tomarem atitudes preconceituosas contra escritores que não seguem as regras aplicadas aos intelectuais. Escritores nem sempre são cultos, nem sempre são politizados, muitas vezes são preconceituosos, reacionários, alienados. O que o escritor precisa ter, e essa é uma opinião muito pessoal, é caráter. Pode parecer uma contradição, mas um escritor pode ser um filho-da-puta sem caráter ou um filho-da-puta com caráter.

O seu livro é uma excelente aula de sexo, além de um interessante case para pesquisdores da sexualidade contemporânea. A cena do senhor pedindo "chuva negra" é antológica. Já tinha ouvido falar disso, mas nunca tinha lido uma descrição tão realista desse tipo de tara. O sujeito pede que a moça faça o "número 2" sobre ele, enquanto ele toca uma punheta. Arg.

São dezenas de descrições interessantes de orgias, lesbianismo (preferência da Bruninha), surubas, swings, enfim, um verdadeiro kama sutra contemporâneo.

Parabéns Bruna.

Trechos de um artigo de Luciano Martins Costa, publicado no Observatorio da Imprensa em 27/11/2007

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Capitalismos menos capitalistas

Veja-se, por exemplo, os debates sobre as relações entre o Brasil e a Venezuela, ou a repercussão do "cala-boca" do rei da Espanha ao presidente Hugo Chávez. Embora o presidente Lula tenha levantado a questão da desigualdade de condições entre o monarca – que não depende de votos para se manter no poder – e um governante que precisa se submeter a eleições, a imprensa se desviou da questão e se ateve ao factóide em si.

Esse era um bom momento para pensar, por exemplo, na racionalidade da persistência das monarquias no mundo contemporâneo, com o anacronismo do conceito de direito divino ao poder. Na falta de abordagens menos convencionais, a opinião pública ficou atrelada ao que indica o viés ideológico de cada um, sem que se oferecesse a oportunidade para uma reflexão mais profunda sobre as relações entre a Espanha e suas antigas colônias, por exemplo.

Ora, empresas ibéricas fazem a festa na América do Sul, cumprindo o antigo papel do Estado de prover o desenvolvimento, beneficiam-se da privatização de serviços que os latino-americanos não conseguem financiar e acumulam lucros imensos. Trata-se do velho jogo do capitalismo, mas a imprensa passa por cima de certos detalhes, como o alto grau de envolvimento dos governos de Portugal e Espanha na constituição das multinacionais que atuam na América Latina. Esse detalhe, por si, mereceria algumas linhas de diferenciação entre capitalistas e capitalistas.

Quando a imprensa acusa os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales de conduzirem a Venezuela e a Bolívia para fora dos padrões da economia capitalista, poderiam lembrar que as novas potências ibéricas financiaram suas multinacionais com recursos do Estado a partir da década de 1970 – e ninguém nunca publicou que o capitalismo espanhol ou português é menos capitalista.

Visão de mundo estúpida

Da mesma forma, nenhum jornal ou revista jamais se dignou a destrinchar o sistema financeiro da Suíça – nação tradicionalmente postada como paradigma da neutralidade e da civilidade – quando se sabe que o crime organizado e a corrupção têm em grandes bancos daquele país abrigo discreto para o dinheiro sujo. O escândalo das fraudes e evasão de divisas revelado recentemente pelas operações que a Polícia Federal batizou de Kaspar I e Kaspar II desapareceu do noticiário sem que a imprensa prestasse aos leitores o serviço de esclarecer esse lado perverso do sistema financeiro internacional.

Ao permanecer na superfície dos fatos, a imprensa deixa de estimular a inteligência do leitor e sua busca por explicações mais satisfatórias para certos acontecimentos. Ficamos, assim, presos ao velho e batido viés que reproduz um confronto ideológico sem sentido na complexidade do mundo contemporâneo.

Se, como afirma o peruano Alvaro Vargas Llosa, persiste na América Latina um pensamento esquerdista que ele chama de "perfeitamente idiota", a contrapartida é a permanência de uma visão de mundo conservadora, justificada pela imprensa, que podemos chamar, sem medo de errar, de absolutamente estúpida.

26 de novembro de 2007

Resenha apocalíptica

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Ainda é cedo, mas o céu já escureceu, devido ao desequilíbrio na atmosfera causado pelas bombas. Precipitando-se à previsão de quase todos os analistas, os ataques militares de ambos os lados tornaram letra morta os esforços diplomáticos que vinham sendo feitos. Em Londres, Madrid, São Paulo, Nova York, milhões se manifestaram contra o início dos conflitos, depois contra sua continuação, sem resultado. Apesar de poucos colunistas e governantes apoiarem a “solução final”, a opinião deles, como sempre, vale mais que a de todos.

Quando me pediram a resenha, há duas semanas, nunca imaginaria ser minha derradeira contribuição para a revista. Eu deveria resenhar, neste espaço, o novo romance de Daniel Urbes, peruano radicado em Miami. O livro é uma porcaria, um coquetel oportunista que mescla pseudo-preocupações sociais com charlatanismo reacionário, em linguagem pretensiosamente difícil, como de praxe, para intimidar leigos e confundir críticos.

À luz do holocausto que se avizinha, medito sobre o unilateralismo ideológico que monopolizou nossas mídias, causando inexorável empobrecimento das artes e da crítica. Claro, alguns intelectuais nunca se sentiram tão confiantes, em face do vigor descomunal dos grupos que os apóiam. Sabem de que lado estão e usufruem da sensação de invencibilidade que o poder lhes confere. Essa confiança excessiva, porém, ofusca-lhes a intuição de que necessitam para avaliar criticamente uma obra de arte. O irônico é que, na ânsia de criticar o ideologismo, acabam por se tornar boçalmente ideológicos.

Um romance como o de Urbes, por exemplo, incensado por resenhistas de meio-vintém (literalmente, visto que ganham duzentos reais por texto publicado), explica muita coisa sobre nossa situação. Urbes esteve no Rio de Janeiro há dois meses, por ocasião da Bienal do Livro. Participou de debates e deu entrevistas. Pareceu-me um rapaz articulado e inteligente. Seu livro, todavia, é um amontoado de clichês entediantes e malabarismos modernosos. Estou certo de que a decadência da qual falei decorre da maneira como a cultura é patrocinada e distribuída, favorecendo toda espécie de pilantra com talento para relações públicas.

Merda! Logo agora que tomei coragem para dizer o que eu penso, Deus resolve exterminar o mundo como quem espreme uma espinha. Não foi fácil pra mim livrar-me das toneladas de preconceitos e temores que impõem rígida autocensura aos críticos. Vivenciei terríveis escaramuças literárias, que me deixaram cicatrizes e inimigos. Alguns me consideram reacionário, em virtude de minha ojeriza aos vanguardismos de salão. Acredito, todavia, que uma visão conservadora da arte, hoje, é um posicionamento progressista, muito embora o que eu entenda como conservador esteja a anos-luz do conservadorismo político e moral que domina nossas mídias. A meu ver, a linguagem hermética de Urbes não passa de pedantismo vulgar e incoerência conceitual. Não tem poesia, vigor, autenticidade. Pertence à categoria pop-cabeça, lixo obrigatório (por razões que ainda não compreendi) em toda grande editora, apesar do pouco retorno financeiro que lhe proporciona.

Na verdade, existe um feirão que compra estéticas de vanguarda, como a de Urbes e outros, para revendê-las após um eficaz trabalho de marketing. O problema não está na compra em si, já que o capitalismo compra também coisas boas. O problema está na fraude, no valor imposto arbitrariamente, em virtude da crítica ter se tornado vulnerável, intelectual e materialmente, ao capricho de editoras e jornais (o que não seria negativo, se estes não fossem tão caretas), cumprindo a função subalterna de chancelar escolhas feitas previamente.

Enquanto escrevo, a tv exibe imagens de grandes explosões em Los Angeles. Os repórteres não sabem informar se os mísseis vieram da China, Rússia ou Irã, o núcleo duro do novo “eixo do mal”. Uma autoridade informa que hackers chineses provocaram pane nos sistemas elétricos europeus. Parece absurdo falar de literatura num momento assim, mas serve para evitar o pânico. Talvez exista um quê de heroísmo em pensar literatura às vésperas do fim dos dias.

A eclosão da guerra não foi uma surpresa total. A tensão vinha aumentando há tempos. Depois que a economia chinesa superou a do eixo Europa-EUA, toda xenofobia e racismo enrustidos no primeiro mundo vieram à tôna com violência inaudita. Imigrantes orientais foram brutalmente discriminados nas grandes cidades ocidentais e logo o mesmo começou a ocorrer no Oriente. O fator ideológico influenciou o crescimento das hostilidades. A China, depois de completar a transferência, para si, de todas as tecnologias ocidentais, interrompeu o processo de abertura e deu início um firme e acelerado recuo ao socialismo fechado de Mao-Tsé-Tung, recriando a pesada atmosfera da guerra fria.

Diferentemente do que pensam a maioria dos estudiosos e artistas, incluindo os que mais respeito e admiro, acho que a arte teve sim culpa em deixar as coisas chegarem a esse ponto. O fato de ter culpa, no entanto, não a diminui estetica ou moralmente. A função da arte não é salvar a humanidade. Talvez sua missão seja, ao contrário, destruí-la. Não tem culpa, tem responsabilidade.

Entretanto, ao contrário do que minha postura pode sugerir a alguns, nunca acreditei em arte engajada. Ela oculta uma vontade de poder que, embora não seja negativa em si, revela profundos preconceitos de classe (de ricos contra pobres ou pobres contra ricos), enraizados no íntimo das pessoas mais bem intencionadas, além da tendência a uma simplificação grosseira e convencional da complexidade humana. Creio, no entanto, que a arte poderia ter ajudado a evitar a catástrofe, sim, dando conta dos problemas existenciais que sempre constituíram a razão de todo conflito e, em última instância, de toda guerra. Algumas obras-primas poderiam ter contribuído para mudar a história.

Os pós-modernos, esses eu classifico, decididamente, como principais responsáveis pela degradação cultural que nos levou à guerra. Não os artistas (existiram figuras extraordinárias entre eles). São responsáveis, sobretudo, os curadores, que, ao selecionarem quase sempre os piores dentre os piores, disperdiçaram oportunidades históricas de produzir questionamentos efetivos aos rumos da humanidade. E, naturalmente, os mercadores de arte, que inflacionaram ou deflacionaram as obras contemporâneas de acordo com o marketing acadêmico & caduco da hora. Imiscuindo-se em todos os segmentos da arte - produção, crítica e negócios, o lado escuro do pós-modernismo deixou um cenário de terra arrasada, aniquilando, por onde passou, qualquer traço de humanismo e sinceridade.

Eu, por exemplo, varei noites discutindo com pós-modernos sarcásticos, assumidamente neo-liberais, embora sem noção alguma de política, no sentido humanista do termo - apenas conscientes que o sistema sempre favorece quem segue suas regras, inclusive quando a regra é ser subversivo, ou fingir-se tal. Assim surgiu um exército de pilantras engajados à esquerda e cínicos vanguardistas à direita, com alguns espertinhos agradáveis ao centro.

