23 de dezembro de 2007

Hilda

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Dá-me a vida do excesso. O estupor.
Amputado de gestos, dá-me a eloquência do Nada
Os ossos cintilando
Na orvalhada friez do teu deserto.


Hilda Hist, Via Vazia V
Do desejo, Editora Globo


PS: o blog entra de férias e só volta lá para o dia 18 de janeiro. Feliz Ano Novo.

19 de dezembro de 2007

Ecologias e o Deus do velho Chico

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Até que ia ser engraçado. Talvez essencial. O bispo estadunidense fazendo greve de fome para forçar o Bush a assinar o protocolo de Kioto. Aliás, o próprio papa podia fazer greve para os EUA saírem do Iraque.

Melhor. Essa é genial, escutem. O tal bispo nordestino podia fazer greve de fome para forçar o papa a liberar a camisinha. Muito mais importante de que implicar com a "transposição do São Francisco". Essas greves do bispo pelo menos tem uma utilidade. Servem para a gente ficar de olho nessa transposição. Aí está a importância. A primeira greve do bispo serviu para revisar o projeto para o desvio de apenas 1% das águas do São Francisco, e da represa de Sobradinho, que tem água sobrando. Lembre-se que 99% das águas do velho Chico continuarão sendo despejadas em seu milenar destino: o mar. Diariamente, o nordeste, uma das áreas mais secas do mundo, com problemas de fome e sede e doenças terríveis decorrentes deste déficit hídrico, diariamente o nordeste, através do rio São Francisco, que cruza a região bem no meio, todo dia o Nordeste despeja milhões de litros de excelente água potável, de água útil à agricultura, à vida, às indústrias, à dignidadae e à loucura, à existência dos nordestinos, à liberdade, despeja essa água toda no oceano Atlântico, o qual, definitivamente, não precisa de mais água, pelo contrário, está com problema de excesso de água, por causa do derretimento das geleiras do pólo norte. Portanto, nada mais natural que o nordeste, que precisa desesperadamente de água para agricultura e indústria e consumo humano, que use a água que tem. É direito do nordeste usar a água do São Francisco como lhe apetecer. A água do São Francisco vai toda pro mar. O oceano precisa mais dessa água que as populações nordestinas? O que que a Letícia Sabatella entende de economia hídrica, meu Deus? O MST agora é contra o uso da água, meu Deus? A criação de um grande pólo agrícola no nordeste é uma necessidade econômica vital para a superação da miséria na região. São Paulo é rica porque tem uma base agrícola sólida, pujante e crescente. O nordeste também pode ter isso e as águas do São Francisco devem ser usadas. Todo país do mundo, desde 10 mil anos pra cá, utiliza as águas dos rios, que são inteiramente despejadas inutilmente no mar, para usar na agricultura. O velho Chico terá orgulho de ajudar o nordeste a aumentar a sua produção de vinho e melancias. Escutem Luiz Gonzaga.

É simplesmente imbecilidade criticar o uso de água para ativar economicamente uma região, para resolver um problema estrutural profundo do sertão nordestino, a falta de água, dizer que a água vai ser usada por agronegócio e indústrias. Primeiro que é mentira. No projeto está claro que a água vai ser usada pelos municípios todos. E qual a bronca com o agronegócio? O nordeste tem um enorme potencial agrícola, e deve ser explorado por quem está afim de trabalhar. Na realidade, a agricultura sofre muito preconceito por parte da esquerda brasileira. O próprio trabalhador sofre preconceito na esquerda. Só artista pode se dar bem. Só presidente e empresário. Trabalhador, agricultor, esse aí não pode ser rico.

Esse é, para mim, o maior ponto-fraco da esquerda que precisava ser repensado. A grande maioria dos agricultores brasileiros não é de milionários, mas de caras que andam no fio da navalha e, diante da ausência de uma compreensão, por parte da esquerda, de sua dignididade profissional (e isso desde os tempos de Lenin) procuram proteção junto aos partidos políticos conservadores.

O nordeste é uma região que precisa se transformar. O Brasil precisa desenvolver o sertão para criar um mercado interno maior. O mercado interno brasileiro está crescendo bem, mas ainda é 100 vezes menor que o norte americano. Este crescimento tem que vir de baixo para cima, para ser saudável e sustentável, conforme as leis do capitalismo mais clássico.

A direita brasileira deve compreender que, de acordo com os princípios basilares do capitalismo, a economia nacional só irá atingir um patamar superior de desenvolvimento quando possuir um mercado interno similar aos demais países desenvolvidos. Para isso, no caso dos países com graves problemas sociais, urge resolvê-los, porque eles inviabilizam o crescimento econômico sustentável.

Resumindo: não tenho os argumentos técnicos, mas tenho minhas observações das explicações técnicas e acho que as obras de desvio de 1% das águas do São Francisco, diante do potencial de melhora da situação hídrica de centenas de municípios do nordeste, são bem vindas. Bispo, sua missão está cumprida. Chamou a atenção. Junte-se à Garotinho, que também fez greve de fome contra o PMDB, contra o Lula, nem lembro mais, ficou uns dias de jejum (no caso dele, estava mesmo precisando) e depois desistiu. Mas não vale comparar o nobre bispo (embora um pouco neurótico) com o destrambelhado Garotinho.

*

A Letícia Sabatella falou sobre o custo alto da obra. Ora, Letícia, o Lacerda gastou menos para fazer o aterro do flamengo, com objetivos puramente de lazer.

A revolução dos computadores

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Dados da Consultoria IT Data, especializada em comércio de computadores, mostram que os brasileiros compraram 10 milhões de computadores este ano. Esse número representa um crescimento de 23% nas vendas de computadores em relação a 2006.

O diretor da IT Data, Ivair Rodrigues, disse em entrevista ao Conversa Afiada nesta quarta-feira, dia 19, que 64% dos PC’s vendidos este ano foram para pessoas que compraram o primeiro computador.

Fonte: Conversa Afiada. Ver matéria completa.

18 de dezembro de 2007

A tática nazista do Globo

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Leiam essa notinha de Opinião, publicada na página 13, do Caderno O País do jornal O Globo, edição de 18 de dezembro de 2007. Comento em seguida.

Cautela

O precedente do governo brasileiro, de despachar para o gulag caribenho de Fidel os atletas cubanos que participaram do Pan e aqui buscaram refúgio, recomenda prudência no caso dos músicos do grupo Los Galames.

Desta vez, os artistas que estão pedindo asilo ao Brasil receberam garantias de que não serão repatriados.

Dê-se crédito ao Ministério da Justiça, mas torça-se para que a política externa não faça letra morta da palavra empenhada para, também agora, dobrar-se a pressões do ditador da ilha.

*

Ora, ora, ora, ora. Por que o Globo mente tanto? Os dois jogadores cubanos em questão imploraram para voltar à ilha, após serem abandonados pelos mafiosos alemães que tentaram seduzi-los com prostistutas, bebidas e drogas. Representantes da OAB-RJ e do Ministério Público entrevistaram os jogadores em local privado, e confirmaram que os jogadores queriam retornar a seus lares, a suas famílias. O Ministério da Justiça cansou de explicar a situação. Tarso Genro foi ao Jô Soares e explicou tudo pela enésima vez. E agora, passados meses, o Globo repete a mentira, buscando se valer do esquecimento das pessoas. Mas as pessoas não são tão burras. Este caso mostra má fé do jornal, cuja racionalidade e ética vai para o espaço sempre que a histeria anti-comunista está em questão.

Em relação ao caso dos atletas cubanos, a impressão que se tem ao analisar o comportamento nazista do Globo & cia é que eles defendem que o governo deveria ter retido compulsoriamente os rapazes em território brasileiro, obrigando-os a ficarem longe de suas famílias.

*

Por falar em mentira, lembro a coluna de ontem de Merval Pereira, que cita o mensalão como fato absolutamente provado, o que é um atentado à ética jornalística, pois não contempla o outro lado, muito mais provável (até porque temos o precedente tucano), de que se tratava de caixa 2 eleitoral.

Para cúmulo do ridículo agora Pereira fala que o governo corrompia o Congresso em massa com o mensalão. Vejam só, o Congresso tem 513 deputados. O procurador da república encontrou indícios mais consistentes de uso do valerioduto em apenas meia dúzia de deputados, metade deles do próprio PT. Que corrupção em massa é essa? Os 15 mil reais do deputado Luizinho, petista e lulista até a raíz dos cabelos, foram mensalão? Deram 15 mil para o Luizinho votar a favor do governo, é isso?

Esse é o Globo, sempre manipulando a informação, querendo converter mentiras em verdade à força de repetição.

O Estado também faz parte

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Vários artigos que li nos últimos dias, de autoria de nossos colunistas pop (lembro de Miriam e Jabor) recorreram a um dos erros conceituais mais comuns atualmente. O nosso conservadorismo tupi associa sempre o Estado a qualquer coisa de abstratamente comunista, anti-mercado, anti-capitalista. É mais um sintoma da paranóia anti-estatista, que é uma doença tão grave ou pior que o estatismo exagerado. A nossa imprensa é a grande propagadora dessa doença. Como se o Estado não fizesse parte do capitalismo. Então repito isso aqui: O ESTADO, OS GASTOS DE ESTADO, OS INVESTIMENTOS DE ESTADO, O FUNCIONALISMO PUBLICO, FAZEM PARTE DO CAPITALISMO, SÃO VITAIS AO CAPITALISMO. CAPITALISMO NÃO É SÓ MERCADO, É ESTADO TAMBÉM.

Hoje o Jabor nos brinda com mais um de seus textos linguisticamente sofisticados mas ideologicamente desonestos. Filosoficamente medíocres. Jabor tem uma mitologia própria, vocês sabem e eu já cansei de denunciar. Uma mitologia maniqueísta onde o "lulismo sindicalista" ocupa o inferno e o "mercado" ocupa o paraíso.

No texto de hoje, Jabor recupera todos os seus lugares-comuns, e acrescenta alguns outros. Um dos novos clichês é elogiar a monarquia. "A nossa imprensa se manteve crítica e ativa, graças a homens como D.Pedro II". E volta a clichês antigos, como citar "multidões de vítimas de evangélicos corruptos e os milhões de votos do neocabresto moderno: os bolsistas da família". A nossa elite católica destila preconceito contra o aumento da igreja evangélica. Jabor, os evangélicos não são piores que os católicos. A Igreja Evangélica precisa se financiar, precisa de dinheiro como qualquer outra igreja. Os católicos sugaram muito mais dinheiro que os evangélicos poderão sugar em séculos. Em Ouro Preto, existem duas ou três igrejas por rua, construídas com sangue de nossos compatriotas carolas. Lembra de nosso querido Glauber Rocha? Deus e o Diabo na terra do sol? Pois é, a Igreja Católica participou ativamente da construção de nossa miséria. Não são os evangélicos os vilões de nossa história.

Jabor, todos os países minimamente desenvolvidos tem programas de transferência de renda. Na França, qualquer jovem sem trabalho recebe dinheiro do governo. Em países como EUA, Japão, Alemanha ou Itália, o governo ajuda os cidadãos de várias formas. O programa Bolsa Família, vai para famílias que estavam em situação de miséria, sem dinheiro para alimentar, com risco de vida. Com risco de vida, entendeu? O brasileiro estava (ainda está em parte) morrendo de fome. E a fome tem pressa. A morte tem pressa. Se o Jabor entendesse isso, não seria um crítico tão ácido e irresponsável de um programa que recebe tantos prêmios internacionais e está sendo copiado por governos de direita e esquerda em todo mundo, porque inclui socialmente e tem custo baixo, ativando economias que estavam engessadas pela miséria.

Jabor continua nos impingindo seu catastrofismo inconsequente, paranóico e partidário. Sim, partidário, porque tenho a impressão que tal negatividade desapareceria miraculosamente se Lula tivesse o "bom senso" de renunciar e entregar o poder ao PSDB. Toda essa ladainha sobre "velhas doenças brasileiras" se agravando em ritmo veloz, "diante da incompetência dos poderes públicos", seria esquecida. Eu queria saber de uma coisa: os novos promotores públicos e policiais federais que estão prendendo, pela primeira vez na história, prefeitos, ex-governadores, empresários, eles fazem parte dessa "doença"? Por acaso, Jabor está lendo as notícias sobre o crescimento "chinês" da renda per capita das famílias mais pobres? Leu sobre a ascenção social de 20 milhões pessoas das classes D e E para a classe C? Isso aí não melhora o tal "malaise"? Ou será que esse "malaise" jaboriano e fernandista não passa de uma tremenda frescura?

