(tréplica à réplica de Eduardo. Continuação do debate do post anterior)
Falou, Edu. Eu desconfiava que ia acabar atrapalhando. Ou passando essa idéia. Mas os movimentos que irão durar sempre passam por profundos processos auto-críticos em seu início. Sobre a vitória de Lula, acho que você sem querer acabou chancelando a falsa teoria de que somente os pobres desinformados votaram em Lula, quando as estatísticas apontaram vitória do atual presidente em todas as classes sociais, inclusive entre os mais escolarizados, com a única exceção do município de São Paulo, talvez.
Também não considero o que eu disse como "fogo amigo", que é uma maneira um tanto depreciativa para uma coisa muita importante que se chama crítica construtiva. Se formos chamar de fogo amigo toda crítica construtiva, estaremos ferrados. Posso ter me expressado mal e você pode ter interpretado mal uma ou outra parte das minhas considerações. Podemos discordar de algumas ou todas, sei lá. Quanto ao objetivo comum e igual para todos, acho que isso também é tremendamente relativo. Não se trata de fins a alcançar, a meu ver, mas justamente mudar os meios.
Acho que estamos diante de uma profunda revolução na área da própria comunicação e o nosso erro é justamente conferir importância exagerada à setores que, em função das evoluções tecnológicas, estão sendo obrigados a dividir seu poder de influência com muitos outros.
Quanto à vaidade, você não pode cair nessa esparrela carola e chauvinista. A vaidade é absolutamente fundamental para o ser humano. Pergunte às mulheres. A pior, a mais ingênua ou hipócrita das vaidades é negar a vaidade. Você errou ao dar corda para mim. Talvez eu tenha errado em me aproximar do MSM. Mas você não pode esquecer que eu sempre fui apenas um leitor seu. Você idealizou o MSM há poucas semanas, confesso que foi quase um susto. Como leitor e admirador seu, de repente me vi pressionado a ser um "membro", um "filiado". Prefiro ser um leitor, um amigo, e desejar muita sorte a você e ao MSM nesta luta.
Como você vê, não sou um unificador. Tornei-me um implacável e cruel exterminador de utopias e ingenuidades (o que não é o caso do MSM), que não considero mais progressistas nos dias de hoje, apenas penduricalhos que uma hora ou outra acabam querendo substituir a saudável, mau educada, caótica, maravilhosamente humana "voz das ruas".
Você já parou para pensar que possamos estar vivendo um excelente momento de mídia? Com uma mídia reacionária e golpista sendo neutralizada por um vasto e plural movimento contra-informativo, estruturado principalmente na internet, o que nos confere a oportunidade de exercitarmos, nós mesmos, um papel importante na democracia e na evolução política do país? Estou sendo ingênuo? Mas não é você mesmo que está vendo, in loco, a sistemática derrota dos meios de comunicação em toda a América Latina? O castelo de cartas vem caindo um a um. A mídia ganhou neste último plebiscito de Chávez porque ele forçou a barra, testou os limites máximos de sua revolução e foi uma excelente lição democrática ao mundo.
De qualquer forma, acho injusto você me culpar por ter reagido a uma transparente e amiga provocação SUA. Eu estava quieto no meu canto, onde pretendo continuar anyway. Não sou nada no MSM. Até preferi não participar de reuniões para não atrapalhar e por alergia natural (o que é uma doença reacionária e egoísta talvez, mas não posso fazer nada) à palavra "assembléia". A luta ideológica passa pelo domínio verbal e o domínio das teorias ideológicas mais avançadas. Isso pregava Che Guevara, que mandava os guerrilheiros lerem livros de história. Isso acabou de ensinar Fidel Castro no prefácio ao novo livro de Oscar Niemayer, dizendo que a "leitura é a melhor couraça contra a manipulação". A mesma coisa dizem teóricos liberais. Eu acho que temos que aprofundar a luta neste sentido. Aprimorar a informação critica oferecida à sociedade brasileira. Produzindo informação crítica. Esse debate, de qualquer forma, mesmo que não leve a nada, é um exercício saudável, pelo menos para mim, esse egoísta chato metido a escritor. Acho que vou ter pesadelos com uma voz estrondosa, terrível, ecoando nos céus, urrando a nova máxima monárquica: Por que no te callas, Miguel?
PS: Acho que é fundamental participar de seminários. Isso sim. Minha dúvida era sobre a importância dessas "assembléias" e, sobretudo, manifestações em frente a jornais.
7 de dezembro de 2007
Prosseguindo o debate
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Miguel, seria interessante que sua tréplica viesse acompanhada da minha réplica, porque, do contrário, seu leitor não saberá ao que você responde, se não for também meu leitor. Por outro lado, eu ressalto o tempo todo a necessidade do contraditório. E, além disso, ninguém o coagiu a se filiar ao MSM, a menos que você tenha se referido a si mesmo, por achar que deveria se filiar e não se filiou. Por último, ninguém tem o direito a mandar que você se cale. Sou o primeiro a defender que você fale tudo que lhe vem à cabeça. Por isso levantei o debate com você a partir da lembrança do Juliano e de minha própria lembrança de que você foi quem deu a partida nesse debate algumas semanas atrás, ao publicar suas sugestões para o MSM. Também vale dizer que jamais chancelei que só quem votou no Lula foram os ignorantes e desinformados, pois combati essa tese em meu blog à exaustão. O que eu disse é que Lula perdeu no sul do país e em São Paulo (capital, e que a vitória dele, nas classes mais informadas, teria sido pífia por essas classes terem sido atingidas em cheio pela propaganda midiática e se afastado de Lula de uma forma tremenda. Mas continuo achando que foi um bom debate, no qual cada um terá os elementos necessários para decidir. Só que não sei sobre o que decidirá, porque não entendi direito o que você propôs, se o MSM parar de ir às ruas, a debates, a seminários, extinguindo a ONG, ou se é para fazermos tudo isso, como estamos fazendo, e também atuarmos na internet, como também estamos atuando. Enfim, concluo cumprimentando-o por ter, junto comigo, oferecido esse debate aos nossos leitores. Um abraço, Eduardo Guimarães
Me referi a mim mesmo claro. Não disse que fui coagido, até porque não me filiei. Quanto a sua chancela, voce usou como prova de que a internet não teria sido tão importante para a eleição de Lula o fato dele ter tido voto entre os mais pobres. Minha sugestão era que o MSM investisse num site e na divulgação de contra-informação pela internet. Não num site qualquer, mas NO SITE, entende? E continuar participando de fóruns e seminários. Continuar existindo, claro. Sou contra apenas essas manifestações diante de jornais.
Coloquei a lembrança de sua réplica no início, mas estava implícito que ele sabia disso, porque o post é continuação do anterior. Bom debater contigo. Deixa eu ir lá trabalhar, senão a coisa vai ficar feia pro meu lado. Abraço, Miguel
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