O resultado foi esse: Deus espremendo a espinha do mundo para eliminar o pus, a humanidade. Faça-o Deus! Destrua-nos! Não deixe vestígios! Arte, ciência, filosofia, moral, religiões, que sejam sugadas, como cocaína, pelas narinas divinas, convertendo-se em trinta minutos de excitação olímpica e melecas gigantes. O que me consola ao pensar no infinito vazio galáctico que nos espera, é imaginar livros como os de Daniel Urbes incinerados na fornalha implacável deste odioso e precoce apocalipse – não legando, aos seres que herdarão o planeta, mais esse testemunho de nossa mediocridade.

24 de novembro de 2007

Martelando o Globo

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Ontem fui à vernissage da exposição do Nilton Pinho, no Galpão das Artes, uma galeria aberta patrocinada pela Comlurb, situada em frente à PUC. O lugar é mais bonito do que eu imaginava e a exposição ficou bem completa e ilustrativa da obra do meu camarada. Depois fomos à Lapa, encerrar a noite. Vim pra casa já de manhãzinha. Comprei jornal na banca em frente à meu prédio (por isso é bom morar no centro) e, já sentado na minha confortável poltrona preta, com apoio para o pé, comecei a fazer uma das coisas que mais gosto: ombudsman do Globo.

Tem dias, no entanto, que são tantas que dá até preguiça. Aconteceu hoje. Pra começar, a manchete é de um mau-caratismo abominável e incompreensível: Calote de microempresa derruba lucro da Caixa. Fiquei perplexo por quase meia hora, olhando incrédulo a chamada, que trazia ainda um subtítulo digno de levar o troféu da filha-da-putice. O subtítulo dizia o seguinte: Enquanto isso, na Vale... E informava que a empresa fechou acordo com seus funcionários para aumentar salários. A tentativa de desmoralizar a Caixa Econômica através da comparação com a ex-estatal (privatizada por FHC) é um insulto à inteligência. Em todos os sentidos. As empresas operam em áreas completamente distintas. A matéria sobre a Caixa também é altamente editorializada. Primeiro lugar, o tom parece uma denúncia, como se a Caixa tivesse tido prejuízo. Não é o caso. Caiu o lucro somente em relação ao mesmo período do ano passado, mas teve lucro, o que significa que ela teve faturamento para pagar todas as suas despesas e teve um excedente, apenas no terceiro trimestre, de R$ 62,5 milhões. O mais absurdo, porém, é que o Globo criminaliza a micro e pequena empresa. A manchete faz sensacionalismo barato. Outros fatores, inclusive sazonais e extraordinários, pesaram no referido rendimento, como o reajuste nos salários (ou seja, não é só a Vale que eleva salários, certo?) e uma provisão contra possíveis derrotas de ações judiciárias que clientes movem contra a Caixa por contra de planos econômicos do passado.

É claro que o fato da Caixa ter ampliado expressivamente a sua linha de crédito para pequenas empresas implicaria em aumento proporcional dos problemas de pagamento. Quem não empresta não tem problema com devedor. A Caixa Econômica Federal emprestava muito pouco e, portanto, tinha pouco problema. Hoje empresta mais e tem mais problemas. Mas agora está cumprindo sua função social, que é dar crédito à população, principalmente a micro e pequenas empresas que têm dificuldade em obter financiamentos em outras instituições. A Caixa não tem que visar somente o lucro - deve fazê-lo somente no sentido de solidificar-se financeiramente e dar maior segurança a seus clientes e acionistas.

Ao contrário, a política de expansão de crédito, da qual a CEF é uma agente fundamental, tem sido um dos principais indutores do crescimento do consumo das famílias brasileiras, que tem registrado taxas espetaculares. Aliás, ressalte-se que quando lemos críticas ao baixo crescimento do PIB brasileiro, devemos atentar para o farisaísmo desse discurso, desde que ele omita o espetacular crescimento do consumo das famílias, começando pelas mais pobres, que constituem mais de 90% da sociedade brasileira. Há um aumento explosivo de consumo de bens nobres e de vanguarda, como DVD e computadores, bens que revelam sede de conhecimento e que resultarão, no futuro próximo, numa elevação importante do nível cultural médio do brasileiro.

A manchete do Globo é capciosa também porque abafa o assunto principal do miolo do jornal, que ocupa toda a página 3, a saber, o desdobramento da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando, sobre o mensalão tucano.

O Globo, pressionado pela opinião pública - a verdadeira opinião pública, não a farsante versão dela, a opinião publicada - e, sobretudo, pelos fatos inexoráveis, está fazendo a cobertura do esquema de Caixa 2 do PSDB mineiro, e aceitou mudar o nome do escândalo para mensalão tucano, depois de meses usando apenas mensalão mineiro.

Mas o faz, é claro, sem aquela volúpia com que tratava o caso petista. Sem infográficos, sem editoriais, sem histerias éticas de seus colunistas, sem cartas desaforadas de seus leitores, sem manchetão na primeira página, sem reportagens investigativas complementares. E sem lembrar que Azeredo lançou, recentemente, húmus aos céus, confessando que o dinheiro também abasteceu a campanha de Fernando Henrique. O povão que só lê a manchete do jornal pendurado na banca vai continuar sem saber que o famoso mensalão, chamado do maior caso de corrupção de todos os tempos - nada mais foi que o ovo da serpente parida e alimentada pelo PSDB.

Naturalmente, a matéria não dá uma linha sobre o escândalo sem relembrar o caso petista, como quem diz: veja bem, os tucanos enfiaram o bico na lama, mas os vilões continuam sendo os barbudinhos. O interessante é que o valerioduto tucano tem indícios infinitamente mais sólidos de uso de recursos públicos que seu similar petista. A imprensa fez uma enorme ginástica para convencer as pessoas de que 100 mil pagos pela Visanet (que nem pública é, tem apenas a participação minoritária do Banco do Brasil) às agências de publicidade de Marcos Valério teria relação com certo dinheiro pago a parlamentares e seria, portanto, a prova de uso de dinheiro público no escândalo do mensalão - uma tremenda forçassão de barra, visto que, mal ou bem, as agências de Valério prestavam efetivamente serviços a empresas e governos. No caso tucano, as evidências do uso de estatais para irrigar o valerioduto são onipresentes.

Ah, e tem o famigerado Daniel Dantas, inexplicavelmente poupado de ambos os escândalos, apesar de estar por trás de tudo. Leiam Paulo Henrique Amorim.


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Pérola do artigo do Cristovam "Xarope" Buarque, no Globo deste sábado (24/11): "O Congresso brasileiro colabora sistematicamente para fabricar o chavismo no Brasil (...) com os acordos para salvar colegas condenados pela opinião pública (...)" Quer dizer então que o senhor Buarque deseja que os parlamentares compactuem com os pré-julgamentos absurdos, precipitados, tendenciosos, arbitrários e anti-democráticos que a mídia faz?


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Por falar em xaropada, o Garotinho ganhou na Justiça o direito de publicar um texto seu na página de opinião do Globo, e publicou um texto de um cinismo chocante. Gostei da atitude dele, brizolista, de se defender diretamente com a população. A forma é boa, mas o conteúdo é vazio. O Garotinho não tem boa relação política com ninguém e isso é messianismo ou, o que é mais provável, safadeza.

Eu quase nunca falo da política local do Rio de Janeiro. Dessa vez, porém, trata-se de um caso realmente digno de atenção. César Maia e Garotinho se aliaram para ganharem a prefeitura do Rio de Janeiro, o segundo maior orçamento municipal do país. O PMDB fluminense ainda é dominado pelo Garotinho, apesar do governador Sérgio Cabral, também do PMDB, ser adversário de Garotinho e aliado de Lula. Há tempos que Garotinho perdeu qualquer escrúpulo de ao menos aparentar ter um programa ou proposta de governo ou ideologia. O irônico é que, quando Garotinho apoiou Alckmin na última campanha presidencial, César Maia denunciou a aliança como um terrível erro da campanha tucana, por causa da imagem ruim do ex-governador.

E agora César Maia se associa à Garotinho com a maior cara lavada? E Garotinho, com todo aquele discurso populofrênico, vai apoiar a candidatura da nazista Solange Amaral? Não tem sentido, não tem a mínima coerência ideológica, partidária, racional. Nem mesmo religiosa. Garotinho está dando a sua última tacada, a mais desesperada de todas, e também, de certa forma, a sua trajetória inevitável. O populismo garotinesco é mais reacionário e sinistro de todos.

Reparem uma coisa. Garotinho conseguiu forçar o PDMB fluminense a se ajoelhar perante César Maia. Sim, porque na verdade quem o negócio vai beneficiar mesmo são as forças políticas ligadas ao César Maia, que prefere reprimir vendedores ambulantes a prestar segurança aos turistas. A prefeitura do Rio é um presente, uma homenagem do PMDB ao DEM?

As pessoas acusam sempre a mídia de ser anti-petista, mas parte da mídia também demoniza o PMDB. Apenas o PSDB é tratado com amor absoluto, por razões estritamente "familiares". Cabral é governador, eleito pelo povo, e quem manda no PMDB é o idiota do Garotinho, que não é vereador, deputado, senador, não é nada?




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Depois de todo sensacionalismo em torno de uma suposta crise do gás, o Globo não dá uma chamada na primeira página sobre a instalação, pela Petrobrás, de um centro para recebimento de gás líquido na costa do Rio, que permitirá à empresa ampliar a oferta de gás ao estado via importações da Nigéria e outras fontes, a partir de maio do ano que vem. Isso é conspirar contra os interesses econômicos do Estado do Rio, porque esta informação deveria ser amplamente divulgada, por estimular os investimentos por aqui


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Pesquei essa no Fazendo Média. Requião metendo o cacete na Rede Globo. Muito bom.
http://www.aenoticias.pr.gov.br/visualizar2.php?video=243

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João Ubaldo está louco. Lê isso: "Paranóia ou não, delírio ou não, está na cara que o presidente quer o terceiro mandato", escreve na sua coluna de hoje (domingo, 25/11/07). Repara na lógica surreal do pensamento dele. Delírio ou não? Pô, João, a falta de uísque está te destruindo. Se é delírio, como pode "estar na cara"?

Ele gasta o artigo todo choramingando a vitória de Lula, tentando desmerecer o próprio conceito de sufrágio universal e desfiando uma série de inverdades já desmentidas por prestigiados institutos de pesquisa. "O povo sabe votar muito bem, para as circunstâncias, e vota no que o beneficia diretamente. No caso do Brasil, os eleitores cativos do Bolsa Família vão votar certo, ou seja, em Lula". Ora, João, Lula não é mais candidato. E as pesquisas apontaram vitória de Lula em todas as classes sociais. Mesmo que assim não fosse, o voto do pobre vale o mesmo, inclusive moralmente falando, que o voto da classe média, que também vota com o bolso (ou não?). Votar em razão da percepção de que o representante político irá beneficiar a sua classe é um motivo nobre e democrático. O problema era quando o pobre votava em razão de promessas demagogas não-cumpridas, e acabava votando em quem beneficiava somente os ricos.

