31 de janeiro de 2011

Fúria, fúria, contra a morte da luz

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Fúria, fúria, contra a antirevolução


Pepe Escobar

1/2/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu (Via Castorphoto)


Fúria, fúria, contra a morte da luz.

- Dylan Thomas


Islamófobos de todo o mundo calem o bico e ouçam o som do poder do povo. A dicotomia artificial que inventaram para o Oriente Médio – ou a ditadura de vocês ou o jihadismo – jamais passou de truque barato. Repressão política, desemprego em massa e comida cara são mais letais que um exército de homens-bomba. Assim se escreve a história real; um país de 80 milhões – dois milhões dos quais nascidos depois de o ditador de hoje ter chegado ao poder em 1981, e nada menos que o coração do mundo árabe – põe afinal abaixo o Muro do Medo e passa para o lado do autorrespeito.


O neofaraó egípcio Hosni Mubarak ordenou toque de recolher; ninguém arredou pé das ruas. A polícia atacou; os cidadãos organizaram a própria segurança. Chegaram os tanques; a multidão continuou a cantar “de mãos dadas, o exército e o povo são aliados”. Nada de revolução colorida parida em think-tanks, nada de islâmicos em ordem unida; são egípcios médios, carregando a bandeira nacional, “juntos, como indivíduos num grande esforço cooperativo para exigir de volta o país que nos pertence” – nas palavras do romancista egípcio e Prêmio Nobel Ahdaf Soueif.


E então, inevitável como a morte, a contrarrevolução levantou a cabeçorra armada. Jatos bombardeiros made in USA e helicópteros militares atacaram “bravamente” em vôos rasantes as multidões na Praça Tahrir [Praça Liberdade] (retrato do governo de Mubarak como exército de ocupação no Egito; e imaginem o ultraje do ocidente, se o ataque acontecesse em Teerã). Comandantes militares falando sem parar pela televisão estatal. Ameaça de que tanques de fabricação norte-americana tomariam as ruas – conduzidos por soldados de batalhões de elite – para o ataque final (embora os próprios soldados dissessem a jornalistas da rede al-Jazeera que em nenhum caso disparariam contra a multidão). Para coroar, a “subversiva” rede al-Jazeera foi repentinamente cortada do ar.


Diga alô ao meu suave torturador...


A Intifada egípcia – dentre outros múltiplos significados – já reduziu a cacos a propaganda inventada no ocidente, de que “árabes são terroristas”. Agora, as mentes afinal descolonizadas, os árabes inspiram o mundo inteiro, ensinam ao ocidente como se faz mudança democrática. E adivinhem só! Ninguém precisou de “choque e horror”, rendições, tortura e trilhões de dólares do Pentágono para que a coisa funcionasse! Não surpreende que Washington, Telavive, Riad, Londres e Paris, todas, nem suspeitaram do que estava a caminho.


Hoje somos todos egípcios. O vírus latino-americano – bye-bye ditaduras e neoliberalismo arrogante, caolho, míope – contaminou o Oriente Médio. Primeiro a Tunísia. Agora o Egito. Depois o Iêmen e possivelmente a Jordânia. Logo a Casa de Saud (não surpreende que culpem os egípcios pelos “tumultos”). Mas o terremoto político do norte da África, na Tunísia, em 2011 também colheu a faísca dos movimentos de massa na Europa em 2010 – Grécia, Itália, França, Reino Unido. Fúria, fúria contra a repressão política, contras as ditaduras, contra a brutalidade da Polícia, contra os preços da comida, contra a inflação, contra empregos miseráveis, contra o desemprego em massa.


Faraó 2011 parece remix de Xá do Irã 1979. Claro, não há aiatolá Ruhollah Khomeini para liderar as massas egípcias, e o ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohamed El Baradei, está sendo acusado por alguns, nas ruas, de “assaltar nossa revolução”. Mas é difícil não lembrar que o Xá do Irã está enterrado no Cairo, porque os iranianos não permitiram que fosse enterrado na terra-mãe.


O Faraó reagiu à Intifada nomeando para a vice-presidência seu czar “suave” da inteligência, Omar Suleiman (o primeiro vice-presidente, desde que o Faraó assumiu o poder em 1981), e virtual sucessor. Suleiman é sinistro suave especialista em rendição, no qual a CIA confia e que supervisionou número incontável de sessões de tortura de ditos “terroristas” em território egípcio; senhor, que fala inglês, de sua Guantánamo árabe. Em Washington, o establishment gostou muito.


Mas os imperialistas que anotem bem: a última vez que as ruas egípcias levantaram-se como levantaram-se hoje, foi em 1919, durante a revolução contra os britânicos. Agora, para muçulmanos e cristãos, operários, classe média, massas desempregadas, advogados, juízes, professores e doutores da Universidade al-Azhar, alunos, camponeses, teólogos, jornalistas e blogueiros independentes, ativistas da Irmandade Muçulmana, Associação Nacional para a Mudança, Movimento 16 de abril, para todos esses, os dias de Mubarak de Revolução dos Bichos estão contados.


Cinco movimentos de oposição – inclusive a Fraternidade Muçulmana – autorizaram El Baradei a negociar a formação de um “governo de salvação nacional” de transição. Aposta-se que o Faraó nada ou quase nada negociará. Para aumentar a complexidade o núcleo da geração de jovens ativistas crê muito mais em “comitês populares” que em El Baradei.


É verdade que, no que tenha a ver com as próximas eleições em setembro, Mubarak, 82, está morto. O filho, Gamal, 47, idem. Relatos não confirmados dizem que, à moda típica dos filhos de ditadores, o filho já fugiu para Londres, usando seu passaporte britânico, com montanhas de bagagem, e estaria agora escondido na casa londrina da família, em Knightsbridge.


O futuro crucial imediato depende do lado para o qual penderá o exército egípcio. No pé em que estão as coisas, ainda não está totalmente afastado uma alternativa Tiananmen – repressão linha duríssima. Seja como for, o poder de ação do governo é claro; pode acontecer até de o Faraó meter-se naquele avião – como cantam as ruas –, mas o regime, a ditadura militar, tem de ser mantida.


O general Hussein Tantawi, comandante em chefe do exército e ministro da Defesa, amigo que bebe o vinho e come a comida do Pentágono, do qual recebe 1,3 bilhões de dólares anuais a título de “ajuda” – voou de volta ao Cairo. Numa trilha paralela, o Faraó, jogando desesperadamente com os medos do ocidente sobre “estabilidade”, tentou desqualificar a Intifada como grupo de desordeiros e arruaceiros donos de terrenos nas favelas, que querem ver cada vez mais caos e destruição. Um grupo de blogueiros egípcios não tem dúvidas – a estratégia do Faraó é assustar as pessoas e empurrá-las de volta para dentro das casas, implorando por “segurança”.