Termino com a carta-testamento do nosso querido Getúlio Vargas, cujas denúncias ainda são válidas. Tenho pensado muito no velhinho, nos últimos tempos:


"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.

A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.

Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

15 de dezembro de 2007

Sabotagem do futuro brasileiro

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As forças conservadoras continuam querendo sabotar o país. A falta de coerência é total. Reclamam da falta de infra-estrutura, e quando o governo arruma verba para as obras, eles trabalham para cortá-las. Repete-se ad infinitum sobre a gastança irresponsável do governo, como se a contratação de técnicos da Receita Federal, agentes da Polícia Federal, professores e médicos fosse "gastança irresponsável". Existe uma diferença brutal entre as forças conservadoras brasileiras e as suas matrizes nos países desenvolvidos. Lá, elas tem um núcleo nacionalista e desenvolvimentista, enquanto aqui se trabalha para afundar o país com objetivos políticos.

Uma série de "mitos" são jogados na mídia e repetidos à exaustão, com o objetivo de criar bordões eleitorais e preconceito. Por exemplo, os tais 20 mil cargos de confiança, que não foram criados pelo governo Lula. Quando FHC estava no governo, ninguém criticava o fato de serem proponderantemente ocupados por tucanos. Trata-se, portanto, de choradeira de derrotados nas urnas. Ademais, é mentira que os tais cargos de confiança são ocupados por petistas, visto que o governo Lula não é um governo de partido único e sim representa uma ampla aliança partidária. Derrotadas nas urnas, as forças conservadoras continuam querendo impor a sua visão de Estado, disfarçando-a de "opinião pública".

Outro mito que a mídia vem construindo é sobre as "regalias" de nossos políticos. A mídia vem procurando ridicularizar todos os poderes públicos no Brasil, expondo seus salários, seus carros e os prédios construídos. O que a mídia quer: altos servidores públicos trabalhando em palafitas, ganhando salário mínimo e andando de patins? As altas funções públicas têm importância fundamental na República e os gastos são justificados. O mais importante é checar seus pontos falhos e apontar soluções, não servir a esse trabalho de destruição da imagem do poder público.

Uma coisa é óbvia. O Estado brasileiro precisa crescer de acordo com sua evolução econômica e social. O tamanho do Estado brasileiro em relação à população não é grande. Países como os Estados Unidos, modelo liberal, tem um Estado proporcionalmente muito maior que o nosso. Países europeus, então, isso nem se fala. Como é possível melhorar a infra-estrutura sem a contratação de mais gente? Além do mais, a contratação de técnicos da Receita Federal permitiu a economia de bilhões de reais através do combate à sonegação.

A grande incoerência dos neo-caudilhos da mídia é omitir que o crescimento econômico do país este ano vem sendo induzido pelas políticas sociais do governo. É incrível que, seis anos depois, há gente ainda querendo atribuir ao governo FHC tudo de bem que acontece agora. O governo FHC pode ter tido seu lado positivo de combater a inflação. Mas por outro lado endividou o país, criou uma recessão terrível, trouxe um enorme apagão logístico por falta de investimento em infra-estrutura e energia. As políticas de expansão de crédito popular, assistência à agricultura familiar e recomposição do salário mínimo, são marcas do governo Lula e as consequências positivas que trazem à economia devem a ele serem atribuídas.

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Vocês acompanharam esse caso da "mala" venezuelana? É espantoso como alguém pode dar credibilidade a um caso desses! A tentativa de interferência política dos EUA na América Latina, neste caso da mala, é tão grosseira que fico pasmo de ver a nossa imprensa comprando tão barato essa briga. Não se esqueçam de uma coisa. O Brasil pode vir a ser um importante exportador mundial de petróleo, embora você não esteja lendo isso na imprensa. O mega-campo Tupi é apenas uma gota no oceano de petróleo que pode existir no pré-sal, visto que há forte possibilidade de existir petróleo em quase toda a costa brasileira. A Argentina também é um importante exportador de petróleo. Venezuela, nem se fala. Esse episódio da mala revela que a inteligência americana já sabe como é o "modus operandis" do golpismo midiático no continente. Cria ou amplia factóides políticos, com o objetivo de desgastar determinados grupos em benefício de outros, naturalmente aqueles que consideram seus aliados "ideológicos". É a neo-direita americana que, diante de seu fracasso no oriente médio e vendo que por aqui tem mais petróleo do que se pensava, começa a botar o dedinho por essas bandas.


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A derrubada da CPMF foi, na verdade, uma vitória da imprensa golpista e dos grandes empresários, que pagavam quase 80% da CPMF. Eles não usam o SUS e, portanto, não queriam dar dinheiro para o SUS. Confesso que fiquei triste com essa história e continuo perplexo com a tentativa da imprensa de repercutir o caso de maneira distorcida. A CPMF que seria aprovada eximiria do pagamento as pessoas com renda declarada acima de 2.800 reais por mês. Ou seja, essas pessoas não iriam mais ver o imposto em seus extratos bancários. Portanto, o cálculo difundido pela imprensa, de que quem ganha R$ 1000 iria economizar tanto é falacioso. Essas pessoas não iriam pagar nada, apenas o que está embutido no preço dos produtos, que representa um percentual insignificante dos mesmos. De qualquer forma, o dinheiro bancava uma fatia considerável do orçamento da pasta da Saúde e, sobretudo, seria o patrocinador de grande aumento nos investimentos na área. Quarenta por cento da CPMF ia para a Saúde, 20% para o Bolsa Família (com o que patrocinava quase a totalidade desse programa) e o restante para o pagamento de aposentadorias rurais.

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Sinceramente não entendo o Sardenberg. Um dia vem falando em disseminação do comunismo no país através de livros didáticos. No outro vem dizendo que a China é maravilhosa e muito melhor que o Brasil porque cresce a 11% ao ano enquanto nós crescemos a 4% e 5%. Ora, então vá para a China que o pariu! Sem previdência social e com um judiciário no mínimo "apressadinho", salários de fome, partido único, sem liberdade de imprensa, sem oposição interna, é muito mais fácil crescer que um país com democracia, pagando aposentadoria para todos seus concidadãos, com uma imprensa raivosa e golpista, mas livre, com uma oposição raivosa e golpista, mas livre, e com salários mínimos equacionados em patamares proporcionalmente muito superiores aos dos chineses. Eu tenho a maior admiração pela China, mas tenho mais pelo Brasil! Temos problemas gigantescos, mas temos muito mais liberdade de expressão e uma democracia mais moderna, sem pena de morte, essas coisas.

Repito, tenho a maior admiração pela China e sua história, mas comparar um país onde o salário mínimo é inferior a 40 dólares, a outro com salário mínimo de 200 dólares é uma forma irresponsável de crítica. Quer dizer, pode-se comparar, mas é preciso ressaltar essas diferenças.

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Por falar em China, quer dar nota 10 à editora Azougue pela série de livros com entrevistas. Outro dia li de enfiada o livro com entrevistas do Jorge Mautner. Vocês sabiam que ele ganhou o Prêmio Jabuti de romance revelação aos 21 anos? Que ele é um grande pensador? Pois é, diverti-me muito com as centenas de histórias contadas por Mautner. O compositor/músico/escritor diz que admira muito a sabedoria dos chineses e dá um exemplo: um repórter francês perguntou a uma autoridade chinesa qual era o legado da revolução francesa ao mundo? O chinês refletiu por um tempo e respondeu: ainda é muito cedo para avaliar.

14 de dezembro de 2007

Festa hoje

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13 de dezembro de 2007

Aprovação de Lula, segundo Ibope

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Clique na imagem acima para ver mais de perto, com alguns dados da pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana. É interessante analisar isso mais atentamente porque desfaz alguns mitos muito difundidos por colunistas conservadores. Por exemplo, reparem que Lula tem aprovação de 55% das pessoas com ensino superior completo ou mais, contra 45% que não o aprovam e 5% que não se definiram.

Reparem ainda que, entre os que possuem o ensino médio completo, 63% aprovam o governo Lula, contra 32% que não o aprovam.

Outro dado importante é que, entre os mais ricos, que ganham mais de 10 salários mínimos, Lula tem aprovação de 46%, contra 50% que não o aprovam e 4% que preferiram não responder a pergunta.

Os números mostram, portanto, que o apoio à Lula não vem somente de pessoas sem instrução e descamisados. Pessoas com segundo grau completo e formadas em universidades também emprestam seu apoio ao líder metalúrgico.

Entretanto, não podemos cair na esparrela preconceituosa do conservadorismo vulgar e menosprezar a aprovação esmagadora que Lula tem junto à classe média média, média baixa e os mais pobres. Reparem que desde as pessoas que ganham menos de 1 salário mínimo até aqueles que ganham 10 salários mínimos, a aprovação é superior a 60%, com uma escala crescente entre os mais pobres. Ou seja, desde quem não ganha nada até quem ganha R$ 4.000 por mês, o que deve significar 95% ou mais da população brasileira, Lula tem uma aprovação superior a 60%, chegando a 71% entre os mais pobres, e isso no sexto ano de seu mandato, quando a sociedade já teve tempo de avaliar meticulosamente as qualidades e defeitos de Lula.

Outro número interessante é que a faixa etária onde Lula tem mais apoio é a de 30 a 39 anos, o auge da vida profissional, sexual, existencial. Esses jovens tiveram tempo de viver os tempos fernandinos, e comparar. De resto, Lula tem ampla aprovação em todas as faixas etárias.

Insanidade, cinismo e anti-patriotismo

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O grau de insanidade dos setores da oposição que derrubaram a CPMF ficou explícito hoje, com a circulação do que aconteceu nos bastidores da votação. Todos os governadores da oposição exortaram fortemente os senadores a votarem pela prorrogação, principalmente após o governo ceder em alguns pontos, como prorrogar apenas por um ano, comprometer-se a fazer a reforma tributária e destinar todo o dinheiro para a saúde. Nos últimos momentos, inclusive, a maioria dos senadores do PSDB apóiavam a prorrogação. A intransigência de alguns senadores, a pusilanimidade de outros e a debilidade dos governadores, resultaram no fim da CPMF, um imposto que se destinaria integralmente à saúde dos brasileiros.

O Globo continua exibindo a sua pesquisa interna entre leitores como se ela tivesse alguma representatividade democrática. Teria, se fosse transparente e mostrasse de onde vem esses votos, e de que classes sociais, como ocorrem com as pesquisas de institutos especializados. O Globo é um jornal, não um instituto de pesquisa. É um jornal, não um partido político.

O Financial Times, que passa longe de ser um jornal "petralha" divulgou hoje matéria alertando que a derrubada da CPMF foi um sinal de instabilidade política e fiscal e poderá adiar a subida do Brasil para o nível de investimento grade, o que estava previsto por todos para acontecer no ano que vem, e que seria sinal verde para os mastodônticos fundos de pensão internacionais, que tem regras internas rígidas que permitem aplicar apenas em países com investiment grade, seria portanto um sinal verde para esses fundos aplicarem bilhões e bilhões de dólares e euros no Brasil. A oposição, no afã de sangrar Lula, prejudica a nação, prejudica empresários, usando como arma o próprio sangue do povo.

É bom lembrar que a prorrogação da CPMF continha mudanças importantes, entre elas, eximiria do pagamento do imposto quem ganhasse menos de R$ 2.800,00 ao mês. As pessoas que se sentem incomodadas com o aparecimento desse imposto em seus extratos (como eu, por exemplo), estariam tranquilas. É claro que a CPMF acaba aparecendo na composição do preço dos produtos, mas já estava incorporada tranquilamente a ele e, de qualquer forma, representava percentual absolutamente ínfimo nestes casos.

A oposição não derrotou Lula nesse episódio. Ela deu um tiro no último resquício de credibilidade que possuía. O DEM seguramente irá perder mais centenas de prefeitos e parlamentares insatisfeitos com sua política anti-patriótica e sabotadora dos grandes interesses nacionais.