Ubaldo ataca o sistema eleitoral, inclusive repetindo a ladainha (não se compara épocas e nações totalmente diversas) de que Hitler também ganhou eleição. Agora Ubaldo quer uma democracia sem eleição, com representantes indicados por meia dúzia de colunistas e donos de jornais, alçados a condição de supremos sábios das nações. Ora, Ubaldo, democracia é isso, meu chapa. Tem que saber perder. O que eu gostaria de saber é o motivo real para a sua histeria anti-lulista. Seja honesto, cara, e diga qual seria a alternativa. Além disso, você tá escrevendo mal pra cacete, João. "Ninguém vê nada de fascistóide no que se anda fazendo", diz João, sem maiores explicações, como se a gente fosse obrigado a saber a que ele se refere. É o que? É corrupção? Pô, você não tá vendo que a Polícia Federal tá agindo muito mais que antes? É ideologia? Você virou o quê, um Bolsonaro literato? Virou um imbecil reaça?

É puro veneno, futrica inconsequente, birra, preconceito vulgar. Você tá dando pena, João. Não vou mais perder meu tempo contigo.

22 de novembro de 2007

Um poema

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(Shiró)



Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
O esplendor do sentido nenhum da vida...
Toquem num arraial a marcha fúnebre minha!
Quero cessar sem conseqüências...
Quero ir para a morte como para uma festa ao crepúsculo.



Álvaro de Campos

21 de novembro de 2007

Exposição de Nilton Pinho na Gávea

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(uma parede do ateliê de Nilton Pinho)



O meu amigo Nilton Pinho está inaugurando uma exposição individual no Galpão das Artes Urbanas Helio Pellegrino. A abertura do evento, para a qual os leitores deste blog estão convidados, acontece no dia 23 de novembro de 2007, sexta-feira, às 19:00. O Galpão fica embaixo do viaduto Lagoa-Barra, Rua Padre Leonel Franca, S/N, Gávea, Rio de Janeiro. Confira aqui o endereço no Mapa do Google.

Aproveitando o ensejo, escrevi uma resenha para a exposição, que terá salgadinhos e cerveja Devassa e, seguramente, a presença da minha pessoa. Boa sorte, Nilton.

*

Sobre o Pós-Conceitualismo Boêmio e Pioneiro de Nilton Pinho

Muito se tem falado sobre a crise da arte contemporânea. Ferreira Gullar chegou a escrever um excelente livro atacando teorias que prediziam a morte da arte. Outros criticam um suposto vazio e desalento observados em grande parte das obras modernas, sobretudo as que mais recebem destaque em bienais. Por falar em Bienal, a edição deste ano da Bienal de São Paulo não traz obras de arte, apenas perfomances, com um terceiro andar vazio como forma de "protesto". Chegou-se ao paroxismo da glamourização de curadores, acadêmicos e artistas conceitualóides de toda espécie. Neste contexto, falar de Nilton Pinho é como avistar um copo d'água num deserto.

As obras de Nilton Pinho põem em ridículo as teorias sobre a morte da arte. Com objetos adquiridos em feiras de usados, no lixo, na lona de trapeiros ou em fontes ainda mais misteriosas, Pinho realiza obras primas de extrema complexidade e beleza. Não se trata apenas de causar surpresa ou apresentar objetos de maneira inusitada. Nilton Pinho produz símbolos que comovem profundamente, que perturbam e deliciam, símbolos carregados de angústia, erotismo, desespero e terrível entusiasmo. Os objetos de Nilton Pinho não se limitam a chocar o senso comum, através da subversão do uso tradicional das coisas - eles têm um objetivo muito mais nobre, que é causar efetivamente um prazer estético. Objetivo, é importante ressaltar, perseguido com uma deliberação absolutamente consciente, afinal Nilton é o que eu chamo de um artista pós-conceitual.

Apesar de sua determinação estética consciente, a ferramenta utilizada por Nilton, não é a razão, como se depreende do resultado desconcertante de seus esforços, e sim a intuição pura e simples, na linha dos grandes mestres. Seu pós-conceitualismo, portanto, ao mesmo tempo que usa as informações estéticas mais avançadas da modernidade, resgata a ingenuidade apaixonada dos clássicos, convocando forças dionisíacas ao palco frio e racional da arte contemporânea.

Desfruto o privilégio de ser assíduo frequentador de seu ateliê na rua do Riachuelo, Lapa, o que é sempre uma experiência fascinante, um mergulho profundo em sua imaginação obscura, incendiária, perigosa. Situado no segundo andar de um sobrado decadente, o quartinho de poucos metros quadrados acumula centenas de obras, grandes e pequenas, nas paredes até o teto, nas estantes, sobre a mesa, pregado nas janelas, na porta - totalmente diversas entre si, compondo uma incrível multiplicidade de visões e estéticas.

Outros artistas, brasileiros ou não, se notabilizaram mundialmente por trabalhos com objetos. Mas ainda estou para encontrar alguém que tenha produzido obras tão maravilhosamente carregadas de humor e mistério como Nilton Pinho. E olha que nem falei de suas pinturas, igualmente grávidas de beleza e susto. Pinho também é um exímio pintor - a sua especialização em objetos, conforme ele explica, foi em parte incentivada pelos custos mais baixos de produção que estes oferecem.

O poeta Alexei Bueno escreve, no convite para a exposição do artista, que Nilton é um arqueólogo das relíquias desamparadas de nossos sonhos, e suas assemblages não necessitam de verbalizações críticas, tão imprescindíveis nesse momento de fabulosa mistificação artística. Eu acrescentaria que são desnecessários igualmente prêmios, benesses públicas ou laudatórias resenhas jornalísticas - embora fossem todos bem vindos, claro. Para serem justamente apreciadas, as obras de Nilton precisam somente de pupilas desarmadas, limpas de pudores acadêmicos e, de preferência, levemente alteradas por levedos de cerveja.

Minha homenagem (atrasada) ao dia da Consciência Negra

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2 vídeos da Clara Nunes.

http://www.youtube.com/watch?v=wyD5N9BHvQA
http://www.youtube.com/watch?v=vNLJO06eAsU&feature=related

E do querido Gonzagão:

http://www.youtube.com/watch?v=vaOUB3k3JKc
http://www.youtube.com/watch?v=xexmcbyj5d4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=0vwgxHmGrWo&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=DdmolSUJVAo&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=ykW8JWRDQXU
http://www.youtube.com/watch?v=SMB6POhA5x8&feature=related

Entrevista com Gonzagão:
http://www.youtube.com/watch?v=nQrYu-Gy9SQ

Maria Bethania cantando Carcará no teatro Opinião, em 1965:
http://www.youtube.com/watch?v=VPU3oX_OsTQ

Bob Marley cantando No Woman No Cry
http://www.youtube.com/watch?v=hg2n039txnk

20 de novembro de 2007

A volúpia jaboriana

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Arnaldo Jabor é um hábil manipulador das palavras. Para ser um bom escritor, no entanto, é preciso caráter. Seja um escritor de ficção, seja um escritor de política. Jabor inventou uma ideologia, o lulo-sindicalismo, termo que usa e abusa como um selo criminal colado em todo problema brasileiro. Tem um bueiro vazando na Visconde de Pirajá? A culpa é do "lulo-sindicalismo". Com isso, Jabor criminaliza Lula, eleito duas vezes com mais de 60 milhões de votos, e os sindicatos, que representam a única força política capaz de se contrapor aos interesses anti-trabalhistas. Antes de Lula, dizia-se que não se podia aumentar o salário mínimo sem causar uma grande onda de desemprego. Por conta desse mito, os governos anteriores, especialmente o de Fernando Henrique Cardoso, permitiram a corrosão da renda do salário mínimo sem que Arnaldo Jabor visse nisso algum problema. Fome, salários baixos, miséria? E daí? O importante é evitar a malaise...

Para Jabor, fatores como aumento do salário mínimo, aumento do emprego formal, melhora da distribuição de renda, não significam muita coisa. Existe um grande mal no ar, uma terrível depressão, um desalento. Estamos anestesiados, diz Jabor. Impotentes. Que importa se só agora a Polícia Federal trabalha de verdade? Que importa se Lula reformou profundamente a PF, contratando milhares de novos policiais, por concurso, injetando verba e entusiasmo na instituição, que por conta disso está conseguindo realmente fazer a diferença na guerra contra a corrupção? Não importa. Não importa. Não importa. A corrupção continua aí e estamos de mãos atadas. "O governo Lula tem o álibi de ser um governo do povo", explica Jabor. "O discurso oficial ideológico é um sarapatel de idéias". Que frase feia, meu Deus. Tudo bem, continuemos. Jabor diz que o tal discurso é "cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo leninista, que cruzou com os germes do sindicalismo oportunista", etc, etc. Peraí, onde tem autoritarismo no discurso do governo? E o novo sindicalismo brasileiro, se tem seus defeitos, como qualquer instituição tem, ele tem o mérito de ser um dos mais modernos no mundo, com financiamentos oriundos de fundos de pensão e impostos específicos.


Jabor, assim como FHC, é uma cassandra à procura de catástrofes. O colunista do Globo "culpa" o bom estado da economia brasileira por nosso alienamento. Como as coisas estão indo bem, estamos nos deixando levar pelo lulismo, quando o certo é que nos organizássemos para combatê-lo. Que importa se as massas estão satisfeitas? Ora, as massas. As massas que se fodam! O que Jabor omite, no entanto, é que a economia brasileira não apenas vai bem, como reúne circunstâncias e fatores positivos que nunca reuniu antes: um crescimento continuado, com distribuição de renda, aumento da capacidade produtiva, ampliação da base energética, com aumento da renda do trabalhador e da oferta de emprego formal. E tudo isso combinado com sólida estabilidade macro-econômica, superávit primário e inflação baixa.


Gostaria de compreender, portanto, o que deprime tanto Jabor. Será que ele não lê o caderno de economia do próprio jornal onde escreve? A própria Miriam Leitão, sempre tão pessimista, escreveu uma coluna, no domingo passado (se não me engano), citando os reiterados elogios que o diretor do Fundo Monetário Internacional faz ao governo Lula. Não me importo com o que diz o FMI, mas a Miriam Leitão, o Globo e o Jabor deveriam se importar. Hoje o Brasil não deve mais nada ao FMI, portanto as sugestões do FMI podem voltar a ser apreciadas com serenidade, como críticas positivas ou negativas a serem ouvidas e avaliadas de acordo com sua pertinência.


Jabor fala hoje em "bolsa-cabresto", referindo-se obviamente à bolsa família, omitindo estudos de renomadas instituições nacionais e internacionais sobre a validade e eficácia da política assistencial do atual governo, que está sendo inclusive copiada para aplicação em outros países, mesmo aqueles governados por forças conservadoras.