Issander El Amrani, do blog The Arabist , destaca que “é difícil acreditar que Mubarak ainda esteja no poder, mas o núcleo duro do regime está usando meios extremos para salvar sua posição”. Nas ruas, todos suspeitam de um golpe orquestrado por Washington na cúpula do regime – EUA/Israel apostando tudo na fórmula “Mubarak talvez caia/mas sem mudança de regime”, com sauditas, israelenses e a mídia egípcia oficial mexendo todos os pauzinhos para desacreditar a revolução. Para analisar com algum distanciamento: nos EUA houve dois governos de Ronald Reagan, um de George H W Bush, dois de Bill Clinton, dois de George W Bush e um de Barack Obama. No Egito, sempre só houve Mubarak.


A classe média egípcia, empobrecida, mas letrada e orgulhosa, e a os trabalhadores, nada querem além de um país regido por leis e com eleições transparentes. Como, então, acreditariam em Suleiman, torturador ligado à CIA, para conduzir a transição? Para nem falar de um Parlamento completamente controlado pelo inacreditavelmente corrupto Partido Nacional Democrático de Mubarak, cuja sede foi incendiada pelos manifestantes.


O passo do dissidente egípcio


No início de 2003, passei dois meses no Cairo e em Alexandria, à espera da invasão de Bush ao Iraque – convivendo quase exclusivamente com o oceano de rejeitados pelo sistema de Mubarak, de universitários formados a imigrantes sudaneses, inclusive representantes rejeitados dos 40% da população que vive com menos de 2 dólares por dia. Desnecessário dizer que todos viam Mubarak como poodle repulsivo de Washington – e todos estavam em choque ante a tragédia do Iraque, que o Egito reverencia historicamente como flanco leste da nação árabe. O regime, para eles, era do tipo que “afoga mendigos no Nilo”.


Foi elucidativo – e terrivelmente doloroso – conhecer em campo as consequências do regime de Mubarak, aplicado regime pupilo do neoliberalismo aplicado pelos EUA. Consequências inevitáveis, a inflação alta e o enorme desemprego. A classe média urbana praticamente já desaparecera. A classe trabalhadora, sufocada na mão de ferro dos sindicatos. E a classe média rural – que foi base do regime – também em crise, com os jovens obrigados a imigrar para as cidades à procura de empregos (que não encontram). Sobrevivente, só uma pequena classe de comerciantes, corruptos, associados ao Estado (a maioria dos quais hoje já fugiu para Dubai em jatos privados).


Não surpreende, pois que não se trate de uma revolução islâmica, como no Irã em 1979. É a economia, estúpido. O Islã hoje no Egito está dividido em duas correntes: salafitas não politizados e a Fraternidade Muçulmana – dizimada por décadas de repressão e tortura e, hoje, sem qualquer programa político explícito, além de oferecer serviços de assistência à população negligenciada pelo Estado.


O fato de a Fraternidade Muçulmana ter-se mantido nas coxias do movimento das ruas explica-se por dois fatores. Se se expusesse demais, Mubarak teria o pretexto perfeito para associar a revolução aos “terroristas”. Além disso, a Fraternidade avalia que, hoje, é apenas um ator entre vários.


Trata-se de movimento popular espontâneo que segue as pegadas do Kefaya (“Basta!”) – movimento popular “amarelo” (escolheu essa cor), de intelectuais e ativistas políticos, cujo slogan, já em 2004 era La lil-tamdid, La lil-tawrith (“Não a outro mandato, não queremos uma república hereditária”).


O movimento Kefaya, apesar de ser movimento de elite, sem liderança, não-ideológico, foi a faísca que despertou mais de mil movimentos, dentre os quais “Jornalistas pela Mudança”, “Operários pela Mudança”, “Médicos para a Mudança” ou “Jovens para a Mudança” levaram à atual onda de incontáveis fóruns online em que se reúnem cidadãos urbanos, de classe média e baixa, todos usuários experientes da internet.


Outro desenvolvimento crucial foi a greve, em 2008, dos trabalhadores das indústrias têxteis da cidade de Mahalla al-Kubra no delta do Nilo, onde três operários foram mortos pelos guardas de segurança de Mubarak dia 6 de abril – e que inspirou a criação do movimento online de nome Juventude de 6 de abril - "April 6 youth" (Sobre o movimento, ver Cairo Activists Use Facebook to Rattle Regime).


O Santo Graal demorou para mobilizar as massas. Semana passada, afinal, conseguiram. Os jovens influenciados pelo movimento Kefaya preferem comitês populares para guiar os passos futuros de sua revolução, em vez de políticos. O pulso das ruas parece indicar que a maioria dos egípcios não quer que nenhuma ideologia política ou religiosa monopolize o que é movimento líquido, pluralista, múltiplo para reformar radicalmente o país e criar ali um novo modelo para o mundo árabe. Talvez um pouco sedutoramente romântico demais. Mas que tenha vivido 30 anos numa espécie de Revolução dos Bichos precisa dolorosamente de alguma catarse.


Rebelo-me, logo, existo


Para Fawaz Gerges, professor de economia da London School of Economics, tudo isso “ultrapassa em muito o problema Mubarak. A barreira do medo foi removida. É realmente o começo do fim do status quo na Região.” Que é maior que Mubarak, é; é exemplo vigoroso do que seja ativismo político orgânico, de base.


Ora, no discurso de elite do Dr. Zbigniew Brzezinski, guru de política exterior dos EUA, trata-se de seu temido “despertar político global” em ação – a Geração Y em todo o mundo em desenvolvimento, furiosa, irada, ultrajada, emocionalmente em frangalhos, quase toda desempregada, com a dignidade em farrapos, deixando aflorar seu potencial revolucionário e virando o status quo de cabeça para baixo (mesmo depois de o Faraó ter conseguido implantar o maior blecaute da história da Internet).


Assim como o movimento Kefaya foi a fagulha, essa foi também uma revolução do Facebook – que hoje, nas ruas do Cairo, Alexandria e Suez já foi rebatizado e chama-se agora Sawrabook (“o livro da revolução”). Uma rede RASD (“de monitoramento”, em árabe) foi lançada no primeiro dia dos protestos, 4ª-feira passada, configurada como uma espécie de “observatório da revolução”.


É crucialmente importante observar que naquele momento – há menos de uma semana – a rede al-Jazeera ainda não chegara ao Egito e a televisão estatal egípcia exibia, como sempre, velhos filmes em branco e preto. Em apenas três dias, a RASD reuniu em rede cerca de 400 mil usuários, no Egito e no mundo. Quando o regime do Faraó acordou, já era tarde demais – e de nada lhe serviu derrubar a internet.


É esse espírito de solidariedade em ação que invadiu as ruas sob a forma de jovens ativistas operando telefones sem fio, fotografando e filmando ataques e feridos ou montando tendas para atendimento de campanha. Ou moradores da cidade do Cairo, oferecendo as próprias casas para abrigar manifestantes e organizando piquetes de vizinhos para proteger-se da ação de saqueadores e ladrões – muitos dos quais mostrados por blogueiros, quando carregavam equipamentos de identificação dos postos armas retiradas dos postos de polícia de Mubarak.


