29 de março de 2010

Soneto da fraude

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Amigos, fiz um sonetinho, uma paródia do Soneto da Separação, do Vinícius.


De repente da queda fez-se a alta,
Misteriosa, estranha como a bruma,
E das bocas tristes, um sorriso.
Uma esperança chocha se alevanta.

De repente a pesquisa trouxe a nova,
Que da Folha desfez o último crédito.
Se a ficha falsa foi seu mérito,
Agora nada mais já nos espanta.

De repente, não mais que de repente
Fez-se alegre quem estava triste,
E campeão o há pouco decadente.

Ninguém ainda quer ser o vice;
Mas com o Datafolha a seu lado,
Agora sim o Serra vai em frente.

Miguel do Rosário

28 de março de 2010

Clipping da mídia

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Prezados, achei que as notícias de hoje valiam um clipping. Segue abaixo, então, uma seleção de matérias políticas que pincei na imprensa deste domingo. Um fato digno de menção foi a curiosa decisão da Folha em dar destaque à manutenção da popularidade de Lula na pesquisa do Datafolha. Pode ter crescido um pouco, mas não representa novidade. O fato sugere, aos espíritos desconfiados, uma tentativa de restaurar a credibilidade do instituto. Apenas contribui, porém, para gerar ainda mais confusão. Se a popularidade de Lula cresceu, se Dilma cresceu na espontânea, e se não aconteceu nenhum fato novo na política, por que Serra teria crescido? O próprio colunista da Folha, Clóvis Rossi, expressa sua perplexidade perante a misteriosa ascensão de Serra.

Esse blog, no entanto, prefere se abster de acusações precipitadas contra o Datafolha. Há outros institutos operando na praça e a oposição terá que fraudar todos se quiser manipular o resultado por aí.

Ainda aguardo a divulgação da íntegra da pesquisa, para poder analisá-la em detalhes.

Abaixo o clipping. Se tiverem um tempo livre, leiam tudo com atenção. Será material para debate nos próximos dias.


FOLHA

Texto na primeira página:

Popularidade de Lula bate recorde

A nove meses de deixar o governo e em campanha aberta para eleger DilmaRousseff sua sucessora, o presidente Lula atingiu a sua melhoravaliação desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2003: 76% dapopulação consideram seu governo ótimo ou bom. É o recorde para umpresidente desde que o Datafolha iniciou o levantamento, em 1990. Mas orecorde se fragmenta na eleição de seu sucessor.


Texto interno:

A 9 meses de sair, Lula tem aprovação recorde de 76%

Avaliação é a melhor de um presidente desde 1990; só 4% veem governo ruim ou péssimo

Apesar do resultado positivo, José Serra, candidato da oposição, abriuvantagem de 4 para 9 pontos sobre Dilma, nome do PT para a sucessão

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A nove meses de deixar o cargo e em campanha aberta para eleger a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sua sucessora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu no final de março a sua melhor avaliação desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2003: 76% da população consideram seu governo ótimo ou bom.

O recorde na avaliação positiva para um presidente no Brasil desde que o Datafolha iniciou esses levantamentos, em 1990, aparece como contraponto a um aumento para nove pontos na vantagem entre o candidato à Presidência da oposição, José Serra, e Dilma.

Esta foi a terceira pesquisa consecutiva, agora realizada entre 25 e 26 de março, em que o Datafolha registrou oscilação positiva nos índices de ótimo e bom concedidos pela população ao presidente Lula.

Ao longo dos últimos sete anos, os resultados positivos na avaliação do presidente vêm coincidindo, ano a ano, com a melhora nos indicadores econômicos e sociais do país.
Mesmo entre os mais escolarizados e ricos, que no início do governo tinham grandes doses de prevenção contra o governo Lula, a popularidade do presidente avançou.

Só entre agosto de 2009 e agora, a avaliação positiva de Lula saltou nove pontos, de 67% para os 76% atuais.

Já nos últimos três anos, Lula aumentou em 26 pontos a sua popularidade. Hoje, apenas 20% consideram seu governo regular e 4%, ruim ou péssimo.

Tendo Dilma como candidata, Lula manteve a tendência de crescimento na popularidade entre as mulheres. Também pela terceira vez seguida, a aprovação a seu governo cresceu nesse segmento da população, passando de 71% para 75%.

Mas, de acordo com resultados da pesquisa Datafolha divulgados ontem, as intenções de voto em favor de Dilma para a eleição presidencial deste ano oscilaram negativamente um ponto no último mês. A ministra tem agora 27%.

Já o candidato tucano, José Serra, voltou a abrir vantagem sobre a petista. A diferença em relação à candidata, que era de quatro pontos no mês passado, passou agora para nove pontos. Serra tem hoje 36% das intenções de voto.

Além de ter avançado no segmento feminino da população, a avaliação do presidente cresceu também entre as pessoas com mais de 60 anos. Subiu seis pontos, de 67% para 73%.

Mas um dos maiores saltos na avaliação positiva de Lula captado pela pesquisa se deu entre as famílias que têm renda superior a dez salários mínimos (R$ 5.100,00). Foram 12 pontos percentuais de aumento, de 56% para 68%.

No início do governo Lula, nesse mesmo segmento da população apenas 36% consideravam a gestão do petista como ótima ou boa. De lá para cá, o aumento é de expressivos 32 pontos percentuais.
O salto é ainda maior, de 34 pontos, entre os que ganham menos, até cinco salários mínimos (R$ 2.550,00). A aprovação ao presidente nessa parcela da população alcança hoje 77%.

Mas, apesar do crescimento também entre os brasileiros com ensino superior (de 65% para 70%) e entre os que ganham mais de dez salários mínimos, (56% para 68%) é nesses segmentos que o governo Lula continua tendo as suas piores taxas de aprovação.

O mesmo ocorre nas regiões Sul e Sudeste, onde 69% das pessoas consideram o governo ótimo ou bom.

Esse percentual sobe a 87% no Nordeste. Na região, não somente a renda da população aumenta a um ritmo maior do que na média do país como é para onde se dirige grande parcela dos benefícios do programa Bolsa Família.

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Editoriais

Dança dos números

Oscilações na pesquisa de intenção de voto para presidente refletem caráter ainda incipiente da campanha eleitoral

SÃO SURPREENDENTES , ainda que não constituam reversão categórica nas tendências do eleitorado, os números da pesquisa do Datafolha sobre sucessão presidencial, divulgados ontem.
Sem ter anunciado oficialmente sua candidatura, o governador de São Paulo, José Serra, conhece uma elevação, acima das margens de erro, de seus índices de preferência popular.
Dos 32% que obtinha na última pesquisa, em fevereiro, o peessedebista passa a 36%, patamar semelhante ao de dezembro do ano passado.

A candidata do PT, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, estaciona em 27%, interrompendo a ascensão que se produzia desde que foi oficiosamente lançada pelo presidente Lula como nome à sua sucessão.

Até agora, a avaliação dos analistas políticos convergia para enfatizar o desequilíbrio entre os cronogramas de campanha de cada candidato. Enquanto Dilma Rousseff se lançava, com Lula, a uma maratona de inaugurações que não disfarçavam seu caráter de comício eleitoral, a demora de Serra em assumir a candidatura acarretava-lhe o preço de ver diminuída a distância que o separava da rival petista.

Apesar de seu nome não ter sido oficializado, o fato é que Serra já se comporta como candidato -e, se não tem um presidente Lula a alavancar suas pretensões, conta de todo modo com a máquina da propaganda oficial do Estado, que no rádio e na TV tem exposto o eleitor a um intenso bombardeio de anúncios a respeito de suas realizações no governo paulista.

Por sua vez, a candidata do PT passara por um período de grande exposição pública nos dias que antecederam a pesquisa anterior. Enquanto isso, importante base do eleitorado serrista experimentava, na cidade de São Paulo, poucos motivos de entusiasmo diante do problema das enchentes.

O fato é que até aqui nenhum dos principais candidatos -com Ciro Gomes e Marina Silva mantendo-se na penumbra- foi confrontado com o processo de uma campanha política, no sentido mais próprio do termo.

Apresentam-se, num paralelismo mecânico e tedioso, as realizações administrativas de um e outro, sem que se contestem e discutam suas visões, estilos, atitudes e propostas.
Num quadro de relativa equivalência ideológica, ademais agravado pelo fato de que discursos oposicionistas se intimidam em face da grande popularidade do presidente, Serra e Dilma oscilam no altiplano ainda pouco acidentado das pesquisas de intenção de voto.

A indefinição do quadro é inerente aos momentos iniciais de uma disputa eleitoral -mas não deixa de representar também, do ponto de vista simbólico, a dificuldade de ambos em criar, com brilho próprio, fatos políticos capazes de alterar a acomodação por ora reinante.

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CLÓVIS ROSSI

Mistério

SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 1989, Leonel Brizola almoçou nesta Folha e, a horas tantas, comentou que uma eventual vitória de Fernando Collor de Mello seria "anti-histórica". Concordei com ele, em silêncio.

Como todo mundo sabe, Collor ganhou. Decidi, também em silêncio, que não entendia absolutamente nada de como o eleitor brasileiro forma sua intenção de voto e que era mais prudente, daí em diante, dar palpites apenas quando o Datafolha iluminasse o caminho.

Não é que, agora, nem o Datafolha ilumina algo? O resultado da pesquisa mais recente, ontem publicada, é um denso mistério, ao menos para mim. Não consigo encontrar uma explicação forte para o fato de José Serra ter subido quatro pontos em um mês. Atenção, hidrófobos do tucanato, não estou lamentando a subida, apenas tentando entendê-la.

Que Dilma Rousseff parasse nos 28% ou 27% é compreensível. Deve ter havido uma pausa (ou interrupção definitiva, sabe-se lá) no empurrão que o prestígio do presidente Lula dá à sua candidata.

Mas o que houve para que Serra subisse? Não vi nada no noticiário, a menos que tenha perdido algo por viajar frequentemente para o exterior, o que às vezes faz com que leia apenas superficialmente os jornais brasileiros.

Diminuíram as chuvas, é a hipótese levantada pelo meu guru do Datafolha, Mauro Paulino. Pode ser, mas, pela lógica, seria motivo para que Serra estacionasse, não para que subisse, certo?
Enfim, o resultado só me faz retornar à sensação de 20 anos atrás e decidir deixar que o Datafolha me surpreenda a cada tanto.

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ELIANE CANTANHÊDE

Cara a cara

BRASÍLIA - O Datafolha de ontem é um susto para o governo e um alívio para a oposição, mas apenas confirma o principal dado da campanha: o governo tem as melhores condições, e a oposição, o candidato mais sólido. Dilma Rousseff, apesar de tudo, oscila um ponto para baixo e está com 27%. Serra, apesar de todos, recupera quatro pontos e volta aos 36%.

A campanha fecha março e chega a abril tensa, nervosa, quente. Na quarta, 31, Dilma sai da Casa Civil e Serra deixa o Bandeirantes, preparando-se para o lançamento público em 10 de abril, em Brasília. Os dois vão se enfrentar cara a cara pelo Brasil afora, com Ciro Gomes encrencado no seu próprio PSB e Marina Silva e o PV tentando ganhar fôlego e musculatura.

O melhor exemplo da premissa de que o governo ganha nas condições e a oposição ganha no candidato é o confronto entre a popularidade de Lula e a oscilação negativa de um ponto percentual de Dilma. Ele sobe para 76% e é o recordista entre os presidentes desde 1990. Mas Dilma, em vez de acompanhar o movimento, estaciona.

Planalto e PT têm Lula e estão mais organizados, com mais estrutura, um leque muito maior de alianças partidárias, mais tempo na TV. Mas José Serra, mesmo quando balança, não cai. Mantém-se teimosamente acima dos 30%.

Mesmo agora, a previsão era a de que as linhas se cruzassem -com Serra caindo e Dilma chegando à liderança-, o que não se confirma.

Ao contrário, Serra abre 28 pontos de vantagem no Sul, que, ao lado de São Paulo, neutraliza Norte e Nordeste. Os holofotes, portanto, concentram-se em Minas, onde a partida tende a ser decidida.