Ficou claro ainda que a participação de Fernando Henrique Cardoso foi fundamental para a bancada tucana manter a disposição de derrubar o imposto. Prova irrefutável de que este sujeito é um grandessíssimo filho-da-puta, porque ele usufruiu politicamente do imposto durante seus dois mandatos e o usou para pagar juros da dívida pública (da dívida que ele mesmo criou e que, mesmo privatizando, não pagou) e agora conspirou para prejudicar a política econômica e o equilíbrio fiscal do país e do governo que estava dando uso muito mais ético e justo ao referido imposto. FHC é um invejoso de merda e não merece mais o respeito de ninguém. Sua interferência na política nacional tem sido insistente e nociva, sempre ancorado nos interesses obscuros defendidos por setores da mídia, os mesmos interesses que conspiram há séculos contra o país, conforme citou Vargas em sua derradeira carta, e que periodicamente mostram força surpreendente, e que são a única explicação para que uma nação tão rica em recursos naturais, ainda permaneça tão atrasada.

Mas, desta vez, eles irão pagar. A sociedade observou atentamente quem são os traidores da pátria. A verdadeira opinião pública, não os 70% dos internautas-votantes do site do Globo, irá dar o troco em breve, no voto.

Festa no Casarão da Lapa, nesta sexta (vamo lá!)

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Vitória de Pirro

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Um dos senadores da oposição subiu ao palanque com cópia do site do Globo Online, onde aparece pesquisa com apoio esmagador ao fim da CPMF, o que comprova o poder, de fato, que a imprensa possui de influenciar o voto dos senadores, através da manipulação de estatísticas que não correspondem, nem de longe, a critérios democráticos que espelhem a opinião pública nacional. Se pesquisa por telefone conduz a um grande elitismo em seus resultados, uma pesquisa realizada exclusivamente por internet, dentro de um jornal cuja linha editorial tem sido a de uma oposição intransingente ao governo Lula e a tudo que ele defende, apenas distorce o debate político, fazendo prevalecer a opinião de um percentual insignificante da sociedade brasileira.

Os tucanos fizeram ouvidos de mercador aos apelos dos governadores de seus próprios partidos sobre a importância da CPMF. Os senadores tucanos se importam mais com a opinião de setores da imprensa de direita do que com governadores que representam uma quantidade de votos infinitamente maior que a deles.

O povo brasileiro foi derrotado, mas não é a primeira vez. A história do Brasil é uma história de derrotas inflingidas à parte pobre da população.

Acompanhei a votação da CPMF pela internet. Escutei discursos inflamados de senadores de todos os partidos. De fato, foi um belo dia para o senado brasileiro. Mas um péssimo dia para o país. A oposição agiu de forma absolutamente radical e irresponsável ao eliminar um imposto com o qual governadores e prefeitos contavam para 2008, e que, segundo a proposta do governo federal, seria integralmente destinado à saúde pública.

A votação mostra mais uma vez como o Senado se tornou o grande bastião do conservadorismo brasileiro. Com mandato de oito anos, os senadores eleitos há seis, sete, oito anos não refletem o Brasil de hoje. Eles querem produzir uma crise para causar erosão na popularidade do presidente Lula. Tiraram-lhe agora a verba que o governo usava para bancar o aumento nos investimentos em saúde, no bolsa família e no pagamento das aposentadorias rurais.

O impressionante nesta votação foi que todos os secretários de saúde dos estados e os quase seis mil prefeitos do país encaminharam pedidos aos parlamentares pedindo a prorrogação da CPMF. Os mesmos senadores que votaram contra a CPMF são os mesmos que vem praticando oposição sistemática, sempre com ajuda da imprensa, contra o governo Lula.

O ex-presidente José Sarney fez um excelente pronunciamento, alertando que se tratava de uma questão de Estado, não de luta partidária. Estamos a poucos dias de 2008 e a extinção de R$ 40 bilhões em receitas gerará, certamente, enorme confusão administrativa e financeira para o país. É lamentável, mas a história de um país também se constrói com derrotas e momentos tristes. Outros países já viveram guerras, intestinas ou com outros países, onde morreram milhões de pessoas. Há países que vivem guerras.

O crescimento de 6% do PIB, no terceiro trimestre de 2007, aponta para um cenário extremamente positivo para a economia nacional. A popularidade de Lula tem crescido em todos os segmentos sociais. Continua absoluta entre os mais pobres e agora cresce também na classe média, o que me leva a crer que o governo Lula não irá dar a batalha por perdida. A alternativa do governo será encontrar receitas em outros canais, que não passem pelo legislativo. A oposição fala em aumento da arrecadação como se fosse uma coisa negativa. Se o Brasil cresce, aumentam também as necessidades de investimentos em saúde, educação e infra-estrutura. A arrecadação precisa crescer. O governo pode economizar em muitos setores, mas é preciso primeiro reduzir despesas para, depois, cortar receitas.

A oposição ganhou essa batalha, mas pesará em sua consciência a imagem de ter se posicionado contra a esmagadora maioria da classe política executiva (prefeitos, governadores, executivo federal). Para a opinião pública (nunca confundi-la com a opinião privada publicada), ficou explícita, mais uma vez, a falta de compromisso de alguns setores políticos-midiáticos com a justiça social.

Muitas mentiras foram levantadas para aprovar a CPMF. A alegação de que seria um imposto que incidiria, percentualmente, mais no pobre do que no rico e, portanto, seria um imposto injusto e nocivo aos pobres, constituiu uma falsidade das mais torpes, logo chanceladas pelos jornais, a começar pelo Globo. Ora, os pobres ganham tão pouco, que qualquer imposto que paguem, mesmo mínimo, incide sobre suas economias. Mas os serviços de saúde prestados ao pobre, na forma de tratamentos médicos de alta complexidade, programas sociais ou aposentadorias rurais, compensam sobejamente qualquer percentual (ínfimo) que o imposto represente na renda do pobre. Além do mais, se o imposto representa 2% da renda o pobre e 0,4% da renda dos muito ricos e empresas, esse 0,4% sobre a renda dos mais ricos corresponde a valores infinitamente mais altos que os pagos pelos pobres. Quase 80% da CPMF vem de empresas, portanto foi realmente falacioso o estudo da USP divulgado pelo Globo e amplamente usado pela oposição como forma de vitaminar a teoria esdrúxula de que o imposto prejudicava o pobre. Além do mais, o crescimento da renda dos mais pobres tem sido significativo nos últimos anos, percentualmente superior ao crescimento da renda dos mais ricos, o que indica distribuição de renda e absorve tranquilamente o pagamento do percentual irrisório da CPMF - que lhe permite tratamento de saúde, bolsa família, aposentadorias rurais.

A saúde brasileira ainda é de péssima qualidade, mas tem melhorado expressivamente. O programa governamental de assistência contra a Aids tem sido admirado e citado frequentemente por governos e organizações internacionais como um dos melhores do mundo. Quero ver se esses senadores que votaram contra a CPMF terão a coragem de visitar os hospitais públicos brasileiros e conversar com os médicos, cuja maioria esmagadora deverá ter uma péssima noite de sono, depois de dias de glória com a aprovação, pelos deputados, de nova lei que destina mais R$ 24 bilhões para a saúde brasileira em quatro anos.

O debate sobre a questão tributária também tem sido conduzido de maneira hipócrita pela oposição. O senador Sérgio Guerra falou que o Brasil precisaria ter um regime tributário de primeiro mundo, procurando com esse argumento justificar sua posição contra a CPMF, mas não informou aos telespectadores que a carga tributária dos países de primeiro mundo é muito superior à do Brasil.

Também falaram que o Brasil cresce pouco, apenas superado pelo Haiti. Bem, primeiro que agora estamos crescendo a 5,6%, o que é um dos crescimentos mais vigorosos entre países em desenvolvimento e se torna mais signicativo se considerarmos que ele vem acompanhado de um forte movimento de distribuição de renda, inflação baixa e expansão da capacidade produtiva. Segundo, os que acusam o baixo crescimento do Brasil esquecem que a comparação com pequenos países centro-americanos é falaciosa. O Brasil cresceu o mesmo que o México, único país com população e o PIB parecidos com o nosso. E vem crescendo bem mais que os países de primeiro mundo, que apresentam crescimentos pífios.

A senadora Katia Abreu disse que o Brasil perdeu para China exportações para os Estados Unidos, omitindo que o seu cálculo é abstrato. Em termos reais, as exportações brasileiras para os EUA aumentaram fortemente nos últimos anos e o Brasil hoje exporta muito mais para os EUA do que nos tempos fernandinos. O que aconteceu foi uma gigantesca expansão das exportações nacionais para mercados diversos, como Oriente Médio, Ásia, Leste Europeu e para o próprio Mercosul. O que significa que o Brasil diversificou seu leque de clientes, deixando de ficar refém de um só país, o que é perigoso, imprudente e causa instabilidade comercial para o país.

O voto do PSOL pelo fim da CPMF, acompanhado somente dos partidos da direita, mostra ainda o contínuo oportunismo desse partido, que não acompanha mais o interesse dos trabalhadores e visa apenas agradar setores reacionários da classe média. PSOL assinou, há tempos, sua inscrição oficial no partido da imprensa golpista. Por fim, o cancelamento da CPMF cheira a corrupção bancada pela Fiesp, que patrocinou campanha contra a CPMF e tem vínculos estreitos com determinadas lideranças partidárias. Os profissionais da saúde amanhecerão preocupados nesta quinta-feira, e o governo terá que ser criativo para encerrar dignamente seu mandato. A derrubada da CPMF foi um atentado de lesa-pátria, um crime contra o Estado brasileiro.

9 de dezembro de 2007

Poupança bate recorde (e desmente abutres)

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A notícia de que os brasileiros estão poupando mais tem um significado especial, porque desmente cabalmente os abutres que tentavam desqualificar as políticas federais de ampliação do crédito popular alegando que elas estariam endividando o povo e conduzindo a um cenário de calotes. Há algumas semanas, inclusive, o Globo estampou manchetão na primeira página que atribuía a queda no lucro da Caixa Econômica Federal ao calotes de pequenos devedores. Eu denuncei a farsa e o volume recorde da poupança aponta para uma situação inversa. Os brasileiros não apenas estão pagando suas contas como estão conseguindo guardar um pouco. Naturalmente, há discrepâncias profundas na sociedade, com gente gastando o que não tem e outros fazendo verdadeiros milagres para conseguir guardar uma merreca qualquer no fim do mês.

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O debate em torno da CPMF vem sendo prejudicado, como sempre, pela interferência tendenciosa da imprensa. Na ânsia de justificar a atitude dos senadores tucanos e demos, que fecharam questão contra a CPMF, depois de a terem criado e prorrogado durante seus oito anos de governo, a imprensa lembra que o PT votou contra a CPMF. Pois bem, a questão é que, na época, o PT não governava e o país não havia se estruturado fiscalmente em torno das verbas da CPFM. Em outras palavras, o PSDB deu à luz à CPMF e amarrou o equilíbrio fiscal ao imposto, de maneira que é irresponsável agora, depois de terem convertido o governo quas num refém desse imposto, pretenderem extinguí-lo bruscamente, sem nenhum esquema de redução gradual.


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O PSDB vive dias de esquizofrenia aguda. Seus quadros eleitorais mais importantes, que são os governadores José Serra, Aécio Neves e Yeda Crusius, que representam os estados mais ricos e mais populosos do país, defendem a CPFM. Os senadores do PSDB, alguns dos quais representam eleitorados pequenos de estados paupérrimos e pouco populosos, como Arthur Virgílio, do Amazonas, fecharam questão contra o imposto. A explicação é simples. É que os governadores lidam com a realidade. Os senadores vivem a realidade virtual mostrada pela imprensa golpista. Os argumentos dos senadores tucanos para não votar a prorrogação da CPMF são contraditórios. Dizem que a saúde não melhorou. Ora, é cortando a mais importante fonte de recursos para a saúde que eles pensam em melhorá-la?


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Fui assistir o Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. Brad Pitt manda bem no papel do lendário bandido americano, mas o filme é modorrento e confuso.