Por mais alarmadas que estejam as rarefeitas elites globais – basta seguir o labirinto de ambiguidades que liga Washington e as capitais europeias –, Brzezinski, pelo menos, parece suficientemente ligado para entender a deriva geral, quando “as principais potências mundiais, novas e velhas (...) enfrentam uma nova realidade: embora a letalidade do poder bélico seja hoje maior do que nunca, a capacidade de impor controle a massas que já despertaram para a vida política alcança hoje o ponto mais baixo de toda a história.”


A velha ordem está morrendo, mas a nova ainda não nasceu. A Idade da Fúria no arco que vai da África do Norte ao Oriente Médio parece ter começado – mais ainda não se sabe qual será a nova configuração geopolítica. O povo se fará ouvir – ou acabará encurralado e controlado pelas potências que aí estão?


O Egito não se converterá em democracia que funciona porque falta a infraestrutura política. Mas pode recomeçar do começo, com todas as oposições tão desprestigiadas quando o regime. A geração mais jovem – potencializada pela emoção de estar lutando do lado certo da história – terá papel crucial.


Não aceitarão a ilusão de ótica de alguma falsa mudança de regime, só para preservar alguma “estabilidade”. Não aceitarão ser sequestrados por EUA e Europa, apresentados como neofantoches. Querem o choque do novo; governo verdadeiramente soberano, nada de neoliberalismo e uma nova ordem política para o Oriente Médio.




A contrarrevolução será feroz. E atacará muito mais do que alguns bunkers no Cairo.

Egípcios pedem ajuda ao mundo

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Amigos, recebi esse depoimento via lista de email do Rioblogprog (via Pedro Alves e Mario Augusto), e o repasso para o mundo:

Prezados senhores do Governo e da Imprensa Brasileira

O povo egípcio vem enfrentando um momento muito difícil e complicado. O mundo todo vem acompanhando os protestos que estão sendo realizados contra o atual Governo do Presidente Hosni Mubarak, bem como, contra todo o sistema corrupto que se instalou no Egito nos últimos 30 anos.

Sabemos que o Brasil vem se destacando na mídia internacional pelas suas ações, pela política externa que sustenta e pela posição humana com que se coloca diante dos direitos civis.

É com este pensamento que clamo por ajudar ao povo egípcio, que, na luta por romper com anos e anos de repressão e ditadura, vem se manifestando em protestos diários contra o atual Presidente.

Como os senhores já sabem o povo egípcio está sem internet e por esse motivo não estão conseguindo enviar os milhares de vídeos e imagens que provam o abuso das forças policias que mataram mais de cem pessoas até agora.

Está programado para amanhã um novo grande protesto e nossa preocupação reside no fato de que Hosni Mubarak está preparando sua força militar para MATAR. Policiais estão autorizados a atirar indiscriminadamente e atiradores poderão estar estrategicamente posicionados na Praça Tahir.

Senhores, somos um povo pacífico. Iniciamos os protestos de forma pacífica e acreditamos que o direito de livre expressão reproduz o que de melhor em uma democracia. Por isso, clamo por ajuda mundial.

Peço realmente que o Governo e Imprensa Brasileira exerçam pressão sobre as ações do Ditador Hosni Mubarak. Este ditador já provou que está contra o povo egípcio, e numa tentativa de inibir e oprimir o povo vem realizando demonstrações de força de guerra por meio de aviões F16 sob os manifestantes na Praça Tahir. Em outra conduta indiscutivelmente cruel liberou criminosos das prisões, pagando-os para provocar arruaças, roubos, violência, numa estratégia para incriminar o movimento da sociedade e transmitir uma imagem controvérsia do povo egípcio.

Mais uma vez clamo por ajuda. O Egito necessita de ajuda. O povo egípcio necessita de ajuda.

Amro Saad El Seoudi
Egípcio

29 de janeiro de 2011

A multidão contra o ditador

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Reproduzo abaixo matéria do blog Redecastorphoto.
















Robert Fisk

Egito em erupção



29/1/2011, Robert Fisk, The Independent, UK


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Pode ser o fim. Com certeza é o começo do fim. Em todo o Egito, dezenas de milhares de árabes enfrentaram gás lacrimogêneo, canhões de água, granadas e tiroteio para exigir o fim da ditadura de Hosni Mubarak depois de mais de 30 anos.


Enquanto Cairo mergulha em nuvens de gás lacrimogêneo dos milhares de granadas lançadas contra multidões compactas, era como se a ditadura de Mubarak realmente andasse rumo ao fim. Ninguém, dos que estávamos ontem nas ruas do Cairo, tínhamos nem ideia de por onde andaria Mubarak – que mais tarde apareceria na televisão, para demitir todos seus ministros. Nem encontrei alguém preocupado com Mubarak.


Eram dezenas de milhares, valentes, a maioria pacíficos, mas a violência chocante dos battagi – em árabe, a palavra significa literalmente “bandidos” – uniformizados sem uniforme das milícias de Mubarak, que espancaram, agrediram e feriram manifestantes, enquanto os guardas apenas assistiam e nada fizeram, foi uma desgraça. Esses homens, quase todos dependentes de drogas e ex-policiais, eram ontem a linha de frente do Estado egípcio. Os verdadeiros representantes de Hosni Mubarak.


Num certo momento, havia uma cortina de gás lacrimogêneo por cima das águas do Nilo, enquanto as milícias antitumultos e os manifestantes combatiam sobre as grandes pontes sobre o rio. Incrível. A multidão levantou-se e não mais aceitará a violência, a brutalidade, as prisões, como se essa fosse a parte que lhe coubesse na maior nação árabe do planeta. Os próprios policiais pareciam saber que estavam sendo derrotados. “E o que podemos fazer?” – perguntou-nos um dos guardas das milícias antitumulto. “Cumprimos ordens. Pensam que queremos isso? Esse país está despencando ladeira abaixo.” O governo impôs um toque de recolher noite passada. A multidão ajoelhou-se para rezar, à frente da polícia.


Como se descreve um dia que pode vir a ser página gigante da história do Egito? Os jornalistas devem abandonar as análises e apenas narrar o que aconteceu da manhã à noite, numa das cidades mais antigas do mundo. Então, aí está a história como a anotei, garatujada no meio da multidão que não se rendeu a milhares de policiais uniformizados da cabeça aos pés e e milicianos sem uniforme.


Começou na mesquita Istikama na Praça Giza: um sombrio conjunto de apartamentos de blocos de concreto, e uma fileira de policiais especializados em controle de tumultos que se estendia até o Nilo. Todos sabíamos que Mohamed ElBaradei ali estaria para as orações do meio dia e, de início, parecia que não haveria muita gente. Os policiais fumavam. Se fosse o fim do reinado de Mubarak, aquele começo do fim pouco impressionava.