Neste momento, o que o Datafolha diz aos adversários é simples: a oposição tem de criar a estrutura e fortalecer as condições do seu candidato, enquanto ao governo convém o contrário: melhorar a imagem, a desenvoltura e a empatia da sua candidata com o eleitor.

elianec@uol.com.br

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Vento sul
A campanha de José Serra tentará aproveitar o bom resultado no Sul (crescimento de dez pontos no Datafolha) para equacionar seus palanques na região.
No Rio Grande do Sul, o fôlego tomado permite sonhar com dois cenários: a) que José Fogaça (PMDB), líder nas pesquisas, pense duas vezes antes de apoiar Dilma Rousseff (PT); b) que Fogaça, diante da recuperação ensaiada por Yeda Crusius (PSDB), desista de trocar a segurança da Prefeitura de Porto Alegre pela incerteza da disputa, levando o PMDB para a órbita de Serra já no primeiro turno. Em Santa Catarina, os números reaproximam o PSDB e do PMDB, que flertava com Dilma. No Paraná, o PT fica mais dependente de uma eventual aliança com Osmar Dias (PDT).



Fortaleza 1. Embora responda por apenas 15,6% do eleitorado nacional, a região Sul importa para a campanha de Serra por ser, na era Lula, reduto do voto oposicionista.
Fortaleza 2. Entre os poucos Estados nos quais Geraldo Alckmin saiu vitorioso no segundo turno da eleição presidencial de 2006, foi no Rio Grande do Sul que o tucano obteve sua maior vantagem sobre Lula: 53% a 42%.

Sinto muito. Diagnóstico de quem conhece bem tanto Eduardo Campos quanto Ciro Gomes: o presidente do PSB está fazendo pacientemente todo o roteiro de conversas com possíveis aliados para no final poder dizer ao pré-candidato algo como: "Tentamos de tudo, mas não deu".

Rajada de balas. E Ciro vai sair da disputa presidencial em silêncio ou atirando? "Para todo lado", responde o mesmo especialista.

Liga... Depois de pôr pilha em José Alencar (PRB) para assustar adversários e aliados em Minas Gerais, o PT se deu conta de que pode acabar lhe faltando lugar na chapa e agora apela a Lula para convencer o vice-presidente a desistir de toda e qualquer candidatura.

...e desliga. A conversa mais recente para atingir tal objetivo é a de que seria "muito importante" Alencar ficar no governo, de modo a permitir que o presidente se dedique mais -eventualmente até por meio de pequenas licenças- à campanha de Dilma.

Na oposição. Comentário bem-humorado de José Alencar, quando a equipe médica polidamente se recusou a expedir um atestado segundo o qual o vice estaria em "processo de cura" do câncer: "Vocês são uns tucanos!".

Popular... Noviço em palanques, o vice-governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), começa a se soltar. Dias atrás, empolgado ao final de um discurso, pediu licença para cantar Gonzaguinha: "É a vida, é bonita e é bonita!".

...e erudito. Mas Anastasia ainda faz jus ao título de "professor" pelo qual todos o chamam. Na quinta passada, ao falar na última grande reunião de governo comandada por Aécio Neves (PSDB), o pré-candidato referiu-se aos mineiros do Vale do Jequitinhonha como "nossos concidadãos que moram em regiões menos afeitas a um bom regime pluviométrico".

Endereço. Se mantiver a rotina de passar quase todos os finais de semana em São Paulo, o ministro Cezar Peluso inovará na presidência do Supremo. Na história recente, praticamente todos os ocupantes do cargo fixaram residência em Brasília.

Trindade. Poupada da gerência do PAC, que ficará a cargo de outros ministros, Erenice Guerra elegeu três projetos prioritários para seus nove meses de Casa Civil: a hidrelétrica de Belo Monte, a ferrovia Transnordestina e o trem-bala São Paulo-Rio.

Trancado. A Rede Globo pode dormir tranquila. Não há chance de sair do limbo, na Assembleia paulista, o projeto que proíbe o término dos jogos de futebol depois das 23h.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Chamem o Paulo Okamoto. Com certeza sobrará para ele pagar as multas aplicadas a Lula pela Justiça Eleitoral."
Do senador ACM JÚNIOR (DEM-BA), sobre o pouco caso manifestado por Lula diante da punição de pagar R$ 5.000 por fazer campanha antecipada; no passado, o presidente do Sebrae declarou ter assumido uma dívida de R$ 30 mil do amigo.

Contraponto

Vara especial
Na quarta-feira passada, um grupo de parlamentares oposicionistas entregou ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, um pedido formal de investigação sobre as conexões entre os escândalos do mensalão e o caso Bancoop, que envolve o tesoureiro do PT, João Vaccari.
Para quebrar o gelo, o líder do PSDB na Câmara, João Almeida, começou por dizer que os tucanos não tinham a intenção de sobrecarregar o procurador-geral:
-Não queremos abusar...
Gurgel tratou de deixar os visitantes à vontade:
-Fiquem tranquilos. Eu soube que, quando vocês estavam no governo, chegou a se discutir aqui a abertura de um protocolo para uso exclusivo do PT!


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Tucano contrata especialista em Twitter
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador José Serra (PSDB), que já é usuário habitual do Twitter como ferramenta de conversação, montou uma equipe para gerenciar as ferramentas virtuais de sua campanha ao Planalto. O núcleo contará com a jornalista e publicitária Ana Maria Pacheco, encarregada de abastecer e administrar o microblog do tucano, que deverá inclusive anunciar o lançamento oficial de sua candidatura.
Sua página, cuja autenticidade é certificada pelo provedor do serviço, alcançou a marca de 181 mil seguidores.
Antes do início formal da campanha, o mecanismo já produziu resultados que encorajaram a equipe de Serra. O termômetro foi uma mensagem postada pelo governador em que ele retrucava boatos espalhados em Manaus (AM) segundo os quais seria contrário à Zona Franca. "O boato sobre acabar com a Zona Franca de Manaus é molecagem antiga. Aparece sempre em ano eleitoral", respondeu Serra ante o comentário de um internauta. O texto foi replicado exaustivamente em veículos de abrangência regional e, dizem os tucanos, minimizou o dano político da suposta boataria.
Segundo o tesoureiro da Executiva Nacional do PSDB, Eduardo Graeff, o partido já montou estrutura para maximizar dividendos eleitorais do ciberespaço e espera receber doações via internet, com cartões de débito e crédito.

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Campanha de Dilma se aproxima de idealizador da Campus Party
Petistas também enxergam importância eleitoral estratégica nas redes sociais

MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT também se arma para disseminar nas redes sociais a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Para isso, negocia com Marcelo Branco, ex-diretor e um dos idealizadores da Campus Party, maior evento de tecnologia do país, e um dos coordenadores do projeto Software Livre.
A intenção do partido é transformar o especialista em tecnologia da informação em uma espécie de guru para uso eleitoral das redes sociais, como Twitter, Orkut e Facebook.
"As redes sociais se tornarão um novo palco de disputa política. Páginas de candidatos que apenas reproduzem notícias, como em eleições anteriores, são pré-históricas. O trabalho será interativo", diz Branco, que foi filiado ao PT no anos 80.
Além dele, o partido já fechou negócio com a Pepper Comunicação, de Brasília. A Pepper fechou, com a ajuda do marqueteiro João Santana, parceria com a empresa americana de Ben Self, mentor das estratégias de campanha na internet que ajudaram a eleger Barack Obama. A agência também é responsável pela hospedagem de um site de apoio a Dilma (www.mulherescomdilma.com.br).
O PT não revela o montante que investirá na estratégia. O deputado federal André Vargas (PT-SP), secretário nacional de comunicação da sigla, diz que a ideia é lançar vários sites.
O primeiro passo é a realização de um censo para saber quantos militantes estão na web. Depois, devem municiar os simpatizantes com áudios, textos e vídeos sobre Dilma, para que o material se espalhe.
"O PT quer oferecer para a Dilma a melhor estrutura possível. A prioridade é a internet. Não é mais só a juventude que está conectada", disse Vargas.
Também devem ser criadas centenas de comitês virtuais, que ficariam com a missão de adaptar os discursos de Dilma às realidades de cada região.
Vargas diz que os filiados do partido (1,2 milhão) serão conclamados para participar ativamente da campanha na rede.
Por ser uma ferramenta nova, o PT ainda não sabe estimar o quanto pode arrecadar on-line durante a campanha.
Ontem, Dilma passou por exames de rotina em São Paulo, no hospital Sírio-Libanês.

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Pesquisa interrompe otimismo do governo
Auxiliares diretos do presidente veem resultado do Datafolha como o fim do clima de "já ganhou'; vantagem alivia oposição

Reservadamente, Lula vinha dizendo que já contava com uma vitória da ministra Dilma Rousseff ainda no primeiro turno da eleição

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado da pesquisa Datafolha surpreendeu o governo e interrompeu o otimismo exagerado na campanha da pré-candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Para a oposição, trouxe alívio ao virtual pré-candidato tucano, o governador José Serra (SP), numa hora decisiva.
Nas palavras de um auxiliar direto do presidente Lula, a dianteira de nove pontos percentuais de Serra sobre a Dilma Rousseff "acaba com o clima de já ganhou" criado no governo.
A "surpresa", segundo integrante da cúpula do governo, é que o Datafolha mostrou resultado distinto de levantamento recente do PT. Nele, Serra aparecia à frente, mas tecnicamente empatado com Dilma.
O próprio Lula, segundo auxiliares, apresenta otimismo considerado exagerado em relação a Dilma, falando, reservadamente, em vitória no primeiro turno. O Datafolha, diz um ministro petista, trará Lula à realidade: a eleição deverá ser disputada palmo a palmo, porque Serra é um candidato forte.
Um cacique tucano diz que havia temor de que o Datafolha pudesse trazer Dilma à frente. Na pesquisa anterior, feita exatamente um mês antes, a petista encostou no tucano -diferença de cinco pontos. Agora, a oposição chega mais animada ao lançamento da pré-candidatura Serra, no dia 10 de abril.
"É bom para ninguém ficar achando que a eleição será fácil", disse o líder do partido na Câmara, deputado Fernando Ferro (PE). O líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), admite que o resultado da pesquisa de um mês atrás-com Serra com 32% e Dilma com 28%- era mais positivo para a ministra. Ele afirma, no entanto, que o importante agora é avaliar a pesquisa espontânea (na qual a ministra aparece com 12% das intenções de voto, contra 8% de Serra).
Para o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), a pesquisa mostra que "Lula não tem a mão de Deus, que há diferença entre ele e a candidata".
"Sempre confiamos que quando há um candidato posto, essa realidade se coloca em números", diz o líder do DEM, Agripino Maia (RN). "Mesmo com esse nível de exposição monumental -haja vista as multas do presidente Lula- a candidata petista não cresceu", diz o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).
Integrantes do PSB dizem que a estagnação do deputado Ciro Gomes na pesquisa já era esperada. "Os outros dois candidatos estão na rua, fazendo campanha. O Ciro não", diz o líder do partido na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF), que admite que, sem tempo de TV, ficará difícil para Ciro crescer.
A senadora Marina Silva (PV-AC), com 8%, ficou satisfeita "se consideramos que a exposição de mídia dos dois candidatos é abissalmente incomparável à minha e se considerarmos que eles já são candidatos desde pequenininhos e que o meu movimento de pré-candidatura só tem seis meses", afirmou.

(KENNEDY ALENCAR E MARIA CLARA CABRAL)


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ESTADÃO

EDITORIAL:

Lula fala, Chávez faz

No Brasil, o presidente Lula diz que fica triste quando os jornalistas, tendo o direito de escrever a coisa certa, escrevem a coisa errada. Na Venezuela, o seu companheiro Hugo Chávez não perde o seu tempo se entristecendo com os meios de comunicação que escrevem a coisa errada ? críticas ao seu regime autoritário ? e não a coisa certa ? louvação a quem está no poder. Levando às últimas consequências o desgosto do brasileiro com a imprensa que, segundo ele, tem o direito de falar bem do governo, Chávez castiga duramente aqueles que ainda tentam preservar o direito de falar sobre o que entendem ser a verdade dos fatos no país.