No exterior, Lula é respeitado pelas forças conservadoras e pela esquerda. Aqui, parte de nossa imprensa insiste em sucumbir a este obscuro malaise metafísico, obsessivamente produzido e reproduzido por colunistas como Arnaldo Jabor, e que definitivamente não corresponde à realidade da maioria da população, pobres ou ricos. Talvez haja realmente algum grupo de ricaços enfarados, empoadas madames que enviam emails de amor e ódio ao ex-cineasta, o mesmo grupo que tentou se articular no Movimento Cansei, aquele cujo organizador, Jorge Doria, liderava passeatas de cãozinhos de luxo em Campos de Jordão. São os extremistas da desilusão. O Brasil pode estar com sua economia bombando, ter encontrado petróleo suficiente para mais um século, ser escolhido para Copa do Mundo 2014, comércio exterior recorde, etc, etc, mas eles estarão sempre lamentando a miséria brasileira. O Brasil descobriu o mega-campo Tupi e nenhum jornal fez caderno especial analisando as perspectivas políticas, econômicas, sociais, geopolíticas que se abrem para o Brasil. Quando morreu a Princesa Diana, aí sim, fizeram cadernos especiais e longos documentários na televisão. Nossa mídia parece ter ficado muito mais empolgada com o "Por que no te callas" do rei espanhol do que com a descoberta das novas reservas de petróleo.


*


Sobre Chávez, também tenho minhas críticas. Acho que ele é um fanfarrão e um boquirroto, e poderia perfeitamente fazer suas políticas sociais e reformas jurídicas de maneira mais discreta, sem criar escândalos internacionais que só fazem isolar mais e mais a Venezuela. O ingresso da Venezuela no Mercosul, por exemplo, só será barrado no Senado por conta das declarações intempestivas e desrespeitosas do presidente bolivariano ao nosso parlamento. Ora, nossos parlamentares têm seus problemas, mas são os nossos parlamentares e o mínimo que pedimos de Chávez é que tenha o bom senso de respeitá-los. O governo brasileiro tem procurado se manifestar de maneira absolutamente não invasiva nos conflitos internos da Venezuela, sem ofender nenhum dos participantes democráticos, e esperamos que o governo venezuelano faça o mesmo.


Descontadas essas críticas, porém, deixemos claro que Chávez não é um ditador. Muitos colunistas agora procuram confundir a opinião pública. Surgem teorias políticas mirabolantes de que democracia não é só voto. Ora, claro que não. Mas o sufrágio universal é o pilar do poder do povo. Um presidente tão forte como Chávez, com apoio da maioria esmagadora da população e apoio maciço no Congresso, é um fato raro, mas perfeitamente legal e coerente com a democracia. Há momentos em que as pessoas pedem governantes fortes. Há razões históricas que levaram o eleitorado venezuelano a querer um governante forte. O dia em que eles não mais quiserem, elegem outro.


E Lula lembrou muito bem quando citou Margareth Tatcher, entre muitos outros presidentes europeus, que permaneceram muitos anos em seus cargos. Não importa se lá era parlamentarismo. Importa o exercício do poder. Sim, eles podiam perder o cargo sempre que seu partido perdesse a liderança do parlamento. Mas os regimes presidencialistas supõem eleições periódicas onde o povo pode também "demitir" o presidente. Sem contar o famoso referendo revogatório, uma lei criada pelo próprio chavismo, que permite ao povo julgar um presidente no meio de seu mandato e marcar novas eleições. Que é mais democrático? A dança de interesses partidários, quase nunca transparentes, ou a decisão popular via referendos nacionais?


Chávez pode ter todos os defeitos do mundo. Mas não é um ditador. O irônico é ver a nossa imprensa chamando o presidente do Paquistão, que ordena prisões em massa de advogados, juízes, que tomou o poder num golpe, que não se decide a marcar eleições, que persegue adversários, chamando-o, como dizia, de presidente, e não de ditador, enquanto Chávez, exposto diversas vezes ao sufrágio direto, é chamado de ditador. Repete-se tantas vezes esse bordão, e nossos colunistas (os mesmos de sempre, claro) escrevem tantas laudas pseudo-científicas que explicam porque Chávez é um ditador, que as pessoas acabam acreditando e repetindo essa ladainha por aí como papagaios.


*


Escrevi um post abaixo, dizendo que pretendia faturar algum com este blog, e por isso estava inserindo anúncios das empresas que oferecem esse tipo de parceria. Um anônimo imbecil escreveu essa pérola:


Uia!Se vendeu ao neoliberalismo capitalista, que visa lucro a todo e qualquer custo?Vocês são muito engraçados...



Em primeiro lugar, me irrita profundamente quando alguém fala comigo usando o plural. Vocês é o cacete! Sou um indivíduo com plena responsabilidade por minhas idéias e atos e somente eu pago por eles. Segundo, não me vendi seu bosta. Isto se chama trabalho. Você trabalha e recebe um dinheiro. Terceiro, por acaso você já leu meus textos mais ideológicos? Claro que não, para falar tanta merda. Não sou comunista. Também não sou anti-comunista. Acho que o comunismo não é o melhor dos regimes, mas existiram monarquias muito piores. As pessoas esquecem que nas monarquias também havia censura e a única propriedade que realmente era protegida era a do rei e seus apaniguados.


Sou um keynesiano. Acredito que o capitalismo não é um regime de governo, e sim um sistema econômico, muito bem sucedido em alguns países e catastrófico em outros, mas sobretudo um sistema profundamente ligado à história de nossas civilizações. O que me leva a crer, portanto, que o sistema capitalismo não deve ser subvertido, mas regulado por governos fortes, através de instrumentos específicos para cada país. Gosto de pensar que sou um republicano, no sentido de acreditar na República, em suas instituições, não porque pense que o mundo foi, é ou será perfeito através delas, mas porque elas me parecem as mais avançadas dentre as opções disponíveis e que permitem o maior grau de liberdade para o indivíduo.


Creio que o governo Lula já deixou bem claro que não é comunista e nem caminha para tal. Ele tem raízes na esquerda e apoio na esquerda, sim, mas há muito tempo que a parte mais importante da esquerda brasileira renovou suas bandeiras ideológicas, aposentando qualquer tipo de "autoritarismo leninista". O tal "pragmatismo" ideológico da esquerda brasileira, sempre interpretado, com sarcasmo, num sentido negativo, nada mais é que a percepção e a humildade de que são as idéias é que devem se adaptar aos fatos e não o contrário, pela simples razão de que os fatos, ou seja, a realidade, não costuma ser ou agir de acordo com a nossa vontade ou humor. Claro que a realidade pode ser transformada. Deve ser transformada. Mas, como dizia Celso Furtado, a liberdade do homem reside na possibilidade de agir conforme as circunstâncias do momento.

Há um segmento no Brasil que decidiu, simplesmente, criminalizar a transformação, como se a transformação fosse uma bandeira comunista. Não, meus senhores. A transformação é uma bandeira da humanidade. Está no DNA da civilização. O homem está continuamente se transformando. Alguns chegam a virar transformistas.


*

Está havendo uma confusão lamentável em relação a descoberta do mega-campo Tupi. Muitos estão dizendo, influenciados pelo toque de corneta da mídia, claro, que o governo agiu temerariamente, com excesso de otimismo, falando sobre um campo do qual não se tem provas, ou que requentou uma descoberta já divulgada. Vamos por partes:


1 - O governo foi bastante conservador, anunciando a descoberta apenas de 1 mega-campo, o Tupi, com capacidade de 5 a 8 bilhões de barris. Há a possibilidade de haver dezenas de outros mega-campos, de Santa Catarina ao Espírito Santo, todos no pré-sal. Não foi por outra razão que o governo cancelou a nova rodada de leilões.



2 - Havia rumores sobre a descoberta. Mas os testes mais consistentes foram feitos recentemente. De qualquer forma, a Petrobrás não havia feito o anúncio oficial do campo. Um anúncio oficial tem reflexos imediatos nos mercados internacionais. Tem que ser feito no tempo certo, não antes da hora, mas também não muito depois. No caso do anúncio, o momento foi perfeito, pouco antes da reunião de chefes de estado da América do Sul, o que permitiu a Lula discutir a problemática energética com Morales e Chávez com um cacife maior. Ao Brasil, maior potência industrial do continente, não interessa nenhum tipo de problema energético ou econômico em países vizinhos. Ao Brasil interessa uma Bolívia próspera, que possa comprar nossos produtos. E à Bolívia interessa que o Brasil seja um bom comprador de gás, pagando preços justos e investindo no país. O momento foi apropriado também porque antecedeu em poucos dias uma reunião da OPEP, Organização dos Países Produtores de Petróleo, obrigando as potências petrolíferas a discutirem questões de interesse do Brasil, como a introdução do biodiesel. De fato, os governantes árabes aceitaram o biodiesel como um combustível complementar ao petróleo, a ser usado principalmente para veículos, visto que é muito menos poluente. O petróleo deverá ser cada vez mais usado para a fabricação de produtos plásticos, fertilizantes, alguns tipos de combustíveis especiais, além da gasolina.

3 - Alguns falam que a descoberta só valerá a pena se o preço do petróleo for superior a US$ 100 daqui a cinco ou dez anos. Ora, alguém acredita em queda no preço do petróleo? Com a demanda ainda em crescimento, agora impulsionada pela China, Índia, Leste Europeu e países em desenvolvimento de forma geral, além do consumo delirante nos EUA, e as reservas em queda, é evidente que os preços continuarão em alta, tornando perfeitamente viáveis os campos ultra-profundos do Brasil, que aliás têm petróleo fino, de altíssima qualidade. Os preços só cairiam se o mundo achasse muitos outros poços de petróleo ou, de uma hora para outra, descobrisse outro combustível revolucionário. Se tal ocorrer, ótimo. Baixos preços do petróleo facilitam o crescimento econômico mundial, e logo beneficiam também o Brasil.

19 de novembro de 2007

Jon Anderson enterra os ossos de reporter da Veja

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Pesquei essa no Biscoito Fino. É a tréplica de Jon Anderson, jornalista da New Yorker, ao repórter da Veja que o acusou de "anti-ético". Daniel Lopes entrou em contato e entrevistou. Pedro Dória traduziu.

Para quem não sabe do que estou falando, explico rapidamente. A Veja publicou, há algumas semanas, uma reportagem de capa, escrita por Diogo Schelp, sobre Che Guevara. A matéria é uma obra-prima do mau jornalismo. E o Jon Anderson é o mais prestigiado e imparcial biógrafo do Che.

Anderson, ao se deparar com a bizarra reportagem da Veja, não se conteve e divulgou o email que enviou ao repórter da Veja, no qual desanca severamente a matéria. Schelp responde com grosseria e ainda ganha apoio do pit-blogueiro da Veja, que vai mais fundo na falta de educação, chamando o americano de canalha para baixo, respigando ainda para blogueiros que estavam no caminho da polêmica, como Pedro Doria, chamado de "petralha", ofensa maior da turminha da Veja.

O Schelps termina sua réplica ao americano dizendo que seus livros não aparecerão mais na Veja. Oh! Pois bem, Anderson escreveu uma tréplica, conforme já antecipei. Vamos a ela.