Mas então, logo que as últimas orações terminaram, uma multidão de fiéis apareceu na rua, andando em direção aos policiais. “Mubarak, Mubarak”, gritavam, “a Arábia Saudita o espera”. Foi quando os canhões de água foram virados na direção da multidão – a polícia estava organizada para atacar os manifestantes, mesmo não sendo atacada. A água atingiu a multidão e em seguida os canhões foram apontados diretamente contra El Baradei, que retrocedeu, encharcado.


El Baradei desembarcara de Viena poucas horas antes, e poucos egípcios creem que chegue a governar o Egito – diz que só veio para ajudar como negociador –, mas foi atacado com brutalidade, uma desgraça. O político egípcio mais conhecido e respeitado, Prêmio Nobel, trabalhou como principal inspetor da Agência Nuclear da ONU, ali, encharcado como gato de rua. Creio que, para Mubarak, El Baradei não passaria de mais um criador de confusão, com sua “agenda oculta” – essa, precisamente, é a linguagem que o governo egípcio fala hoje.


Aí, começaram as granadas de gás lacrimogêneo. Alguns milhares delas, mas algo aconteceu, enquanto eu caminhava ao lado dos lança-granadas. Dos blocos de apartamentos e das ruas à volta, de todas as ruas e ruelas, centenas, depois de milhares de pessoas começaram a aparecer, todas andando em direção à Praça Tahrir. Era o movimento que a polícia queria impedir. Milhares de cidadãos em manifestação no coração da cidade do Cairo dariam a impressão de que o governo já caíra. Já haviam cortado a internet – o que isolou o Egito, do resto do mundo – e todos os sinais de telefonia celular estavam mudos. Não fez diferença.


“Queremos o fim do regime”, gritavam as ruas. Talvez não tenha sido o mais memorável brado revolucionário, mas gritaram e gritaram e repetiram, até derrotar a chuva de granadas de gás lacrimogêneo. Vinham de todos os lados da cidade do Cairo, chegavam sem parar, jovens de classe média de Gazira, os pobres das favelas de Beaulak al-Daqrour, todos marchando pelas pontes sobre o Nilo, como um exército. Acho que sim, são um exército.


A chuva de granadas de gás continuava sobre eles. Tossiam e esfregavam os olhos e continuavam andando. Muitos cobriram a cabeça e a boca com casacos e camisetas, passando em fila pela frente de uma loja de sucos, onde o dono esguichava limonada diretamente na boca dos passantes. Suco de limão – antídoto contra os efeitos do gás lacrimogêneo – escorria pela calçada e descia pelo esgoto.


Foi no Cairo, claro, mas protestos idênticos aconteceram por todo o Egito, como em Suez, onde já há 13 egípcios mortos.


As manifestações não começaram só nas mesquitas, mas também nas igrejas coptas. “Sou cristão, mas antes sou egípcio” – disse-me um homem, Mina. “Quero que Mubarak se vá!” E foi quando apareceram os primeiros bataggi sem uniforme, abrindo caminho até a frente das fileiras da polícia uniformizada, para atacar os manifestantes. Estavam armados com cassetetes de metal – onde conseguiram? – e barras de ferro, e poderão ser julgados e condenados por agressão grave e assassinato, se o regime de Mubarak cair. São pervertidos. Vi um homem chicotear um jovem pelas costas, com um longo cabo amarelo. O rapaz gritou de dor. Por toda a cidade, os policiais uniformizados andam em pelotões, o sol refletindo no visor dos capacetes. A multidão já deveria ter sido intimidada, àquela altura, mas a polícia parecia feia, como pássaros encapuzados. E os manifestantes alcançaram a calçada da margem leste do Nilo.


Alguns turistas foram colhidos de surpresa no meio do espetáculo – vi três senhoras de meia idade, numa das pontes do Nilo (os hotéis, claro, não informaram os hóspedes sobre o que estava acontecendo –, mas a polícia decidiu que fecharia a extremidade leste do viaduto. Dividiram-se outra vez, para deixar passar as milícias não uniformizadas, e esses brutamontes atacaram a primeira fileira dos manifestantes. E foi quando choveu a maior quantidade de granadas de gás, centenas de granadas, em vários pontos, contra a multidão que andava sem parar por todas as grandes vias, em direção cidade. Os olhos ardem, e tosse-se horrivelmente, até perder o fôlego. Alguns homens vomitavam nas soleiras das portas fechadas das lojas.


O fogo começou, ao que se sabe, noite passada, na sede do NDP, Partido Democrático Nacional, partido de Mubarak. O governo impôs um toque de recolher, e há relatos de tropas na cidade, sinal grave de que a polícia pode ter perdido o controle dos acontecimentos. Nos abrigamos no velho Café Riche, perto da Praça Telaat Harb, restaurante e bar minúsculo, com garçons vestidos de azul; e ali, tomando café, estava o grande escritor egípcio Ibrahim Abdul Meguid, bem ali à nossa frente. Foi como dar de cara com Tolstoi, almoçando em plena revolução russa. “Mubarak está sem reação!” – festejou ele. “É como se nada estivesse acontecendo. Mas vai, agora vai. O povo fará acontecer!” Sentamos, ainda tossindo e chorando por causa do gás. Foi desses instantes memoráveis, que acontecem mais em filmes que na vida real.


E havia um velho na calçada, cobrindo os olhos com a mão. Coronel da reserva Weaam Salim do exército do Egito, que saiu para a rua com todas as suas medalhas da guerra de 1967 contra Israel – que o Egito perdeu – e da guerra de 1973 que, para o coronel, o Egito venceu. “Estou deixando o piquete dos soldados veteranos” – disse-me ele. “Vou-me juntar aos manifestantes”. E o exército? Não se viram soldados do exército durante todo o dia. Os coronéis e brigadeiros mantêm-se em silêncio. Estarão à espera da lei marcial de Mubarak?


As multidões não obedeceram ao toque de recolher. Em Suez, caminhões da polícia foram incendiados. Bem à frente do meu hotel, tentaram jogar no rio Nilo um caminhão da Polícia. Não consegui voltar à parte ocidental do Cairo pelas pontes. As granadas de gás ainda empesteiam as margens do Nilo. Mas um policial ficou com pena de nós – emoção absolutamente inexistente, devo dizer, ontem, entre os policiais – e nos guiou até a margem do rio. E ali estava uma velha lancha egípcia a motor, de levar turistas, com flores plásticas e proprietário disponível. Voltamos em grande estilo, bebendo Pepsi. Cruzamos com uma lancha amarela, super rápida, da qual dois homens faziam sinais de vitória para a multidão sobre as pontes. Uma jovem, sentada na parte de trás da lancha, carregava uma imensa bandeira: a bandeira do Egito.



28 de janeiro de 2011

Aprenda a manipular!

1 comentário

O texto abaixo é uma compilação de 2 posts do blog Curso Básico de Jornalismo Manipulativo. O título é um link para o blog.



Pílulas do CBJM – 1






Para nossos alunos, dicas, lições, avisos de cursos e outras informações necessárias para a formação de um bom manipulador da opinião pública.