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Eduardo, esse papo de lançar jornal de esquerda é furada. Por vários motivos: conceitual, mercadológico e estratégico. Conceitual porque ninguém sabe direito onde começa e onde termina a esquerda. Um jornal de esquerda será considerado de direita pela extrema-esquerda e stalinista (independente de juras democráticas de seus colaboradores) pela extrema-direita. Mercadológico porque tem dificuldade de obter anúncios. Lembra do Brasil de Fato? Logo numa de suas primeiras edições, o Brasil de Fato iniciou campanha pelo boicote aos produtos americanos, em protesto contra guerra no Iraque. Meus botões deram um faniquito. Isso é o suicídio publicitário mais estúpido que já presenciei! Então você vai recusar anúncio da Coca Cola por causa da guerra no Iraque? Tudo bem recusar anúncio de armas, tudo bem a população decidir algum tipo de boicote, mas um jornal? Num país onde os americanos detêm uma enorme participação na indústria publicitária local?

Além do mais, não vejo um público "de esquerda" tão expressivo assim no Brasil. Voltamos à internet mais uma vez. Esse público está se informando pela internet, e de graça.


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Marta Suplicy empatou tecnicamente com Alckmin para as eleições para a prefeitura de São Paulo. Considerando a campanha virulenta dos jornais paulistas contra o PT e a força do recall de Alckmin em função de ter participado dois dois turnos da campanha presidencial de 2006, o desempenho do tucano foi pífio. Mas representa um excelente case para analistas políticos. Kassab, atual prefeito, após Serra quebrar sua promessa de campanha, tem cotação desprezível nas pesquisas. Os dados comprovam, mais uma vez, a perda de força de nossa mídia tradicional, sediada em São Paulo e bancada com recursos dos nababos paulistanos.


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Algumas semanas atrás, terminei de ler As aventuras do sr.Pickwick, de Dickens. Foi o livro mais divertido que li na vida.


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Erro não. Preconceito. Alcemo Góes cometeu outro erro estranho. Deu nota outra dia escarnecendo do senador Paulo Paim (PT), que disse "protocolizado", referindo-se a um procedimento com um protocolo. Pois é. Hoje o Góes vem pedir desculpas, admitindo que o senador estava certo. A palavra existe. Eu me pergunto o seguinte: como pode Góes cometer um erro desse? Antes de acusar uma pessoa de ignorante, deveria consultar um dicionário. É a segunda vez que ele faz isso. Fez com o Lula, que disse "principalidade", termo que existe no dicionário, e ao fazê-lo, Góes contribuiu a alimentar o preconceito, já fortíssimo, contra o presidente metalúrgico. Nesse último caso, Góes não se desculpou.

O Góes tem umas tiradas que não entendo. Hoje reproduz a defesa do presidente da OAB de Rondônia, de que políticos do legislativo e executivo não recebam salário, "passando a função a ser considerada de grande relevância". Não entendi. Funções de grande relevância não merecem salário? E os políticos que não forem empresários ricos vão viver de quê? O pior é que Góes dá sequência à notinha dizendo que "é mais fácil o peru aceitar, de bom grado, o seu flagelo na ceia de Natal do que vingar a idéia de salário zero para político". ???? Também não entendi. Parece mais um capítulo dessa campanha vulgar e anti-democrática de desprestigiar a política, o que interessa somente à imprensa, que gosta de se arvorar como única representante da democracia e da ética no país.

7 de dezembro de 2007

O Eduardo tem razão

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(ainda sobre o debate dos últimos posts)

Acabei gerando um tolo desgaste de energia nesse debate. Preciso dar um jeito de aprender a lidar com meu egoísmo. Sou tão viciado em escrever que, quando fico sem assunto, começo a quebrar louças na casa. Volto à cerveja. Anyway, o Eduardo tem absoluta razão. Ele está fazendo o máximo dentro das suas possibilidades. Bobagem e arrogância minha ficar arrotando sugestões ornamentadas de poemas de Dylan Thomas. Foi mal aí, Edu e galera do MSM.



Um poema para relaxar:


Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálidos de cetim?

Disperso… E a hora como um leque fecha-se…
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar…
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se…

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado…

Fernando Pessoa

Prosseguindo o debate

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(tréplica à réplica de Eduardo. Continuação do debate do post anterior)

Falou, Edu. Eu desconfiava que ia acabar atrapalhando. Ou passando essa idéia. Mas os movimentos que irão durar sempre passam por profundos processos auto-críticos em seu início. Sobre a vitória de Lula, acho que você sem querer acabou chancelando a falsa teoria de que somente os pobres desinformados votaram em Lula, quando as estatísticas apontaram vitória do atual presidente em todas as classes sociais, inclusive entre os mais escolarizados, com a única exceção do município de São Paulo, talvez.

Também não considero o que eu disse como "fogo amigo", que é uma maneira um tanto depreciativa para uma coisa muita importante que se chama crítica construtiva. Se formos chamar de fogo amigo toda crítica construtiva, estaremos ferrados. Posso ter me expressado mal e você pode ter interpretado mal uma ou outra parte das minhas considerações. Podemos discordar de algumas ou todas, sei lá. Quanto ao objetivo comum e igual para todos, acho que isso também é tremendamente relativo. Não se trata de fins a alcançar, a meu ver, mas justamente mudar os meios.

Acho que estamos diante de uma profunda revolução na área da própria comunicação e o nosso erro é justamente conferir importância exagerada à setores que, em função das evoluções tecnológicas, estão sendo obrigados a dividir seu poder de influência com muitos outros.

Quanto à vaidade, você não pode cair nessa esparrela carola e chauvinista. A vaidade é absolutamente fundamental para o ser humano. Pergunte às mulheres. A pior, a mais ingênua ou hipócrita das vaidades é negar a vaidade. Você errou ao dar corda para mim. Talvez eu tenha errado em me aproximar do MSM. Mas você não pode esquecer que eu sempre fui apenas um leitor seu. Você idealizou o MSM há poucas semanas, confesso que foi quase um susto. Como leitor e admirador seu, de repente me vi pressionado a ser um "membro", um "filiado". Prefiro ser um leitor, um amigo, e desejar muita sorte a você e ao MSM nesta luta.

Como você vê, não sou um unificador. Tornei-me um implacável e cruel exterminador de utopias e ingenuidades (o que não é o caso do MSM), que não considero mais progressistas nos dias de hoje, apenas penduricalhos que uma hora ou outra acabam querendo substituir a saudável, mau educada, caótica, maravilhosamente humana "voz das ruas".

Você já parou para pensar que possamos estar vivendo um excelente momento de mídia? Com uma mídia reacionária e golpista sendo neutralizada por um vasto e plural movimento contra-informativo, estruturado principalmente na internet, o que nos confere a oportunidade de exercitarmos, nós mesmos, um papel importante na democracia e na evolução política do país? Estou sendo ingênuo? Mas não é você mesmo que está vendo, in loco, a sistemática derrota dos meios de comunicação em toda a América Latina? O castelo de cartas vem caindo um a um. A mídia ganhou neste último plebiscito de Chávez porque ele forçou a barra, testou os limites máximos de sua revolução e foi uma excelente lição democrática ao mundo.

De qualquer forma, acho injusto você me culpar por ter reagido a uma transparente e amiga provocação SUA. Eu estava quieto no meu canto, onde pretendo continuar anyway. Não sou nada no MSM. Até preferi não participar de reuniões para não atrapalhar e por alergia natural (o que é uma doença reacionária e egoísta talvez, mas não posso fazer nada) à palavra "assembléia". A luta ideológica passa pelo domínio verbal e o domínio das teorias ideológicas mais avançadas. Isso pregava Che Guevara, que mandava os guerrilheiros lerem livros de história. Isso acabou de ensinar Fidel Castro no prefácio ao novo livro de Oscar Niemayer, dizendo que a "leitura é a melhor couraça contra a manipulação". A mesma coisa dizem teóricos liberais. Eu acho que temos que aprofundar a luta neste sentido. Aprimorar a informação critica oferecida à sociedade brasileira. Produzindo informação crítica. Esse debate, de qualquer forma, mesmo que não leve a nada, é um exercício saudável, pelo menos para mim, esse egoísta chato metido a escritor. Acho que vou ter pesadelos com uma voz estrondosa, terrível, ecoando nos céus, urrando a nova máxima monárquica: Por que no te callas, Miguel?

PS: Acho que é fundamental participar de seminários. Isso sim. Minha dúvida era sobre a importância dessas "assembléias" e, sobretudo, manifestações em frente a jornais.

6 de dezembro de 2007

A luz irrompe onde o sol não brilha (debate com Eduardo Guimarães, do MSM)

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(Rauscheberg)



O Eduardo Guimarães me convidou para o debate. É um desafio que enfrento com muito prazer. A opinião dele é de que devemos sair de frente de nossos computadores e cair no mundo "real", para protagonizar o velho e bom combate ideológico.

Tenho o maior respeito pela luta real. Minha opinião, porém, tem sido a de que a internet é o campo de luta mais eficaz, onde há menor desgaste pessoal e maior poder de fogo.

Vamos aos argumentos. Em primeiro lugar, não desconsidero de forma alguma o valor de manifestações físicas. O que coloco em questão são estratégias específicas de um movimento de pequeno porte, sem condições, por diversos motivos, entre os quais a falta de recursos financeiros, de se tornar muito grande e protagonizar grandes eventos públicos.

Há que se pensar, portanto, as circunstâncias específicas de cada luta. Se estou numa briga de botequim, falo uns bons palavrões e preparo os punhos para dar uns socos e o rosto para receber outros. Se faço parte de um sindicato com 100 mil membros e orçamento de 40 milhões de reais, posso alugar ônibus, pagar lideranças e contratar empresas de serviço para me ajudar. As grandes manifestações sindicais e de movimentos sociais, hoje em dia, são altamente profissionalizadas. Custam muito dinheiro e são organizadas por profissionais, devida e justamente pagos para isso.

Por outro lado, quem são os adversários do movimento dos sem mídia? São pessoas que estão pessoalmente blindadas, remuneradas regiamente. Nunca se desgastam, nunca se expõem fisicamente. Participam da luta como mercenários contratados no conforto de seus computadores e conseguem resultados espantosos, produzindo crises políticas que estremecem os alicerces da nação.

Há momentos, claro, de grande comoção nacional, em que as pessoas comparecem aos milhares, espontaneamente, às ruas. Mas esses momentos não tem relação com pequenos movimentos. São, como disse, ações espontâneas de massa, como foram as impressionantes e grandiosas manifestações contra a guerra no Iraque. As quais, lembremos, não deram em nada. Os EUA invadiram o Iraque do mesmo jeito, com violência inaudita.

Hoje em dia, no Brasil, se um grupinho de dez pessoas se manifesta em linha com interesses de nossa mídia corporativa, ela consegue ampliar o evento de maneira incrível, proporcionalmente à capacidade da mesma mídia de minimizar o tamanho de uma manifestação contrária a seus interesses.

A internet é um grande campo de luta. Eduardo Guimarães, blogueiro e um importante líder do movimento de contra-informação no Brasil, por quem tenho infinita admiração, está, a meu ver, subestimando o poder da internet de influenciar as pessoas, sobretudo os chamados formadores de opinião, os quais, como o nome diz, distribuem as informações colhidas na internet para toda a população brasileira.

Está certo que a internet não atinge um morador da beira do rio Solimões, pobre e semi-analfabeto, mas naquela cidadezinha, seguramente, há um radialista que entra na internet, interage com diversos blogs e sites, processa esses dados e retransmite suas conclusões aos ouvintes de seu programa de rádio.

O meu humilde blog, por exemplo, tem textos republicados em pequenos sites do interior do país, é acessado por cidades de toda parte. É possível acompanhar tudo pelo Google e pelos monitores de acesso. Acredito que acontece o mesmo com o blog Cidadania.

Eduardo Guimarães fala no Sivuca, um conjunto de blogs, que têm em comum o sentimento de protesto contra certa ditadura da opinião única que observamos na mídia. O problema é que Guimarães parece subestimar o valor do Sivuca, como se a grande quantidade de espaços "de esquerda" ou "anti-mídia", fosse excessiva e, portanto, tivesse sua força diluída. Ele esquece que, se a mídia vem sendo desmascarada, e perdendo diversas batalhas que comprou nos últimos tempos, é justamente por uma blogosfera vigorosa, numerosa, plural, que a tem questionado sistematicamente. São muitos blogs? Sim, são muitos. Por isso são invencíveis. A força da internet está em que ela reúne micro núcleos de opinião, tão numerosos que são impossíveis de serem combatidos pelos jagunços da mídia.