Tréplica de Jon Anderson a Diogo Schelp

Prezado Diogo Schelp:

Agradeço pelo sua ‘gentil’ resposta. (Soube, graças a você, que você é de fato uma pessoa muito ‘gentileza’; você mesmo o disse duas vezes em suas mensagens.) Só agora percebo, o mal-entendido entre nós nasceu exclusivamente por conta de meu caráter profundamente falho. Eu jamais deveria ter presumido que você recebera meu email inicial em resposta ao seu ou minha segunda mensagem a respeito de sua reportagem, muito menos deveria ter considerado que você pudesse ter decidido ignorá-los. É evidente que você tem um sistema de bloqueio de spams muito rigoroso. Uma dica técnica: talvez você devesse configurar seus sistema como ‘moderdo’ e não ‘extremo’. Se o fizer, talvez comece a receber seus emails sem quaisquer problemas. Lembre-se, Diogo: moderado, não ‘extremo’. Esta é a chave.

Você me acusa de ser antiético, um ‘mau jornalista’. Você questiona até se posso ser chamado de jornalista. Nossa, você TEM raiva, não tem?

Enquanto tento parar as gargalhadas, me permita dizer que, vindo de você, é elogio. Permita, também, recapitular por um momento a metodologia utilizada por você para distorcer as informações que o público de Veja recebeu:

Você publicou na capa e na reportagem uma grande quantidade de fotografias de Che, aproveitando-se assim da popularidade da imagem de Guevara para vender mais cópias de sua revista. Para preencher seu texto, você pinçou uma certa quantidade de referências previamente escritas sobre ele – incluindo a minha – para sustentar sua tese particular, qual seja, a de que o heroismo de Che não passa de uma construção marxista, como sugere seu título: ‘Che, a farsa do herói’.

Para chegar a uma conclusão assim arrasa-quarteirão, você também entrevistou, pelas minhas contas, sete pessoas. Uma delas era um antigo oponente de Che dos tempos da Bolívia. As outra seis, exilados cubanos anti-castristas, incluindo ex-prisioneiros políticos e veteranos de várias campanhas paramilitares para derrubar Fidel. (Um destes, o professor Jaime Suchlicki, você não informou a seus leitores, é pago pelo governo dos EUA para dirigir o assim chamado Projeto de Transição Cubana.) Percebi também que você prestou particular atenção no testemunho de Felix Rodriguez, ex-agente da CIA responsável pela operação que culminou na execução de Che. O fato de que você o destaca quer dizer que você o considera sua melhor testemunha? Ou terá sido porque ele foi o único que algum repórter realmente entrevistou pessoalmente? Os outros, parece, Veja só falou com eles por telefone. Mas como são rigorosos os critérios de reportagem de Veja!

Como disse em minha ‘carta aberta’ a você, escrever uma reportagem deste tipo usando este tipo de fonte é o equivlente a escrever um perfil de George W. Bush citando Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez. Em outras palavras, não é algo que deva ser levado a sério. É um exercício curioso, dá para fazer piada, mas NÃO é jornalismo. Dizer a seus leitores, como você diz na abertura da reportagem, que ‘Veja conversou com historiadores, biógrafos, ex-companheiros de Che no governo cubano’ passa a impressão de que você de fato fez o dever de casa, que estava oferecendo aos leitores um trabalho jornalístico bem apurado, que apresentaria algo novo. Infelizmente, a maior parte do que você escreveu é mera propaganda, um requentado de coisas que vêm sendo ditas e reditas, sem muitas provas, pela turma de oposição a Fidel em Miami nos últimos quareta e tantos anos.

Minha questão não é política. Escrevi um livro, como você mesmo disse, que é ‘a mais completa biografia’ de Che. Há muito lá que pode ser utilizado para criticar Che, mas também há muitos aspectos a respeito de sua vida e personalidade que muitos consideram admiráveis. Em outras palavras, é um retrato por inteiro. Como sempre disse, escrevi a biografia para servir de antídoto aos inúmeros exercícios de propaganda que soterraram o verdadeiro Che numa pilha de hagiografias e demonizaçoes, caso de seu texto.

Não cometa o erro de me acusar de defender Che porque critico você. Serei claro: a questão aqui não é Che, é a qualidade do seu jornalismo. Sua reportagem, no fim das contas, é simplesmente ruim e me choca vê-la nas páginas de uma revista louvável como Veja. Seus leitores merecem mais do que isso e, se aparecerei ou não novamente nas páginas da revista enquanto você estiver por aí, não me preocupa. O que PREOCUPA é que, com tantos jornalistas brilhantes como há no Brasil, foi a você que Veja escolheu para ser ‘editor de internacional’.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson


*

Dica de leitura. Fantástico de bom esse artigo do Luiz Carlos Azenha. Explica muito bem a dinâmica geopolítica petróleo-Chávez-mídia brasileira-Mercosul-e demais picuinhas. Aliás, aproveite o passeio e leia outros artigos do Azenha, que contém informação de primeira qualidade.

*

Recado para mim mesmo: tenho que conhecer melhor essa figura, o Silviano Santiago.

16 de novembro de 2007

Chávez continua na berlinda

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(Che Guevara e Jânio Quadros, durante a entrega da melhada do Cruzeiro do Sul, que o presidente brasileiro lhe conferiu. Até hoje, esse episódio é inexplicável. Por que Janio, representante da direita brasileira, decidiu homenagear o maior símbolo da revolução e do socialismo do século XX? A explicação mais simples seria a de Janio era completamente biruta, hipótese que ganha força com a lembrança de inúmeros outros episódios).



Parece que não gostaram muito da defesa que Lula fez do Chávez. Na verdade, Lula disse exatamente o que a gente anda dizendo por aqui. Que espécie de ditadura é esta com eleição toda hora? Quem dera que todas as ditaduras fossem assim! Aí Lula lembrou da Margareth Tatcher e outros chefes de governos parlamentaristas e ouviu-se o grito: não se pode comparar regimes! Lula respondeu: o que importa é o exercício do poder. Calou a boca de muita gente. Outros continuaram a grita: mas no parlamentarismo o presidente pode cair a qualquer momento, desde que perca a maioria no Congresso. Aí meus botões berraram: ué, e no presidencialismo? O presidente também não pode perder eleição? Se o Chávez é tão ruim, então o povo não vota nele! Simples assim. Tem outro melhor?

Os nossos jornalões vêm hoje com farto material sobre a Venezuela. O Globo diz que pesquisa aponta derrota de Chávez no plesbicito. Humm, que institutos são esses? O Globo esquece de informar que em todos os pleitos anteriores, os mesmos institutos apontaram derrota de Chávez, pesquisas sempre chanceladas irredutivelmente por nossa imprensa.

Ontem estava conversando com um amigo. Poxa, se o presidente é de direita e tem maioria no Congresso, então ele é forte, ele tem apoio sólido no parlamento. Se o presidente é de esquerda, ele DOMINA o parlamento. Procura-se sempre os termos mais pejorativos para designar todo tipo de força do governo venezuelano. O que a imprensa não diz é que o parlamento venezuelano foi eleito normalmente, e os deputados chavistas ganharam. Foi um pleito limpo e democrático, chancelado por instituições e observadores internacionais.

Na Venezuela, existe o Supremo Tribunal Federal, e se os juízes não atuam contra Chávez é porque nâo vêem razão para tal.

Quanto ao fechamento da RCTV, a nossa imprensa também nunca esclarece a dinâmica de como isso ocorreu. A RCTV participou do golpe contra Chávez em 2002. Um golpe contra a democracia. Os primeiros atos do novo presidente (esse sim um ditador) foi dissolver o Congresso Nacional venezuelano e impor um estado de sítio acabando com muitos direitos civis. Coisa de gelar a espinha. Essa é a oposição venezuelana, imediatamente apoiada por nossos editorialistas, que escreveram textos justificando o golpe contra Chávez.

Para cúmulo da idiotice política, imprensa e oposição associam a defesa que Lula fez de Chávez com a história do terceiro mandato. Agora Lula vai ter que ir para a tv dar palavra de honra, palavra de escoteiro, jurar pelos filhos, por tudo que há de mais sagrado, que não vai disputar um terceiro mandato. Como pode? É um factóide desonesto, uma maneira de tentar colar um selo chavista no governo Lula.

Esse tipo de atitude desinforma as pessoas e produz uma legião de idiotas, que ficam repetindo o que a mídia fala como papagaios.


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A melhor notícia da semana foi o carão que o editor internacional da Veja, cujo nome nem reproduzo aqui para não lhe dar Ibope no Google, tomou de um jornalista do New Yorker, John Lee Anderson. O engraçado é observar que nossos reaças tupis só faltaram chamar o americano de petralha mensaleiro. Anderson acusou a reportagem da Veja de extremamente opinativa, tendenciosa e distorcida. O cara da Veja respondeu com um faniquito, acusando o americano de pouco ético, porque não telefonou e divulgou o email que ele, o próprio americano, enviou. Nada mais estúpido. Se o brasileiro não telefonou porque o americano era obrigado a telefonar? E o email que o americano divulgou foi o texto dele mesmo, Anderson, sobre o qual ele tem todo o direito. Além do mais, não se tratavam de emails pessoais, confidenciais, mas mensagens profissionais, impessoais, sobre a qual é ridículo pedir segredo. Para cúmulo, o pitbull da Veja, o blogueiro débil mental que disse que o número 13 do XIII Congresso de Saúde é um complô do PT, compra a briga e desanca o jornalista americano com a agressividade, desonestidade e descompostura que lhe caracteriza.

É importante ressaltar que o jornalista do New Yorker não fez uma crítica estética à reportagem da Veja sobre Che Guevara, conforme a turminha da Veja alega, dizendo que ele simplesmente não teria gostado da matéria. Não, ele afirmou que a reportagem era desonesta, porque misturava jornalismo com opinião, não tinha pluralidade e usava fontes obscuras (não citadas, como sempre). Convenhamos, a Veja se tornou chacota internacional. A opinião de um jornalista do New Yorker deve ser respeitada porque se ajusta perfeitamente ao que milhões de brasileiros pensam a respeito. Fazer uma matéria sobre Che centrando num suposto mau cheiro do líder guerrilheiro é de um infantilismo tão imbecil que beira o surreal.

*

Ontem o colunista semanal do Globo, Sardenberg, acusa um vestibular de formular questões supostamente de cunho marxista. Mais essa agora! Será que esses caras realmente ficam fuçando tudo que é prova e livro didático no Brasil ou será que eles têm uma equipe fazendo isso? A denúncia de Sardenberg é uma besteira. Algumas questões, segundo ele, teriam um espírito marxista. Que imbecilidade. São dezenas de milhares de questões, formuladas por milhares de professores. Evidentemente, que há questões mais liberais, outras mais marxistas, outras mais para lá, outras mais para cá. Esse patrulhamento ideológico da direita brasileira está ficando absurdo. Eles não se deram conta de que a guerra fria acabou. O Lula não vai implantar o comunismo no Brasil. O PT não vai defender o comunismo no Brasil. Fiquem tranquilos com suas casas de praia e seus carros, meus queridos. Ao contrário, o governo Lula vem incentivando, com enorme sucesso, o mercado imobiliário no país. Tem gente que acha que capitalismo é o banco ficar com tudo e as pessoas com nada. Tem gente que acha que capitalismo é dinheiro no bolso do empresário e nada no bolso do trabalhador. Felizmente, há outros que acreditam que capitalismo de verdade é dinheiro no bolso do empresário, mas, sobretudo, dinheiro no bolso do trabalhador. Afinal, os trabalhadores correspondem a 90% da população e são eles que formam o famoso mercado consumidor, sem o qual a economia brasileira não vai para a frente. O que move a economia americana é o mercado interno, o consumo das famílias, que responde a quase dois terços do monstruoso PIB americano. Um consumo interno pujante supõe um bom poder aquisitivo da classe trabalhadora. Portanto... porque no te callas, Sardenberg!