Os não-alunos terão somente o prazer superficial da leitura, mas os alunos captarão a sabedoria profunda das frases e perceberão os aspectos fundamentais da atuação de nossos principais representantes na grande mídia.

* * *

MINILIÇÕES


. Se você é ruim em ênfases, faça como Reinaldo Azevedo: USE MAIÚSCULAS E EXCLAMAÇÕES!!!!

. O golpe do grampo sem áudio já caducou. Ele é mais ultrapassado que o bigode do Merval Pereira.

. O Twitter é nosso aliado: um falso escândalo se espalha rápido. Já criou seu falso escândalo hoje?

. Controle sua expressão facial na TV. Só William Waack tem direito de fazer cara de nojo ou derrotado.

. Jamais rasteje ante alguém do “nosso lado”. Só William Bonner tem direito de pedir “perdão, candidato”.

. Use qualquer argumento para contestar o “outro lado”. Não exigimos coerência, mas eficiência na luta.

. Estratégia em andamento: inviabilizar o Imbatível em 2014 (o Inominável). Depois cuidaremos da sua cria.

. Jamais elogie Dilma, a não ser para depreciar o Inominável. Tampe o nariz, faça o contraste e vá em frente.

. Fotos servem para ilustrar nosso aliado e deslustrar nosso adversário.

. Vá devagar com nossos especialistas: a coisa está tão feia que tivemos de fazer do Demétrio Magnoli um astro.

. Aprenda: só FHC pode defender a legalização da maconha sem ser acusado de parceiro do narcotráfico.

. Aprenda: liberdade de imprensa existe para a imprensa censurar a divulgação de notícias favoráveis ao “outro lado”.

. Aprenda: (protect) após “Nelson Jobim” no WikiLeaks significa que você deve proteger sua condição de espião.

. “Amnésia seletiva” é o esquecimento de fatos que comprometam o “nosso lado”. Como a relação entre Serra e Chevron.

. Aprenda: uma CPI é um ótimo pretexto para desviar a atenção da gestão incompetente dos nossos aliados.

. Aprenda: “deixar sangrar” é uma técnica que não dá certo nem em filme americano, quanto mais em política.

. A manchete *não* precisa combinar com a matéria. E *não deve* combinar, se os fatos forem teimosamente neutros.

. Não esperamos que você faça jornalismo, mas política por meio de matérias jornalísticas. Não é fácil entender?

. Qualquer problema em qualquer iniciativa do “outro lado” é uma falha vergonhosa e inadmissível. Explore-a.

. Manchetes são lidas nas ruas. Críticas a elas, em blogs e caixas de comentários. Por enquanto, estamos ganhando.

. O prazo de validade de um escândalo falso baixou para 2 ou 3 dias. Fique ligado e entre no primeiro.

. Faça bem o seu serviço para não acabar como um sub-Reinaldo Azevedo, como o nosso companheiro Augusto Nunes.

. “Dilma”, “Governo” e “PT” são as palavras nobres da manchete oposicionista. Use e abuse.

. Acuse sem provas. O povo gosta, nossos aliados aproveitam e o “outro lado” se lasca, perdendo tempo com desmentidos.

. Aprenda: em política não há primeiro, segundo ou terceiro turno: há luta. Trégua é uma ilusão estratégica.

. Se você errou na matéria e o “outro lado” corrigiu seu erro, afirme que *ele* corrigiu o erro que você apontou.

. Repita mantras. Não, nada de “OM”: os chavões de defesa e ataque dos nossos colunistas políticos.

. Se você errou 100% de suas previsões pessimistas (e certamente errou), acertou 100% por atacar o inimigo.

. Há muita raiva latente na opinião pública. Crie alvos para ela. Você sabe quais são esses alvos.

. Nunca chame os militares. Pega mal. Deixe esse mico para o José Nêumanne. Ele não conta.

. Se você elogiou o Gilmar Mendes no tempo dele, não se envergonhe. Muitos fizeram coisas piores.

. Se você acha que a situação está ruim, pense no PNBL, na digitalização, no PT ganhando em 2014. Animou-se?

. Modere os elogios a Dilma. Antes era péssima, agora é ótima. Como ficará nossa imagem quando voltarmos a atacá-la?

. Jamais questione a competência dos nossos especialistas. Lembre-se de que nós não questionamos a sua.

. Nenhuma grosseira de Serra com os jornalistas será divulgada enquanto ele ainda tiver cacife eleitoral.

. Aprenda: Os ex-terroristas do “nosso lado” são muito mais civilizados que os do “outro lado”.

. Aprenda: Na luta pela influência e pelo poder, a morte da verdade é um dano colateral aceitável.

* * *

LIVROS DO CURRÍCULO DO CURSO


. “The Free Press, An Essay on the Manipulation of News and Opinion” http://bit.ly/gd3HW2

. “A História Secreta da Rede Globo” http://bit.ly/ggMMsK

. “Constructing Public Opinion” http://bit.ly/fXJ5fo

. “How Mass Media Tries to Pass Off Crap as News” http://bit.ly/fwbOiA

. “A Ditadura da Mídia, de Altamiro Borges” http://bit.ly/g03bH2

. “Images that Injure, Pictorial Stereotypes in the Media”http://amzn.to/fPCUPK

. “Media Wizards: A Behind-the-scenes Look At Media Manipulations”http://bit.ly/hlKIec

. “O Jornalismo dos Anos 90″, de Luis Nassif http://slidesha.re/9aFog2

. “The Media and the Public: ‘Them’ and ‘Us’ in Media Discourse”http://bit.ly/eDwgVP

. “The Politics of Misinformation” http://bit.ly/iaTe7L

. “You Are Being Lied To” http://www.hampapartiet.se/23.pdf

. “The Moral Media, How Journalists Reason About Ethics” http://bit.ly/icZOGN

. “Analysing Newspapers” http://bit.ly/hvbulb

. “The Media Effect: How the News Influences Politics and Government”  http://bit.ly/hnzTlm

. “Communication Power” http://bit.ly/e1AC3P

. “Media Psychology” http://bit.ly/eveTfp

* * *

CURSOS EXTRAS DE 2001


. “A Técnica da Coluna Histérica”, com sua criadora, Eliane Catanhêde. Bônus: protetores de ouvido.

. “Como Defender Golpes de Estado”, com Arnaldo Jabor e Alexandre Garcia. Inscrições somente por convite pessoal.

. “Como Criar CPIs do Fim do Mundo”, com Ali Kamel. Inscrições restritas a editores.

. “Como Fazer Oposição com as Redes Sociais”, com Marcelo Tas. Inscrições restritas à Juventude do DEM.

. “Como Editar Imagens Comprometedoras – O Case Dilma e as Enchentes”, na sede do Projac.

. “A Técnica do Jornalismozinho”, com Josias de Souza, seu criador. Muitas ironiazinhas e piadinhas nas aulas.

. “Como Editorializar as Manchetes”, na sede de “O Globo”. Exemplos de 5 décadas de atuação.

