11 de novembro de 2007

Divagações num domingo morno



Acabei de recusar um comentário, coisa que não gosto de fazer, desde que não contenha ofensa. O comentário falava que o Globo deveria ser queimado, demolido, etc. Compreendo a irritação das pessoas com as organizações comandadas pela família Marinho, mas discordo totalmente desse tipo de pensamento.

O problema não está no jornal ou na tv globo, a meu ver. Mais grave, é o caso de canais que oferecem venda de tapete ou jóias, não possuem programas educativos nem abrem seu espaço para produções nacionais independentes. Esses canais deveriam perder a concessão. No caso da Globo, não se deve cogitar qualquer interferência em sua programação, sobretudo na parte de ficção, que deve ser absolutamente livre. O que se deve pensar é alguma regulamentação da cobertura jornalística. A informação é, atualmente, um produto tão importante quanto o leite, e por isso deve ser fiscalizado de alguma maneira, sob o risco de estarmos bebendo um produto adulterado, com soda cáustica.

Tem uma canção do Raul que diz o seguinte: se a rádio não toca a música que você não quer ouvir, não procure dançar ao som daquela antiga valsa, não não não, é só girar o botão, é só mudar a estação.

Penso que a letra do Raul diz tudo. O cidadão tem que desenvolver uma consciência mais crítica, e ter opções de outros canais para se informar e se entreter. De qualquer forma, é fundamental que o país reflita sobre seus meios de comunicação, porque eles são terríveis instrumentos de poder e exercem enorme influência política e eleitoral. Uma reforma nas leis de comunicação não teria como objetivo tolher a liberdade de expressão ou a liberdade de comunicação, mas garantir, fortalecer e expandir esta liberdade. A liberdade só possível através de uma regulamentação inteligente e justa. A liberdade não é uma consequência natural das forças do mercado. A liberdade é o resultado do esforço da sociedade civil para reduzir desequilíbrios e injustiças. Por isso criou-se o sistema de aposentadoria, gestantes ganharam direitos específicos e existem leis trabalhistas. Uma democracia moderna e livre supõe a atualização constante de suas leis às novas circunstâncias históricas.

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A campanha contra Chávez cresce no Brasil. O presidente da Venezuela, às vezes, é duro de engolir. Essa que ele aprontou no encontro Ibero-Americano, comprando briga com a Espanha, foi uma estupidez. Literalmente, produziu um "barraco", ao ofender publicamente o ex-presidente da Espanha, o José Maria Aznar. O Aznar é conservador opus dei, mas foi presidente da república, eleito por milhões de espanhóis e continua sendo um político prestigiado em seu país. Chávez deveria, ao menos, ser educado. Que ganha com isso?

Independente das críticas que se faça à Chávez, no entanto, é preciso ser honesto e aceitar que ele é um presidente eleito democraticamente. Votaram nele, portanto ele não é ditador. De vez em quando o comparam a Hitler, dizendo que o bigodinho também foi eleito. Ora, a eleição de Hitler foi um processo obscuro, fraudado e, de qualquer forma, logo neutralizado por medidas draconianas e racistas contra judeus, parlamentares, comunistas, artistas. Mais, Hitler invadiu outros países, arrasou cidades, matando milhões de pessoas, queria dominar o mundo. Chávez não persegue judeus, não manda queimar livros em praça pública, não planeja invadir outros países e já passou, vencedor, por sete ou oito eleições (não apenas UMA eleição fraudada e obscura, como foi o caso de Hitler).

O que eu quero dizer é o seguinte, Chávez pode ser o diabo, mas é um diabo democrático e respeitador da soberania das nações. As únicas intervenções de Chávez em outros países são no sentido de oferecer ajuda, em dinheiro ou petróleo. Pode-se criticá-lo por ser populista, mas ninguém poderá, em boa fé, dizer que isso não seja melhor que lançar bombas de fragmentação em centros comerciais de alta densidade populacional, como faz o governo americano. Não é questão de dizer que um erro não justifica outro. O fato é que Chávez não é tão perigoso quanto pintam e, sobretudo, não é um ditador, porque ditadores não são eleitos.