No fim da semana passada, Guillermo Zuloaga, presidente da única emissora venezuelana de TV que ainda critica o chavismo, a Globovisión, disse uma singela verdade ao participar de uma reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Aruba. "Não se pode falar de liberdade de expressão em um país quando o governo usa a força para fechar meios de comunicação." Foi o quanto bastou para Chávez atiçar contra ele o Legislativo e o Judiciário, ambos sob o estrito controle do Palácio Miraflores. A Assembleia Nacional, fazendo a parte que lhe cabe no amordaçamento aos opositores do regime, pediu que Zuloaga fosse processado por "tentar criminalizar e prejudicar a imagem do governo constitucional e democrático". E assim se fez.

É importante observar, a propósito, que uma ditadura não se faz apenas com a subordinação das instituições de Estado aos interesses do ditador. Na Venezuela, onde "há democracia até demais", no entender de Lula, o código penal foi reescrito para servir ao liberticídio. E foi invocado pela procuradora-geral da República, Luisa Ortega Díaz, para a ação contra Zuloaga. Nele se lê, textualmente: "Todo indivíduo que por meio de informações falsas difundidas por qualquer veículo impresso, radial, televisivo, telefônico, por correio eletrônico ou textos panfletários que causem pânico à coletividade, ou mantenha um clima de inquietação, será castigado com prisão de 2 a 5 anos."

A mesma procuradora chavista mandou prender Zuloaga quando, na quinta-feira, ele ia embarcar para a ilha caribenha de Bonaire, onde pretendia passar os feriados da Páscoa. Medida cautelar o tirou, provisoriamente, de trás das grades, mas não lhe devolveu o direito de viajar. "Não tenho nenhuma intenção de deixar a Venezuela", afirma. Motivos para tanto, ele os teria de sobra. Nos últimos anos, a Globovisión vem sendo alvo de uma brutal ofensiva de intimidação, que se acentuou com a campanha de extermínio do jornalismo independente no país, deflagrada em maio de 2007. À época, o autocrata de Caracas decidiu não renovar a concessão para transmissão por sinal aberto da RCTV, a de maior audiência no país, por suas críticas à ordem bolivariana.

Passados 2 anos, não bastassem a abertura de 6 inquéritos contra a Globovisión, por alegada incitação a protestos, terrorismo e tentativas de golpe de Estado (sic), e as bombas de gás lançadas por militantes chavistas na sede da emissora, o seu líder foi absolutamente claro a respeito de suas intenções. "Isso (a Globovisión) vai acabar ou deixo de me chamar Hugo Chávez Frías", fulminou. O acirramento da repressão na Venezuela ? essa semana foram detidos 3 opositores, entre eles um deputado chavista dissidente ? parece ter relação direta com a deterioração das condições de vida no país, em crise de energia, abastecimento errático, inflação elevada e criminalidade incontida. E em setembro haverá eleições para a renovação da Assembleia Nacional.

A distância entre o cenário político do Brasil e da Venezuela é abissal. A democracia brasileira tem sólidas defesas contra os arreganhos autoritários do PT ? expressos principalmente no desejo do "controle social dos meios de comunicação" ?, a que Lula confere legitimidade com seus frequentes ataques à imprensa, para não mencionar a sua solidariedade com as violências do castrismo em Cuba. Isso não altera o fato de existir uma linha de continuidade entre o que Lula diz das "pessoas" que "escrevem as coisas erradas" e o que Chávez faz com elas.

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Dora Kramer

Um País de todos

Até agora o presidente Luiz Inácio da Silva jogou sozinho em campo. À vontade, sem oposição, sem entraves judiciais, com popularidade em alta, apoio político para dar e vender, bajulado em toda parte, falando o que lhe vem à cabeça, uma beleza.


Tão favorável é o ambiente que nem o principal opositor se anima a lhe fazer oposição. Prefere contemporizar e dizer que o presidente está terminando o governo "muito bem".

Claro, José Serra não menospreza as pesquisas: um terço das pessoas que avaliam bem o governo federal votam na oposição para presidente. Então, para que brigar se não é Lula o candidato?

Aparentemente o presidente está com a vida ganha. Sua candidata saiu do ostracismo para a situação de quase empate com o há dois anos favorito Serra e dizem por aí que agora a franca favorita é ela, Dilma Rousseff.

Portanto, melhor não poderia estar. Mas o presidente parece que precisa que esteja tudo como ele quer, sem revezes, sem um mínimo de contestação ou contrariedade.

Bastou a Justiça Eleitoral dar um pequeno sinal de vida nas preliminares da partida para Lula perder a esportiva do dia anterior, quando fazia piadas com multas judiciais. Não parece lógico acreditar que um político com a experiência dele imagine que possa jogar sozinho o tempo inteiro sem adversário.

Sua reação na sexta-feira à multa de R$ 10 mil aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral foi de quem supõe que a oposição vá disputar uma eleição presidencial parada.

"O fato concreto é que todo esse barulho é feito pela oposição por razões políticas", indignou-se em tom de transcendental revelação.

Óbvio que as razões são políticas. Assim como são políticas as razões que o levam a transgredir sistematicamente não só a Lei Eleitoral como a Constitucional no que tange ao princípio da impessoalidade na condução da máquina pública.

Ou do que se trata quando Lula diz que sua prioridade agora é eleger a sucessora?

Quanto ao "barulho" trata-se do legítimo recurso à Justiça facultado também ao governo e aos partidos governistas sempre que achar que seus adversários extrapolaram os limites legais nas atividades de campanha.

Ou o presidente vê alguma deformação em ações judiciais?

Ademais, a única novidade são as decisões em si, porque as ações vêm sendo apresentadas pela oposição há muito tempo sem que o presidente reclamasse enquanto não eram julgadas procedentes. A queixa real, portanto, não é contra os oponentes políticos, mas contra o Judiciário.

Só que isso Lula não faz. Porque pode provocar mais problemas à frente no tribunal e porque não lhe rende dividendos eleitorais. Não se presta ao plebiscito "nós contra eles" em cujo modelo ele, no controle da máquina de governo, uma estrutura de comunicação monumental, redes sociais com cobertura em todo o País, sindicatos e ONGs é quem representa a vítima fraca e oprimida contra a força dos poderosos.

Ainda outro dia o presidente pregou civilidade na campanha. Referia-se à conduta entre candidatos. Mas o conceito vale também, ou principalmente, em relação ao respeito às regras, à obediência à lei propriamente dita.

O ideal seria que a campanha tivesse uma levada de classe. Se não for possível, compreender que se trata de uma disputa em que todos têm direito e às vezes encarar as coisas um pouco na esportiva já ajudaria muito a preservar o País de um tipo de luta a que os brasileiros não estão acostumados.

Cerco. Os sindicatos filiados à CUT negam motivação eleitoral nas greves e manifestações de protesto contra o governo de São Paulo, embora tenham deixado para explicitar de forma assertiva suas questões com o Estado depois que José Serra confirmou a candidatura a presidente.

Enquanto existia uma tênue esperança de que ele pudesse desistir para disputar a reeleição em São Paulo nada era tão urgente em termos de reivindicações trabalhistas.

Nesse aspecto, já se comprova o acerto da resistência do governador em não antecipar o anúncio da candidatura. Teria antecipado o cerco e alongado o período de protestos, sem necessariamente recolher benefícios em forma de pontos nas pesquisas.

27 de março de 2010

Datafolha quebra salto alto da Dilma

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Prezados, vou esperar o Datafolha publicar a íntegra de sua pesquisa antes de comentá-la. Poderei compará-la à anterior e fazer uma análise mais apurada. Há enorme suspeição na blogosfera, por causa da mudança brusca de tendência, sem que tenha havido nenhum fato político novo, e pela diferença com outros institutos. O deputado e blogueiro Brizola Neto registrou as explicações dadas pelo diretor do Datafolha e jornalistas da Folha para a subida de Serra. E observou ainda a diferença significativa entre as amostras das últimas pesquisas. Em dezembro, foram entrevistadas 11.429 pessoas, número que cai para 2.623 em fevereiro e agora sobe novamente para 4.210.

Eduardo Guimarães, por sua vez, ressalta que ela não poderia chegar em momento mais oportuno para José Serra, visto que o lançamento de sua candidatura ocorrerá nos próximos dias.

Adianto apenas que, se a pesquisa foi fraudada, há um aspecto positivo. Será mais um fator a iludir a oposição que, em vez de se adaptar à realidade, prefere inventar uma realidade própria. Com isso, cava um buraco ainda mais profundo para si mesma.

É tudo muito lógico. Se a oposição vai mal de voto, o correto é realizar ajustes políticos e mesmo ideológicos em seu discurso. Os tucanos deveriam entender que, se eles querem ser maioria, tem de representar os interesses da maioria. Um político deve ter sensibilidade para saber o que o povo quer e precisa. Seu discurso e sua prática elitistas e conservadores não tem muito futuro num país pobre como o Brasil.

Por outro lado, os números do Datafolha servem também para quebrar o salto alto da campanha dilmista. Fraudada ou não, a pesquisa acende o alerta vermelho entre os aliados. José Serra é um candidato perigoso, sobretudo em função deste apoio canino que tem na mídia. A luta é renhida. A vitória, incerta. A glória, no entanto, é tanto maior quanto mais difícil for o combate!

O cego e a dançarina em São Paulo

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(As fotos acima são da manifestação dos professores de São Paulo realizada nesta sexta-feira 26/03. A primeira eu não sei de quem é. A segunda foto, com o professor segurando uma PM ferida, é de autoria de Rodrigo Coca, da Arena e Agência Estado, e já virou sucesso absoluto na blogosfera; Leandro Fortes escreveu um post belíssimo sobre ela. PS: Clayton de Souza, também da AE, e Rodrigo Coca tiraram fotos muito parecidas. PS2: Ops, parece que não era um professor... e sim um pm infiltrado à paisana. Acabou-se o romantismo.)

Tem esse trecho, logo no início do conto. "Não sei explanar melhor sobre isto porque aconteceu um fato que é mais voraz do que as palavras em pássaros. Um fato que exaure todas as possibilidades. Pois é um fato cruento". João Gilberto Noll, quando escreveu Cego e a Dançarina, jamais poderia imaginar que alguém usaria seu conto para compreender a brutalidade social em São Paulo. Mas as palavras, parafraseando-o, são pássaros enlouquecidos voando sob um sol anêmico. Quem é vivo, afinal, são os pássaros. Não o sol. São os homens, não é a cidade. Homens, cidadãos, professores. Muito fala-se em  educação. Todos estão sempre falando em educação. Os editoriais batem na mesma tecla: educação. O governo fala sempre que investe mais e mais em educação. No entanto, quem fala nos professores? Quem é que experimenta a rotina diária de inocular na cabeça de crianças ignorantes e adolescentes rebeldes cinco mil anos de cultura ocidental?

O governo de São Paulo, em vez de aumentar o salário de seus 200 mil professores, decide criar uma prova e impor condições mediante as quais uns ganharão bônus, outros não. Em vez de estimular o trabalho coletivo, a solidariedade entre os professores, a política educacional de Serra produz divisão. Quem avaliará o carinho e a bondade de uma professora que há vinte anos cuida de suas crianças como se fossem seus filhos? Ganhará menos que um professor recém-ingresso porque este respondeu melhor a uma prova arbitrária estabelecida pela secretaria de educação? Quem medirá o ensino da bondade, da coragem, da honestidade, da justiça, do amor? Em sua cegueira neoliberal, e distraído pelos latidos furiosos da mídia, o candidato à presidência da República, José Serra, não consegue ver a história, sensual, perversa, implacável, dançando à sua frente.

Já temos relatos numerosos de que a política de bônus tem incentivado professores a passarem cola a seus alunos, visando obter melhores resultados e, com isso, pingar mais alguns trocados em sua conta bancária. Uma política de méritos poderia até ser eficaz, se obedecesse aos critérios tradicionais de tempo de serviço, publicação de artigos, ascensão acadêmica, concurso público auditado. A prova da Secretaria de Educação, cheia de erros, está longe de avaliar corretamente a qualidade do professor. Além do mais, deveria ter a aprovação da categoria. Impor uma prova contra a vontade dos professores foi um gesto extremamente cruel e autoritário.

