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24 de dezembro de 2010

O Redentor esboça um sorriso

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Segue abaixo artigo meu publicado pela Revista Forum deste mês:

Facções do crime organizado que cresceram à sombra do cenário de exclusão social no Rio de Janeiro sofreram um duro golpe. Mas ainda há muito por fazer.

Por Miguel do Rosário

“Se houver tristeza, que seja bonita”, dizia Candeias, um sambista que – assim como tantos outros – conseguiu extrair do ambiente miserável das favelas cariocas uma poesia de alcance universal, capaz de atingir a massa, a intelectualidade, e se tornar um dos símbolos mais representativos da cultura brasileira. Mas foi-se o tempo em que a classe média subia os morros para conhecer o berço do samba. Nem os bailes funks, moda entre a juventude no final dos anos 90, atraem mais a burguesia cult da zona sul. Em tempos de globalização e interatividade, muitas favelas seguiram o caminho inverso e fecharam-se em si mesmas, tristes, abandonadas, violentas. Continuaram crescendo, no entanto, silenciosamente, rapidamente, aproveitando-se da generosidade verde das intermináveis encostas de uma cidade coalhada de montanhas.

A tristeza da favela deixou de ser bonita (se é que foi algum dia). Com a abertura política e a volta da liberdade de imprensa pode-se conhecer o que havia acontecido durante os anos negros da ditadura: o município havia deixado crescer, sob suas barbas, imensas comunidades totalmente desprovidas dos serviços mais básicos. Há favelas no Rio desde o final do século XIX, mas é a partir dos anos 1970 que elas ganham a dimensão monstruosa que têm hoje.

Nesse ambiente caótico e sem esperança, aterrissa na favela, como que de paraquedas, a economia da droga. O resto da história é conhecido. A quantidade enorme de dinheiro que passou a circular no coração das comunidades mais carentes do Rio, impactando profundamente o imaginário do jovem favelado. Uma geração inteira cresceu venerando as lideranças do crime.

Continue a ler no site da revista.

29 de novembro de 2010

Mídia ainda idolatra milicos

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Analisar as recentes operações militares em favelas do Rio requer muito cuidado para não sermos levados, meio que distraidamente, a uma visão cînica e oficialista. O triunfalismo da mídia é constrangedor. Poucos dias antes da tomada do morro do Alemão, o guru dos alienados da rede, Marcelo Tas, escreveu uma mensagem no Twitter em que pedia que o exército, depois de resolver o problema do Rio, se dirigisse ao Congresso Nacional e "limpasse" a casa. Houve resposta imediata, naturalmente. Outro Marcelo, o Branco, rebateu que os militares já tinham feito aquilo, na ditadura. A babação de ovo da mídia pelos milicos é atávica, golpista e doentia. É bom ficar de olho bem aberto.

O carioca quer paz e isso não é um desejo hipócrita da burguesia zona sul. A cidade inteira quer paz. Os acontecimentos dos últimos dias, deflagrados por uma estranha onda de terrorismo, por ordem de lideranças do crime organizado presos em unidades federais, forçaram o Estado a adotar medidas duras de combate ao tráfico de drogas.

O entusiasmo quase bêbado, no entanto, com que as redes de tv descrevem os eventos, revelam que o coração da mídia ainda bate dentro de um uniforme do exército.

É importante dar combate aos traficantes armados, donos (ou gerentes) de um poder paralelo em todas as grandes favelas cariocas. Mas a narrativa midiática dá a entender que se trata de uma ação puramente militar. Paulo Henrique Amorim, com seu estilo cortante, resumiu bem:
Polícia corrupta, políticos corruptos – só tem saída no pau !Com o retumbante sucesso da ocupação do Alemão – clique aqui para ler – pergunta-se: o Padilha vai fazer o Tropa de Elite III ? Vai botar o delegado Beltrame no lugar do maluco do Capitão Nascimento ?

O que estamos assistindo hoje no Rio, e essa é a diferença mais importante em relação a operações anteriores, é uma grande ação política. Primeiro, vem se construindo uma coordenação em caráter PERMANENTE entre as esferas de poder municipal, estadual, federal. Segundo, há ações sociais intensas junto a favelas. O Complexo do Alemão, antes de ser tomado pelas forças de segurança, foi objeto de grandes investimentos, por parte sobretudo do governo federal, através do PAC das favelas, em urbanização, o qual também gerou muito emprego na comunidade. Diminuindo o desemprego, quebrou-se o prestígio do tráfico junto ao imaginário do morador local. Construiram-se creches, escolas e postos de saúde. O deputado Marcelo Freixo, um corajoso lutador em prol dos direitos humanos na cidade, publicou artigo recente nos grandes jornais fazendo uma denúncia bastante genérica das condições sociais do Alemão e das favelas, mas muito convenientemente (do ponto de vista partidário) esqueceu de mencionar os investimentos do PAC nas áreas de favela do Rio, que somam valores que as favelas nunca viram em séculos.

Se um décimo do esforço empregado pelo Globo na cobertura da invasão e ocupação do morro do Alemão fosse usado para nos contar, em detalhes, como andam as obras de infra-estrutura que o governo federal (em parceria com o estado), na mesma favela, eu poderia fingir acreditar que a empresa se preocupa realmente com o bem estar dos cariocas. Não peço elogios não. Se for para criticar o PAC das favelas, que o façam, mas sem veneno e sem mentira. Crítica bem feita e honesta sempre ajuda o governo e a sociedade.

A tomada do Complexo do Alemão, portanto, não deve ser creditada apenas aos militares. Houve ação social antes. E tem que continuar havendo. Por isso o triunfalismo midiático é tão irritante. Os policiais tomam os morros, ótimo. Os âncoras da Globo choram como se os soldados os houvessem libertado de um cativeiro de sete anos junto às Farc. Um comandante do Bope explica, porém, que parte dos traficantes pode ter fugido por túneis para outra favela, de maneira que, enquanto não forem instaladas UPPs nas mil favelas da cidade, os traficantes pularão de galho em galho até encontrarem uma maneira mais discreta de distribuirem sua mercadoria aos consumidores.

O problema não é esse. É muito fácil defender que a polícia prenda ou mate o bandido. O gargalo social do Rio reside numa educação falida e muquirana, que paga salários de fome para os professores (600 reais por mês), um dos menores do país. Os professores do estado do Rio são tão miseráveis que não tem força sequer para se organizarem e lutarem por melhores salários. E quando eles fazem manifestações, a mídia nunca fica do seu lado.

A perseguição constante da mídia ao Congresso, ao Executivo, à blogosfera, contrasta com a euforia lacrimejante com que ela narra a intervenção militar nos morros cariocas.

Aos governos, cabe não se deslumbrar com o apoio ensandecido que o Globo faz da invasão às favelas, e agir com firmeza e equilíbrio, articulando ações de desarmamento com políticas sociais, pois estamos lidando com famílias marcadas pela pobreza e pelo preconceito. E não digo isso como uma sugestão "esquerdista": faz parte da estratégia para combater o crime a médio e longo prazo.

As colunas do Globo, entretanto, vem repletas de aspas fora do lugar.

Entro no site do jornal e me deparou com um texto cheio de veneno:
Além disso, os traficantes têm o seu “lado humano” e são admirados pelos moradores das comunidades na qual vivem.

Tudo o que não queremos é que a mídia use seu poder narrativo para transformar as ocupações dos morros cariocas num discurso protofascista que festeja ações militares como o suprassumo do poder estatal.

Ironia das ironias: a mesma mídia que promove dia e noite a idéia de um Estado mínimo e abre espaço para filósofos do ultraindividualismo, a mesma mídia que se recusa a enxergar virtudes em políticas de transferência de renda, agora se ajoelha, extasiada, perante ações de segurança de alto custo para os contribuintes, necessárias para resolver um problema criado pela proibição ao uso - individual - de certas drogas.

Entendam: eu apoio as UPPs. Não acho que resolve a situação da segurança nem na cidade nem no estado nem no país, mas sei que integra um conjunto de políticas públicas. A UPP pode dar certo justamente porque agrega iniciativas de urbanização e assistência social. O morro Dona Marta, por exemplo, que também recebeu uma unidade permanente de polícia, foi agraciado (com muita justiça) por uma rede de internet sem fio grátis. Quando o Estado oferece direitos, o cidadão cumpre seus deveres. É uma relação dialética um tanto cínica, mas por isso mesmo humana, demasiadamente. A solução do Rio não é militar, é política. Tanques nas ruas e favelas ocupadas por polícia tranquilizam os grandes proprietários mas não resolvem nada. Os ricos tem seus planos de saúde de mil reais por mês e seus filhos hoje só se mobilizam politicamente quando lêem no Globo que houve problema no Enem - todo mundo lotou os cinemas para assistir Tropa de Elite 2 e bateu palmas quando o Capitão Nascimento espancou um político safado, mas ninguém parece ligar muito, nem os novos gênios do solipsismo sociopata que o Instituto Millenium anda patrocinando, para a decadência inexorável dos serviços públicos de saúde, por exemplo. Ter uma boa rede de postos de saúde e hospitais, eis uma vitória que eu quero festejar. Recuso-me a dançar a marcha militar que a mídia tem trombeteado em nossos ouvidos.

27 de novembro de 2010

Análises da violência

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A amiga @imaculadacon indicou-me as ótimas charges de Latuff publicadas no blog Pimenta com Limão. Não tem comentários, são análises completas. Desta vez, porém, as coisas podem ser diferentes. Nesta operação, já morreram 44 pessoas. Esperemos que a polícia seja transparente para a sociedade saber exatamente o que aconteceu. A questão não é criminalizar a polícia por matar bandido. Se houver confronto armado, não tem jeito. É bala mesmo. O que se pede incansavelmente é que seja feita uma política de segurança voltada SOBRETUDO para defesa da vida humana, que vale muito mais do que qualquer outra coisa. Que agregue serviços públicos. Que ofereça esperança e direitos ao povo pobre das comunidades. O problema são os muquiranas incrustados na mídia e sua eterna pressão por ajuste fiscal, tentando sempre inibir o Estado de prestar assistência à população carente. Cade o mané que defendia redução de impostos? Como vai reduzir imposto se o Estado tem que aprimorar a sua política de segurança, oferecendo benefícios na área de urbanização, saúde, educação e assistência social?