De vez em quando, um jagunço da mídia resolve atacar um componente da blogosfera contra-informativa. Rapidamente, há um movimento espontâneo de contra-ataque. Os blogueiros têm um sentimento grande de união, nos momentos certos. Fora desses momentos, agem individualisticamente, como convém.

Cuidado, Edu, para não cair num questionamento chauvinista sobre a luta "ideológica" na internet, referindo-se aos valentes blogueiros como seres que têm coragem de brigar apenas no conforto de suas casas. A luta pela internet é tão dura quanto qualquer outra. Se é ideológica, é uma luta intelectual. A competição intelectual na internet é enorme e às vezes chega mesmo a ser irritante. Há legiões de pedantes que confundem conhecimento de almanaque com o verdadeiro conhecimento sobre a vida e sobre o mundo, que é sobretudo um conhecimento viril e criativo.

A proteção que a internet nos proporciona, Eduardo, é justamente proteção contra os gigantes que aguardam qualquer descuido nosso para nos pegar. Além do mais, temos um país grande demais, e as manifestações físicas privilegiam, como sempre, os moradores das metrópoles. Quando você dá mais valor a um ser que se manifesta fisicamente do que um outro que se manifesta virtualmente, você acaba valorizando quem mora em São Paulo ou Rio de Janeiro, e discriminando quem mora no interior de Mato Grosso e não pode viajar. Sem contar o fato de que, em muitas cidades do interior, as forças políticas conservadoras ainda têm comportamento mafioso, e manifestações locais supõem risco real de vida e danos profissionais.

Há um cientista inglês, Stephen Hawking, que revolucionou a física mundial apenas movendo dois dedos da mão esquerda. Ele não pode se manifestar fisicamente, mas com sua inteligência e suas palavras superou milhões de garotos fortes e saudáveis formados em Harvard.

A internet, hoje, está provado, influencia eleições, altera consciências e produz comportamentos. No caso específico da luta contra-informativa no Brasil, tenho a convicção de que a briga se dá no campo da classe média. Você, Edu, revolta-se sobretudo com matérias e opiniões publicados na Folha, no Globo e no Estadão. Claro que a televisão também é questionada pelo MSM. Mas creio que o poder da Globo vem declinando de maneira mais acelerada do que nós esperávamos. O Ibope da Globo está despencando, e por motivos sólidos. Canais fechados, internet, DVD, melhora do nível de outros canais, são os motivos. A entrada da TV digital irá igualar as emissoras em força de sinal. Em milhares de cidades, o único canal que pega bem é a Rede Globo. Com a TV digital todos os canais pegarão bem. A competitividade enfraquecerá o monopólio da Globo. E, no caso de todas formarem um conglomerado golpista, teremos aí a TV Pública que servirá de contra-ponto.

O Brasil tem poderosos movimentos sociais organizados, com recursos e número de filiados. Competir com eles em manifestações públicas é ridículo. Movimentos como o Cansei caíram no ridículo por causa disso: reuniram dezenas de pessoas em Brasília, vinte no Rio, umas cem em São Paulo, número que, definitivamente, não representa nada. O MSM, por exemplo, juntou 34 pessoas na manifestação diante do Globo em São Paulo. Ora, quantas pessoas visitam seu blog diariamente? 1.500 pessoas. 2.000 pessoas. Multiplique isso por 30 e terá mais de 50 mil pessoas por mês. Eu sei que o seu blog é imensamente visitado porque só o fato do meu blog ser linkado no seu, me traz um contingente monstruoso de visitantes.

Existem, sim, movimentos como o Sivuca, e entendo que o MSM queira se diferenciar. Mas não acho que o caminho seja desmerecer a internet ou insinuar (sei que não é sua intenção) que quem luta pela internet é bundão nerd covarde. Pessoalmente, acho que o Sivuca é uma iniciativa magnífica, mas ainda muito rudimentar. A saída não seria voltar a lutar com paus e pedras e sim incrementar tecnologica, visual e ideologicamente a estratégia. Não basta lançar um blog. Não basta fazer um site. Não basta fazer um pool de sites. O importante é o conteúdo e a tecnologia. Se um bom site pode faturar mais que o orçamento do estado de São Paulo, como é o caso do Google (e o Google nada mais é que um bom site), então pode perfeitamente ser uma ferramenta altamente revolucionária.

Além do mais, é preciso ter visão de futuro. A venda de computadores no Brasil superou a venda de televisores este ano. Entende isto? Devido aos programas de crédito popular, muito recentes e inéditos na história brasileira, as classes populares estão tendo oportunidade de comprar computadores. É natural que estas classes ainda precisam de tempo para assimilarem esse novo meio de informação. A maioria perde tempo usando orkut e msn. Conheço jovens adolescentes que nunca leram um livro mas que gastam horas por dia lendo sites de relacionamento, envolvendo-se ao poucos em discussões políticas e culturais às quais, sem a internet, nunca teriam acesso.

Essa é a grande mudança. O debate político e cultural não é mais monopólio dos intelectuais. Aliás, se você observar, verá como há uma participação plural, de diversas classes sociais, nos diversos espaços de debate político e ideológico que a internet abriu. Tudo isso é muito novo!

O mais irônico disso tudo, e o mais lindo também, visto que honra os cidadãos brasileiros, é que a participação na web explodiu no Brasil justamente por causa da terrível pressão ideológica que a mídia corporativa exerceu sobre a sociedade. A nossa mídia pressionou, e ainda pressiona, a sociedade a engolir suas opiniões. A pressão gerou uma enorme e crescente revolta, que procurou saída natural na internet. Você é um exemplo disso. No meu caso, eu atuo na imprensa alternativa há muitos anos. Eu editava jornais impressos no Rio de Janeiro. Eu marcava reuniões na minha casa. Sempre para denunciar manipulações e distorções ideológicas. A Miriam Leitão não informava sobre a explosão da dívida pública e sobre a fragilidade da política econômica de Fernando Henrique. O Jornal Nacional era a coisa mais fútil, dedicando programas inteiros a notícias sensacionalistas, como nascimento de sextigêmeos nos Estados Unidos e pouco falava de política. Isso nos anos 90.

Mas a minha atuação nunca passou do local, mesmo atuando na segunda maior cidade do país. Quando eu comecei a escrever para a internet, primeiro com o site Arte & Política, depois com o blog, eu passei a atingir um público infinitamente maior, inclusive internacional. Lembro que, uma vez, eu li emocionado um artigo meu traduzido para o espanhol por militantes da campanha do Tabárez Vásquez, candidato de esquerda à presidência do Uruguai, que ganhou eleições. Artigos meus, peças de combate, foram traduzidos também para o alemão, inglês e francês, porque foram colhidos na internet e correram mundo. Muitos outros artigos, de outros autores, tiveram o mesmo destino.

No fim das contas, estamos condenados a pensar. Mesmo que consigamos reunir algumas centenas de manifestantes em determinado local, o valor disso não será muito se as idéias por trás não forem consistentes. Se os argumentos não forem vigorosos. Se a forma como forem expressos não for criativa.

Não quero que confunda minha opinião, todavia, como desprezo pelo valor do contato humano. Acho que é absolutamente fundamental que as pessoas se encontrem, que confraternizem, que discutam, que interajam. O amor e a amizade verdadeiros, felizmente, só ocorrem ao vivo e a cores. Por isso, na minha opinião, movimentos como o MSM deveriam organizar encontros puramente festivos, de confraternização, os quais gerariam preciosas trocas de idéias e planos de ação, sempre focando na internet. Os eventos poderiam, inclusive, ser alavancadores de recursos.

Concluindo, acho que a internet é uma ferramenta altamente poderosa, com potencial revolucionário, e mais: é uma ferramenta completa. Não basta usá-la, todavia, é preciso usá-la com talento, inteligência, coragem e arte. Subestimando a internet, Edu, você subestima a palavra e subestima a poesia. Subestima também os poetas, seres profundamente feridos na alma, muitas vezes vivendo quase no limiar da loucura, mas sem os quais a humanidade estaria chafurdando numa situação infinitamente mais vil que a atual. Repare ainda que a poesia consegue, incrivelmente, ganhar o respeito absoluto de representantes dos mais extremos matizes ideológicos.

The times they are a-changin', dizia Bob Dylan. E continuam mudando. Durante séculos, os brasileiros nasciam e morriam mudos. Hoje, estão tendo a oportunidade de participar do debate nacional. Esta participação já tem dado resultados importantes, criando redes de influência que provocaram sérias fissuras no poder manipulador da mída corporativa. Não é por outra razão que os colunistas agora procuram desqualificar, a todo momento, a massa crítica anti-mídia da internet, o que revela a dor dos socos que vêm levando no estômago - e com isso aumentam ainda mais a indignação e o entusiasmo dessa massa crítica. Na solidão de seus computadores, movidos por esse inesgotável entusiasmo pela luta ideológica, onde entra inevitavelmente uma identificação classista, defendendo ou atacando os interesses trabalhistas, amadurecem os novos soldados da contemporaneidade. As estratégias de luta mudam, mas ainda se carece coragem, muita coragem. A internet também é o mundo real. A luz, caro Edu, irrompe mesmo onde o sol não brilha.


A luz irrompe onde nenhum sol brilha;
onde não se agita qualquer mar, as águas do coração
impelem as suas marés;
e, destruídos fantasmas com o fulgor dos vermes nos cabelos,
os objectos da luz
atravessam a carne onde nenhuma carne reveste os ossos.

(...)

A luz irrompe em lugares estranhos,
nos espinhos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva;
quando a lógica morre,
o segredo da terra cresce em cada olhar
e o sangue precipita-se no sol;
sobre os campos mais desolados, detém-se o amanhecer.

(Dylan Thomas)

5 de dezembro de 2007

Desopilando o fígado

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(Helcio Barros, que está participando de exposição no centro do Rio)


Foi excelente Chávez ter perdido. Serviu para fazê-lo baixar um pouco a bola. Ele andava se excedendo. Comprou briga com a Espanha. Comprou briga com a Colômbia. Comprou briga com o Senado brasileiro. Ele precisa saber controlar sua verve agressiva. O rei espanhol não tinha nada que mandá-lo se calar. Não devia nem estar lá. Mas Chávez também devia ter evitado colocar o presidente espanhol na constrangedora obrigação de defender Aznar. Uribe, presidente da Colômbia, talvez tenha se precipitado em tirar Chávez da negociação com as Farc. Mas Chávez nunca deveria ter dado o chilique anti-Uribe que deu, criando tempestade em copo-d'água, chamando de volta o embaixador, ameaçando os negócios entre os países. Isso foi loucura total. O que os trabalhadores e empresários colombianos e venezuelanos que fazem negócios entre si têm a ver com a briguinha pessoal entre Uribe e Chávez? O destempero verbal de Chávez contra Senado brasileiro também foi um ato de hostilidade estúpido e gratuito contra o Brasil, porque ele ofendeu a instituição como um todo, incluindo bons e maus senadores no mesmo saco, criando uma desnecessária dor-de-cabeça para o governo, que vem se esforçando para o congresso aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Ou seja, criou um desgaste para um governo aliado seu, criou um constrangimento para Lula, que inclusive, segundo relatos, teria ficado furioso com a burrice de Chávez.


*


Assisti, pela internet, o final da sessão que absolveu Renan Calheiros. Mais uma vez, fiquei estupefato com a esquizofrenia do processo que tentava lhe cassar o mandato. Fiquei emocionado com o discurso do senador carioca Francisco Dornelles, que criticou aqueles que se acham donos da ética, que confundem a sua própria pessoa com a ética, que acabam considerando tudo que é diferente de si, tudo que é divergente ou estranho a si, considera como não ético. Foi uma flechada certeira no coração da hipocrisia do senador Pedro Simon, a quem os colunistas da mídia chamam de "senador ético". Simon, ironicamente, subiu ao palanque em seguida, visivelmente abalado com o discurso brilhante de Dornelles. Simon fez um discurso desconexo. Falou generalidades, lugares-comuns e terminou caindo em contradição, afirmando que não gostaria que Renan perdesse seu mandato - apesar de dizer que votaria pela cassação.