É muito mais importante que a base salarial seja digna, e que as condições de trabalho sejam melhores. As escolas devem receber material e obras de infraestrutura, para que se tornem mais atrativas e mais agradáveis. A criação de disparidades arbitrárias, através de critérios débeis e duvidosos, entre as rendas dos professores, apenas dará motivo para insatisfação e desconforto.

Casualmente eu estive, semana passada, na manifestação dos professores paulistas, diante do MASP. Impressionou-me muito. Centenas de plaquinhas com nomes de cidades do estado. Campinhas presente, Jundiaí presente, Marília presente, Ribeirão Preto presente. Eles vieram de toda a parte, com pouco dinheiro no bolso, grandes esperanças na cabeça, muita coragem no peito. A maioria mulheres, jovens ou senhoras. Cheias de energia, empunhando plaquinhas e faixas de protesto.

Era um protesto tão autêntico, tão sincero, que na verdade não correspondia apenas à questão salarial dos professores paulistas. "Não queremos bônus, queremos salário", gritavam os manifestantes. Mas o espírito que animava aquela manifestação era muito mais antigo. Lembrei-me, emocionado (e desculpe o diletantismo pedante), das terríveis lutas sociais da Roma antiga, que eu havia lido há pouco em Tito Lívio. A plebe e seus líderes contra os patrícios.

Tudo aquilo se repetia ali, na minha frente. Pouco mais adiante, já um pouco afastado do burburinho, eu cruzei com uma senhora que falava sozinha:

- Bando de vagabundos! Ordinários!

Olhei espantado. Ela vestia-se impecavelmente. Tinha um penteado que devia ter-lhe custado duzentos e quarenta reais, e entrou numa agência do Bradesco da Avenida Paulista. Não pude evitar um sorriso triste diante daquele simbolismo tão cru, tão brutal. Ela xinga os professores e entra no Bradesco. Meu espanto adveio do ódio profundo que emanava de sua voz, de seu olhar. Senti ali uma faísca da guerra interclassista. No ódio da madame pude ouvir os discursos de Appius Claudius contra a plebe.

Algumas poucas semanas atrás eu estava lendo exatamente... Títio Lívio. As partes mais interessantes do primeiro volume são as lutas sociais em Roma. Plebeus versus patrícios. Ambos alternam vitórias e derrotas. É interessante, porém, observar que, apesar das sucessivas vitórias patrícias, os plebeus sempre ganham no final. As leis romanas, em seu ir e vir reacionário ou revolucionário, acabam sempre dando ganho de causa aos plebeus. Porque eles formam a grande maioria. Porque são combativos. Nunca desistem de seus sonhos. São guerreiros. São corajosos. São romanos. A grandeza romana, portanto, está ligada visceralmente às vitórias de sua classe trabalhadora. A ascensão de Júlio César é seu triunfo final, pois César era ligado aos "populares", o partido da esquerda romana.

Esse triunfo, infelizmente, corresponderá ao fim da democracia. Não é César, todavia, o carrasco maior da república. São as classes conservadoras, com seu egoísmo inquebrantável, sempre querendo amealhar todas as terras e sempre especulando com o preço dos alimentos, que levam o império a quase se desfazer em pedaços, forçando uma situação onde somente um ditador poderia estabelecer a paz social.

*

Esqueçamos Roma, contudo, até porque estou simplificando tudo horrivelmente. A ditadura, em breve, irá golpear, como sempre, o lado mais fraco, os trabalhadores; e o império começará, a partir daí, a desmoronar. Enfim, voltando ao presente, temos aqui um material profundamente vivo, terrivelmente vivo, para analisarmos. Nesta sexta-feira 26 de março de 2010, dezenas de milhares de professores protestaram mais uma vez contra o governador José Serra.

Eu acompanho a luta dos professores de São Paulo desde o início. Desde que a secretaria de educação decidiu reformar a política de remuneração e carreira dos professores sem o mínimo respeito aos anseios e propostas dos próprios professores. As associações e sindicatos da categoria foram, desde sempre, ignorados, tratados como inimigos, desprezados. Com apoio irrestrito da mídia, que, aliás, nunca se posicionou ao lado dos professores.

Então volto rapidamente a Tito Livio. A educação é também uma espécie de guerra. Contra a ignorância. Os professores são os soldados. Lembrei que, na Roma Antiga, quando os soldados, por razões politicas, estavam insatisfeitos com seus generais, eles perdiam deliberadamente as batalhas. Foi assim, inclusive, que os plebeus arrancaram tantas vitórias aos patrícios. Eles ameaçavam entregar Roma a seus inimigos se os patricios não lhes fizessem justiça. Preferiam ser dominados por outros povos a ser escravizados por seus próprios conterrâneos. Por outro lado, não se pode acusar os soldados e plebeus romanos de antipatriotismo. Ao fim, eles sempre acabavam lutando por seu país, e sempre demonstraram infinita paciência e moderação em suas demandas.

Entretanto, como o senhor Paulo Renato, secretário de educação de São Paulo, pretende dar combate à ignorância no estado, se não respeita os soldados desta guerra? Como ele pretende entusiasmar os professores do estado dando-lhes vale-refeição de quatro reais? Desmerecendo seus sindicatos? Mandando espancar os professores?

O secretário de educação deveria ser aliado dos professores. Deveria proteger-lhes. Assim como o governador. José Serra, porém, não dialoga. Mais de quarenta mil professores protestam diante do palácio Bandeirantes, e o governador simplesmente desaparece. Pior, deixa que a polícia reprima o protesto.

O mais grave de tudo, porém, é a ofensa moral. Quando o governador e seus aliados na mídia tentam descaracterizar a luta sindical como mero instrumento de campanha eleitoral e partidária, dizendo coisas do tipo: "essa greve é política; é coisa do PT; é trololó petista; etc", quando age assim, Serra denigre gravemente a própria democracia, e a própria política.

Greves ou manifestações, mesmo quando procuram se ater exclusivamente a reivindicações salariais, sempre serão políticas. Esse aspecto político, longe de ser um "defeito", como Serra sugere, é o aspecto mais nobre de uma greve. Os trabalhadores não querem apenas salários. Exigem o direito de participarem das discussões políticas que moldarão o seu futuro.

A chave do sucesso de Lula, e Serra e seu secretários deveriam ter aprendido isso, é que ele nunca inventou nenhuma reforma mirabolante. Lula sempre discutiu as reformas com as próprias categorias que seriam afetadas. Vamos melhorar o ensino? Chamem os professores, chamem seus sindicatos, e vamos discutir, juntos, o que é melhor para a categoria. Serra não fez isso. Pretendeu impor, autocraticamente, ditatorialmente, reformas de cima para baixo, ignorando, desprezando, humilhando, os anseios e os sonhos de centenas de milhares de professores.

Falta bom senso aos tucanos. Como eles pretendem melhorar a educação do estado desta maneira, punindo os professores? Dando bônus em vez de salário? Como eles pretendem incutir o entusiasmo necessário? O combustível do reacionarismo, na maioria das vezes, é a estupidez e a falta da capacidade de se pôr no lugar do trabalhador. Não é preciso grande capacidade intelectual para imaginar que os professores precisam de condições psicológicas adequadas. O professor tem de estar tranquilo e satisfeito para poder ser um bom profissional. Mesmo se recebesse o triplo do que recebe hoje, mesmo se as condições de infraestrutura das escolas fossem maravilhosas, mesmo assim seria uma profissão difícil, porque não é mole enfrentar sozinho a teimosia e ignorância de dezenas de pestinhas. Entretanto, Serra pretende que os professores enfrentem tudo isso sem salário, sem condições estruturais, e ainda por cima sendo humilhados com mudanças autocráticas, de cuja formulação não participaram, e com as quais não concordam.

*

Não digo que o governo deva ficar refém dos sindicatos. Mas que mantenha uma discussão aberta, transparente. Se Paulo Renato decidira fazer uma reforma que contava com oposição dura da Associação dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), deveria, no mínimo, ter feito um debate público, para que as opiniões pudessem ser confrontadas democraticamente e acompanhadas pela sociedade. Esse tipo de decisão de gabinete, fechada, formulada misteriosamente, pode servir para aumentar juros ou mexer no câmbio, mas não se pode agir assim em situações que afetarão profundamente a vida de 200 mil profissionais de ensino e milhões de crianças.

A história ensina que arrogância patrícia, quando tem o poder político e econômico, consegue esmagar facilmente as manifestações de insatisfação da plebe. Mas essa facilidade é sempre aparente e provisória. Porque a plebe, a cada derrota, ressurge mais forte. Mais violenta. Mais dura. O que os patrícios não conseguem compreender é que, à diferença deles, a plebe luta por sua própria vida. Quando se sabe que o vale-refeição do professor paulista é de 4 reais, está claro que sua luta (e isso, mais que tudo, é uma luta política!) é também por sobrevivência. E a luta pela sobrevivência é do tipo da qual não se pode nunca desistir, porque é uma luta de vida e morte.

Os tucanos deveriam aprender que a política de educação não deve se medir apenas por pontinhos a mais ou a menos na prova da Saresp. Observando aqueles milhares de professores se manifestando em frente ao MASP, eu vi que o professor luta acima de tudo por sua dignidade e pelo direito de ser feliz. Constatei ainda que o PSDB, ao acusar a Apeoesp de fazer política partidária pró-PT, apenas humilha os professores, que sabem, no estômago, que não lutam pelo PT, e sim porque a merda de seu vale-refeição não paga nem um lanche, quanto mais um almoço! Com seu discurso preconceituoso (porque discrimina o sindicato e o professor por terem um partido político), o PSDB apenas empurra o professorado para a esquerda, produzindo mais um núcleo duro antitucano no estado.

A experiência da luta sindical, por parte dos professores, por outro lado, está produzindo novas lideranças. Esta é a beleza e a profundidade de tudo isso, porque não falo somente de lideranças políticas, sindicais e partidárias. Falo de liderança, ponto. Voltarão para suas escolas com o espírito mais amadurecido, e quando explicarem aos alunos a história da humanidade, terão, em sua mente, em seu coração, um grande arsenal de exemplos de solidariedade, coragem, astúcia, dor e medo, que somente a luta, a terrível luta da vida, pode nos ensinar.

25 de março de 2010

Blogueiro no trampo

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Tive que voltar ao Rio para fazer uma matéria, receber o pagamento por outra, e solucionar imbróglios domésticos. Ficarei fora do ar por alguns dias. Mas está tudo bem. As coisas melhoraram um pouco.

24 de março de 2010

Respeitando o consumidor

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Atendendo a pedidos de todos, o preço da assinatura da Carta Diária volta a R$ 50,00. Lembrando: é um serviço com análises exclusivas do autor do blog, enviado diariamente (segunda a sexta) por email para os assinantes. 


Clipping de matérias interessantes

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1) A que eu mais gostei foi esta, com pesquisa informando que PSDB e DEM devem perder espaço no Senado.

2) Também no Vermelho. Matéria que aborda as dificuldades de Serra em encontrar um vice.

3) Nessa aqui, encontramos interessante depoimento de Marco Aurélio Garcia sobre a política externa brasileira. Vale até citar um trecho:

“Nossa política externa não é simplesmente um elemento decorativo ou um bibelô na vitrine do governo, mas é um elemento consubstancial em nosso projeto de desenvolvimento nacional”, disse.

Garcia defendeu que o Brasil assuma cada vez mais seu papel de protagonista nas grandes questões internacionais: “A política externa atual tem a capacidade de suscitar questões que estavam antes encobertas por alguns interesses e colocar em discussão temas que são fundamentais para o futuro da humanidade e para o futuro do Brasil em particular”.


