27 de novembro de 2007

O livro da Bruna Surfistinha é bom

Ontem à noite, sentado na minha poltrona preta acolchoada, comprada em São Paulo, passei a vista nos livros na estante ao lado e, quase que por acaso, acabei puxando o livro da Bruna Surfistinha.

O livro pertence a uma amiga da minha mulher e não sei como veio parar na minha estante. Não importa. Também não importa quem é o autor exato do texto. Há uma chamada na segunda capa informando que se trata de um depoimento a Jorque Tarquini. Se o texto final não é dela, os sentimentos e a história seguramente o são. O que o livro me passou foram sentimentos de uma garota muito corajosa e muito humana.

Nunca tive preconceito contra prostitutas, até porque elas me foram muito úteis nos primórdios da minha vida sexual. É bom esclarecer alguns pontos que o marketing do livro, na ânsia de maximizar vendas, deixou meio nebulosos. Por exemplo, Bruna é, de fato, uma garota de classe média alta de São Paulo. Mas também é uma filha adotiva e moça problemática, clepto e ninfo maníaca desde muito cedo, cujos pais, talvez com razão, decidem lhe voltar as costas, deixando-a sem dinheiro e sem afeto. Os pais, inclusive, denunciam-na à Justiça, pelo roubo de algumas jóias da família. A moça, com dezesseis anos, por pouco não vai para a Febem. Logo depois, escuta rumores de que será enviada para algum lugar. Temendo algum tipo de internato maluco, ela decide pôr em prática um plano que vinha desenvolvendo há tempos: trabalhar num prostíbulo.

O livro é bem escrito. Os sentimentos e a história da menina são narrados com clareza e sensibilidade. Está aí a razão do sucesso estrondoso do romance e não serão preconceitos morais ou intelectuais que vão mudar isso.

Na verdade, venho observando um fenômeno editorial interessante: uma divergência crescente entre escritores e intelectuais. Nem todo intelectual é escritor, nem todo escritor é intelectual. A falta de compreensão disso leva muitos intelectuais a tomarem atitudes preconceituosas contra escritores que não seguem as regras aplicadas aos intelectuais. Escritores nem sempre são cultos, nem sempre são politizados, muitas vezes são preconceituosos, reacionários, alienados. O que o escritor precisa ter, e essa é uma opinião muito pessoal, é caráter. Pode parecer uma contradição, mas um escritor pode ser um filho-da-puta sem caráter ou um filho-da-puta com caráter.

O seu livro é uma excelente aula de sexo, além de um interessante case para pesquisdores da sexualidade contemporânea. A cena do senhor pedindo "chuva negra" é antológica. Já tinha ouvido falar disso, mas nunca tinha lido uma descrição tão realista desse tipo de tara. O sujeito pede que a moça faça o "número 2" sobre ele, enquanto ele toca uma punheta. Arg.

São dezenas de descrições interessantes de orgias, lesbianismo (preferência da Bruninha), surubas, swings, enfim, um verdadeiro kama sutra contemporâneo.

Parabéns Bruna.

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