Arthur Virgílio também foi desconexo. Fez um discurso dizendo-se amigo e admirador de Renan Calheiros, mas que votaria pela cassação para agradar a mídia (não disse isso, mas ficou claro). Jefferson Peres fez um discurso doentio, em que encerrou com ameaças obscuras e incompreensíveis ao futuro do Senado e do país. Ambos afirmaram que o futuro do Senado estava em jogo e eu pensei que eles estavam certos, mas com interpretações erradas. O Senado mostraria-se submisso à uma mídia decadente e pouco representativa da sociedade brasileira caso aceitasse condenar um parlamentar eleito pelo povo por causa de suposições.

Por fim, Renan Calheiros foi fazer sua defesa. Foi uma defesa brilhante, mostrando que não havia uma prova sequer contra sua pessoa, neste caso, em que é acusado de ser cotista de um jornal e uma rádio. Mostrou que tanto o jornal como a rádio são empresas insignificantes, falidas. Que não é ilegal ser cotista de uma rádio. É ilegal ser dono. Desmontou uma por uma as suposições levantadas por Jefferson Peres. Fiquei perplexo com a fragilidade e a insignificância dos elementos arrolados por Peres para acusar Renan. Tudo se baseia na acusação de um declarado inimigo político, João Lyra, um usineiro acusado de inúmeros assassinatos, roubos, etc, e que, segundo o depoimento de Teotonio Vilela, governador da Paraíba, teria largado tudo para tentar destruir a vida de Calheiros.

"Eu não sou santo / Se eu fosse santo estaria no altar", cantava Bezerra da Silva. Acho que ninguém é santo. Acho que Renan Calheiros não é santo. Mas não se pode condenar ninguém, muito menos um representante do povo, com base em suposições insignificantes. Estaríamos aí sim, criando um precedente terrível contra a segurança jurídica de cada cidadão brasileiro. Tirando a citação de Bezerra, os mesmos argumentos foram apresentados por Renan.

Renan ganhou de lavada, e preferiu não exercer o direito de votar em causa própria. 48 votos a favor X 29 votos contra. Oposição e situação votaram em peso pela absolvição, dando prova de que o parlamento brasileiro começa a ficar vacinado contra o lacerdismo barato e interesseiro de setores da mídia.


*


Esta semana, li o início do artigo de Ali Kamel no Globo, em que ele refere-se a "setores autoritários e poucos democráticos". Fiquei chocado com a maneira de Kamel tratar aqueles de cujas idéias ele diverge. Agora, além de termos gente que se confunde com a própria ética, temos também os que se confundem com a própria democracia e com a liberdade. Ali Kamel acha que somente a direita é democrática, somente a direita não é autoritária, o que é um insulto a inteligência dos brasileiros, que assistiram as forças conservadoras de direita chacinarem e torturarem a democracia e a liberdade no Brasil.


*


Adoro ler jornal. Mesmo nossa imprensa sendo tão cansativamente golpista, eu gosto de ler. Eu filtro as notícias e pego o que me interessa nas partes de política, economia e cultura. Aliás, o próprio golpismo me interessa, me diverte. Não fico mais nervoso, apenas excitado e com vontade de responder. Mas há coisas tão pequenas, que não vale a pena gastar saliva contestando. HOje, por exemplo, comprei a Folha e a nota de Clovis Rossi era algo tão vulgar, tão bobo, que nem mereceria comentários. Somente um débil mental para se deixar levar pelos argumentos apresentados por ele. Rossi observa que Renan Calheiros admitiu que não tem mais condições de ser presidente da Casa, e conclui que isso seria prova de que ele não teria mais condições de ser Senador, pois, segundo a lógica espertinha de Rossi, todo senador teria que ter condições de ser presidente da instituição. Ora, é óbvio que um senador só tem condições de ser presidente se tem apoio amplo dos parlamentares, por diversas razões, mas isso não o impede de ser senador. Rossi parece que está ficando sem argumentos e fica inventando razões para continuar fazendo seu joguinho.


*


Volto a falar sobre o Tupi. Ainda não consigo engolir a má vontade com que parte da sociedade brasileira recebeu a notícia do recém-descoberto campo gigante de petróleo. Disseram que o governo foi excessivamente otimista. Repito: o governo anunciou UM CAMPO, o Tupi, cuja existência foi comprovada por diversos testes. Mas a descoberta deste campo sinaliza a possibilidade forte de que haja dezenas ou centenas de outros campos, médios ou gigantes, numa faixa da costa marítima que vai de Santa Catarina ao Espírito Santo. Coisa de centenas de bilhões de barris de petróleo. É muita coisa e por isso acho um absurdo, uma tremenda mesquinhez, a nossa imprensa não especular com os horizontes que se abrem diante dessa nova realidade.

4 de dezembro de 2007

Estarei lá

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2 de dezembro de 2007

Links de Segunda Feira

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Ouçam a voz machucada de Sylvia Plath, a grande poeta inglesa.

http://www.bbc.co.uk/arts/poetry/outloud/plath.shtml

*

Mais Sylvia:

ARIEL

Stasis in darkness.
Then the substanceless blue
Pour of tor and distances.

God's lioness,
How one we grow,
Pivot of heels and knees! — The furrow

Splits and passes, sister to
The brown arc
Of the neck I cannot catch,

Nigger-eye
Berries cast dark
Hooks —

Black sweet blood mouthfuls,
Shadows.
Something else

Hauls me through air —
Thighs, hair;
Flakes from my heels.

White
Godiva, I unpeel —
Dead hands, dead stringencies.

And now I
Foam to wheat, a glitter of seas.
The child's cry

Melts in the wall.
And I
Am the arrow,

The dew that flies
Suicidal, at one with the drive
Into the red

Eye, the cauldron of morning.


Ouça a poeta recitando Ariel.

*

Traduções dos poemas:


LADY LAZARUS

Tentei outra vez.
Um ano em cada dez
Eu dou um jeito —

Um tipo de milagre ambulante, minha pele
Brilha feito abajur nazista,
Meu pé direito

Peso de papel,
Meu rosto inexpressivo, fino
Linho judeu.

Dispa o pano
Oh, meu inimigo.
Eu te aterrorizo? —

O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda?
O hálito amargo
Desaparece num dia.

Em muito breve a carne
Que a caverna carcomeu vai estar
Em casa, em mim.

E eu uma mulher sempre sorrindo.
Tenho apenas trinta anos.
E como o gato, nove vidas para morrer.

Esta é a Número Três.
Que besteira
Aniquilar-se a cada década.

Um milhão de filamentos.
A multidão, comendo amendoim,
Se aglomera para ver

Desenfaixarem minhas mãos e pés —
O grande striptease.
Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher.
Tinha dez anos na primeira vez.
Foi acidente.

Na segunda quis
Ir até o fim e nunca mais voltar.
Oscilei, fechada

Como uma concha do mar.
Tiveram que chamar e chamar
E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.

Morrer
É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional.

Desse jeito faço parecer infernal.
Desse jeito faço parecer real.
Vão dizer que tenho vocação.

E muito fácil fazer isso numa cela.
É muito fácil fazer isso e ficar nela.
É o teatral

Regresso em plena luz do sol
Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito
Aflito e brutal:

"Milagre!"
Que me deixa mal.
Há um preço

Para olhar minhas cicatrizes, há um preço
Para ouvir meu coração —
Ele bate, afinal.

E há um preço, um preço muito alto
Para cada palavra ou cada toque
Ou mancha de sangue

Ou um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas.
E aí, Herr Doktor.
E aí, Herr Inimigo.

Sou sua obra-prima,
Sou seu tesouro,
O bebê de ouro puro

Que se funde num grito.
Me viro e carbonizo.
Não pense que subestimo sua grande preocupação.

Cinza, cinza —
Você fuça e atiça.
Carne, osso, não há mais nada ali —

Barra de sabão,
Anel de casamento,
Obturação de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer
Cuidado.
Cuidado.

Saída das cinzas
Me levanto com meu cabelo ruivo
E devoro homens como ar.




ARIEL

Estase no escuro.
E um fluir azul sem substância
De rochedos e distâncias.

Leoa de Deus,
Como nos unimos,
Eixo de calcanhares e joelhos! — O sulco

Divide e passa, irmão do
Arco castanho
Do pescoço que não posso pegar,

Olhinegras
Bagas lançam escuros
Ganchos —

Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais

Me arrasta pelos ares —
Coxas, pêlos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco —
Mãos mortas, asperezas mortas.

E agora
Espumo com o trigo, um brilho de mares.
O choro da criança

Dissolve-se no muro.
E eu
Sou a flecha,

Orvalho que voa
Suicida, e de uma vez avança
Contra o olho

Vermelho, caldeirão da manhã.



Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e
Maria Cristina Lenz de Macedo
Verus Editora, Campinas-SP, 2007

*

A política por Mano Brown

http://br.youtube.com/watch?v=WSuGxLlfAxg


O evangelho por Mano Brown

http://br.youtube.com/watch?v=vCY0BN2uf9E&feature=related

29 de novembro de 2007

Quem tem medo do Grande Sertão?

10 comentarios

Muita gente, muita gente mesmo corrobora a fala de FHC. Que Lula é mesmo um analfabeto. Depois da repercussão do que disse o Farol de Alexandria, todos ficaram atentos para pegar o presidente falando errado. Ele deu entrevistas na televisão recentemente e, numa de suas viagens verbais, soltou a pérola: "principalidade". O Ancelmo Góes tascou uma notinha zoando o suposto erro. Eu também havia estranhado a tal "principalidade". Mas eu tinha compreendido exatamente o que o Lula queria dizer e quanto você entende bem uma frase a tendência é de que ela tenha sido expressa corretamente e não o contrário. Fui conferir no Mestre:


principalidade
[Do lat. principalitate.]
Substantivo feminino.
1.Qualidade de principal.


Ou seja, o Apedeuta usou a palavra certa. Usou uma palavra rara. Uma palavra culta. Uma palavra original.

O que me faz lembrar no que eu venho pensando há alguns dias. Como alguém pode dizer que Lula sabe mal o português se ele deve o prestígio que conquistou (ganhou duas vezes as eleições presidenciais, acumula índices altos de popularidade, é adorado na ONU, na Casa Branca e na Venezuela) justamente à seu talento retórico? Aliás, se os tucanos realmente acreditam que o governo Lula é uma merda, então eles deveriam, necessariamente, considerar Lula um mago da sedução verbal.

Eu sou intelectual e não me orgulho disso. São fatalidades da vida. Mas francamente, se eu aprendi uma coisa é isso: GRANDE MERDA SER INTELECTUAL. Não tem dinheiro, não tem pragmatismo, não tem confiança em nada. Ser intelectual é uma merda. Nem a inteligência é garantida. Ao contrário, todo intelectual é meio sonso. As pessoas confundem cultura com intelectualismo. Confundem inteligência com cultura. É importante ter cultura. Ser intelectual é uma desgraça poética à parte.

Voltando ao português do Lula, eu acho que o presidente fala bem melhor que qualquer tucano, tanto que ganhou eleições de lavada. Numa democracia, ganha quem fala melhor. Por isso a democracia é tão apaixonante, porque ela tem um componente puramente ideológico, linguístico, retórico. E desde Sócrates, a beleza reside no verdadeiro. Não na tola ostentação verbal. O português rude de um homem do povo pode ser mais belo e criativo que o português ornamental e enfadonho de tucanóides uspianos. FHC deveria reler os livros de Guimarães Rosa e enfiar a viola no saco para todo sempre.

Sobre a malaise da classe média e cachoeiras

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http://www.agenciacartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3775&boletim_id=385&componente_id=7154

28 de novembro de 2007

Liberdade web

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http://www.oindividuo.com/2007/11/05/manifestacao-por-karim-o-blogueiro-preso-do-egito/

O leite das crianças

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http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/467501-468000/467915/467915_1.html

27 de novembro de 2007

Entrevista de Paulo Henrique Amorim para a Folha de São Paulo

1 comentário

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/465501-466000/465510/465510_1.html

O livro da Bruna Surfistinha é bom

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Ontem à noite, sentado na minha poltrona preta acolchoada, comprada em São Paulo, passei a vista nos livros na estante ao lado e, quase que por acaso, acabei puxando o livro da Bruna Surfistinha.

O livro pertence a uma amiga da minha mulher e não sei como veio parar na minha estante. Não importa. Também não importa quem é o autor exato do texto. Há uma chamada na segunda capa informando que se trata de um depoimento a Jorque Tarquini. Se o texto final não é dela, os sentimentos e a história seguramente o são. O que o livro me passou foram sentimentos de uma garota muito corajosa e muito humana.