4) Reproduzo ainda uma matéria importante publicada no Valor desta quarta-feira, sobre a luta dos sindicatos de São Paulo contra o governador:

Sindicatos articulam protestos contra Serra

Os principais sindicatos de São Paulo nas áreas de Educação, Saúde e Segurança vão intensificar os protestos e greves até a desincompatibilização do governador do Estado, José Serra (PSDB). Eles pressionam por aumento salarial, reajuste do vale-alimentação e alteração no plano de carreira. A maioria das entidades é vinculada à CUT, PSOL e PSTU.

O governo compromete 41,2% da receita com pessoal, abaixo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, de 46,5%. "Preferimos investir em obras que poderão ser usadas por toda sociedade", diz o secretário de Administração, Sidney Beraldo. Para ele, as greves têm o objetivo de "prejudicar a campanha de Serra à Presidência".

Sindicatos planejam ato conjunto contra Serra

Cristiane Agostine e Vandson Lima, de São Paulo

Os principais sindicatos de São Paulo nas áreas de Educação, Saúde e Segurança intensificarão protestos e greves até a desincompatibilização do governador do Estado, José Serra (PSDB), prevista para o dia 02 de abril. Juntos, os servidores das três áreas representam cerca 66% do total de funcionários na ativa do governo do Estado.

Os manifestantes pressionam por aumento salarial, reajuste do vale-alimentação e alteração no plano de carreira. A maioria dessas entidades é vinculada a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e a partidos radicais de esquerda, como P-SOL e PSTU.

Dirigentes sindicais afirmam que o diálogo com a administração estadual melhorou na gestão Serra, mas reclamam que o governo pouco cedeu às reivindicações classistas. A avaliação, em geral, é que o governo tem-se mostrado mais disposto a receber as entidades, com reuniões mais frequentes. Ao mesmo tempo, não permite avanços na recomposição salarial.

Em greve há três semanas, professores planejam um protesto na sexta-feira em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo. A principal entidade articuladora da greve é a Apeoesp, vinculada à CUT, cuja presidente, Maria Izabel Azevedo Noronha, é filiada ao PT. Ontem, professores protestaram em frente à Secretaria Estadual da Educação e na Assembleia Legislativa, em audiência pública organizada pelo deputado Roberto Felício (PT).

A categoria pede um reajuste salarial de 34%, rejeitado pela secretaria. O sindicato dos professores quer, ainda, o fim do Programa de Valorização pelo Mérito, que concede aumento de 25% para um quinto do magistério a cada ano, mediante a realização de uma prova. Para a Apeoesp, o ideal seriam programas de formação continuada durante a jornada do professor.

A Secretaria de Educação condena o movimento que, em sua avaliação, tem caráter político. Por conta disso, instituiu o corte do ponto dos grevistas, com desconto salarial relativo às faltas. Em nota, o governo diz que "deve ser a primeira vez na história do movimento sindical" que uma entidade fica contra um plano de carreira que permite aumento salarial de 25% anual". "Política é a posição deles (governo estadual), de não nos receber. Meu sindicato é dirigido por várias configurações partidárias", diz a presidente da Apeoesp.

Na área da Saúde, o principal sindicato, SindSaúde, planeja fazer um protesto bem-humorado no centro de São Paulo no dia 31, às vésperas de Serra deixar o cargo. A entidade deve contratar um chefe de cozinha para mostrar o que é possível comer com os R$ 4 do "vale-coxinha", como o vale-refeição é apelidado pelos servidores.

O sindicato, também vinculado à CUT, organizou uma paralisação de 48 horas, na segunda-feira e na terça-feira, para pressionar o governo por um aumento salarial de 40% e pelo reajuste do vale-alimentação para R$ 14. Entre as reivindicações estão a jornada de trabalho de 30 horas, a reformulação do bônus e o fim das Organizações Sociais. O sindicato diz ter 26 mil filiados, de um total de 110 mil servidores, e ameaça intensificar a greve a partir do dia 31. A Secretaria de Saúde minimizou o protesto e informou que não houve paralisação do atendimento em unidades de saúde, só piquetes.

O secretário-geral do SindSaúde entidade, Helcio Marcelino, diz que a relação com o governo estadual melhorou e disse ter construído em conjunto um projeto de lei com as reivindicações. "Mas o texto não foi encaminhado à Assembleia Legislativa", reclama. Segundo o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, o governo decidiu reter o projeto por conta de restrições orçamentárias (veja reportagem nesta página).

A área de Segurança, que protagonizou a pior greve enfrentada por Serra, em 2008, também organiza sua greve às vésperas da desincompatibilização do governador. Ontem, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp) decidiu iniciar uma "operação padrão" para mostrar a "estrutura defasada da instituição" . A categoria pressiona pela aprovação de um projeto de reestruturação da carreira. A princípio, não haverá greve, segundo a presidente da associação, Marilda Pansonato Pinheiro. A dirigente, no entanto, prevê a paralisação total se o governo estadual não se mostrar disposto a negociar.

5) Também gostei muito do posicionamento, como sempre digno e corajoso, do professor Venício Lima.

6) Por fim reproduzo artigo, lúcido como de praxe, de Marcos Coimbra, publicado hoje no Correio Braziliense. Nele, Coimbra questiona a viabilidade da candidatura Ciro Gomes e observa que será vão, por parte de alguns candidatos, tentarem empunhar a bandeira da continuidade quando esta bandeira já tem dono: Dilma.

Sobre Ciro, vale alguns comentários. Me parece que o deputado perdeu o timing. Não acreditando talvez no potencial de Dilma como candidata, Ciro deixou-se levar pela visibilidade fácil que a mídia lhe dá sempre que critica o PT. Deixou passar ainda a oportunidade de se lançar por São Paulo, firmando pé no estado mais poderoso do país. No entanto, respeito a escolha de Ciro. Provavelmente ele não se entende com a turma do PT-SP, que é osso duro mesmo. A impressão que eu tenho é que Ciro não quer deixar Serra em paz. Se for o caso, talvez seja interessante que permaneça na campanha presidencial. Poderá desempenhar um papel mais agressivo que Dilma nos ataques ao que a oposição representa. Se chances de vitória e sem grandes perspectivas de arrecadação, Ciro terá muito mais liberdade que Dilma para encarar de frente a luta ideológica. Por outro lado, também seria uma sinalização extremamente positiva, para ele e para o país, se declarasse apoio à Dilma e se incorporasse à luta eleitoral a seu lado. Teria um significado político relevante, e demonstraria coerência com o apoio que Ciro presta ao presidente Lula.


Continuidade e mudança

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Pelo que afirmam Serra, Ciro e Marina, nenhum deles, ganhando, mudaria as coisas que dão certo, o que não quer dizer nada para o eleitor.

Depois que concedeu sua entrevista-revelação, o governador José Serra entrou em campo. Deixemos de lado a discussão de por que resolveu fazê-lo de forma tão estranha, creditando sua escolha ao pendor que demonstra ter pelo inusitado. Das muitas coisas extraordinárias que fez nesta campanha e das muitas que, provavelmente, fará até a eleição, foi apenas mais uma.

Com ela, salvo algo ainda mais esquisito, só resta uma dúvida a respeito do cardápio que o sistema político vai apresentar aos eleitores em 3 de outubro. Terá Ciro Gomes gás para manter sua candidatura? Conseguirá atrair apoios fora do PSB para aumentar seu tempo de televisão? As chances não são grandes, considerando o realismo com que se movimentam as siglas ainda não comprometidas. O mais provável é que acabem por preferir um dos polos principais.

Se ele e Marina ficarem no páreo, a hipótese de uma decisão no primeiro turno se reduz muito. Mesmo com pouca televisão, a soma de seus votos deverá ficar, no mínimo, em torno de 15% (pelo que dizem as pesquisas atuais), aos quais se deve acrescentar algo perto de 3% , que é uma estimativa razoável do que farão os vários nanicos que se animam a concorrer. Nem Dilma nem Serra, mesmo nos sonhos mais otimistas, imaginam que terão vantagem tão grande, maior que 20 pontos percentuais, sobre o outro.

Sem Ciro, a possibilidade aumenta. É bom lembrar que o deputado é a primeira opção de quem só conhece dois candidatos, ele e o governador de São Paulo. Muitos de seus eleitores poderão, portanto, se interessar por outras possibilidades, à medida que as conhecerem na campanha. Dilma, principalmente, mas também Marina, vão receber parte expressiva do voto que ficará órfão se ele não garantir a candidatura. Hoje, esse voto tende a ir quase todo para Serra.

Não importa tanto, porém, se o desfecho se dará no começo ou no fimde outubro. Passa-se o tempo e o que permanece é quem ganhou, independentemente de ter sido em uma consagradora vitória no primeiro turno ou em uma disputa apertada no segundo. Para o que Lula é hoje, faz alguma diferença ele ter tido que enfrentar Alckmin duas vezes em 2006? Seria ele maior se tivesse vencido de uma vez?

O fato é que será nossa primeira eleição presidencial com um ingrediente que, na democracia, é inteiramente habitual: uma candidatura que se apresenta com a bandeira da continuidade, que promete que vai manter tudo o que faz o governo. Isso, no Brasil, já énormal nos estados e nos municípios, mas ainda não aconteceu em uma eleição de presidente da República excluídos os casos de reeleição,que são bem diferentes). E não é por acaso, pois é a primeira vez que um governo chega ao fim melhor do que começou, com um nível de aprovação popular que é mais que o dobro das expectativas positivas que reunia quando era apenas uma promessa, lá em 2002.

Na política, como em outras coisas da vida, quem ocupa uma posição limita as possibilidades de quem vem a seguir. Dilma encarna a continuidade com naturalidade (pois fez e faz parte do governo) e legitimidade, que lhe é assegurada pela única pessoa em condição de fazê-lo: Lula. Se o governo é dele, cabe a ele (e só a ele) dizer quem o simboliza na eleição. Ninguém pode se apresentar como continuidade sem seu endosso.

Só resta aos outros concorrentes um lugar igualmente nítido: o da descontinuidade, ou seja, da mudança. Ainda que nenhum candidato (fora Dilma) queira, a eleição vai se tornar, mais cedo ou mais tarde, um confronto entre continuidade e mudança.

Pelo que afirmam Serra, Ciro e Marina, nenhum deles, ganhando, mudaria as coisas que dão certo, o que não quer dizer nada para o eleitor. Segundo as pesquisas, o que a maioria deseja não é uma promessa tão óbvia, mas algo mais concreto: a continuidade mesmo, a que querem as pessoas que se encontram satisfeitas com a situação que vivem.

Quando estão insatisfeitos, os eleitores querem mudança e a procuram nas diversas formas que pode assumir, no centro, na direita ou na esquerda, de acordo com suas convicções. A mudança tem vários rostos.

A continuidade, ao contrário, é uma só. Para os que a preferem, basta saber quem a representa.

Rembrandt e o lixeiro

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Tenho um trabalho delicado a fazer aqui. Preciso de muita calma e inspiração. E cuidado, pois receio que as musas, diante do tema a ser tratado, fugirão espavoridas. É um tema político, mas tenham paciência. É tão barra pesada que, para vos preparar o espírito, ornamentá-lo-ei com observações elegantes sobre uma das obras mais belas da arte ocidental. Refiro-me ao Autorretrato com corrente de ouro (reproduzido acima), de Rembrandt, um dos meus pintores prediletos. Hoje o blogueiro saiu de sua quitinete alugada, na Avenida Paulista, andou alguns metros e entrou no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP), que gentilmente não cobra ingresso às terças-feiras.

Além de uma grande exposição de Marc Chagall no primeiro andar, há uma outra no segundo ainda mais interessante, com obras-primas dos maiores nomes da arte moderna, e mesmo alguns renascentistas. Tem Van Gogh, Cézanne, Gauguin, Renoir, Degas, Manet, Monet, Toulouse-Lautrec, Delacroix, Picasso, Modigliani, Soutine, e outros grandes. Vários de cada um desses. O quadro que mais me emocionou, porém, foi o já citado autorretrato.