. “A Técnica das Previsões Catastróficas”, com Miriam Leitão. Bônus: caixa de antidepressivo.

. “Como Criar um Mar de Lama Nas Ondas da Web”, com Soninha Francine. Inscrições anônimas.

. “Como Fabricar Especialistas Midiáticos”, com a turma da CBN. Patrocínio: Instituto Millenium.

. “A Política do Seu Mestre Mandou”, com as ex-Meninas do Jô. Bônus: decodificador de falas simultâneas.

. “Como Captar Dinheiro do Meio Ambiente”, com o CEO da Fundação Roberto Marinho.

. “O Marketing Social nas Calamidades”, com Luciano Huck. Patrocínio: Peixe Urbano.

. “Tornando-se um Especialista em 7 Dias”, com Eliane Catanhêde. Análise de caso: Os Caças da FAB.

. “Como Criar Capas Caluniosas”, com a equipe da “Veja”. Bônus: 150% de desconto na assinatura anual da revista.

. “Por que Fracassamos no Governo Lula”, com a turma do Instituto Millenium. Preço: 1.000 reais.

. “Defendendo-se dos Ataques da Blogosfera”, com a ombudsman da “Folha”. Vale certificado de isenção jornalística.

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PALESTRAS


. Aula magna no auditório Roberto Marinho: “Como Escrever Artigos Rancorosos”, com FHC.

. “O PIG é uma fantasia”, com o humorista Lúcio Flávio Pinto. Inúmeros exemplos de nossa não-existência.

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LEIS DO CBJM


. Lei Maria Rita Kehl: Ou você é um dos nossos, ou não é. Infiltrado, só no “outro lado”.

. Lei Luiz Carlos Prates: Puxe o saco do patrão, mas não tanto a ponto de arrancá-lo. Há consequências.

. Lei Diogo Mainardi: Você só chegou ao topo porque nós quisemos; vale o mesmo para a sua queda.

. Lei Ali Kamel: Fazer jornalismo é testar hipóteses. Final oculto:… contra o nosso inimigo.

. Lei da Veja: Contra um inimigo, vale tudo e mais um pouquinho. Tire a moral da reta.

. Lei Boris Casoy: Perdoamos a maior barbaridade na medida da utilidade de quem a enunciou.

. Lei Soninha Francine: Sua imagem pode ir a 0, mas sua conta bancária irá a 1000.

. Lei Lucia Hippolito: Se o telefone está piscando, não fale: o “outro lado” não perdoa nossos erros.

. Lei Reinaldo Azevedo: No post, você é um só; na caixa de comentários, pode ser muitos.

. Lei da Satiagraha: O limite de seus valores é o interesse financeiro dos seus patrões.

. Lei Guilherme Fiuza: Ser um nada no PIG também é sexy (uma socialite que o diga).

. Lei Demétrio Magnoli: Ex-esquerdistas desestimulam defecções, por sua imagem de bajuladores da direita.

. Lei Miriam Leitão: A notícia mais positiva esconde a semente de sua própria destruição.

. Lei Ricardo Noblat: Entrar para o PIG pode ser um programa lucrativo.

. Lei José Nêumanne: O PIG deixa cantar de galo, mesmo que você seja um pinto.

. Lei William Bonner: Trate nosso consumidor como um Homer, e ele lhe dará uma surra homérica.

. Lei Cristiana Lôbo: Fiel é aquele que revela seu verdadeiro lado até em atos falhos (ou falas falhas).

. Lei Marina Silva: Vale fingir que você é contra nós, desde que seja inimigo do nosso inimigo.

. Lei Ali Kamel: Uma bolinha de papel pode gerar uma avalanche de críticas.

. Lei do Crucifixo da Dilma: Nosso inimigo merece apanhar pelo que fez e pelo que não fez.

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LEMBRETE


. Lembrete aos alunos do CBJM: Já fizeram sua manipulaçãozinha hoje?





O PIG é uma fantasia* – 1






*Título de artigo de Lúcio Flávio Pinto.


“As frases falam por si só (sic).”

Lauro Jardim.


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Prevendo

“A crise ainda está no começo. Se atingir o Brasil fortemente, como parece que vai atingir, um dos efeitos será a queda da popularidade do presidente.Quando isso ocorrer, o primeiro partido a sair da base do governo será o PMDB [...]“

Marco Antonio Villa (28/10/2008).


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“Enquanto o mundo pensa em reduzir estímulos, Brasil dá incentivo ‘fora de hora’ [para enfrentar a crise internacional].”

Miriam Leitão (26/11/2009).


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“Quando foi proposto, em maio, já não tinha cabimento; ontem, parecia idéia de um governo alienado.

O Fundo [Soberano] caducou completamente, e a operação com o Fed foi o atestado médico da maluquice.”

Miriam Leitão (30/10/2008).

O Fundo Soberano foi criado em dezembro de 2008.


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“Cada quinzena de campanha para presidente vale um ano de experiência eleitoral. Mas não dará tempo para Dilma ganhar. Serra vence o primeiro turno. E aí vem a questão. Vence no primeiro turno? Ou haverá segundo? O mais provável é que numa eleição plebiscitária ele vença no primeiro turno. Lembre-se que a TV é alternada dia sim, dia não. E que o primeiro turno é cheio de ruídos.”

Cesar Maia (3/2/2010).


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“Se a ministra Dilma Rousseff não pode dar uma entrevista sem incorrer no risco do desastre, se precisa ser escondida numa situação adversa, se para concorrer a uma eleição necessita que sejam removidos todos os obstáculos de seu caminho e ainda precisa de alguém que lhe transfira votos, é de se perguntar com que atributos pessoais e políticos Dilma governará o Brasil.

“A menos que tenha sido escolhida para, em caso de vitória, fazer mera figuração como presidente de direito enquanto Lula preside o Brasil ao molde de um terceiro mandato de fato.”

Dora Kramer (18/11/2009).


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“Serra precisa de Gabeira para ter um bom candidato a governador [no Rio de Janeiro].”

Dora Kramer (7/4/2010).


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“O que interessa nem é o número de hoje, é o potencial de amanhã. Serra, conhecido por 69%, tem a menor rejeição (29%). Dilma, agora já conhecida por 32%, tem a maior (41%). Isso pode indicar que o eleitorado é receptivo a Serra e, quando vai sabendo quem é Dilma, menos tende a votar nela.”

Eliane Catanhêde (13/12/2009).


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“Dilma é uma catástrofe de proporções bíblicas, apocalípticas. A cada entrevista, a cada manifestação, o Êxodo parece cada vez mais próximo.”

Celso Arnaldo (7/4/2010).


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“Caso Dilma seja eleita, terá os ventos a favor na economia, o Congresso às suas ordens e poderá usar e abusar de seus poderes, baixando o centralismo democrático para (ou contra) a imprensa, a área militar e os costumes.”

Eliane Catanhêde (19/10/2010).


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“O Poder de Aécio

“Político das viradas eleitorais impossíveis, o neto de Tancredo pode ser um fator decisivo na campanha presidencial.”