Nunca tive preconceito contra prostitutas, até porque elas me foram muito úteis nos primórdios da minha vida sexual. É bom esclarecer alguns pontos que o marketing do livro, na ânsia de maximizar vendas, deixou meio nebulosos. Por exemplo, Bruna é, de fato, uma garota de classe média alta de São Paulo. Mas também é uma filha adotiva e moça problemática, clepto e ninfo maníaca desde muito cedo, cujos pais, talvez com razão, decidem lhe voltar as costas, deixando-a sem dinheiro e sem afeto. Os pais, inclusive, denunciam-na à Justiça, pelo roubo de algumas jóias da família. A moça, com dezesseis anos, por pouco não vai para a Febem. Logo depois, escuta rumores de que será enviada para algum lugar. Temendo algum tipo de internato maluco, ela decide pôr em prática um plano que vinha desenvolvendo há tempos: trabalhar num prostíbulo.

O livro é bem escrito. Os sentimentos e a história da menina são narrados com clareza e sensibilidade. Está aí a razão do sucesso estrondoso do romance e não serão preconceitos morais ou intelectuais que vão mudar isso.

Na verdade, venho observando um fenômeno editorial interessante: uma divergência crescente entre escritores e intelectuais. Nem todo intelectual é escritor, nem todo escritor é intelectual. A falta de compreensão disso leva muitos intelectuais a tomarem atitudes preconceituosas contra escritores que não seguem as regras aplicadas aos intelectuais. Escritores nem sempre são cultos, nem sempre são politizados, muitas vezes são preconceituosos, reacionários, alienados. O que o escritor precisa ter, e essa é uma opinião muito pessoal, é caráter. Pode parecer uma contradição, mas um escritor pode ser um filho-da-puta sem caráter ou um filho-da-puta com caráter.

O seu livro é uma excelente aula de sexo, além de um interessante case para pesquisdores da sexualidade contemporânea. A cena do senhor pedindo "chuva negra" é antológica. Já tinha ouvido falar disso, mas nunca tinha lido uma descrição tão realista desse tipo de tara. O sujeito pede que a moça faça o "número 2" sobre ele, enquanto ele toca uma punheta. Arg.

São dezenas de descrições interessantes de orgias, lesbianismo (preferência da Bruninha), surubas, swings, enfim, um verdadeiro kama sutra contemporâneo.

Parabéns Bruna.

Trechos de um artigo de Luciano Martins Costa, publicado no Observatorio da Imprensa em 27/11/2007

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Capitalismos menos capitalistas

Veja-se, por exemplo, os debates sobre as relações entre o Brasil e a Venezuela, ou a repercussão do "cala-boca" do rei da Espanha ao presidente Hugo Chávez. Embora o presidente Lula tenha levantado a questão da desigualdade de condições entre o monarca – que não depende de votos para se manter no poder – e um governante que precisa se submeter a eleições, a imprensa se desviou da questão e se ateve ao factóide em si.

Esse era um bom momento para pensar, por exemplo, na racionalidade da persistência das monarquias no mundo contemporâneo, com o anacronismo do conceito de direito divino ao poder. Na falta de abordagens menos convencionais, a opinião pública ficou atrelada ao que indica o viés ideológico de cada um, sem que se oferecesse a oportunidade para uma reflexão mais profunda sobre as relações entre a Espanha e suas antigas colônias, por exemplo.

Ora, empresas ibéricas fazem a festa na América do Sul, cumprindo o antigo papel do Estado de prover o desenvolvimento, beneficiam-se da privatização de serviços que os latino-americanos não conseguem financiar e acumulam lucros imensos. Trata-se do velho jogo do capitalismo, mas a imprensa passa por cima de certos detalhes, como o alto grau de envolvimento dos governos de Portugal e Espanha na constituição das multinacionais que atuam na América Latina. Esse detalhe, por si, mereceria algumas linhas de diferenciação entre capitalistas e capitalistas.

Quando a imprensa acusa os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales de conduzirem a Venezuela e a Bolívia para fora dos padrões da economia capitalista, poderiam lembrar que as novas potências ibéricas financiaram suas multinacionais com recursos do Estado a partir da década de 1970 – e ninguém nunca publicou que o capitalismo espanhol ou português é menos capitalista.

Visão de mundo estúpida

Da mesma forma, nenhum jornal ou revista jamais se dignou a destrinchar o sistema financeiro da Suíça – nação tradicionalmente postada como paradigma da neutralidade e da civilidade – quando se sabe que o crime organizado e a corrupção têm em grandes bancos daquele país abrigo discreto para o dinheiro sujo. O escândalo das fraudes e evasão de divisas revelado recentemente pelas operações que a Polícia Federal batizou de Kaspar I e Kaspar II desapareceu do noticiário sem que a imprensa prestasse aos leitores o serviço de esclarecer esse lado perverso do sistema financeiro internacional.

Ao permanecer na superfície dos fatos, a imprensa deixa de estimular a inteligência do leitor e sua busca por explicações mais satisfatórias para certos acontecimentos. Ficamos, assim, presos ao velho e batido viés que reproduz um confronto ideológico sem sentido na complexidade do mundo contemporâneo.

Se, como afirma o peruano Alvaro Vargas Llosa, persiste na América Latina um pensamento esquerdista que ele chama de "perfeitamente idiota", a contrapartida é a permanência de uma visão de mundo conservadora, justificada pela imprensa, que podemos chamar, sem medo de errar, de absolutamente estúpida.

26 de novembro de 2007

Resenha apocalíptica

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Ainda é cedo, mas o céu já escureceu, devido ao desequilíbrio na atmosfera causado pelas bombas. Precipitando-se à previsão de quase todos os analistas, os ataques militares de ambos os lados tornaram letra morta os esforços diplomáticos que vinham sendo feitos. Em Londres, Madrid, São Paulo, Nova York, milhões se manifestaram contra o início dos conflitos, depois contra sua continuação, sem resultado. Apesar de poucos colunistas e governantes apoiarem a “solução final”, a opinião deles, como sempre, vale mais que a de todos.

Quando me pediram a resenha, há duas semanas, nunca imaginaria ser minha derradeira contribuição para a revista. Eu deveria resenhar, neste espaço, o novo romance de Daniel Urbes, peruano radicado em Miami. O livro é uma porcaria, um coquetel oportunista que mescla pseudo-preocupações sociais com charlatanismo reacionário, em linguagem pretensiosamente difícil, como de praxe, para intimidar leigos e confundir críticos.

À luz do holocausto que se avizinha, medito sobre o unilateralismo ideológico que monopolizou nossas mídias, causando inexorável empobrecimento das artes e da crítica. Claro, alguns intelectuais nunca se sentiram tão confiantes, em face do vigor descomunal dos grupos que os apóiam. Sabem de que lado estão e usufruem da sensação de invencibilidade que o poder lhes confere. Essa confiança excessiva, porém, ofusca-lhes a intuição de que necessitam para avaliar criticamente uma obra de arte. O irônico é que, na ânsia de criticar o ideologismo, acabam por se tornar boçalmente ideológicos.

Um romance como o de Urbes, por exemplo, incensado por resenhistas de meio-vintém (literalmente, visto que ganham duzentos reais por texto publicado), explica muita coisa sobre nossa situação. Urbes esteve no Rio de Janeiro há dois meses, por ocasião da Bienal do Livro. Participou de debates e deu entrevistas. Pareceu-me um rapaz articulado e inteligente. Seu livro, todavia, é um amontoado de clichês entediantes e malabarismos modernosos. Estou certo de que a decadência da qual falei decorre da maneira como a cultura é patrocinada e distribuída, favorecendo toda espécie de pilantra com talento para relações públicas.

Merda! Logo agora que tomei coragem para dizer o que eu penso, Deus resolve exterminar o mundo como quem espreme uma espinha. Não foi fácil pra mim livrar-me das toneladas de preconceitos e temores que impõem rígida autocensura aos críticos. Vivenciei terríveis escaramuças literárias, que me deixaram cicatrizes e inimigos. Alguns me consideram reacionário, em virtude de minha ojeriza aos vanguardismos de salão. Acredito, todavia, que uma visão conservadora da arte, hoje, é um posicionamento progressista, muito embora o que eu entenda como conservador esteja a anos-luz do conservadorismo político e moral que domina nossas mídias. A meu ver, a linguagem hermética de Urbes não passa de pedantismo vulgar e incoerência conceitual. Não tem poesia, vigor, autenticidade. Pertence à categoria pop-cabeça, lixo obrigatório (por razões que ainda não compreendi) em toda grande editora, apesar do pouco retorno financeiro que lhe proporciona.

Na verdade, existe um feirão que compra estéticas de vanguarda, como a de Urbes e outros, para revendê-las após um eficaz trabalho de marketing. O problema não está na compra em si, já que o capitalismo compra também coisas boas. O problema está na fraude, no valor imposto arbitrariamente, em virtude da crítica ter se tornado vulnerável, intelectual e materialmente, ao capricho de editoras e jornais (o que não seria negativo, se estes não fossem tão caretas), cumprindo a função subalterna de chancelar escolhas feitas previamente.

Enquanto escrevo, a tv exibe imagens de grandes explosões em Los Angeles. Os repórteres não sabem informar se os mísseis vieram da China, Rússia ou Irã, o núcleo duro do novo “eixo do mal”. Uma autoridade informa que hackers chineses provocaram pane nos sistemas elétricos europeus. Parece absurdo falar de literatura num momento assim, mas serve para evitar o pânico. Talvez exista um quê de heroísmo em pensar literatura às vésperas do fim dos dias.

A eclosão da guerra não foi uma surpresa total. A tensão vinha aumentando há tempos. Depois que a economia chinesa superou a do eixo Europa-EUA, toda xenofobia e racismo enrustidos no primeiro mundo vieram à tôna com violência inaudita. Imigrantes orientais foram brutalmente discriminados nas grandes cidades ocidentais e logo o mesmo começou a ocorrer no Oriente. O fator ideológico influenciou o crescimento das hostilidades. A China, depois de completar a transferência, para si, de todas as tecnologias ocidentais, interrompeu o processo de abertura e deu início um firme e acelerado recuo ao socialismo fechado de Mao-Tsé-Tung, recriando a pesada atmosfera da guerra fria.

Diferentemente do que pensam a maioria dos estudiosos e artistas, incluindo os que mais respeito e admiro, acho que a arte teve sim culpa em deixar as coisas chegarem a esse ponto. O fato de ter culpa, no entanto, não a diminui estetica ou moralmente. A função da arte não é salvar a humanidade. Talvez sua missão seja, ao contrário, destruí-la. Não tem culpa, tem responsabilidade.

Entretanto, ao contrário do que minha postura pode sugerir a alguns, nunca acreditei em arte engajada. Ela oculta uma vontade de poder que, embora não seja negativa em si, revela profundos preconceitos de classe (de ricos contra pobres ou pobres contra ricos), enraizados no íntimo das pessoas mais bem intencionadas, além da tendência a uma simplificação grosseira e convencional da complexidade humana. Creio, no entanto, que a arte poderia ter ajudado a evitar a catástrofe, sim, dando conta dos problemas existenciais que sempre constituíram a razão de todo conflito e, em última instância, de toda guerra. Algumas obras-primas poderiam ter contribuído para mudar a história.

Os pós-modernos, esses eu classifico, decididamente, como principais responsáveis pela degradação cultural que nos levou à guerra. Não os artistas (existiram figuras extraordinárias entre eles). São responsáveis, sobretudo, os curadores, que, ao selecionarem quase sempre os piores dentre os piores, disperdiçaram oportunidades históricas de produzir questionamentos efetivos aos rumos da humanidade. E, naturalmente, os mercadores de arte, que inflacionaram ou deflacionaram as obras contemporâneas de acordo com o marketing acadêmico & caduco da hora. Imiscuindo-se em todos os segmentos da arte - produção, crítica e negócios, o lado escuro do pós-modernismo deixou um cenário de terra arrasada, aniquilando, por onde passou, qualquer traço de humanismo e sinceridade.

Eu, por exemplo, varei noites discutindo com pós-modernos sarcásticos, assumidamente neo-liberais, embora sem noção alguma de política, no sentido humanista do termo - apenas conscientes que o sistema sempre favorece quem segue suas regras, inclusive quando a regra é ser subversivo, ou fingir-se tal. Assim surgiu um exército de pilantras engajados à esquerda e cínicos vanguardistas à direita, com alguns espertinhos agradáveis ao centro.