14 de novembro de 2007

Sugestões para o Movimento dos Sem Mídia

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(Flavio Shiró)




Catei essa no Globo de hoje. Pesquisa recente da PricewaterhouseCoopers (PwC) e da Associação Mundial de Jornais (Wan)estima que, em três anos, o jornalismo online deve alcançar 18% da audiência global, o que representaria um índice três vezes superior ao de jornais e revistas.

Essa informação é fundamental para movimentos como os do sem-mídia. O MSM precisa incorporar a internet em seu DNA. Por suas características próprias, como a facilidade com que todo indivíduo ou instituição pode criar seu próprio canal de notícias, o crescimento avassalador da internet significa o fim do monopólio que a imprensa tradicional possuía da verdade política e, em parte, das tendências estéticas.

Há muita gente que afirma que a internet é elitizada. Discordo. É evidente que toda informação de qualidade é propriedade de uma elite. Isso ocorre até em países ricos. Nos EUA, a maioria se informa pela FOX, mesmo com casa própria e dinheiro no banco. A questão é que a internet está ficando maior que a imprensa escrita e constitui um meio de informação mais acessível que a compra diária de um jornal de qualidade. E, dentro da internet, a blogosfera constitui a fonte mais acessível (porque gratuita) e interessante (porque pessoal e interativa) de informação. Mergulhemos de cabeça neste mar de águas profundas, portanto. A maior empresa do mundo, a Google, é uma empresa exclusivamente de internet. Existem milhões de pessoas no mundo trabalhando exclusivamente com internet.

Na questão política e eleitoral, o cidadão está cada vez mais recorrendo a internet para formar a sua opinião. A prova disso estão sendo as eleições presidenciais na América Latina, onde assistimos uma imprensa escrita - unilateralmente alinhada com as oposições políticas - sofrer sucessivas e estrondosas derrotas eleitorais. As pessoas estão sim procurando a internet e são pessoas das mais diversas camadas sociais e segmentos profissionais. Nos países desenvolvimentos, a mesma coisa. As campanhas políticas estão usando cada vez mais a internet, o que é ótimo para reduzir caixa 2, porque a internet possibilita redução de custo e maior interação com o eleitorado.

Defendo, portanto, que o MSM adote uma posição mais propositiva e menos contestatória. Manifestações diante de jornais e tv têm seu valor, claro, e de fato há um lado romântico em mostrar que há gente de carne e osso participando do movimento. Mas o MSM começou na internet e deve perdurar nela, e concentrar energias e inteligência no desenvolvimento de um site bom de conteúdo e bonito de visual. A mídia é um conceito e um conceito é um fantasma, não pode ser vencido com manifestações. Para lutar contra um conceito é preciso usar armas conceituais. A comunicação é um fenômeno abstrato e, por mais que seja de massa, é um processo solitário, pois a informação é processada subjetivamente.

O MSM, a meu ver, precisa apoiar a consolidação de uma blogosfera crítica à mídia. E crítica não é ser contra. Crítico é querer melhorar. A liberdade de informação deve ser expandida. Alguns sofismas ideológicos turvam o debate sobre a mídia. Uns confundem liberdade com laissez-faire, com deixar tudo ao sabor do mercado. Mas o mercado comporta forças que, se não reguladas, produzem injustiça. Se liberdade fosse isso, então que se extinga a polícia, o fiscal de saúde pública, o juiz e demais entidades. Pensando como um anarquista, tudo isso seria maravilhoso, mas é utópico e por isso corre o risco de ser apenas uma cachimbada de ópio a serviço de interesses escusos.

Em termos práticos, eu acho que os recursos do MSM deveriam ser usados para o seguinte:

- Reforma do blog Cidanania, através de um especialista em Template, com possibilidade de transferência para outro provedor, o Blogspot por exemplo, que tem códidos mais abertos, mais modernos e não tem a odiosa limitação de espaço do UOL. Esta reforma deveria preparar o site pra ganhar com publicidade, para fazer caixa.

- Investimento em publicidade, através de banners em sites e blogs. Ou seja, o MSM pode anunciar seu blog ou site em outros espaços, com vistas a ganhar novos leitores. O mais interessante é o Adword, programa de publicidade do Google, que é absolutamente imparcial e impessoal, e dá um bom retorno. A publicidade na web ainda é muito barata e isso deve ser aproveitado.

- Contratação de alguns articulistas famosos, para que escrevam artigos exclusivos para o blog. Com R$ 200 se contrata um bom articulista. Muitos podem se interessar, inclusive, em fazê-lo gratuitamente.

- Criação de um selo editorial, especializado em publicar autores identificados com os sem mídia e, naturalmente, estudos sobre a mídia brasileira e mundial.


Enfim, essa é a minha colaboração. Como vejo que o Eduardo Guimarães publica toda sugestão em seu blog, presumo que as discussões são todas abertas e feitas com a transparência que a internet permite.

Momento Pop

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Não é que o Tom Cavalcanti venceu o Faustão? Assista o vídeo acima e leia a entrevista que o roteirista do programa concedeu ao PHA.

13 de novembro de 2007

Ganhando dinheiro com o blog

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Pois é, meus amigos. Enchi o blog de propaganda. Espero que vocês não se importem. É uma maneira de dar sustentabilidade a esta brincadeira. Muitos escritores fecham seus blogs assim que cumprem seu objetivo, que é divulgar seus nomes e livros. Depois que publicam os livros, calam-se virtualmente. Outros mantêm blogs para divulgar suas obras e atividades. Todos estão certos. Cada um faz o que deseja. A ideologia da internet é a da liberdade.

Há aqueles também que usam o blog para, efetivamente, publicar seus trabalhos. Estou nesse grupo. Publico poemas, contos, ensaios, artigos, nele eu choro, rio, exponho pontos-de-vista, minhas loucuras, anseios e paranóias. Este blog é muito importante para mim e acho uma possibilidade revolucionária (quiçá ingênua) um escritor viver apenas do que escreve, sem depender de editoras, jornais, congressos, bienais, coquetéis.

Na verdade, não tenho saco nem capacidade para sofisticados jogos sociais. Gosto de escrever e acredito que o faço bem. Gosto de pensar, inventar, comparar, denunciar, participar de polêmicas. Também gosto de pensar a internet como espaço para o debate político, um debate que tem ares de guerra, lutada com armas linguísticas, conceituais, estéticas e ideológicas.

Não estranhem, portanto, esses anúncios todos ao redor. São os patrocinadores deste meu trabalho. A internet está permitindo isso, por enquanto, um patrocínio livre, sem patrões invasivos e autoritários. Uma publicidade que não censura. As únicas exigências da publicidade livre da internet é não publicar material explicitamente pornográfico ou terrorista, o que é uma pena, pois obriga-me a romper minha antiga relação com Bin Laden e não publicar os vídeos maravilhosos da Cicciolina. Nem tudo é perfeito.

Sem brincadeira. Espero que esses anúncios permitam a entrada de mais recursos para o blogueiro intensificar o seu trabalho na net. Tenho conhecido muita gente interessante e lido muito texto bom na web. Este blog tem aberto portas para mim e espero que continue assim. Meu objetivo, todavia, não é o sucesso barato, esta exposição midiática inútil, mas um reconhecimento justo e bem remunerado para meu trabalho. Há um longo caminho pela frente, mas estou determinado a esperar o tempo que for preciso.

Procuro romper alguns paradigmas de como fazer blog: misturo assuntos e linguagens de uma maneira um pouco caótica, até mesmo contraditória, o que talvez me faz perder leitores. Não importa. Este blog não é meu ganha-pão. É minha ferramenta de comunicação pessoal, minha mídia, minhas armas. Estão me entendendo? Então maravilha. Um abraço a todos.

PS: Ainda estou aprendendo a filtrar os anúncios, de maneira a inserir publicidade que tenha afinidade com o blog.

12 de novembro de 2007

Bêbado de literatura

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(James Ensor)



Esta semana começa uma série de eventos dedicados à literatura, em São Paulo. É tanta coisa de deixar tonto. Acompanhem no blog EraOdito.

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Estreeiou no Rio de Janeiro a peça "Diário das Crianças do Velho Quarteirão", de Mario Bortolotto. A peça acontece na Fundição Progresso, Lapa, às 20:00.

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Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf's a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.

Robert Frost

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Dica de música. James Brow mandando ver.
http://espelhotrincado.blogspot.com/2007/11/para-ouvir-no-carro-iii.html#links


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Que diabos o Rei da Espanha fazia num encontro entre chefes de Estado ELEITOS por sufrágio universal? Chávez errou ao não deixar o Zapatero falar. Mas o Rei não tinha nada que se meter

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Achei o filme Passado muito fraquinho. Tremendo dramalhão meloso. O Babenco tenta ser moderninho ao colocar o Gael Garcia cheirando pó o tempo todo, mas não convence. Parece aqueles filmes destinados à Sessão da Tarde.

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Parece que ainda não caiu a ficha na sociedade sobre o significado da descoberta do Megacampo Tupi. Vale repetir, portanto. As novas reservas colocarão o Brasil no mesmo patamar que Venezuela e Arábia Saudita. A produção começa em 2012, mas os efeitos são imediatos, na medida em que empresas e investidores estrangeiros e nacionais devem alocar recursos no Brasil a partir de agora, estimulados pela riqueza em recursos energéticos do país.

11 de novembro de 2007

Divagações num domingo morno

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Acabei de recusar um comentário, coisa que não gosto de fazer, desde que não contenha ofensa. O comentário falava que o Globo deveria ser queimado, demolido, etc. Compreendo a irritação das pessoas com as organizações comandadas pela família Marinho, mas discordo totalmente desse tipo de pensamento.

O problema não está no jornal ou na tv globo, a meu ver. Mais grave, é o caso de canais que oferecem venda de tapete ou jóias, não possuem programas educativos nem abrem seu espaço para produções nacionais independentes. Esses canais deveriam perder a concessão. No caso da Globo, não se deve cogitar qualquer interferência em sua programação, sobretudo na parte de ficção, que deve ser absolutamente livre. O que se deve pensar é alguma regulamentação da cobertura jornalística. A informação é, atualmente, um produto tão importante quanto o leite, e por isso deve ser fiscalizado de alguma maneira, sob o risco de estarmos bebendo um produto adulterado, com soda cáustica.

Tem uma canção do Raul que diz o seguinte: se a rádio não toca a música que você não quer ouvir, não procure dançar ao som daquela antiga valsa, não não não, é só girar o botão, é só mudar a estação.