Quanto às reformas de Chávez, vocês já analisaram? São medidas altamente progressistas, sem contar que serão aprovadas em referendo popular. Ou seja, serão legitimadas democraticamente, de forma que a Venezuela se mostra muito mais autenticamente democratica que muitos outros países, inclusive países que se intitulam guardiões da democracia, como os EUA.

Lula lembrou muito bem quando citou as sucessivas reeleições da Margareth Thatcher. No dia seguinte, o Globo, num daqueles boxs editoriais fascistas, chamou a comparação de Lula de risível. Para o Globo, é risível comparar a pobre e mulata Venezuela à organizada e estável e maravilhosa Inglaterra. A "dama-de-ferro" britânica pôde fazer reformas profundas na economia britânica e reeleger-se sucessivamente (elegeu-se primeiramente de 1979 a 1983, de 1983 a 1987, e de 1987 a 1990).

Por que a Inglaterra pode, a Margareth Thatcher pode, e a Venezuela e o Chávez não podem? A comparação de Lula foi devastadora, isso sim. Thacther, assim como Chávez, dividiu radicalmente a sociedade britânica. Mas ela foi eleita e ninguém jamais pensou em chamá-la de ditadora. Na verdade, penso que Venezuela é muito mais democrática, do ponto-de-vista estritamente jurídico-político (não econômico, aí é outra história), porque a Inglaterra tem aqueles reis e rainhas que não são eleitos e interferem no processo político. Rei não é eleito, portanto a monarquia é contrária à idéia de democracia.

A Venezuela, portanto, é bem mais democrática que a Inglaterra. Margareth Thatcher não fez referendos populares para levar adiante suas reformas. Assim como Bush não está fazendo referendos quando acaba com algumas liberdades civis nos Estados Unidos. O Fernando Henrique Cardoso não fez referendo popular para saber se o povo aceitava ou não a instituição da reeleição. Particularmente, eu sou favorável à reeleição. Mas o que fez FHC, mudando as regras do jogo no meio da partida, e sendo ele o juiz, foi extremamente anti-ético e anti-democrático.

Ainda sobre as reformas de Chávez. A lei que permitirá fechar jornais, etc, diz respeito ao estado de exceção. Em qualquer país do mundo, estados de exceção impõem sacrifícios. Mas trata-se de uma lei para situações de terrível crise, apenas justificáveis em caso de guerra. De qualquer forma, são reformas votadas pelo Congresso venezuelano e a serem aprovadas por referendo popular. Que raio de ditadura é essa em que tudo passa pelo sufrágio universal? Quem dera que todas as ditaduras fossem assim!

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Em relação à crise do gás, é impressionante a sede de sangue de setores da imprensa. Me informando com mais calma sobre o assunto, vi que a Petrobrás estará ampliando enormemente a produção brasileira de gás a partir de 2008, e que há risco de desabastecimento parcial (parcial, olhem bem) somente em caso de uma terrível seca em todo país, que obrigue a Petrobrás a desviar gás para as usinas termoelétricas. E isso somente a partir de 2010 ou 2011. A crise atual, na verdade, advém do fato de que a Petrobrás vinha repassando mais do que o combinado à CEG, além do crescimento excessivo do consumo. O Paulo Henrique Amorim lembrou bem: tem sentido um país que é o primeiro ou segundo maior produtor de biodiesel do mundo incentivar o consumo de gás?

Há setores que deixam transparecer, de uma maneira que acho desavergonhada, um desejo enorme de crise. A etiqueta de "incompetente" e "corrupto" que tentam colar no governo Lula desde que ele assumiu o poder não está combinando com o quadro de crescimento econômico sustentável e equilibrado que assistimos. Aliás, a própria descoberta do novo campo gigante de petróleo e gás foi consequência da decisão de investir centenas de milhões de dólares em pesquisa de prospecção e da valorização do trabalho da Petrobrás.

Vale lembrar que a principal lembrança da Petrobrás em tempos fernandinos foi o afundamento da P-36, nossa maior plataforma de exploração, tragédia que custou vidas e bilhões de dólares. Lula ficará lembrado como o presidente em cuja gestão a Petrobrás descobriu o maior campo de petróleo e gás de nossa história, o que colocará o país entre os dez maiores produtores do mundo, devendo inclusive ingressar na poderosa e temida Organização dos Países Produtores de Petróleo, a Opep.