Capa da revista “Veja” de 20/10/2010.

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“Primeira presidente, Dilma toma posse hoje ofuscada pela despedida de Lula.”

UOL (1/2/2011).


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Comentando a posse


Dilma se emocionou várias vezes, e chegou a chorar.

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Disfarçando


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Indignando-se


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Fazendo jornalismo profissional

“Te cuida, Dilma: não demora Lula vai aparecer no Alvorada com a família pedindo para passar uns dias…”

Lauro Jardim.


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Anormalidade = Lula.

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“Nasceu o PACzinho.” [Sobre o PAC contra a miséria.]

Eliane Catanhêde.


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“Lula ainda não se deu conta, mas, livre dos afazeres de presidente, poderia substituir Tiririca, agora eleito deputado, nos programas humorísticos da emissora do companheiro bispo Macedo.”

Josias de Souza.


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“Lula dá uma pista do que fará quando for ‘ex’: teatro

[...]

“Em quase cinco centenas de anos, o teatro saiu de Shakespeare e veio dar em Lula. Quem diria!”

Josias de Souza.


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“E se o BOPE, a Polícia e as Forças Armadas, depois da operação no Rio, fossem limpar o Congresso Nacional?

“8:02 AM Nov 26th via TweetDeck”

Marcelo Tas.


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“Em fim de mandato, Lula escapou do perigo [de fazer o teste de alfabetização]. Se sonha com a volta em 2014, convém preparar-se desde já.”

Augusto Nunes.



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“E o Brasil melhorou mesmo em oito anos de Lula?”

Juca Kfouri.


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Fofocando

“Exército equipou o forte onde Lula passa férias com secador de cabelo.”

“Folha de S. Paulo.”


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“Análise: Look da presidente põe em xeque projeto de prêt-à-porter brasileiro de prestígio.”


“Após esnobar grifes nacionais na posse, Dilma quer colaborar com moda brasileira.”

“Folha de S. Paulo.”


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“Marisa pediu atenção especial à adega de Lula durante mudança.”

“O Estado de S. Paulo.”


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Inventando


“Adeus suplentes, adeus mamata!”

Eliane Catanhêde (sobre o “fim” da suplência para senadores).


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“Detalhe: o debate ocorreu no dia 23 de outubro de 2006 e teve 16 pontos de audiência, de acordo com o Ibope. Foi o segundo debate mais visto em todo o período eleitoral daquele ano.” [Marco Antonio Araujo.]



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“[Ministro Paulo] Bernardo enterra plano de regulação de mídia.”

“O Estado de S. Paulo.”



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1. As invenções.

“Bíblia e crucifixo são retirados do gabinete de Dilma no Planalto.” (Título da matéria.)

“Em sua primeira semana, Dilma Rousseff fez mudanças em seu gabinete. Substituiu um computador de mesa por um laptop e retirou a Bíblia da mesa e o crucifixo da parede.”

“Folha Poder.”


2. Os fatos.

“1 – Não houve a retirada do crucifixo do gabinete presidencial. A peça pertencia ao ex-presidente Lula que a recebeu de um artista no início do governo. É de origem portuguesa.

“2 – Ao contrário daquilo que afirmaram na mídia, não houve a retirada do exemplar da Bíblia de seu gabinete. Ela [a Bíblia] permanece na sala contígua ao gabinete, em cima de uma mesa – onde por sinal a presidenta já encontrou ao chegar ao Palácio do Planalto.

“3 – Embora goste de trabalhar com laptop, a presidenta não mudou o computador da mesa de trabalho. Continua sendo um desktop.”


3. O crucifixo, 8 dias antes, no próprio UOL.

“Pequenos barris de biodiesel e petróleo, bonecos artesanais, uma bandeira do Estado de Pernambuco e uma imagem de Jesus Cristo na cruz. Esses são alguns objetos pessoais de Luiz Inácio Lula da Silva que compuseram o gabinete presidencial do Brasil nos últimos oito anos, durante o governo do petista, e que devem partir com ele com o fim do segundo mandato.”


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“Não, nada disso: o papel da grande imprensa é ir atrás das possíveis causas,testando todas as hipóteses: caos aéreo, pista escorregadia, defeito na aparelho, falha humana.”

Ali Kamel.


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Editorializando


“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu asilo a Sakineh em julho, levando a uma constrangedora recusa pública da oferta pelo Irã, que disse que Lula é “uma pessoa humana e sensível”, mas não tinha conhecimento de todos os fatos.”

Adaptação feita pela “Folha” de matéria originária da Agência France Press, em Berlim.


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“Aqui, houve uma campanha no twitter do #ligaLula, pedindo que o presidente brasileiro usasse sua influência e amizade com o lider iraniano pedindo por ela [Sakineh]. Ele relutou e disse que era assunto interno e depois, por força do palanque, mas em boa hora, começou a usar os canais diplomáticos e as declarações em favor da iraniana.”

Miriam Leitão.


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Mudando a História


“FHC tem razão ao dizer que foi ele, e não Lula, quem mudou o Brasil.”

Lucia Hippolito.


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“Por que o Brasil está fazendo tanto sucesso? Porque tem um mar de dinheiro barato sobrando no mundo e para algum lugar rentável ele tem de ir. Adivinha? Para o Brasil, claro.”

Marcos Nobre.


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Generalizando


Legisladores dos EUA criticam Brasil por reconhecer Estado palestino.”

Adaptação feita pela “Folha” de matéria originária da Agência France Presse.

A crítica foi feita apenas por dois deputados americanos ligados ao Estado de Israel.


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Exagerando


Telegrama da embaixador dos EUA no Brasil, John Danilovich, para Washington (22/5/2005), no qual se lê o trecho: “Integrando vários grupos clandestinos, ela [Dilma Rousseff] organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares” (22/5/2005). Não há menção à fonte da informação em que se baseou o telegrama.


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“A bomba Battisti e a bomba dos caças são exemplos contundentes da incapacidade de Lula de enfrentar o que tem de ser enfrentado, mas há outros, como o caos aéreo de quase um ano.”

Eliane Catanhêde.


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“Quase o fantasma de 1964 ressuscita em 2010.”

Ruy Fabiano.


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“Assim como os talibãs resolveram dinamitar os budas esculpidos no Vale do Bamyran, no Afeganistão, em 2001, vamos nos preparar para a possibilidade de os petralhas quererem dinamitar o Cristo Redentor.”

Reinaldo Azevedo.


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“Os entusiasmados que me desculpem, mas sou obrigado a fazer a pergunta de sempre diante das ações de Assange: se todos agirem como ele, o mundo será melhor ou pior?  Será bem pior! A democracia se inviabiliza. “

Reinaldo Azevedo.


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Vibrando


“Lula, pela quinta vez, não conseguiu ganhar no primeiro turno.”

Dora Kramer.