Penso que a letra do Raul diz tudo. O cidadão tem que desenvolver uma consciência mais crítica, e ter opções de outros canais para se informar e se entreter. De qualquer forma, é fundamental que o país reflita sobre seus meios de comunicação, porque eles são terríveis instrumentos de poder e exercem enorme influência política e eleitoral. Uma reforma nas leis de comunicação não teria como objetivo tolher a liberdade de expressão ou a liberdade de comunicação, mas garantir, fortalecer e expandir esta liberdade. A liberdade só possível através de uma regulamentação inteligente e justa. A liberdade não é uma consequência natural das forças do mercado. A liberdade é o resultado do esforço da sociedade civil para reduzir desequilíbrios e injustiças. Por isso criou-se o sistema de aposentadoria, gestantes ganharam direitos específicos e existem leis trabalhistas. Uma democracia moderna e livre supõe a atualização constante de suas leis às novas circunstâncias históricas.

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A campanha contra Chávez cresce no Brasil. O presidente da Venezuela, às vezes, é duro de engolir. Essa que ele aprontou no encontro Ibero-Americano, comprando briga com a Espanha, foi uma estupidez. Literalmente, produziu um "barraco", ao ofender publicamente o ex-presidente da Espanha, o José Maria Aznar. O Aznar é conservador opus dei, mas foi presidente da república, eleito por milhões de espanhóis e continua sendo um político prestigiado em seu país. Chávez deveria, ao menos, ser educado. Que ganha com isso?

Independente das críticas que se faça à Chávez, no entanto, é preciso ser honesto e aceitar que ele é um presidente eleito democraticamente. Votaram nele, portanto ele não é ditador. De vez em quando o comparam a Hitler, dizendo que o bigodinho também foi eleito. Ora, a eleição de Hitler foi um processo obscuro, fraudado e, de qualquer forma, logo neutralizado por medidas draconianas e racistas contra judeus, parlamentares, comunistas, artistas. Mais, Hitler invadiu outros países, arrasou cidades, matando milhões de pessoas, queria dominar o mundo. Chávez não persegue judeus, não manda queimar livros em praça pública, não planeja invadir outros países e já passou, vencedor, por sete ou oito eleições (não apenas UMA eleição fraudada e obscura, como foi o caso de Hitler).

O que eu quero dizer é o seguinte, Chávez pode ser o diabo, mas é um diabo democrático e respeitador da soberania das nações. As únicas intervenções de Chávez em outros países são no sentido de oferecer ajuda, em dinheiro ou petróleo. Pode-se criticá-lo por ser populista, mas ninguém poderá, em boa fé, dizer que isso não seja melhor que lançar bombas de fragmentação em centros comerciais de alta densidade populacional, como faz o governo americano. Não é questão de dizer que um erro não justifica outro. O fato é que Chávez não é tão perigoso quanto pintam e, sobretudo, não é um ditador, porque ditadores não são eleitos.

Quanto às reformas de Chávez, vocês já analisaram? São medidas altamente progressistas, sem contar que serão aprovadas em referendo popular. Ou seja, serão legitimadas democraticamente, de forma que a Venezuela se mostra muito mais autenticamente democratica que muitos outros países, inclusive países que se intitulam guardiões da democracia, como os EUA.

Lula lembrou muito bem quando citou as sucessivas reeleições da Margareth Thatcher. No dia seguinte, o Globo, num daqueles boxs editoriais fascistas, chamou a comparação de Lula de risível. Para o Globo, é risível comparar a pobre e mulata Venezuela à organizada e estável e maravilhosa Inglaterra. A "dama-de-ferro" britânica pôde fazer reformas profundas na economia britânica e reeleger-se sucessivamente (elegeu-se primeiramente de 1979 a 1983, de 1983 a 1987, e de 1987 a 1990).

Por que a Inglaterra pode, a Margareth Thatcher pode, e a Venezuela e o Chávez não podem? A comparação de Lula foi devastadora, isso sim. Thacther, assim como Chávez, dividiu radicalmente a sociedade britânica. Mas ela foi eleita e ninguém jamais pensou em chamá-la de ditadora. Na verdade, penso que Venezuela é muito mais democrática, do ponto-de-vista estritamente jurídico-político (não econômico, aí é outra história), porque a Inglaterra tem aqueles reis e rainhas que não são eleitos e interferem no processo político. Rei não é eleito, portanto a monarquia é contrária à idéia de democracia.

A Venezuela, portanto, é bem mais democrática que a Inglaterra. Margareth Thatcher não fez referendos populares para levar adiante suas reformas. Assim como Bush não está fazendo referendos quando acaba com algumas liberdades civis nos Estados Unidos. O Fernando Henrique Cardoso não fez referendo popular para saber se o povo aceitava ou não a instituição da reeleição. Particularmente, eu sou favorável à reeleição. Mas o que fez FHC, mudando as regras do jogo no meio da partida, e sendo ele o juiz, foi extremamente anti-ético e anti-democrático.

Ainda sobre as reformas de Chávez. A lei que permitirá fechar jornais, etc, diz respeito ao estado de exceção. Em qualquer país do mundo, estados de exceção impõem sacrifícios. Mas trata-se de uma lei para situações de terrível crise, apenas justificáveis em caso de guerra. De qualquer forma, são reformas votadas pelo Congresso venezuelano e a serem aprovadas por referendo popular. Que raio de ditadura é essa em que tudo passa pelo sufrágio universal? Quem dera que todas as ditaduras fossem assim!

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Em relação à crise do gás, é impressionante a sede de sangue de setores da imprensa. Me informando com mais calma sobre o assunto, vi que a Petrobrás estará ampliando enormemente a produção brasileira de gás a partir de 2008, e que há risco de desabastecimento parcial (parcial, olhem bem) somente em caso de uma terrível seca em todo país, que obrigue a Petrobrás a desviar gás para as usinas termoelétricas. E isso somente a partir de 2010 ou 2011. A crise atual, na verdade, advém do fato de que a Petrobrás vinha repassando mais do que o combinado à CEG, além do crescimento excessivo do consumo. O Paulo Henrique Amorim lembrou bem: tem sentido um país que é o primeiro ou segundo maior produtor de biodiesel do mundo incentivar o consumo de gás?

Há setores que deixam transparecer, de uma maneira que acho desavergonhada, um desejo enorme de crise. A etiqueta de "incompetente" e "corrupto" que tentam colar no governo Lula desde que ele assumiu o poder não está combinando com o quadro de crescimento econômico sustentável e equilibrado que assistimos. Aliás, a própria descoberta do novo campo gigante de petróleo e gás foi consequência da decisão de investir centenas de milhões de dólares em pesquisa de prospecção e da valorização do trabalho da Petrobrás.

Vale lembrar que a principal lembrança da Petrobrás em tempos fernandinos foi o afundamento da P-36, nossa maior plataforma de exploração, tragédia que custou vidas e bilhões de dólares. Lula ficará lembrado como o presidente em cuja gestão a Petrobrás descobriu o maior campo de petróleo e gás de nossa história, o que colocará o país entre os dez maiores produtores do mundo, devendo inclusive ingressar na poderosa e temida Organização dos Países Produtores de Petróleo, a Opep.

A descoberta do mega-campo Tupi, na realidade, como admitiu Merval Pereira em sua coluna deste domingo, muda totalmente o quadro geopolítico da América Latina, acentuando a liderança brasileira e também influe na conjuntural global, obrigando os países ricos, particularmente os Estados Unidos, a voltarem seus olhos para cá. Certamente, os EUA interessar-se-ão mais atentantemente pelos jogos eleitorais brasileiros, o que nos obriga ficar vigilantes, para filtramos os interesses positivos dos negativos.

Não é o caso de ressuscitar nenhum anti-americanismo, conforme a direita e setores da imprensa insistem em atribuir à esquerda nacionalista, e sim tomar cuidado para que os interesses pátrios não sejam feridos. Por interesses pátrios, eu me refiro aos interesses do cidadão brasileiro. Os americanos e europeus sempre enchem a boca para falar de seus interesses pátrios. Aqui a gente tem que se desculpar e jurar que não é comunista comedor de criancinha. Já está enraizado no inconsciente coletivo uma espécie de vergonha de ser brasileiro, um sentimento que é, talvez também inconscientemente, incentivado pela televisão e jornais.

O mega-campo Tupi é sinal de que se Deus não é brasileiro, ele não tem nada contra a gente. Afinal, não ter terremotos, maremotos, furacões, vulcões, não ser um país desértico, possuir oito milhões de quilômetros quadrados de terra, praias maravilhosas, mulheres lindíssimas, músicos extraordinários, e ainda encontrar uma reserva de oito bilhões de litros de petróleo e gás em águas nacionais, é prova de que o Brasil não é a cloaca que os missivistas dos jornalões tanto acusam.

Outro dia, o Estadão publicou cartinha de leitor, um imbecil, que dizia o seguinte: "Jovens, imigrem. Não há espaço no Brasil para pessoas honestas". Que irresponsabildade o Estadão publicar isso! Num país que já enfrenta déficit de milhares de engenheiros, médicos e professores, ou seja, num país onde sobram oportunidades para gente qualificada. Fico imaginando a felicidade dos engenheiros da Petrobrás que descobriram o Tupi. Essa cena a Globo não procura captar com suas câmeras intrujonas.

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Dêem uma olhada neste site chinês de arte contemporânea. Destaco a seção de pinturas figurativas.

9 de novembro de 2007

País do futuro

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(Flavio Shiró)


Não foi tarefa fácil fundar a Petrobrás. Existiam muitas forças econômicas que pressionavam contra, conforme denunciou Getúlio Vargas em sua carta testamento. Um dos veículos que davam suporte a estas forças negativas era o Jornal O Globo, dirigido por Roberto Marinho. A fundação da estatal, em 1953, desencadeou uma onda de fúria oposicionista que iria culminar com o suicídio de Vargas em agosto do ano seguinte. Cinquenta e quatro anos depois, a Petrobrás, pela voz da ministra Dilma Roussef, anuncia descoberta de reserva gigante na bacia de Santos, que deverá fazer do Brasil um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, emparelhando com a Venezuela.

Em 1953, o Brasil era ligado umbilicalmente a refinarias estrangeiras, que traziam do exterior petróleo em forma já industrializada, como gasolina. Além desta dependência - na maior parte de companhias americanas, como Shell, Texaco, entre outras - ter consequências políticas e diplomáticas extremamente negativas, ela constituía um peso econômico brutal, causando um déficit crônico na balança comercial brasileira.

Nos últimos anos, porém, a Petrobrás conseguiu cumprir a meta de dar auto-suficiência ao país em petróleo, e agora, com essa nova descoberta, fazer do Brasil, em futuro próximo, um importante exportador do produto. Esses são fatores de grande orgulho para o brasileiro, pois sinalizam que o país terá recursos energéticos abundantes para sustentar um crescimento vigoroso e sólido. Considerando o potencial de produção de biodiesel e a disponibilidade de água mineral podemos afirmar que agora um futuro promissor se delineia no horizonte.