O resultado foi esse: Deus espremendo a espinha do mundo para eliminar o pus, a humanidade. Faça-o Deus! Destrua-nos! Não deixe vestígios! Arte, ciência, filosofia, moral, religiões, que sejam sugadas, como cocaína, pelas narinas divinas, convertendo-se em trinta minutos de excitação olímpica e melecas gigantes. O que me consola ao pensar no infinito vazio galáctico que nos espera, é imaginar livros como os de Daniel Urbes incinerados na fornalha implacável deste odioso e precoce apocalipse – não legando, aos seres que herdarão o planeta, mais esse testemunho de nossa mediocridade.

24 de novembro de 2007

Martelando o Globo

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Ontem fui à vernissage da exposição do Nilton Pinho, no Galpão das Artes, uma galeria aberta patrocinada pela Comlurb, situada em frente à PUC. O lugar é mais bonito do que eu imaginava e a exposição ficou bem completa e ilustrativa da obra do meu camarada. Depois fomos à Lapa, encerrar a noite. Vim pra casa já de manhãzinha. Comprei jornal na banca em frente à meu prédio (por isso é bom morar no centro) e, já sentado na minha confortável poltrona preta, com apoio para o pé, comecei a fazer uma das coisas que mais gosto: ombudsman do Globo.

Tem dias, no entanto, que são tantas que dá até preguiça. Aconteceu hoje. Pra começar, a manchete é de um mau-caratismo abominável e incompreensível: Calote de microempresa derruba lucro da Caixa. Fiquei perplexo por quase meia hora, olhando incrédulo a chamada, que trazia ainda um subtítulo digno de levar o troféu da filha-da-putice. O subtítulo dizia o seguinte: Enquanto isso, na Vale... E informava que a empresa fechou acordo com seus funcionários para aumentar salários. A tentativa de desmoralizar a Caixa Econômica através da comparação com a ex-estatal (privatizada por FHC) é um insulto à inteligência. Em todos os sentidos. As empresas operam em áreas completamente distintas. A matéria sobre a Caixa também é altamente editorializada. Primeiro lugar, o tom parece uma denúncia, como se a Caixa tivesse tido prejuízo. Não é o caso. Caiu o lucro somente em relação ao mesmo período do ano passado, mas teve lucro, o que significa que ela teve faturamento para pagar todas as suas despesas e teve um excedente, apenas no terceiro trimestre, de R$ 62,5 milhões. O mais absurdo, porém, é que o Globo criminaliza a micro e pequena empresa. A manchete faz sensacionalismo barato. Outros fatores, inclusive sazonais e extraordinários, pesaram no referido rendimento, como o reajuste nos salários (ou seja, não é só a Vale que eleva salários, certo?) e uma provisão contra possíveis derrotas de ações judiciárias que clientes movem contra a Caixa por contra de planos econômicos do passado.

É claro que o fato da Caixa ter ampliado expressivamente a sua linha de crédito para pequenas empresas implicaria em aumento proporcional dos problemas de pagamento. Quem não empresta não tem problema com devedor. A Caixa Econômica Federal emprestava muito pouco e, portanto, tinha pouco problema. Hoje empresta mais e tem mais problemas. Mas agora está cumprindo sua função social, que é dar crédito à população, principalmente a micro e pequenas empresas que têm dificuldade em obter financiamentos em outras instituições. A Caixa não tem que visar somente o lucro - deve fazê-lo somente no sentido de solidificar-se financeiramente e dar maior segurança a seus clientes e acionistas.

Ao contrário, a política de expansão de crédito, da qual a CEF é uma agente fundamental, tem sido um dos principais indutores do crescimento do consumo das famílias brasileiras, que tem registrado taxas espetaculares. Aliás, ressalte-se que quando lemos críticas ao baixo crescimento do PIB brasileiro, devemos atentar para o farisaísmo desse discurso, desde que ele omita o espetacular crescimento do consumo das famílias, começando pelas mais pobres, que constituem mais de 90% da sociedade brasileira. Há um aumento explosivo de consumo de bens nobres e de vanguarda, como DVD e computadores, bens que revelam sede de conhecimento e que resultarão, no futuro próximo, numa elevação importante do nível cultural médio do brasileiro.

A manchete do Globo é capciosa também porque abafa o assunto principal do miolo do jornal, que ocupa toda a página 3, a saber, o desdobramento da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando, sobre o mensalão tucano.

O Globo, pressionado pela opinião pública - a verdadeira opinião pública, não a farsante versão dela, a opinião publicada - e, sobretudo, pelos fatos inexoráveis, está fazendo a cobertura do esquema de Caixa 2 do PSDB mineiro, e aceitou mudar o nome do escândalo para mensalão tucano, depois de meses usando apenas mensalão mineiro.

Mas o faz, é claro, sem aquela volúpia com que tratava o caso petista. Sem infográficos, sem editoriais, sem histerias éticas de seus colunistas, sem cartas desaforadas de seus leitores, sem manchetão na primeira página, sem reportagens investigativas complementares. E sem lembrar que Azeredo lançou, recentemente, húmus aos céus, confessando que o dinheiro também abasteceu a campanha de Fernando Henrique. O povão que só lê a manchete do jornal pendurado na banca vai continuar sem saber que o famoso mensalão, chamado do maior caso de corrupção de todos os tempos - nada mais foi que o ovo da serpente parida e alimentada pelo PSDB.

Naturalmente, a matéria não dá uma linha sobre o escândalo sem relembrar o caso petista, como quem diz: veja bem, os tucanos enfiaram o bico na lama, mas os vilões continuam sendo os barbudinhos. O interessante é que o valerioduto tucano tem indícios infinitamente mais sólidos de uso de recursos públicos que seu similar petista. A imprensa fez uma enorme ginástica para convencer as pessoas de que 100 mil pagos pela Visanet (que nem pública é, tem apenas a participação minoritária do Banco do Brasil) às agências de publicidade de Marcos Valério teria relação com certo dinheiro pago a parlamentares e seria, portanto, a prova de uso de dinheiro público no escândalo do mensalão - uma tremenda forçassão de barra, visto que, mal ou bem, as agências de Valério prestavam efetivamente serviços a empresas e governos. No caso tucano, as evidências do uso de estatais para irrigar o valerioduto são onipresentes.

Ah, e tem o famigerado Daniel Dantas, inexplicavelmente poupado de ambos os escândalos, apesar de estar por trás de tudo. Leiam Paulo Henrique Amorim.


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Pérola do artigo do Cristovam "Xarope" Buarque, no Globo deste sábado (24/11): "O Congresso brasileiro colabora sistematicamente para fabricar o chavismo no Brasil (...) com os acordos para salvar colegas condenados pela opinião pública (...)" Quer dizer então que o senhor Buarque deseja que os parlamentares compactuem com os pré-julgamentos absurdos, precipitados, tendenciosos, arbitrários e anti-democráticos que a mídia faz?


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Por falar em xaropada, o Garotinho ganhou na Justiça o direito de publicar um texto seu na página de opinião do Globo, e publicou um texto de um cinismo chocante. Gostei da atitude dele, brizolista, de se defender diretamente com a população. A forma é boa, mas o conteúdo é vazio. O Garotinho não tem boa relação política com ninguém e isso é messianismo ou, o que é mais provável, safadeza.

Eu quase nunca falo da política local do Rio de Janeiro. Dessa vez, porém, trata-se de um caso realmente digno de atenção. César Maia e Garotinho se aliaram para ganharem a prefeitura do Rio de Janeiro, o segundo maior orçamento municipal do país. O PMDB fluminense ainda é dominado pelo Garotinho, apesar do governador Sérgio Cabral, também do PMDB, ser adversário de Garotinho e aliado de Lula. Há tempos que Garotinho perdeu qualquer escrúpulo de ao menos aparentar ter um programa ou proposta de governo ou ideologia. O irônico é que, quando Garotinho apoiou Alckmin na última campanha presidencial, César Maia denunciou a aliança como um terrível erro da campanha tucana, por causa da imagem ruim do ex-governador.

E agora César Maia se associa à Garotinho com a maior cara lavada? E Garotinho, com todo aquele discurso populofrênico, vai apoiar a candidatura da nazista Solange Amaral? Não tem sentido, não tem a mínima coerência ideológica, partidária, racional. Nem mesmo religiosa. Garotinho está dando a sua última tacada, a mais desesperada de todas, e também, de certa forma, a sua trajetória inevitável. O populismo garotinesco é mais reacionário e sinistro de todos.

Reparem uma coisa. Garotinho conseguiu forçar o PDMB fluminense a se ajoelhar perante César Maia. Sim, porque na verdade quem o negócio vai beneficiar mesmo são as forças políticas ligadas ao César Maia, que prefere reprimir vendedores ambulantes a prestar segurança aos turistas. A prefeitura do Rio é um presente, uma homenagem do PMDB ao DEM?

As pessoas acusam sempre a mídia de ser anti-petista, mas parte da mídia também demoniza o PMDB. Apenas o PSDB é tratado com amor absoluto, por razões estritamente "familiares". Cabral é governador, eleito pelo povo, e quem manda no PMDB é o idiota do Garotinho, que não é vereador, deputado, senador, não é nada?




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Depois de todo sensacionalismo em torno de uma suposta crise do gás, o Globo não dá uma chamada na primeira página sobre a instalação, pela Petrobrás, de um centro para recebimento de gás líquido na costa do Rio, que permitirá à empresa ampliar a oferta de gás ao estado via importações da Nigéria e outras fontes, a partir de maio do ano que vem. Isso é conspirar contra os interesses econômicos do Estado do Rio, porque esta informação deveria ser amplamente divulgada, por estimular os investimentos por aqui


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Pesquei essa no Fazendo Média. Requião metendo o cacete na Rede Globo. Muito bom.
http://www.aenoticias.pr.gov.br/visualizar2.php?video=243

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João Ubaldo está louco. Lê isso: "Paranóia ou não, delírio ou não, está na cara que o presidente quer o terceiro mandato", escreve na sua coluna de hoje (domingo, 25/11/07). Repara na lógica surreal do pensamento dele. Delírio ou não? Pô, João, a falta de uísque está te destruindo. Se é delírio, como pode "estar na cara"?

Ele gasta o artigo todo choramingando a vitória de Lula, tentando desmerecer o próprio conceito de sufrágio universal e desfiando uma série de inverdades já desmentidas por prestigiados institutos de pesquisa. "O povo sabe votar muito bem, para as circunstâncias, e vota no que o beneficia diretamente. No caso do Brasil, os eleitores cativos do Bolsa Família vão votar certo, ou seja, em Lula". Ora, João, Lula não é mais candidato. E as pesquisas apontaram vitória de Lula em todas as classes sociais. Mesmo que assim não fosse, o voto do pobre vale o mesmo, inclusive moralmente falando, que o voto da classe média, que também vota com o bolso (ou não?). Votar em razão da percepção de que o representante político irá beneficiar a sua classe é um motivo nobre e democrático. O problema era quando o pobre votava em razão de promessas demagogas não-cumpridas, e acabava votando em quem beneficiava somente os ricos.

Ubaldo ataca o sistema eleitoral, inclusive repetindo a ladainha (não se compara épocas e nações totalmente diversas) de que Hitler também ganhou eleição. Agora Ubaldo quer uma democracia sem eleição, com representantes indicados por meia dúzia de colunistas e donos de jornais, alçados a condição de supremos sábios das nações. Ora, Ubaldo, democracia é isso, meu chapa. Tem que saber perder. O que eu gostaria de saber é o motivo real para a sua histeria anti-lulista. Seja honesto, cara, e diga qual seria a alternativa. Além disso, você tá escrevendo mal pra cacete, João. "Ninguém vê nada de fascistóide no que se anda fazendo", diz João, sem maiores explicações, como se a gente fosse obrigado a saber a que ele se refere. É o que? É corrupção? Pô, você não tá vendo que a Polícia Federal tá agindo muito mais que antes? É ideologia? Você virou o quê, um Bolsonaro literato? Virou um imbecil reaça?

É puro veneno, futrica inconsequente, birra, preconceito vulgar. Você tá dando pena, João. Não vou mais perder meu tempo contigo.