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Agitando a galera


“Em sendo assim, a Frente Anti-Corrupção fica com cara de Frente de Oposição, o que não é bom. Ciro Gomes, adere! Aloizio Mercadante, adere!Beto Albuquerque, adere! Gente boa do PT, do PSB, do PDT, do PMDB, do PC do B, vai nessa!

Eliane Catanhêde.



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Comparando Dilma com Lula (ou: Agora ela é boa)

Diferente de Lula, que só fez bajular os militares, Dilma Rousseff impôs autoridade civil ao cobrar compostura histórica do general José Elito, chefe do gabinete de Segurança Institucional, nas declarações sobre brasileiros desaparecidos durante a ditadura.”

Dora Kramer.

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“Tudo indica que ela está querendo marcar uma conduta discreta e eficiente, na impossibilidade de competir com a capacidade midiática, quase histriônica, do seu antecessor e padrinho político.”

Merval Pereira (7/1/2010).


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Determinando as regras do jogo


“Jobim despreza opinião pública e convida Genoíno para cargo na Defesa.”

Lucia Hippolito.


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“2011 anima a oposição. Os problemas de gestão política serão inevitáveis num governo montado por cotas. Virão ampliados num ano frágil economicamente, vis a vis a lembrança do mito. Abrem um amplo espaço à oposição.

“Se fatos passam a ter cobertura da imprensa em forma de campanha, mais fácil será multiplicar em direção à sociedade e galopar os espaços abertos. E a artilharia deve ser sistemática e diversificada, à moda europeia. Nunca se sabe qual é o ‘tipping point’.”

Cesar Maia.


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Agredindo

“Segunda-feira já está chegando, e tudo volta ao normal por aqui. Assunto não falta.

“O mais momentoso são os passaportes diplomáticos concedidos à FamíliaSoprano [a família de Lula].”

Reinaldo Azevedo.


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“Já se sabia que o presidente Lula considerava ponto de honra eleger Dilma Rousseff, mas não que ele transformaria o governo num comitê eleitoral. A intensidade com que ele fez campanha é um risco para a qualidade da democracia brasileira.”

Miriam Leitão.


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“É de Clóvis Rossi a melhor definição de Lula: ele é inimputável. Diz e faz o que quer, com quem quer, na hora que quer. A sua verdade passou a ser a verdade nacional. O Estado é ele! Quando a Petrobras trocou o nome de Tupi pelo de Lula, empresa e presidente estavam rindo da cara dos 44 milhões que não votaram em Dilma.”

Eliane Catanhêde.


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“Muito já se falou sobre isso, mas é sempre bom repetir: o Brasil avançou em quase tudo da redemocratização para cá, menos na política, cujos métodos são exatamente os mesmos da primeira metade do século passado. E agora, no governo Lula, celebrados como evidência de habilidade.”

Dora Kramer.


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Lula, repito há tanto tempo, representa o que há de mais arcaico na história do Brasil: a cultura do compadrio, da ação entre amigos, da sobreposição dos laços pessoais ao espírito público. E o resultado disso é mais do que o desperdício de dinheiro nos ralos da corrupção; é o rebaixamento geral dos valores de uma sociedade e a escassez de critérios e procedimentos técnicos no uso da máquina pública.”

Daniel Piza.


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“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mesmo incorrigível. Quer tudo e muito mais. Não lhe basta ser o mais popular governante que o Brasil já teve; é preciso ser unânime. Tampouco lhe é suficiente vencer; é preciso tripudiar, expor as vísceras dos derrotados. E quando não é de todo cruel – aquele que quer ‘extirpar’ de vez quem se opõe a ele – age com requintes de esperteza.”

Mary Zaidan.


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Lula tem séria atrofia de senso ético, combinada com elevada dose de oportunismo. Rescaldo do esquerdismo primitivo, pois, ‘ética é coisa de burguês’! Mas isso estimulou o lumpesinato da política a perpetrar um tsunami de assaltos ao erário, junto com uma devastação dos valores nacionais como nunca se viu neste país.”

Marco Antonio Rocha.


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“Os abusos verbais de Lula, às vezes à beira do impublicável, remetem ao espetáculo da política personalista e ao lado rústico de um temperamento construído sob a servidão da vicissitude.”

“O Estado de S. Paulo”.


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“Resta saber qual é o porrete que a Dilma vai usar. Talvez seja um: ‘Olha, ou vocês me apoiam, PT, PMDB e demais partidos coligados, ou vocês me dão de fato força para governar, ou meu governo será um fracasso. Ou eu passarei à História como a primeira presidente da República, e que não deu certo. E aí isso estragará o projeto de todos vocês, de todos vocês que me fizeram presidente. Porque eu, Dilma, não tinha projeto. E não terei‘.”

Ricardo Noblat.


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“Integrantes do time de elite do ex e da atual presidente, Jobim e Garcia foram e são mais do que amigos leais. São mantenedores de uma acintosa apropriação do público pelo privado, algo que Lula semeou e adubou com maestria e enorme sucesso. A ponto de se sentir à vontade de, como ex, perpetuar os abusos.”

Mary Zaidan.


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“Por enquanto, eu me limito a ver seu governo [o de Lula] como as obras de reforma no Palácio do Planalto: demoradas, carísssimas, e com poquíssimo(sic) tempo de uso já precisando ser reformadas.”

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa.


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Como [Lula] não lê nada, a realidade lhe é narrada pelos puxa-sacos que o rondam, como rondam qualquer governante, e que não querem ser portadores de novas desagradáveis.”

João Ubaldo Ribeiro.



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“Enquanto aqui o presidente [Lula] que sai saca sem perdão no cheque especial de sua origem pobre, nos Estados Unidos o ser negro está explicitamente ausente do discurso de Barack Obama. Pelo menos na função fartamente mobilizada aqui pelo homólogo: vetor de autovitimização em situações de dificuldade política.”

Alon Feuerwerker.


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Marcando posição


“Porque, na verdade, procurando atingir-nos, a subversão visa atingir não apenas este jornal, mas toda a Imprensa deste país, que a desmascara e denuncia seus crimes.”

Editorial de Octávio Frias Filho, em 22 de setembro de 1971, sobre o ataque aos carros da “Folha de S. Paulo”, como represália ao seu  uso para transportar opositores da Ditadura aos locais de tortura da Operação Bandeirante.


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“Honduras não foi um caso de golpe clássico, e Zelaya não tinha o apoio da maioria.”

Merval Pereira.


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“Não há nenhuma surpresa em Lula ser o brasileiro mais confiável na pesquisa do Datafolha.

“É assim mesmo: na democracia é cada cidadão, um voto. O de um bandido e o de um herói valem o mesmo. Mas é desolador saber que tantos homens e mulheres com tão pouco acesso a um mínimo de informação vão continuar elegendo os piores candidatos — ignorando que eles continuarão a atrasar a sua vida. E a de sua aldeia, seu estado e seu país.”

Nelson Motta.


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Fechando com chave de ouro


“O importante é continuar me preocupando com a ética no jornalismo e na política.”

Merval Pereira.