Fiquei quase dez minutos contemplando a obra, tentando imaginar o sentido daquela expressão facial. Nas pinturas mais modernas, que vi na mesma exposição, reparei que o humanismo não está mais no conteúdo, mas nas formas. Nas cores, nas linhas, nas tênues distorções. Em Rembrandt, porém, ainda encontramos o velho humanismo renascentista, com sua beleza narrativa, concentrada no personagem retratado, no olhar, na expressão do rosto do próprio artista. Ele olha para si mesmo com espanto, curiosidade, um deslumbramento contido, uma pitada de sarcasmo, outra de humor, e um tanto de compreensão amorosa. Na verdade, pensei, Rembrandt conseguiu reproduzir o sentimento humano perante a arte. E, o que é a mesma coisa, o sentimento do artista perante a vida.

Não fujam agora, ó Musas, quando souberem com que irei comparar os olhos tristes e inteligentes de Rembrandt! Não fujam e controlem seu riso nervoso, porque o assunto é sério, e tentarei explicar em seguida porque eu penso assim.

Comparo o olhar de Rembrandt com meu próprio olhar diante de algo de que somente hoje me inteirei: o artigo de Roberto Jefferson, publicado na Folha dias atrás, e a notícia de que se tratava de um plágio de... Olavo de Carvalho.

Durante intermináveis minutos, meus olhos pousaram imóveis e curiosos na tela do computador e meu rosto assumiu feições similares a do autorretrato de Rembrandt. O que pensar? O que sentir? Há coisas na vida que, definitivamente, fogem a qualquer compreensão, e que, inclusive, dificilmente serão jamais retratadas na ficção. Que novelista brasileiro poderia conceber algo tão incrivelmente grotesco como um artigo de Jefferson publicado na Folha - e plagiado de Olavo de Carvalho!

Uma palavrinha sobre Olavo de Carvalho. Qualquer um que participa minimamente das lides ideológicas nacionais sabe quem é a figura. Ele escreveu para a grande imprensa durante anos. Eu lia seus artigos - textos totalmente psicóticos. O cara possuía - e ainda possui, mas hoje está um pouco alquebrado pela desmoralização sistemática de suas próprias idéias - uma desenvoltura incrível, que somente o seu descompromisso com a realidade lhe permitia. Sempre o achei um idiota completo, mas me intrigava que lhe dessem tanta atenção. E li seus livros. Acreditem, ele é mais imbecil nos livros do que nos artigos. Sobre o que vocês acham que ele discorre em seus livros de filosofia? Pois é, podem acreditar, ele fala do PT... Em meio a um texto pseudo-filosófico, ele sempre dá um jeito de falar do PT, defender Collor, e demais profundidades...

Só ódio, preconceito, terrorismo ideológico.

E agora esse encontro perfeito. Jefferson e Olavo de Carvalho! Não deixa de ter um aspecto sumamente hilário! Pra ser franco, é só por esse aspecto que topei reproduzi-lo aqui juntamente com a desculpa esfarrapada de Jefferson. O criador do mensalão conseguiu se autodesmoralizar e desmoralizar o maior guru dos nazistinhas brasileiros.

*

Respirem um pouco. Podem tomar um cafezinho, porque tem mais.

*

Musas, permaneçam! Ah, fugiram. Eu entendo. Como alguém pode pretender a companhia das musas num texto sobre Roberto Jefferson e Olavão? Continuo mesmo assim.

*

Bem, agora falarei do famigerado artigo, que reproduzo abaixo, prefaciado por um pedido de desculpas pelo plágio feito, conforme está no blog do deputado. Leiam-no se puderem, ou pelo menos passem a vista. Comento em seguida.

Esclarecimento

No início deste ano, um colaborador petebista mandou-me um excelente e extenso texto para reflexão sobre o momento político pelo qual passava o Brasil. A princípio pensei em publicá-lo no site do partido, mas não o fiz, esperando uma melhor oportunidade. Acabei subscrevendo as idéias a mim enviadas - que me pareciam perfeitas -, já que se ajustavam ao meu pensamento. Mexi no texto, incluí parágrafos que julguei pertinentes, enfim, editei-o à minha maneira. Ainda me lembro que, quando mostrei as mudanças, o colaborador reclamou que eu havia mexido no seu texto. Mas acabou concordando com as alterações e com o envio do artigo por mim à "Folha de S.Paulo".

Só hoje, porém, alertado por internautas, vim a saber que o texto-base que deu origem ao artigo publicado na "Folha de S.Paulo" é de autoria do senhor Olavo de Carvalho. Peço desculpas ao autor e à "Folha", pois eu não tinha conhecimento disso.

Chancelo as idéias de Olavo de Carvalho no seu artigo, pois as minhas convivem harmonicamente com as suas. E acho, sinceramente, que o texto dele, na íntegra, ainda é melhor do que o meu, com todas as correções que fiz e aditei.

O artigo assinado por mim na "Folha":


São ideológicos, por isso corrompem

As oligarquias aliaram-se ao PT pensando que iriam dominá-lo, mas se deu o contrário, porque elas não têm projeto

Um dos traços constantes da vida brasileira é a coexistência de dois tipos heterogêneos e incomunicáveis de política: a "profissional", cuja única finalidade é o acesso a cargos públicos para a conquista de benefícios pessoais ou grupais, e a socialista (ou "capitalismo burocrático-corporativo", como define o sociólogo Fernando Henrique Cardoso), empenhada na conquista do poder total sobre a sociedade.

A segunda vale-se ocasionalmente dos instrumentos da primeira, mas, sobretudo, cria os seus próprios: os "movimentos sociais" (o adestramento de formidáveis massas militantes dispostas a tudo), a ocupação de espaços na administração federal e em áreas estrategicamente vitais e, por último, mas não menos importante, a conquista da hegemonia cultural.

As próximas eleições vão opor, numa disputa desigual, a política socialista à profissional. Esta emprega os meios usuais de propaganda, enquanto aquela utiliza todos os meios disponíveis (inclusive os heterodoxos).

O político profissional tem a seu favor somente os eleitores, que se manifestam a cada quatro anos e depois o esquecem, enquanto o socialista tem a vasta militância, pronta a matar e a morrer por quem personifica suas aspirações.

O voto, ainda que avassaladoramente majoritário, não afiança ninguém no poder. O que garante a supremacia é a massa organizada, disposta a apoiar o eleito todos os dias e por todos os meios. Vejam a situação da governadora do Rio Grande do Sul: quando a oposição se vangloriou de ter "varrido o PSDB do Estado gaúcho", não percebeu que tentara expulsá-lo apenas de um cargo público.

O maior erro que as débeis oposições cometem é não saber enfrentar o modelo político socialista.

É de acentuar que a quase totalidade do empresariado nacional já foi cooptada e aceita naturalmente o petismo, que se adonou e faz uso do histórico caráter patriarcal do Estado brasileiro -sedimentado pela ditadura militar- em seu benefício.

O estatismo foi reconfigurado. É mais fácil controlar mecanismos reguladores (em todos os níveis) e instâncias de fomento e financiamento, que tornam reféns de seus interesses os capitães da indústria privada.

Na discussão orçamentária, os políticos profissionais preocupam-se apenas com emendas que podem fortalecê-los em suas bases, proporcionando-lhes benefícios particulares. Nenhum deles confronta a tradição doutrinária de controle da máquina pública e do exercício do poder, delineada desde Maquiavel.

Seguidor de Lênin, Trótski, Stálin e Gramsci, o petismo, por meio de seu núcleo dominante, abriu mão da luta armada, mas não do objetivo revolucionário. E valem-se da União, a garantidora de empréstimos a municípios e Estados. É o clientelismo, dos quais são porta-vozes os políticos de todos os partidos, que, assim, jogam pelas regras estabelecidas por aqueles que detêm o poder decisório.

A eventual saída do PT da Presidência, porém, não mudará esse quadro. Porque os aparatos administrativo-arrecadadores (Receita Federal, INSS) e fiscalizadores senso estrito (policial e judicial), além da órbita cultural, foram aparelhados.

O PT detém controle também sobre os sindicatos, o funcionalismo público, o aparato repressivo (MPF e PF, usados para destruir seus inimigos, fazendo terrorismo e chantagem política), os estudantes, os camponeses, a igreja, a intelectualidade artística, universitária e jurídica.

Se eleito, portanto, José Serra vai comandar uma máquina estatal dominada por adversários, muitos deles indicados para atuar em tribunais superiores. Sem esquecer o MST, que mantém acampamentos ao longo das principais rodovias (e pode, a qualquer momento, paralisar o país).

No Brasil, hoje, não há mais escândalos. Ficam uma semana nos jornais e na TV, depois ninguém mais se lembra deles. Não produzem consequências judiciais, porque o sistema é pesado e dominado por uma processualística interminável, da qual decorre a impunidade. O caso do mensalão é emblemático.

O PT deu caráter rotineiro a tudo isso na vida brasileira. As oligarquias aliaram-se ao partido pensando que iriam dominá-lo, mas se deu o contrário, porque elas não têm projeto.

O PT, contudo, tem, e o põe em prática planejadamente, sistematicamente, em todos os níveis. Segue a lógica da revolução, quer construir o socialismo (quem sabe à maneira de Fidel, que Lula e sua turma tanto incensam?). Os petistas acreditam nisso. Não são apenas corruptos, são ideológicos e, por isso, corrompem. E, no processo de destruição, vale tudo.

Para combater a hidra, é preciso conhecê-la, armar-se e propor um projeto diferente de país. Não se enfrentam tanques com bodoques, mas com mísseis. E, se vierem mísseis em represália, joga-se a bomba atômica.

Quem vai fazer isso?


Entendem agora minha expressão rembrantiana? O que devo sentir? Pena? Raiva? Hilaridade? Receio? Tenho um menu completo de emoções para escolher. Acho que vou de hilaridade. É mais digno. Jefferson apóia fervorosamente José Serra, mas o governador não tem culpa disso. O patético é que o PTB em peso tende a apoiar Dilma. Ou seja, o apoio de Jefferson sequer tem utilidade para a oposição.

Voltando ao artigo, observo que li o original de Olavo de Carvalho, o que serviu de modelo. É a mesma coisa. Para dizer a verdade, o de Jefferson está inclusive mais bem escrito, por incrível que pareça. Jefferson aparou um pouco as arestas psicóticas do texto olaviano, embora tenha agregado coisas grotescas.

Vocês devem estar se perguntando: pô, Miguel, por que perder tempo com esse lixo? Daí entra o título do post. Justamente, alguém tem de ser lixeiro na blogosfera. Aliás, precisamos de muitos lixeiros, porque a coisa tá feia. Além disso, esse caso tem um aspecto suficientemente grotesco para merecer espaço nos anais deste blog. Jefferson e Olavo saltitam e fazem caretas quais personagens de Bosch (cuja obra As tentações de Santo Antão também está na exposição do MASP).

Reparem nesse trecho. Será o único que irei analisar, porque ele resume o espírito de todo o texto:

O PT detém controle também sobre os sindicatos, o funcionalismo público, o aparato repressivo (MPF e PF, usados para destruir seus inimigos, fazendo terrorismo e chantagem política), os estudantes, os camponeses, a igreja, a intelectualidade artística, universitária e jurídica.

Por Zeus! Faltou falar que o PT domina a ONU, a Casa Branca, o Mercosul, o governo da China e a União Européia!

Sabe o curioso desse tipo de raciocínio? Não dá para saber se o autor é ingênuo, louco ou imbecil. O que eu não entendo é como alguém pode achar Olavo de Carvalho inteligente (ok, o trecho é de Jefferson, mas Olavo diz coisa parecidas e até piores). Quer dizer, eu sei. Por medo. O cara é terrivelmente agressivo. E também por simplicidade. O pedantismo do Olavo assusta as pessoas. Ele chama todos de ignorantes. Só ele leu os livros. O papel aceita tudo. O papel é submisso. E Olavo se aproveita e chicoteia o papel sem pudor.

Bem, voltando ao trecho citado, tirante o evidente exagero, ele trata os grupos sociais e as instituições democráticas com um desrespeito inacreditável. É coisa de maluco mesmo. Sabe-se lá como alguém chegou a esse estado. Ele esquece, por exemplo, que os sindicatos compõem-se de seres humanos dotados de independência intelectual, e que ninguém seguirá cegamente nenhuma orientação partidária. Stálin teve que prender alguns milhões antes de conseguir algo próximo a obediência completa, e nem assim. Olavo Jefferson não vê pessoas. Seu antidemocratismo é tão acentuado, grotesco, pavoroso, que ele desumaniza as entidades sociais a que se refere.