Por essas e outras que não entendo como o Globo pode deixar passar essa oportunidade para refletir sobre o futuro. Na edição de hoje, o Globo dedica a maior parte de suas páginas políticas ao fechamento, por falência, de uma pequena companhia aérea, transcrevendo discursos de pessoas que foram prejudicadas como se fossem grandes verdades, só porque esses discursos contém furiosas (e ingênuas) invenctivas contra o governo. Na realidade, parece que o sentido desta matéria era somente abrigar essas invenctivas.

O Alexandre Garcia, no Bom Dia Brasil de hoje, comenta a notícia da descoberta do campo gigante com uma cara de enterro. Depois de dizer que a notícia ganhou a primeira página de jornais do mundo inteiro, ele afirma que o governo requentou a informação, porque ela já tinha sido divulgada há meses. Mentira. O Globo deu notinhas na coluna do Ancelmo Goes, falando de rumores sobre um grande campo de petróleo na Bacia de Santos. Mas o anúncio oficial ainda não tinha sido feito. Alexandre Garcia perdeu a oportunidade de ser o porta-voz de uma notícia extraordinariamente positiva para a economia nacional. Não demonstrou o mínimo de sentimento patriótico. Preferiu fazer picuinhas.

É incrível, mas parece que há setores da imprensa realmente tristes com o fato do Brasil ter descoberto um campo que ampliará em 50% o tamanho de nossas reservas de gás e petróleo. Ficaram tristes porque estavam contentes com a possibilidade de produzirem uma outra crise, a crise do gás. Havia (ainda há) toda uma excitação com a chance de queimar o governo Lula com um problema de gás. Eles não estão acreditando na sorte de Lula. Esse novo campo pode ser o trunfo que permitirá Lula eleger seu sucessor, quiçá Dilma Roussef, escolhida para anunciar a descoberta.

5 de novembro de 2007

Os chantagistas

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(Flavio Shiró)



O jornal Globo, que tem uma postura oposicionista muito mais dura, e irresponsável, que a própria oposição parlamentar, e sem a chancela democrática que os partidos possuem, está fazendo uma chantagem enorme com os senadores tucanos. É que neles reside a esperança de passar uma enorme rasteira no governo Lula. Eles querem, ou melhor, exigem, que o PSDB, criador da CPMF, seja o responsável por um buraco de 40 bilhões nos cofres públicos. Não contente de produzir crises políticas a todo momento, a mídia agora quer produzir instabilidade econômica. Pode-se ser contra a CPFM, mas pretender extinguir bruscamente um imposto operante há mais de 10 anos sem indicar de onde viria o dinheiro para substituir 40 bilhões de reais, a maior parte já comprometido com saúde e investimentos sociais, é trabalhar contra a estabilidade econômica e jurídica, que o país lutou tanto para conquistar, e cujos resultados estão sendo fartamente colhidos atualmente. É hipocrisia absurda o PSDB, criador e defensor da CPMF durante todos esses anos, aceitar o risco de instabilidade financeira que o fim brusco e não planejado do imposto comporta.

Em sua coluna no Globo, Ricardo Noblat faz hoje uma chantagem explícita: o PSDB só presta quando vota contra o governo. O recado é o seguinte: o Globo só apoiará o PSDB se ele for contra Lula. Em caso contrário, o Globo não ajudará mais o PSDB a obter votos na classe média lacerdista. Noblat denuncia que, em todo o ano de 2007, o PSDB votou 3 vezes com o governo. Seu tom é de denúncia, como se os tucanos tivessem a obrigação moral de votar contra o governo, não importando o teor da votação.

Todas as páginas política do Globo hoje transpiram um direitismo irredutível, teimoso, infantil. Há uma matéria ridícula, intitulada Comissão de Ética de FH perde força. Diz que agora só tem 4 integrantes. Só lá na frente diz que antes tinha apenas 7. Me diz, que merda uma comissão de 7 pessoas pode fazer pela ética pública? Temos o Tribunal de Contas, a Corregedoria (ministério), o Ministério Público, a Polícia Federal, o Senado, o Congresso, a imprensa, qual a importância dessa comissão criada por FHC para produzir uma ilusão de investigação ética? Ao final, o texto informa que a Comissão condenou o assessor Marco Aurélio... Ora, que comissão é essa, então, que condenava atos privados inofensivos de assessores? A história do top-top foi a coisa mais ridícula da história contemporânea brasileira. Agora será proibido fazer top-top no interior de nossas casas porque pode haver câmeras globais espionando pelas frestas da janela?

O Comitê deveria ter defendido o Marco Aurélio, isso sim. Temos muita corrupção no país, muita sacanagem verdadeira, para desviarmos qualquer molécula de atenção para top-tops particulares, gestos absolutamente inofensivos.

A maneira como a imprensa vem tratanto o debate sobre a CPMF é de uma irresponsabilidade imensa. Nada contra querer reduzir os impostos. Mas que se faça planejamento de redução para um prazo razoável. Querer, em novembro de 2007, produzir um rombo público de 40 bilhões no orçamento de 2008 é agir, conforme dizia aquele ministro fernandino, no "limite da responsabilidade".

A mesma irresponsabilidade acontece em relação ao imposto sindical compulsório. A imprensa quer a morte súbita do sindicato e das centrais sindicais. Sim, porque logo agora que as centrais, depois de décadas de luta pela construção do novo sindicalismo brasileiro, conseguiram ser juridicamente reconhecidas e ter o direito à sua justa parcela no imposto sindical, agora que elas terão recursos (como o patronato tem com o sistema S, que alimenta, entre outras coisas, a Fiesp) para financiar sua consolidação junto à classe trabalhadora, o partido da imprensa quer o fim do imposto. Sim, porque querer que, a essa altura do campeonato, com toda a campanha contra os impostos que hoje se faz na mídia, os trabalhadores paguem, voluntariamente, suas taxas sindicais, é piada, é querer nos fazer de palhaços. Ora, o imposto sindical não deveria ser obrigatório, claro, mas a sua extinção deve ser gradual. Isso é óbvio. Tinha que ser óbvio. Tem que ser um programa de redução gradual, para que os sindicatos possam se preparar para essa profunda mudança na relação financeira com seus membros.

O mais ridículo na emenda do deputado do PPS (só podia ser do PPS, pelego da direita) é que ele propôs - na calada da noite - a extinção somente do imposto dos sindicatos trabalhistas, mas não dos sindicatos patronais. Vejam só. Que significa PPS mesmo? Partido Popular Socialista. Socialista? Por acaso existe algum grupo da classe trabalhadora que lhe apóie? Quais são as forças sociais que sustentam o PPS? O PPS foi um dos que mais arrotou ética e agora vemos dezenas de seus parlamentares enrascados (não em denúncias midiáticas) em sérias investigações de corrupção. O PPS só sobrevive com apoio de empresários dos grotões e da mídia, e está em decadência acelerada, tendo que apelar para atos de desespero como recuperar mandados de parlamentares que abandonam o partido através de medidas judiciais.

O Globo não quer Chávez no Mercosul, não quer prorrogação da CPMF, não quer o imposto sindical, sua posição partidária tem sido estritamente oposicionista. É como disse Cristina Kirchner, a recém eleita presidenta argentina, quando foi perguntada como seria sua relação com a imprensa: se ela deixar de ser oposição e for imprensa, será uma relação perfeita.

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A política de segurança pública no Rio de Janeiro só será eficaz no dia em que deixar de ser assassina e investir em inteligência e no combate à corrupção da própria polícia. Quando reformar internamente o sistema, valorizando a formação, a renda e a segurança do policial. E ter como preocupação central evitar mortes. É muito mais importante evitar mortes do que pegar traficante. Homicídio é, juridica e moralmente um crime muito mais hediondo do que o tráfico de drogas. E não me digam que a questão é urgente. Claro que é urgente. É bom tomar medidas urgentes de segurança pública, como policiamento ostensivo.

Essas operações de ataque aos morros são disperdício de vidas humanas, tempo e dinheiro. Os traficantes renascem como cogumelos. Há sempre 10 para substituir 1 que é preso ou morto. O importante é minar a estrutura. O importante é trabalhar com a idéia de minimizar o tráfico. A mentalidade de extermínio, de vitória total contra o tráfico, ao invés do planejamento inteligente e criativo sobre sua redução e minimização de seus danos é estupidez bushiana, que resultou em grande aumento da produção de cocaína, em aumento do consumo, em aumento dos gastos militares, em aumento da corrupção em todos os níveis; enfim, que promove grande e inútil gastança pública. O governo fluminense não pode se dar ao luxo de gastar inutilmente, diante do quadro de calamidade pública que se encontram a redes estaduais de educação, saúde e meio ambiente.

De vez em quando um idiota diz que a pobreza não gera violência e a prova é que aÍndia é menos violenta que o Brasil. Ora, vá passear na fronteira entre China e Paquistão, de preferência de trem, para ver se o pobre indiadn ou paquistanês é tão cordial assim. De vez em quando eles explodem um trem e morrem uns 400 queimados vivos. Os paquistaneses inventaram os talibãs.

A pobreza sempre gera violência, seja violência criminosa seja violência terrorista. Além do mais a questão não é só pobreza, mas o histórico particular de cada país. O Brasil importou 30 milhões de escravos africanos, e os torturou covardemente por quatro séculos. Isso talvez tenha contribuído para a violência, não acham?


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A campanha anti-chavista da nossa imprensa é outra coisa ridícula. Tudo que Chávez vem fazendo está sendo feito rigorosamente dentro dos preceitos da democracia. Se o povo vota nele, se vota em seus deputados, se as forças sociais que apóiam Chávez são mais fortes que as forças sociais que não o apóiam, e se essas forças querem e apóiam mudanças profundas na Venezuela, isso também é democracia. É preciso entender que as democracias permitem mudanças revolucionárias. O princípio mais importante da democracia é que o poder emana do povo. Ou seja, o poder emana da maioria. Se o governo venezuelano quer mudar a Constituição e incluir a reeleição, que que tem? Pelo menos ele faz referendo popular. Não é que nem o FHC, que não faz referendo, compra voto e aqui é reverenciado como democrata-mor quando muda a constituição para reeleger a si mesmo.

O engraçado é que agora o Alvaro Uribe também quer se reeleger outra vez, e será extremamente divertido ver a diferença de tratamento que nossas mídias darão aos dois casos. Uribe, direitista, é queridinho da mídia tupi. Chávez é o demônio. Por que as nossas mídias não implicam com os sheikes arábes, que não são eleitos? Por que não implicam com países onde efetivamente não há sistema democrático. No caso da Venezuela, a questão não é se gostamos ou não de Chávez. Ele foi eleito, reeleito, foi testado no referendo, seus aliados venceram eleições provinciais, municipais, legislativas. Seu poder é democrático!

E não venham comparar com Hitler, que ele foi eleito e tal. A eleição de Hitler foi um processo totalmente obscuro, cheio de suspeitas de fraudes, sem nenhuma vigilância internacional, num país com inflação de dez mil por cento ao ano, num cenário de pós-guerra, espremido entre o capitalismo agressivo europeu e americano e o comunismo possante & opressor de Stálin. Não tem nada a ver.