A descoberta do mega-campo Tupi, na realidade, como admitiu Merval Pereira em sua coluna deste domingo, muda totalmente o quadro geopolítico da América Latina, acentuando a liderança brasileira e também influe na conjuntural global, obrigando os países ricos, particularmente os Estados Unidos, a voltarem seus olhos para cá. Certamente, os EUA interessar-se-ão mais atentantemente pelos jogos eleitorais brasileiros, o que nos obriga ficar vigilantes, para filtramos os interesses positivos dos negativos.

Não é o caso de ressuscitar nenhum anti-americanismo, conforme a direita e setores da imprensa insistem em atribuir à esquerda nacionalista, e sim tomar cuidado para que os interesses pátrios não sejam feridos. Por interesses pátrios, eu me refiro aos interesses do cidadão brasileiro. Os americanos e europeus sempre enchem a boca para falar de seus interesses pátrios. Aqui a gente tem que se desculpar e jurar que não é comunista comedor de criancinha. Já está enraizado no inconsciente coletivo uma espécie de vergonha de ser brasileiro, um sentimento que é, talvez também inconscientemente, incentivado pela televisão e jornais.

O mega-campo Tupi é sinal de que se Deus não é brasileiro, ele não tem nada contra a gente. Afinal, não ter terremotos, maremotos, furacões, vulcões, não ser um país desértico, possuir oito milhões de quilômetros quadrados de terra, praias maravilhosas, mulheres lindíssimas, músicos extraordinários, e ainda encontrar uma reserva de oito bilhões de litros de petróleo e gás em águas nacionais, é prova de que o Brasil não é a cloaca que os missivistas dos jornalões tanto acusam.

Outro dia, o Estadão publicou cartinha de leitor, um imbecil, que dizia o seguinte: "Jovens, imigrem. Não há espaço no Brasil para pessoas honestas". Que irresponsabildade o Estadão publicar isso! Num país que já enfrenta déficit de milhares de engenheiros, médicos e professores, ou seja, num país onde sobram oportunidades para gente qualificada. Fico imaginando a felicidade dos engenheiros da Petrobrás que descobriram o Tupi. Essa cena a Globo não procura captar com suas câmeras intrujonas.

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Dêem uma olhada neste site chinês de arte contemporânea. Destaco a seção de pinturas figurativas.

4 comentarios

Jorge Ferreira disse...

fala meu velho!
no rio em janeiro...la pelo dia 5...grande abraco...
ps...me diz uma coisa...vc recebeu alguma das minhas cartas com os cds?

Miguel do Rosário disse...

po, recebi não. mandou há muito tempo?

Juliano Guilherme disse...

Miguel, você disse tudo não tem nem o que acrescentar

politicamente_incorreto disse...

O QUE ESTÁ FALTANDO AO GOVERNO LULA NO QUE TANGE A PETROBRÁS É PROMOVER O QUANTO ANTES A "NECRÓPSIA" DO JUDEU BOLIVIANO "DR HERMANN" OU MAIS PRECISAMENTE GERMAN EFROMOVICH QUE DE SIMPLES RISCADOR NAVAL SE TORNOU UM DOS MAIORES EMPRESÁRIOS DO BRASIL, SE DEDICANDO ULTIMAMENTE AO "HOBBY" DE ADQUIRIR E MONTAR EMPRESAS AÉREAS, JÁ TEM A OCEANAIR, ENCAMPOU A BRA E ALÉM DA AVIANCA DA COLOMBIA TAMBÉM TEM A EMPRESA DE TAXI AÉREO COM A FROTA MAIS NOVA DO MUNDO, TUDO DINHEIRO SURRUPIADO DA PETROBRAS NA GEESTÃO FHC, É ASSIM PARCEIRO QUE FUNCIONA A INICIATIVA PRIVADA E POR CONSEGUINTE RECEBE ESSE NOME, TRATAMA COISA PÚBLICA COMO LATRINA E ESEUS NEGÓCIOS CHEIRAM A M....

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