Na verdade, o que assusta Olavo Jefferson é a militância cidadã, é a própria cidadania - e o fato desta cidadania não se comportar da forma como ele, Olavo Jefferson, pensa que ela deveria se comportar. Ou seja, ele é tão imbecil que acha que o trabalhador não deveria lutar por si mesmo, por melhores salários; que o pobre não deveria lutar para que o governo lhe oferecesse mais assistência.

Como alguém pode falar que o PT "detêm" o controle sobre os estudantes? Por acaso, o PT possui alguma fórmula mágica para dominar a mente de milhões de jovens? Bem, qualquer um percebe a estultícia e a loucura desse tipo de afirmação. Nem espanta que a Folha publique um lixo desse. Nem higiênica a Folha é mais.

Dedico este post, portanto, aos garis de todo Brasil. Afinal, após admirar a parceria literária de Jefferson e Olavo, com uma expressão facial que mescla perplexidade, bom humor e asco, é hora de botar as luvas grossas de lixeiro e fazer o que deve ser feito: lançar essas idéias doentias, antidemocráticas, pestilentas, na fossa profunda da história.


*

Abaixo o "original" de Olavo de Carvalho.

Pensem nisso

Olavo de Carvalho | 07 Janeiro 2010

Somente a política revolucionária entende o que é o poder na sua acepção substantiva. O velho tipo do político "profissional" entende apenas a disputa de cargos, confunde o mandato legal com a posse efetiva do poder.

Um dos traços constantes da vida brasileira é a coexistência de dois tipos de política heterogêneos e incomunicáveis: de um lado, a política "profissional" cuja única finalidade é o acesso a cargos públicos, compreendidos como posições privilegiadas para a conquista de benefícios pessoais ou grupais (acompanhados ou não de boas intenções de governo); de outro, a política revolucionária, empenhada na conquista do poder total sobre a sociedade e na introdução de mudanças estruturais irreversíveis. A segunda usa ocasionalmente os instrumentos da primeira, mas sobretudo cria os seus próprios, desconhecidos dela. Os "movimentos sociais", o adestramento de formidáveis massas militantes dispostas a tudo, a ocupação de espaços não só na administração federal mas em todas as áreas estrategicamente vitais e, last not least, a conquista da hegemonia cultural estão entre esses instrumentos, que para o político "profissional" são distantes e até incompreensíveis, tão obsessiva e autocastradora é a sua concentração na mera disputa de cargos eleitorais.

As próximas eleições presidenciais vão opor, numa disputa desigual, as armas da política revolucionária às da política "profissional". Estas últimas consistem apenas nos meios usuais de propaganda eleitoral, enquanto as daquela abrangem o domínio sistêmico de todos os meios disponíveis de ação sobre a sociedade: o político "profissional" tem a seu favor apenas os eleitores, que se manifestam uma vez a cada quatro anos e depois o esquecem ou passam a odiá-lo. O revolucionário tem a vasta militância organizada, devotada a uma luta diária e constante, pronta a matar e morrer por aquele que personifica as suas aspirações.

Nas últimas décadas a expansão maciça da política revolucionária colocou os políticos "profissionais" numa posição de impotência quase absoluta, que reduz a praticamente nada as vantagens de uma eventual vitória nas eleições.

Se eleito, o Sr. Jose Serra terá de comandar uma máquina estatal dominada de alto a baixo pelos seus adversários, a começar pelos oito juízes lulistas do Supremo Tribunal Federal. O PT e seus partidos aliados comandam, além disso, uma rede de organizações militantes com alguns milhões de membros devotos, prontos a ocupar as ruas gritando slogans contra o novo presidente ao primeiro chamado de seus líderes. Comandam também o operariado de todas as indústrias estratégicas e a rede de acampamentos do MST espalhados ao longo de todas as principais rodovias federais e estaduais: podem paralisar o país inteiro da noite para o dia. Reinam, ademais sobre um ambiente psicossocial inteiramente seduzido pelos seus estereótipos e palavras de ordem, a que nem mesmo seus mais enfezados inimigos ousam se opor frontalmente.

Somente a política revolucionária entende o que é o poder na sua acepção substantiva. O velho tipo do político "profissional" entende apenas a disputa de cargos, confunde o mandato legal com a posse efetiva do poder. Sem militância, sem ocupação de espaços, sem guerra cultural, não há domínio do poder. Fernando Collor de Mello pagou caro por ignorar essa distinção elementar: confiou na iniciativa espontânea de seus eleitores - massa espalhada e amorfa, incapaz de fazer face à força organizada da militância.

Não vejo no horizonte o menor sinal de que os adeptos do Sr. José Serra tenham aprendido a lição: hipnotizados pela esperança da vitória eleitoral, não vêem que tudo o que estão querendo é colocar na presidência um homem isolado, sem apoio militante, escorado tão somente na força difusa e simbólica da "opinião pública" - um homem que, à menor sombra de deslize, terá contra si o ódio da militância revolucionária explodindo nas ruas e será varrido do cenário político com a mesma facilidade com que o foi o ex-presidente Collor.

Há pelo menos vinte anos venho advertindo aos próceres antipetistas que o voto, ainda que avassaladoramente majoritário, não garante ninguém no poder: o que garante é militância, é massa organizada, disposta a apoiar o eleito não só no breve instante do voto mas todos os dias e por todos os meios. Vejam a situação da governadora do Rio Grande do Sul e entenderão o que estou dizendo: quando a oposição se vangloriou de ter "varrido o PT do Estado gaúcho", não percebeu que o expulsara somente de um cargo público.

Não desprezo as vitórias eleitorais, mas sei que, por si, elas nada decidem a longo prazo. E não vejo que, até agora, as forças de oposição tenham tomado consciência disso.

Sentimentos atrasados para Dalva Oliveira

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Eu fiquei sabendo da morte da Dalva Oliveira no momento em que ocorreu (início de março deste ano), mas só agora, precocemente esclerosado que sou, me dei conta de que eu também era amigo dela. Trocamos vários emails. Ela foi uma das primeiras assinantes da minha Carta Diária, e estava sempre se preocupando comigo quando eu reclamava de dores no braço e falta de grana - as lamúrias rotineiras deste blogueiro sofrido. Ela me enviava conselhos de saúde e mensagens de apoio. Antes tarde do que nunca, enfim, deixo aqui meus pêsames aos familiares e amigos dessa mulher tão carinhosa, que deixou para mim uma lembrança de imensa bondade e incomparável coragem.

23 de março de 2010

Extra! Arnaldo Jabor é roubado! Adivinha por quem? Lula, é claro!

43 comentarios

Sei que meus detratores vão falar que o blogueiro continua vampirizando a grande imprensa. Já respondi a isso alhures, não vou repetir agora. Dane-se. Esse artigo do Jabor é divertido demais. Não posso deixar passar essa oportunidade. O cara voltou a ficar depressivo. As tertúlias no Millenium não lhe fizeram bem.

Com perdão do palavreado chulo, NUNCA VI TANTA VIADAGEM!

Não me chamem de homofóbico, por favor. Estou em São Paulo, rodeado de amigos gays, e eles são hiper bem-humorados e resolvidos nessas coisas. Assim como se fala "machão", ou "mulherzinha", temos também o "viadinho". É um termo insubstituível. Querer eliminá-lo, aí sim é homofobia.

Tudo bem então? Posso continuar na boa?

O cara exagerou nos remédios, mêu!

Não tem preço ver o Jabor tão tristinho. Será que sua depressão tem algo a ver com o crescimento de Dilma nas pesquisas? Será? Ele começa acusando o governo de lhe roubar... a inspiração. Lula deu um nó na cabeça do pobre cineasta.

Comento nos intervalos do texto, em letra azul escuro.


A anormalidade ficou "normal"

Arnaldo Jabor

Quando comecei a escrever, jurei que jamais abriria um artigo com a velha técnica: Estou diante da página branca...mas falta-me um assunto ou a tela vazia do computador brilha pedindo um tema nada me ocorre. Jamais usei esta desculpa de articulista sem inspiração. E mantenho a promessa. Só que hoje não sou eu que estou sem assunto é o Brasil. O governo nos surripiou, entre outras coisas, o assunto. Lula repete o espetáculo permanente inventado por Jânio Quadros. E seus atos e fatos pautam o país.

É uma forma sutil de controlar a imprensa, obrigando-a a discutir ou refutar factoides que nos lançam o tempo todo. Somos obrigados a discutir falsas verdades, denúncias vazias, em meio ao delírio narcisista de que o Brasil é Lula, de que existimos para celebrá-lo ou odiá-lo.

Denúncias vazias? Acho que foi ato falho, héin?

Este primitivismo paralisa os acontecimentos nacionais. Ou pior, parece acontecer muita coisa no país, mas nada de real está se concretizando, além do óbvio previsto: estouro das contas públicas, obras de pacotilha, empreguismo, ideologismo ridículo e terceiro-mundista. Os escândalos parecem acontecimentos.

Nada de real acontecendo? Acho que FHC andou dando muita maconha pro Jabor... 

O PT encobre falcatruas em nome do poder, que eles chamam de ideal socialista ou algo assim. Tudo que acontece se coagula, coalha como uma pasta, uma geleca, um brejo de não acontecimentos onde tudo boia sem rumo. Ou então são eventos disparatados: um dia Lula está com o Collor; no outro, com o Hamas.

PT, o bicho-papão... Mas, que eu saiba, é o DEM que tem governador preso... E o Lula enlouqueceu Jabor: um dia com Collor, outro dia com Hamas, ah, meu Deus, esse Lula não sossega... Devia ter ficado quieto lá em Garanhuns...

Uma visão crítica e racional sobre o Brasil ficou inútil. A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Fica tudo boiando como rolhas na água. A sinistra política de alianças que topa tudo pelo poder planeja com descaro transformar-se numa espécie do PRI mexicano.

Desmontagem da razão... Uau! Governo Lula é o Heidegger da política! Ou seria Foucault? Ou Deleuze? Sei lá. Jabor agora decifra, analisa e comprova crimes e roubos!!! Faltou dizer que julga e condena! Pensei que essa tarefa cabia às autoridades competentes, conforme reza a Constituição, o bom senso e a democracia... Para Jabor, no entanto, nada disso tem valor. O que vale é seu EGO todo-poderoso, diante do qual o país deve se recolher em sua insignificância de merda.

Desmoralizaram o escândalo, as indignações, a ética (esta palavra burguesa e antiga para eles)... Esses pelegos usurparam os melhores conceitos de uma verdadeira esquerda que pensa o Brasil dentro do mundo atual, uma esquerda que se reformou pelas crises do tempo, antes e depois da queda do Muro de Berlim. Eles se obstinam em usurpar o melhor pensamento de uma genuína esquerda contemporânea, em nome de uma verdade deformada que instituíram.

Verdadeira esquerda? Onde está este Santo Graal? Ah, já sei. Está em algum lugar na sala de estar de Arnaldo Jabor. Genuína esquerda contemporânea? É um novo partido? GEC? Jabor poderia citar um representante desse GEC? Unzinho só?

Sinto-me um idiota (mais do que já sou, ai de mim...) e parece que ouço as gargalhadas barbudas de velhos sindicalistas como Vaccari, Vaccareza,Vanucci: Ahh, pode criticar...
estamos blindados, tanto quanto os companheiros Sarney ou Renan....

Agora sim, Jabor falou a verdade. Quanto ao companheiro Renan, Jabor está sempre esquecendo que ele foi MINISTRO DA JUSTIÇA DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO... Agora virou leproso, mas em tempos fernandistas, era uma pessoa cheirosa e agradável.

As velhas categorias para explicar o Brasil morreram. Já há uma pós-corrupção, uma pós-direita (disfarçada de esquerda).

Pós-corrupção? Jabor às vezes é inteligente demais para um pobre mortal compreendê-lo...

Somos uma sopa onde flutuam as eternas colunas sociais, com os sorrisos e as bundas nuas, as velhas madames e as novas peruas, os crimes, as balas perdidas, as revoltas nas prisões.

Ã? Essa da sopa e colunas sociais soa como um lamento por sua nova vidinha entre peruas...

Já vivi épocas de cores mais vivas. O pré-64 era vermelho, não só pelas bandeiras do socialismo, mas pelo sangue vivo que nos animava a construir um país, romanticamente.

Uh! Sangue vivo, antes... Hoje o sangue é morto...

Era ilusão? Era. Mas tinha gosto de vida. A minha esquerda já foi sincera. Hoje é esta trama pelega.

Ué? Em outros artigos, Jabor mete o pau na esquerda de sua época. Chama todo mundo de hipócrita para baixo. E agora vem dizer que era sincera? Claro, a esquerda da qual Jabor participou era a única boa da história...

Ea ditadura de 64, aquele verde-oliva que nos cercou como uma epidemia de vil patriotismo? Era terrível? Sim. Mas nos dava o frisson de lutar contra o autoritarismo ou de sermos vítimas das porradas da Historia. Já passei pelas drogas e desbundes da contracultura, pelos depressivos anos cinzentos post-mortem de Tancredo, passei pelos rostos amarelos e verdes do impeachment, pelo azul da esperança do Plano Real. E hoje? Qual é a cor de nosso tempo? Somos uma pasta cor de burro quando foge, uma cobra mordendo o próprio rabo, um beco sem saída disfarçado de progresso, graças à vitalidade da economia que o Plano Real permitiu.

Ah, a ditadura era tão boa, né? Sim. Nos dava o frisson... E senti uma lufada de bem estar quando li a frase "azul esperança do Plano Real". De fato, o desemprego na época era de quase 15%... mas e daí?

Somos tecnicamente uma democracia, que é vivida como porta aberta para oportunismos, pois a cana é menos dura... Democracia no Brasil é uma ditadura de picaretas. O povão prefere um autoritarismo populista, e os intelectuais sonham com um socialismo imaginário que resolva nosso bode capitalista, quando justamente o injusto capitalismo seria a única bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra. Quem quiser alguma positividade é traidor.

Eta povinho ruim, sô! Prefere autoritarismo populista! Eta cambada de intelectual safado! Bando de subversivos! Coitado dos que querem "positividade" (que será isso?)! Toda positividade será castigada!


A miséria tem de ser mantida in vitro para justificar teorias velhas e absolver incompetência. A Academia cultiva a desigualdade como uma flor. Utopia de um lado e burrice do outro impedem a agenda de nossas reformas urgentes, essenciais para nossa modernização, que grossos barbudos chamam de neoliberalismo.

Taí a viadagem-mor. Grossos barbudos. É demais.

Nos USA, tempo é dinheiro; no Brasil, a lentidão é a mola mestra do atraso. O Brasil gira em voltade si mesmo. Somo feitos de sobras do ferro-velho mental do país, de oligarquias felizes e impunes, de um Judiciário caquético, das caras deformadas de políticos, das barrigas, das gravatas escrotas, da gomalina dos cabelos, das notas frias, da boçalidade dos discursos, dos superfaturamentos, tudo compondo uma torta escultura, um estafermo fabricado com detritos de vergonhas passadas, togas de desembargadores,bicheiros, cérebros encolhidos, olhos baços, depressões burguesas, hipersexualidade rasteira, doenças tropicais voltando, dengue, barriga dágua, barbeiros e chagas, cheiros de pântano, ovos gorados,irresponsabilidades fiscais, assassinos protegidos no Congresso, furtos em prefeituras, municípios apodrecidos, decapitações, pneus queimados,ônibus em fogo.

Ulálá. Nos USA! Nem a sigla em português o cara usa. É United States of America, porra! Lá o tempo é grana. Aqui é essa lentidão de merda! Barrigas! Gravatas escrotas! Gravatas escrotas? É isso! Um dos grandes problemas nacionais são essas malditas gravatas esquisitas que os políticos usam!

No caos não há eventos. Para haver acontecimentos, tem de haver uma normalidade a ser rompida. Mas nada acontece, pois a anormalidade ficou normal. Tenho a sensação de que uma coisa espantosamente óbvia e sinistra está em gestação. Por isso,gosto de citar a frase da bruxa do Macbeth: Something wicked this way comes (Shakespeare). Tradução: Vem merda por aí!... Nossa chance única de modernização pode virar um chavismo cordial.

Agora pegou pesado. Sensação de que uma coisa espantosamente óbvia e sinistra está em gestação... Gostaria de saber o que pode ser espantoso e óbvio ao mesmo tempo... Finalizando: o chavismo! Dilma é Chávez de saia! Saiam do país enquanto é tempo!

Estadão joga a toalha e admite que Dilma pode ganhar no 1º turno

2 comentarios

A notícia foi publicada no site do Estado de São Paulo. Sabe-se lá porque (hehe...), nenhum outro jornal repercutiu ou apurou. Leiam com carinho. Interessante é ver a Marcia Cavallari, diretora do Ibope, dizendo que o cenário é favorável à Dilma, após seu chefe, o Montenegro,
haver afirmado, tempos atrás, que Serra ganharia no primeiro turno.

Tenho outros comentários a fazer sobre as eleições. Reapareço depois da nota abaixo:

'Não é impossível imaginar que a Dilma ganhe no 1º turno', diz diretor do Vox Populi

Diretores dos quatro principais institutos de pesquisa do País veem cenário favorável à Dilma

22 de março de 2010 | 22h 56

Jair Stangler, do estadão.com.br

SÃO PAULO - O crescimento nas pesquisas eleitorais da pré-candidata do PT à Presidência, ministra Dilma Rousseff, ante a estagnação de seu provável adversário, o governador de São Paulo José Serra (PSDB) tem impressionado os diretores dos quatro principais institutos de pesquisa do País. Márcia Cavallari, do Ibope, João Francisco Meira, do Vox Populi, Mauro Paulino, do Datafolha e Ricardo Guedes, do Sensus, estiveram reunidos em São Paulo na tarde desta segunda-feira, 22, para debater o cenário eleitoral, em evento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas. O professor Marcus Figueiredo, do Iuperj também esteve no debate, mediado mediado pela jornalista Cristiana Lôbo.

Meira deu o palpite mais ousado da tarde: "não é impossível imaginar que a Dilma ganhe a eleição já no primeiro turno", afirmou. Segundo ele, quando há candidatos carismáticos, a disputa se concentra mais entre as personalidades desses candidatos. Mas, para ele, nem Dilma nem Serra são carismáticos. ‘Carisma não é o nome dessa eleição’, afirmou.

Ele listou alguns fatores que, na sua avaliação, devem decidir a disputa eleitoral. O primeiro seria a economia: se estiver ruim, a tendência é de mudança - mas a economia é o principal trunfo do governo Lula. Em segundo, o aspecto ideológico - nesse caso, diz ele, 56% das pessoas se definem como sendo de esquerda e 30% como eleitores do PT.

Além disso, ele lembra o tempo de TV como decisivo - e a construção das alianças deve garantir um tempo maior à candidata governista. Por último ele cita algum acidente, debate ou fato inesperado que possa alterar a opinião dos eleitores.

Sua avaliação é parecida com a de Ricardo Guedes, do Sensus. Segundo ele, "Dilma tem produto para mostrar, a economia. O Serra não tem. Hoje a tendência é muito mais pró-Dilma".

Cautela

Já Márcia Cavallari, do Ibope, e Mauro Paulino, do Datafolha, adotaram um pouco mais de cautela em suas exposições, embora tenham admitido cenário favorável à Dilma. Os dois usaram a mesma expressão para definir o caso: "pesquisa é diagnóstico, não prognóstico".

"O comportamento do eleitor não é matemático. A campanha ainda tem muita coisa para acontecer. O que a gente sabe é que o eleitor se sente muito confortável de ter votado no Lula e agora fazer essa avaliação de que acertou. Ele pensa: 'Acertei, e o País está tendo avanços'. O eleitor considera que os avanços foram muito mais profundos no governo Lula. A comparação com o governo FHC é prejudicial para o Serra", afirmou a diretora do Ibope.

De acordo com Márcia, um terço está com Serra, um terço está com Dilma e um terço que vai decidir a eleição. Reservadamente, porém, ela destacou que não só a Dilma está crescendo, como há tendência de queda de Serra, ainda que dentro da margem de erro.

Já Paulino lembrou que na pesquisa Datafolha de dezembro de 2009, 15% dos eleitores não sabiam que a Dilma era a candidata do Lula, mas queriam votar na candidata do Lula. "E o que nós observamos em fevereiro, é que ainda há margem de crescimento para Dilma", afirmou.

Segundo ele, a dúvida é saber se Dilma vai transmitir ao eleitorado que tem a mesma capacidade de administração que o Lula tem."O eleitor vai poder comparar Serra com Dilma, Dilma com Lula".

Paulino ainda defendeu que os institutos divulguem sempre sua base de dados, sua metodologia. "A pesquisa não faz prognóstico, mostra o que acontece naquele dia. Na pesquisa de véspera, [Paulo] Maluf ainda estava na frente da [Luíza] Erundina [na eleição para a prefeitura de São Paulo, em 1988, vencida por Erundina]. Deixar de iludir quem consome pesquisa: a gente faz diagnóstico", afirmou.

Já o professor Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj), também presente ao debate, previu um repeteco de 2002, caso o deputado federal Ciro Gomes (PSB) continue na disputa, com o cearense brigando com Serra. Para Figueiredo, "Serra e Dilma são igualmente antipáticos e igualmente feios. Ideologicamente estão muito próximos. O projeto deverá ser exatamente o mesmo".

Erros em pesquisa

Meira foi questionado também pelo fato de o Vox Populi ter apontado, em 2006, vitória de Paulo Souto (então PFL) no primeiro turno, contra o petista Jaques Wagner, que acabou vencendo as eleições em segundo turno. "Às vezes você erra. Só que você nunca ouve um médico dizendo qual a margem de erro de uma operação de apendicite. O pessoal respondia que queria Paulo Souto, mas já estava pensando em mudar de ideia. Mas eu não estava perguntando para ele se ele queria mudar de ideia", justificou.

*

Na verdade, não tenho muito o que acrescentar aqui. A nota diz tudo. Dilma tem alianças partidárias muito mais amplas, mais tempo de TV, apoio de Lula, um cenário econômico positivo; enfim, a ministra é a favorita por várias razões.

Quero falar, porém, de outra coisa. Confiram a nota abaixo, publicada no Globo de hoje (terça):


Pois é. Taí uma situação que pretendo acompanhar de perto. Monitorarei as pesquisas e depois o resultado das eleições em Pernambuco. Quero ver o que será de Jarbas Vasconcelos e Sérgio Guerra no estado onde Lula tem quase 100% de aprovação.

Outro político cujo futuro político me interessa bastante é Roberto Freire, presidente do PPS. O trânsfuga, escorraçado de Pernambuco, onde hoje não deve circular muito (para não apanhar) mudou seu domicilio eleitoral para São Paulo, quando fez declarações encantadoras sobre a "superioridade" paulista. Parecia um francês prendendo um brochinho nazista na lapela. Quer se candidatar por São Paulo. Vamos ver o que acontece.

Também tenho carinho especial pelo destino de Arthur Virgílio, cujo mandato expira este ano. Aspirante à reeleição, Virgílio figura em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas.

O que será dessa turma se todos perderem?

Eu sei. Juntar-se-ão num convescote elegante em São Paulo, com a presença do governador do estado, para quem deverão sugerir a criação de sinecuras para suas pessoas. Afinal, sacrificaram-se tanto... Caso não consigam, ameaçarão tornar-se inimigos mortais do PSDB. Farão tantas ameaças e chantagens que, por fim, ganharão os cargos pleitados. Talvez o Jarbas, que sempre gostou de carne jovem e fresca, comece a namorar a Soninha...

*

Abaixo, o fác-símile do site do Estadão, contendo a notícia: