29 de dezembro de 2008

Conversando sobre De Sanctis

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Tá ficando bom demais. Não consigo tirar férias. Novo vídeo na TV Gonzum 1. Blogueiro comenta entrevista do juiz federal Fausto De Sanctis a Rede TV.

Protógenes no Roda Viva

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Ainda bem que temos o Azenha. Segue a entrevista do Protógenes Queiroz, nosso delegado federal mais famoso, para o programa Roda Viva, da TV Cultura.

Parte 1/8


Parte 2/8


Parte 3/8


Parte 4/8


Parte 5/8


Parte 6/8


Parte 7/8


Parte 8/8

26 de dezembro de 2008

Bolsa Família, os interesses escusos e o ano novo

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Por João Villaverde

Em tempos de crise econômica mundial, há um claro acirramento dos participantes do debate sobre os rumos econômicos brasileiros. Em tempos passados, até 2006 por exemplo, era difícil furar o bloqueio dos neoliberais, que dominavam as políticas e a mídia.

Alguns mantras foram - e continuam sendo - martelados até a morte. Entre eles, o especial é o "corte de gastos públicos". Para os que defendem essa política, é preciso cortar tudo: gastos com Previdência, com transportes, com seguro-desemprego, com habitação, com saneamento, e, claro, com programas sociais.

Já escrevi sobre esse tema. E continuarei escrevendo tanto quanto ele estiver sendo levantado. É uma afronta que se defenda cortes nos benefícios repassados pela Previdência ou que se diga que os beneficiários do programa Bolsa Família são vagabundos. E os gastos com juros? Os juros da dívida pública ocupam os maiores gastos do governo. E ninguém fala em cortar esses gastos. Ou para apontar que quem vive de renda é vagabundo. Por que uns são e outros não?

Sobre o Bolsa Família, o Valor publica um ótimo artigo do Naercio Menezes Filho, economista da USP e do Ibmec - portanto, acima de qualquer suspeita de ser "esquerdista" ou do PT - que traz ótimas informações sobre os efeitos do Bolsa Família.

Ao todo, 10,6 milhões de brasileiros receberam recursos do Bolsa Família em outubro de 2008. Se considerarmos um número médio de quatro pessoas por família, isto significa que cerca de 42 milhões de pessoas estão sendo beneficiadas pelo programa, ou seja, 22% da população brasileira.

O custo do programa é baixo, em torno de R$ 832 milhões mensais, ou R$ 80 por família.

Com relação aos seus impactos, vários estudos já mostraram que o Bolsa Família tende a reduzir a desigualdade e a pobreza extrema, o que é muito importante para a sociedade brasileira.

Além disto, sabe-se hoje que seus impactos na oferta de trabalho são praticamente inexistentes, ou seja, que as pessoas não deixam de trabalhar porque recebem os benefícios do programa. Parece que, pelo contrário, muitas mães começam a trabalhar quando seus filhos voltam a freqüentar a escola, que é uma das exigências do programa.

É preciso refletir sobre os rumos de nossa sociedade. É preciso conhecer quem fala o quê e quem defende o quê. É preciso ter idéia dos interesses presentes nas nossas classes políticas e empresariais.

Por isso é preciso se vacinar para entender o jogo escuso por trás da defesa de cortes de gastos públicos. Um exercício para entender a lógica interesseira dos nossos cabeções:

Antes da crise explodir, se defendia que o Brasil precisava entrar no rol dos países “modernos”, isto é, industrializados e civilizados. Esse discurso começou a ser plantado na imprensa de massa nos anos 80, quando a falência econômica e política da ditadura militar começava a abrir espaços para debates. O “sucesso” dos Estados Unidos e da Inglaterra naquela década, ao mesmo tempo em que medidas internas nos dois principais países da América Latina foram por água abaixo – Plano Austral na Argentina em 1985 e o Plano Cruzado no Brasil em 1986 – gerou um processo de “modernização” da política e da sociedade brasileira.

Todo esse discurso e pensamento estava descentralizado nos acadêmicos brasileiros que retornavam de mestrados e doutorados em universidades liberais nos Estados Unidos. Esses acadêmicos, economistas e empresários, começaram a ocupar espaços na grande imprensa nos anos 80. E começaram a dar as regras do jogo a partir dos anos 90.

O discurso neoliberal foi colocado em prática no Brasil pela primeira vez por Fernando Collor de Mello, em 1990. Ali nasceu a prática de enxugar o Estado – seja privatizando as estatais, seja acabando com fundos setoriais – e de abertura da conta comercial e de capital. Todo e qualquer gasto público passou a ser visto como “erro de política econômica”, ou “desculpa para corrupção”. Segundo a visão hegemônica, era preciso estimular o sistema privado a ocupar o espaço do governo.

Claro que ninguém atentou para o fato óbvio: o discurso, antes de ideológico, era interesseiro. A grande maioria das pessoas que ocuparam cargos públicos estratégicos a partir de 1990 estão hoje na iniciativa privada, ganhando rios de dinheiro em cima das regras que eles mesmos criaram.

Aliás, proponho um rápido exercício de ano novo. Quem estiver disposto, por meio de uma rápida pesquisa no site do Banco Central, por exemplo, anote os nomes dos diretores e presidentes do BC, a partir de 1990. Agora cruze com os dados atuais: onde estão essas pessoas. Há ideologia nisso?

Depois que a crise explodiu a lógica desse discurso mudou.

Agora que os países mestres (Estados Unidos e União Européia) estão colocando seus governos para agir, salvando o sistema e criando pacotes para obras de infra-estrutura – que, além de criar empregos, cria demanda por produtos e equipamentos, além de melhorar a qualidade de vida após concluída – não é mais preciso copiar os ricos.

O que o Brasil deve fazer diante da crise? Cortar gastos públicos. É incrível!

As empresas só investem se tiverem perspectivas de lucros. Muitas estão segurando planos de investimentos para verem no que vai dar. Mesmo os bancos, que tiveram lucros recordes por seis anos consecutivos, no primeiro sinal de crise, já subiram os juros e diminuíram a oferta de crédito às empresas e ao consumidor. As empresas não gastam por estarem com medo e sem crédito. Os bancos não emprestam por estarem com medo. Os consumidores gastarão menos com o aumento do desemprego e com menos crédito na praça. Se o governo não investir, quem investirá?

Mesmo os interessados em ocupar o espaço do Lula em 2010 deveriam começar a se preocupar. Se todo mundo parar, ninguém se beneficia.

***

Um excelente ano de 2009 ao Miguel, aos colaboradores e leitores do Oleo do Diabo.

25 de dezembro de 2008

Protógenes no Roda Viva - bastidores

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Muito interessante esse vídeo, gravado pelo Justo, comentarista do blog do Nassif. São os bastidores da entrevista do policial para o programa Roda Viva, da TV Cultura. A entrevista ainda não foi publicada no Youtube, então temos que nos contentar com isso. Ressalto para as observações ácidas de Protógenes sobre o grampo de Gilmar "Dantas" Mendes e Demóstenes Torres. O delegado acusa uma armação, pela revista Veja e quiçá pelo próprio Presidente do STF.

Num determinado momento, a repórter indaga se ele achava que Lula teria ingerido na decisão de afastá-lo da operação Satiagraha. Ele responde enfaticamente que não, e começa a tecer uma série de elogios ao comportamento do presidente, dizendo que ele é uma figura de grande importância para o desenvolvimento nacional e, embora esteja cercado de pessoas que estão tendo seu comportamento investigado, acredita piamente na intenção de Lula de ajudar a PF a combater a corrupção no Brasil.

Também gostei de ouvir a declaração de Fausto Macedo, repórter do Estadão que acompanha o caso Dantas desde o começo, de que o "banqueiro-bandido" deverá ser preso ainda no primeiro semestre de 2009, em decorrência de ulteriores condenações, já que, no que tange à última condenação, pelo juiz De Sanctis, não resultou em prisão direta, por ele ser réu primário. Na próxima condenação, por não mais ser réu primário, Dantas terá dificuldade de obter habeas corpus.

PS: TV Cultura reprisa entrevista com Protógenes, domingo 28/12/2008, às 16:00.

TV Gonzum - Fim de Ano

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Prezados, brindo vocês, ou lhes aporrinho, não sei, com mais uma edição do TV Gonzum Show, que são meus depoimentos para o blog. Estou um pouco gripado, não reparem.

Parte 1/2



Parte 2/2

20 de dezembro de 2008

Volto na segunda semana de janeiro & Dylan no youtube

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Prezados, estou de folga. Volto na segunda semana de janeiro. Bom Natal e Reveillon para todos.Deixo vocês com 2 vídeos do Bob Dylan, juntamente com as letras.



Don't Think Twice, It's All Right
It ain't no use to sit and wonder why, babe
It don't matter, anyhow
An' it ain't no use to sit and wonder why, babe
If you don't know by now
When your rooster crows at the break of dawn
Look out your window and I'll be gone
You're the reason I'm trav'lin' on
Don't think twice, it's all right

It ain't no use in turnin' on your light, babe
That light I never knowed
An' it ain't no use in turnin' on your light, babe
I'm on the dark side of the road
Still I wish there was somethin' you would do or say
To try and make me change my mind and stay
We never did too much talkin' anyway
So don't think twice, it's all right

It ain't no use in callin' out my name, gal
Like you never did before
It ain't no use in callin' out my name, gal
I can't hear you any more
I'm a-thinkin' and a-wond'rin' all the way down the road
I once loved a woman, a child I'm told
I give her my heart but she wanted my soul
But don't think twice, it's all right

I'm walkin' down that long, lonesome road, babe
Where I'm bound, I can't tell
But goodbye's too good a word, gal
So I'll just say fare thee well
I ain't sayin' you treated me unkind
You could have done better but I don't mind
You just kinda wasted my precious time
But don't think twice, it's all right

Copyright ©1963; renewed 1991 Special Rider Music


*

Essa aí é um recado do Dylan para quem ainda não entendeu que o mundo está mudando e é melhor você se adaptar para evitar uma morte mais triste do que as mortes já são naturalmente.




The Times They Are A-Changin'
Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'.

Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'.
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'.

Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'.
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'.

Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is
Rapidly agin'.
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'.

The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin'.
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin'.

Copyright ©1963; renewed 1991 Special Rider Music

19 de dezembro de 2008

O calote na América Latina

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Por João Villaverde

No dia 02 de dezembro, o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou que estava estudando a possibilidade de não honrar sua dívida de US$ 462 milhões com o BNDES. Nove dias depois, anunciou a moratória de US$ 30,6 milhões de sua dívida externa. Ao todo, não dá 500 milhões de dólares.

A interpretação feita aqui no Brasil foi de novo ataque de um "amigo" latino-americano, no caso do BNDES, e de um movimento "populista", no caso da dívida externa.

É uma visão ultrapassada. O calote é um ótimo negócio.

A dívida externa do Equador é pequena em valores totais. Ao todo são US$ 1,3 bilhões. Isso é um contracheque para qualquer grande empresa brasileira. Mas proporcionalmente, é um grande valor para o Equador.

Parte dessa dívida é absolutamente discutível. Os tais US$ 462 milhões do BNDES, por exemplo. Quem tomou esse dinheiro emprestado foi uma empresa, que não cumpriu seu cronograma de obras no país vizinho. O que Rafael Correa fez foi pressionar para que o contrato fosse cumprido. Aliás, ele não deu o calote. Apenas disse que estava analisando a possibilidade. Continua pagando a parcela de juros ao BNDES.

Todo o estardalhaço tinha endereço, o mesmo desde 2003: caracterizar Lula como incompetente e ineficiente. Como Rafael Correa faz parte do novo movimento de esquerda que está no poder na América Latina, o tiro acerta dois alvos de uma só vez. Lula é burro e os esquerdistas latino-americanos são populistas.

Nada se fala dos avanços sociais e representativos que a Bolívia, a Venezuela, o Equador e mesmo a Argentina, no biênio 02-05 experimentaram. Não é uma questão de barrar qualquer crítica a Evo Morales, Hugo Chávez (que enfrentará um período muito difícil a partir de 2009), Rafael Correa e Kirchner (que a partir de 2006 mudou todo o rumo). Mas há de se ter critério e coerência.

Parece pedir muito de nossa imprensa e elite política e empresarial, eu sei.

O calote de US$ 30,6 milhões anunciado pelo Equador em 11 de dezembro último é irrisório. Se trata de uma dívida contraída por governos anteriores sem qualquer legitimidade. A idéia do cupom Global 2012 (os tais contratos que somam US$ 30,6 milhões) era financiar a banca privada internacional. O Equador não precisava do dinheiro quando tomou emprestado anos atrás. Não só não precisava como gastou errado: o dinheiro fora usado para pagar juros de outras dívidas. Portanto se trata de uma dívida totalmente discutível, e é isso o que Rafael Correa fez.

Ao anunciar o calote, o país suspende automaticamente o pagamento de juros mensais e o comprometimento de ainda pagar a dívida principal. Sobra mais dinheiro para investimentos importantes - como, por exemplo, construção de escolas e hospitais públicos.

E o calote não precisa ser levado às últimas consequências. Nunca é. se trata de um choque moral - antes de financeiro - nos credores. Com o medo do outro lado, aumentam as chances de uma renegociação super benéfica para o país lesado. Nesse caso, o Equador pode acabar negociando com os donos do Global 2012 por um pagamento 70 ou 80% menor e com juros baixíssimos.

Foi o que Kirchner fez nos primeiros três anos de seu governo na Argentina. Tinha um ministro da Fazenda muito hábil, Roberto Lavagna, que tratava de estudar e negociar com todos os credores, analisando contrato por contrato, situação por situação, tendo as limitações de caixa debaixo dos braços - funcionando como fator limitador dos pagamentos. Ao mesmo tempo, o presidente Néstor Kirchner dava todo o apoio político, funcionando como o anteparo para as críticas da imprensa elitista nacional e internacional.

Funcionou perfeitamente por três anos. A dívida externa e interna da Argentina foi cortada absurdamente. Quase 85% dos credores aceitaram os preços que o governo estava disposto a pagar. Os que não aceitaram estão até hoje sem receber, com os processos rolando em tribunais internacionais. Ao mesmo tempo, Lavagna desenvolveu uma política cambial inteligente, depois que a dolarização destruiu a economia argentina em 2001. O peso foi desvalorizado e fixado informalmente, aumentando a produtividade da indústria interna.

Boa parte disso foi jogado fora a partir do fim de 2005. Mas isso é outra história.

O calote do Equador também não vem sozinho. Rafael Correa não esconde de ninguém sua intenção de acabar com a dolarização, instituída no país em 2000.

A questão do calote também está pesando nas discussões entre Brasil e Paraguai, em torno das usinas hidrelétricas de Itaipu. O novo presidente do Paraguai, Fernando Lugo - que automaticamente entrou na mira da imprensa e da classe político-empresarial do Brasil - afirmou sua vontade de rever os contratos assinados com o Brasil, que criaram a Itaipu em 1973.

Em 1973 o Paraguai vivia a ditadura de Strossner (ditador entre 1954 e 1989). O Brasil estava na sua ditadura militar, e o general no poder era Garrastazu Médici. Não é preciso dizer mais sobre o clima político que gerou Itaipu.

A obra e a empresa - afinal, Itaipu é uma empresa, bom lembrar - alimentaram uma elite política no Paraguai que enriqueceu e se manteve no poder por todo esse tempo. Mesmo depois da saída de Strossner, o partido Colorado (que sustentava a ditadura) continuou no poder, agora vencendo "eleições" (são conhecidas até no mundo mineral as históricas de falcatruas e assassinatos envolvendo a "democracia" paraguaia). A vitória de Fernando Lugo, neste ano, tirou os colorados do poder após 61 anos.

Mas e dái, certo? Afinal, Lugo é "populista".

O pensamento pequeno ignora outras questões que cercam Itaipu. Não é de hoje que forças de esquerda paraguaias questionam o contrato que criou Itaipu. Questionam a 35 anos. Mas finalmente elas alcançaram o poder, tirando de lá "los barones de Itaipu", conforme a própria parcela privilegiada do país se referia a classe de estrategistas.

De maneira prática, o que se coloca é o seguinte:

- Toda a política gerencial de Itaipu é feita por brasileiros. Ou seja, é tecnicamente impossível que o Paraguai dê um calote no Brasil. Quem controla os pagamentos mensais de compensações sãos os próprios brasileiros!

- A gritaria que se forma é que o Brasil já fez sua parte, ao assumir praticamente sozinho os empréstimos externos para construir a usina, que é, até hoje, a maior hidrelétrica do mundo (será suplantada apenas agora, pela hidrelétrica Três Gargantas, na China). Os empréstimos que o Brasil dos militares tomou nos anos 70 para levantar Itaipu depois seriam mortais para o Brasil, durante nossa grave crise da dívida dos anos 80.

Existem uma série de fatores para serem levados em conta, não apenas o reducionista e ridículo argumento de que o calote, seja do Equador, seja do Paraguai, "ferem a soberania nacional".

Os blockbusters de Hollywood ferem mais nossa soberania nacional do que as negociações com Correa e Lugo!

16 de dezembro de 2008

O corte de gastos públicos

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Foto: Gianne Carvalho, viaduto, Rio de Janeiro

Por João Villaverde

No Brasil, qualquer discussão macroeconômica esbarra no mantra liberal de "cortar gastos públicos". Esse mantra foi desenvolvido pela escola de Chicago, grupos de economistas acadêmicos radicados na Universidade de Chicago nos Estados Unidos, tendo à frente o papa liberal Milton Friedman.

Isso começou nos anos 70.

A partir do triênio 1979-1980-1981 isso virou escola mundial, quando Margaret Thatcher e Ronald Reagan, na Inglaterra e nos Estados Unidos respectivamente, começaram a defender o enxugamento do Estado.

Essa política, caracterizada pelo nome de "neoliberal" foi exportada pelo poder hegemônico emanado pelos dois países ao longo dos anos 80 e 90 para os países pobres e o resto do mundo. A idéia era diminuir ao máximo a participação do Estado na economia. Poucos países conseguiram escapar dessas políticas.

Foram duas razões principais:

1) Estavam todos, invariavelmente, quebrados, após o enorme endividamento dos anos 80. Diversos países pobres deram calote nas suas dívidas nos anos 80 e 90. O Brasil deu no fim de 1987. Como precisavam de dinheiro, se submeteram a todo tipo de pitaco dado pelos órgãos internacionais que "obrigavam" o neoliberalismo.

2) A elite desses países pobres que estuda em universidades dos países ricos e retorna aos seus de origem trazendo consigo o "pensamento moderno". Culturalmente, os países pobres somos colonizados e costumamos dar as honras nacionais aos nossos que trazem títulos de mestres e doutores em faculdades gringas. A elite então alcança cargos estratégicos no governo e nas empresas, e o rumo do país passa a ser ditado pelos interesses dos ricos.

E qual é o principal mantra?

O corte de gastos públicos.

Mas alguém já parou para pensar o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Inglaterra hoje? Não são eles os criadores do pensamento liberal? Então, vamos ver o que acontece:

- Os Estados Unidos estão comprando participações em bancos e instituições financeiras privadas para salvar o sistema do liberalismo. Quando deixaram a teoria liberal falar mais, deixando o Lehman Brothers falir em 15 de setembro, a crise alcançou patamares dramáticos. Elegeram um presidente negro - o país é historicamente racista - que promete criar 2,5 milhões de empregos públicos e promete um plano de US$ 800 bilhões.

- A Inglaterra viu seus bancos e instituições financeiras se meterem nas estripulias financeiras criadas pelo sistema americano. A crise chegou na Inglaterra antes de todo mundo, logo após surgir nos EUA. O que fez a Inglaterra? Estatizou o Northern Rock, um dos maiores bancos comerciais ingleses e o primeiro-ministro Gordon Brown é um dos maiores defensores da mudança do modelo atualmente.

Ainda assim, nossos cabeções não se dão por vencidos. Continuam defendendo que o governo corte gastos públicos.

E veja. Não estão defendendo um gasto público inteligente, que seja racional, atento para as necessidades. Não. Eles defendem o corte de gastos unilateralmente, sem critérios claros. E o pior: são estes cabeções, todos formados em universidades americanas e inglesas, colunistas dos grandes jornais, entrevistados nas rádios e nos telejornais, dirigentes de bancos e instituições e tudo o mais. Estes ocupam boa parte do noticiário.

A falta de espaço para gente séria faz com que ignoramos um comentário inteligente de um economista inteligente. O presidente do Ipea, o órgão de pensamento estratégico brasileiro, Márcio Pochmann, da Unicamp, disse recentemente o seguinte:

"Precisamos perguntar à população se ela está satisfeita com o serviço de saúde, se a educação atingiu um nível de qualidade que não precisa de mais recursos, construção de escolas... Todos defendem o corte dos gastos. Então pergunto onde cortar?"

Quando tratamos da Previdência, das hidrovias, rodovias, ferrovias, do transporte público, da educação, da saúde, do sistema penitenciário, das policias, da habitação, do setor público em geral, a grande pergunta que devemos fazer é: está bom do jeito que está?

Saber a resposta ajuda a entender que, por trás da ideologia, há muito interesse em jogo no Brasil.

15 de dezembro de 2008

Novidades urgentes

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Links urgentes:

1) Idelber Avelar ataca a armação montada pela TV Cultura para carinhar Gilmar "Dantas" Mendes

2) FHC é acusado de corrupção por um delegado da Polícia Federal, no Mello.

3) Leia artigo abaixo do Paulo Herkenhoff sobre a prisão de Caroline Pivetta:

Bienal age de modo cínico e intolerante ao lavar as mãos

Carolina Pivetta da Mota passou o dia de comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos numa cadeia em São Paulo. Isso não denigre a Bienal, nem São Paulo, nem o Brasil. Isso denigre a humanidade.


PAULO HERKENHOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Minha opinião ou a de qualquer outra pessoa sobre o grafite não tem a menor importância no caso da Carolina Pivetta da Mota na Bienal de São Paulo. Não se trata de condenar ou aplaudir a ação de grafitagem. Eu vi, em 1972, os seguranças do MAM carioca ajudarem Antonio Manuel a fugir da polícia que o perseguia porque havia se apresentado nu no Salão Nacional de Arte Moderna. O MAM do Rio não mandou prender Raimundo Colares quando quebrou vidros do prédio em manifestação durante a ditadura militar.

A Bienal quer que o Brasil sinta saudades da ditadura? A mesma Bienal que entrega a grafiteira à polícia foi a que proscreveu Cildo Meireles em 2006 por ter protestado contra a reeleição de Edemar Cid Ferreira para seu conselho. O paradoxo é que Edemar não providenciou a prisão da garota que beijou com batom uma tela de Andy Warhol na Bienal de 1996, fato muito mais grave do que grafitar paredes nuas.

A Bienal, seu presidente, conselheiros e curadores que continuarem a se omitir precisam aprender algo com Edemar: na Bienal, a repressão não é um fim em si. Confesso que, quando soube da grafitagem, pensei que fosse um gesto autorizado numa Bienal que ia criar uma praça de convivência e estimulava a participação da cultura pop jovem. Era estratégia de marketing ou efetiva proposta de política cultural?

No entanto, tudo é obscurantista na posição da Bienal desde o dia da grafitagem. Posso até entender as reações de primeira hora mais agressivas por agentes culturais e políticos da Bienal, mas temos de admitir ser uma estratégia hedionda acusar a grafiteira de "danificar" o patrimônio tombado, já que as feiras, as festas de casamento e a própria Bienal furam e escrevem nas paredes, pintam e bordam com o prédio sem autorização do Iphan.

Se a grafiteira fosse um nome do mercado de arte não teria sido presa ou já estaria solta. O ato de Carolina Pivetta da Mota é rigorosamente igual a tudo o que ocorre no prédio da Bienal. Depois é só repintar, como aconteceu. Tudo se refaz porque o prédio da Bienal está à disposição da expressão. Sua estrutura original de feira industrial tinha que ser necessariamente versátil para atender a todo tipo de tranco físico. Por isso o acabamento sem adornos e luxo do Pavilhão do Ibirapuera. É só cimento, tijolo e cal.

Debate na pasmaceira

Carolina também não interveio na obra de ninguém. Ela não é uma Tony Shafrazi, que grafitou a "Guernica" de Picasso. Se tivesse praticado um ato anti-social realmente grave, Carolina já poderia ter sido condenada a alguma prática comunitária na própria Bienal. Neste caso, não se estaria "domesticando" uma consciência crítica, mas dando-lhe a oportunidade de entender melhor o processo de uma Bienal. O que Carolina está contribuindo socialmente agora é a introduzir um debate na pasmaceira institucional.

Se tivesse causado um dano real à superfície das paredes, teria sido ínfimo. Dirigi um museu do Iphan onde uma ex-diretora causou danos em esculturas ao instalá-las ao ar livre, onde tomavam chuva ácida. O Iphan e o Ministério Público não pediram sua prisão quando se verificaram danos irreparáveis à pátina na escultura "A Faceira de Bernardelli".

No caso do grafite na Bienal, não ficaram seqüelas. Fui curador da 24ª Bienal de São Paulo, e minha monografia final no mestrado em direito pela Universidade de Nova York foi na área de direito constitucional. Nessa dupla condição, afirmo que o que vejo aqui é uma posição odienta da Bienal transferindo a responsabilidade por essa situação kafkiana para os órgãos do Estado como responsáveis por este processo.

Carolina não danificou nenhuma obra de arte. Por acaso, Oscar Niemeyer veio a público protestar contra a grafitagem como um "ataque" danoso ao pavilhão do qual é autor, como sempre fez quando degradam um projeto de sua autoria?

A Fundação Bienal primeiro agiu de modo intolerante e agora de modo cínico ao lavar as mãos. Parece que estar em "vivo contato", proposta desta Bienal, está sendo entendido como exercício de ira ou crueldade que, afinal, estão entre as pulsões de morte da espécie humana. Ou é só vingança? Afinal, alguém tem que pagar...
Mesmo que seja uma mulher, baixinha, gordinha que não conseguiu escapar da ineficiente vigilância da instituição como os outros 30 galalaus. Sua prisão serviu para salvar a honra dos vigilantes e o contrato da empresa com a Bienal... Parabéns a Carolina por não ter pensado na delação premiada para se safar da encrenca, mesmo depois de 52 dias sem um habeas corpus.

Carolina Pivetta da Mota passou o dia de comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos numa cadeia em São Paulo. Isso não denigre a Bienal, nem São Paulo, nem o Brasil. Isso denigre a humanidade.

Se o vazio fosse de fato o espaço aberto para discutir a instituição, essa extraordinária grafitagem teria sido incorporada ao projeto ético e político da 28ª Bienal. A grafitagem já é um dos fatores mais marcantes desta edição. Com mais repressão, deixará de ser um problema de excessivo rigor penitenciário para se tornar uma questão para estudos éticos curatoriais e debates estéticos. Se a Fundação Bienal de São Paulo não se cuidar, a conclusão a que se poderá chegar é a de que o principal problema da Bienal é a 28ª Bienal e a estrutura política que a sustentou.

Peço desculpas a Carolina por não ter protestado, em minha recente palestra na Bienal, em sua defesa e contra esse estado brutal de condução da vida institucional. Eu pensava que já estivesse solta. Quem salva o Brasil e a Bienal não é cadeia, é Mário Pedrosa ao dizer que a arte é o exercício experimental da liberdade. E dirigir a Fundação Bienal de São Paulo ou fazer curadoria não pode perder isto de vista.

PAULO HERKENHOFF é curador e crítico de arte. Dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e foi curador do MoMA em Nova York e da 24ª Bienal de São Paulo, em 1998

14 de dezembro de 2008

Soltem Caroline Pivetta

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Meu antigo leitor, Jose Carlos Lima, dá o recado. Eu assino embaixo:

Assine o manifesto pela libertação da artesã Caroline Pivetta da Mota, preso por ter feito uma intervenção no espaço vazio da 28a. Bienal de SP, um espaço que inclusive surgeria intervenção desta ordem. No meu blog. Abs,

www.josecarloslima.blogspot.com

Debate sobre cinema

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Sexta-feira (12/12/2008), tive o privilégio de assistir, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio, O Conformista, de Bernardo Bertolucci. Depois do filme, vários cineastas brasileiros, que conheceram Bertolucci em Roma, há 40 anos, fizeram um bate papo muito legal com a platéia, contando histórias do tempo em que faziam parte da patota dos maiores diretores de cinema da Itália.

Eles contaram que o cinema brasileiro, de Glauber, Saraceni (presente ao debate), Sganzerla, Gustavo Dahl e Nelson Pereira dos Santos, causou forte influência nos intelectuais italianos. Gravei parte do debate.

Na mesa, estão, da esquerda para a direita: Paulo Cesar Saraceni, Arnaldo Carrilho, Joel Pizzi, Joel Barcelos e Gustavo Dahl.

Com vocês, mais uma gravação exclusiva da TV Gonzum.

Parte 1/3


Parte 2/3


Parte 3/3

13 de dezembro de 2008

Freiada no blog para férias de fim de ano

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Queridos leitores, andei trabalhando muito neste blog, tanto no conteúdo quanto na linguagem, nas ferramentas, etc. Vou dar uma freiada nas próximas semanas para me reabastecer, ler um pouco, inspirar-me. Continuo atualizando o blog, mas em ritmo mais suave. Se acontecer alguma coisa grave, a gente volta. Agradeço a todos pelas visitas, pelos comentários e pela força. Aos assinantes do Manuskripto, um recado, a edição de dezembro, que atrasou um pouco, está chegando dentro de alguns dias. Antecipadamente lhes desejo um Feliz Natal e um Excelente Ano Novo. Deixo-lhes com uma das fotos que tiro regularmente do meu Rio de Janeiro, sempre do centro e Lapa. Nunca me conformarei com a destruição dos lindos edífícios cariocas e por isso registro os sobreviventes.


(raridades sobreviventes, esse aí na Av.Senhor dos Passos)


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12 de dezembro de 2008

Samba gratuito e cerveja barata, no sábado 13

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O dia 13 de dezembro, sábado, seria uma data triste: há 40 anos, o governo militar decretava o AI-5, o golpe final nos direitos civis do Brasil. O movimento estudantil carioca, no entanto, comemora a data em grande estilo: ignorando-a solenemente. E fazendo samba. Convido todos os leitores do blog que moram no Rio a comparecerem à Praia do Flamengo 132, sábado, para escutar velhos e antológicos sambas, beber cerveja a preço barato e partilhar da companhia de jovens e arejadas mentes.

Visitem o blog do Cuca Rio.
Movimento Estudantil, Música
O evento ocorre aqui:


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Bancos públicos podem reduzir spread em breve

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Não costumo copiar notícias aqui, mas de vez em quando é irresistível. Essa notícia se relaciona com minha campanha pela moralização do sistema mundial de crédito, com extinção de bancos privados e decreto de monopólio estatal da circulação financeira, com instituições públicas não mais cobrando spread, ou cobrando taxas mínimas.

11 DE DEZEMBRO DE 2008 - 15h24

Lula determina revisão de juros em bancos públicos, diz Dilma

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse nesta quinta-feira, 11 que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com o aumento dos juros "cobrados na ponta" e determinou que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal façam uma revisão das taxas que estão cobrando. A ministra explicou que o objetivo do governo é fazer o possível para reduzir o custo de capital e aumentar o volume de crédito. A cobrança de Lula vem no dia seguinte ao da decisçao do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75% ao ano.

"Me refiro ao spread", disse ela ao ser indagada sobre a determinação presidencial aos bancos públicos. Segundo a ministra, "como não há aumento no custo de captação, não faz sentido uma cobrança de juros acima do que se fazia antes (da crise internacional)."

Spread é a diferença entre o juro cobrado nos empréstimos e as taxas pagas pelos bancos aos investidores. Esta diferença é o que determina o lucro dos bancos nas operações de crédito.

Dilma disse ainda que o governo quer uma explicação de quais são as razões técnicas "de spreads tão elevados". Ela acrescentou que "o medo não é técnico e obter maior lucratividade em cima da retração brasileira não é correto."

A ministra disse ainda que o presidente Lula pediu uma explicação ao BB e a CEF sobre os juros cobrados e "determinou uma política mais condizente com razões técnicas para os juros nos bancos públicos".

Indagada se o objetivo do governo não é incoerente com a decisão tomada ontem pelo Copom de manutenção da taxa Selic, a ministra limitou-se a dizer que não comenta decisões de política monetária.

Fonte: Agencia Estado, e reproduzido no site Vermelho.

11 de dezembro de 2008

Pra dar risada

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Neguinho faz cada coisa... Olha esse vídeo de um reaciónário tucano fazendo oposição pela internet...

Exclusivo! Bruno Pacheco, jornalista, fala sobre a Raposa Serra do Sol

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Vídeo exclusivo da TV Gonzum! Uma entrevista de Camilla Lopes com o jornalista Bruno Pacheco, feita hoje (11/12/2008) sobre a questão da reserva Raposa Serra do Sol.

Um homem quieto bebendo seu uísque

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Hoje uma senhora querida, amiga minha, pediu-me para mudar de assunto. Disse que estou obcecado em defender Lula a qualquer preço e tenho me repetido. Respondi que iria dedicar um post a este assunto, explicando-lhe porque não posso seguir-lhe a sugestão.

"Quem luta por Deus, é por si mesmo que luta"
Alcorão

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Fernando Pessoa


Imagine um homem quieto, num canto do bar, bebendo seu uísque. Se preferir, imagine-o bebendo uma cerveja. Ele está muito emocionado, à beira das lágrimas. Há mais de dez anos que não fuma, e mesmo assim pede um cigarro ao garçom, acende-o, e mira a fumaça circunvolutear à sua frente. Anoitece no centro do Rio. Em que o homem pensa? Em seus sonhos fracassados? Em seu irmão covardemente assassinado há vinte anos? No país? Num amor antigo? Talvez lembre de um poema muito bonito. Numa canção. Pode ser também que lamente a sorte de seu time de futebol, que acabou de ser rebaixado para a segunda divisão.

De fato, independentemente do que pensa este homem, o verdadeiro objeto de seus pensamentos é ele mesmo, e a civilização. Nas mentes mais simples, lutam todas as forças metafísicas do universo. Quando um recruta nazista, em 1944, recusou-se a fuzilar uma criança judia, mesmo sob o risco dele mesmo ser morto, em seu espírito estava em jogo o destino da humanidade. Da mesma forma, numa democracia, quando os americanos optam por Obama ou McCain, não está em jogo somente uma vitória ou derrota partidária. Por trás de cada escolha política, estão em jogo símbolos e arquétipos poderosos. Subestimar isso é apequenarmos o homem, apequenarmos a democracia, apequenarmos nosso destino e função enquanto indivíduos e partícipes de uma civilização e uma história.

Há gente que passa a vida preocupando-se apenas com seu excesso de peso. São obcecados por dietas e novas tecnologias que permitam o emagrecimento rápido. É saudável que as pessoas emagreçam, que evitem problemas de obesidade, mas eu sempre observei que a falta de uma metafísica maior, a ausência de sentido em suas vidas, constitui o problema maior. Como no conto Alienista, de Machado de Assis, para elas, todos são loucos. Para elas, enroladas em seus mesquinhos desesperos, o pensar a política e a civilização é um ato de loucura.

Aí voltamos à política. Não há civilização sem política, e não há política sem escolhas e sem guerra. Quando os gregos venceram os persas no século V antes de Cristo, ali estava em jogo o destino da civilização ocidental. Os gregos tinham a filosofia, a democracia, o respeito pela vida e pela liberdade; os persas tinham o despotismo, o misticismo, e o desprezo pela vida dos que não fossem membros da elite.

Nossa civilização é resultado das escolhas políticas que fizemos. O que foi a revolução francesa senão uma consequência das ironias geniais de Voltaire? Há tempos, todavia, em que é bem fácil escolher entre o certo e o errado. Nos anos de chumbo, era fácil. Ser contra a ditadura tornou-se um "clichê", uma obrigação. Na democracia, porém, os contrastes se atenuam. As escolhas, porém, não deixam de ser importantes, não deixam de afetar, como qualquer política, nosso destino enquanto civilização.

Esse linguajar grandioso soa um pouco ridículo, eu sei. Os homens nunca respeitam o que vêem muito de perto e, numa democracia, os líderes são, cada vez mais, pessoas aparentemente comuns, com defeitos inúmeros. Tão diferente da monarquia, onde temos homens acima dos mortais! Abraham Lincoln, por exemplo, pai da democracia americana, venerado hoje como um ícone mundial, era um pobre filho de lenhadores, cheio de tiques e vícios plebeus em sua maneira de falar, e, por isso, foi duramente discriminado, em sua época, pelas elites e classe média americana.

Qual o sentido da vida? Ser magro? Ter filhos? Sim, esses podem ser objetivos. Mas o que me incomoda é ver as pessoas querendo dar tudo a seus filhos sem preocupar-se com as outras milhões de crianças de seu país. E ainda se arvoram católicas! Ainda se arvoram cristãs! Vão à igreja todos os domingos, rezar! Rezam para quê, meu Deus! Jesus não mandou ninguém rezar aos domingos! Jesus pediu que as pessoas amassem uns aos outros e lutassem por justiça. "Não vim trazer a paz, e sim a espada", disse Jesus, ao voltar do deserto, onde combatera e vencera Satanás. Como se preocupar com as outras crianças? Fundando Ongs? Fazendo doações no Natal? Doando para o Criança Esperança? São ações mais ou menos legítimas, mais ou menos bem intencionadas, mas a melhor forma de se ajudar as crianças brasileiras é através da política.

Em primeiro lugar, não menosprezando a política. Não subestimando o poder transformador da política. Os mesmos jornais que apoiaram e sustentaram a ditadura militar, vem fazendo campanha, desde a redemocratização, contra a política e os políticos, repercutindo e ampliando qualquer crítica genérica ao Congresso, ao Senado, ao Executivo. A imprensa, depois de duas décadas de silêncio obsequioso em relação aos governos, tornou-se um verdugo implacável, sem a mínima compreensão das complexidades e fragilidades inerentes a uma democracia recém-formada, ainda em processo de consolidação.

Eu defendo o governo Lula não por ser obecado, mas porque acredito, segundo meus ideais, que ele é a melhor opção, sobretudo se comparada à outra alternativa (o PSDB), para a libertação do povo brasileiro. São palavras grandiosas, mas somos um país grande, com problemas grandiosos, e prefiro pensar grande e usar termos grandiosos do que pensar pequeno e usar palavras mesquinhas. A vida, enquanto momento único, enquanto um olho da consciência universal que se abre e ilumina a escuridão, é grandiosa. Meus sonhos e ideais, portanto, são grandiosos. Meu pé, porém, está bem plantado no chão, e acredito, por princípio, no processo democrático. Não acredito na democracia, todavia, com inocência e boa fé. Não defendo a democracia porque penso, ingenuamente, que ela nos levará, automaticamente, a um mundo melhor. Defendo a democracia enquanto uma plataforma de organização que pede, e pede muito, a participação civil, não apenas o voto, mas a militância intelectual, o debate constante.

Defendo Lula não por causa do Lula, ou não somente por causa dele, mas porque acredito que a democracia requer participação, de alguma forma. O homem quieto, bebendo seu uísque no canto do bar, está participando da democracia. Ativamente. Sabe porque? Porque, se a democracia for questionada, se algum engraçadinho atiçar os quartéis para ferir a democracia, o homem quieto irá engolir seu uísque rapidamente e sairá a rua, para protestar, aos gritos, usando a sua força física e a energia acumulada em anos de quietude e paz proporcionados pela democracia, para lutar por aquilo no qual acredita.

Defendo o Lula da mesma forma com que defenderei Dilma Rousseff, porque defendo um governo que defenda os trabalhadores, que defenda o Estado, que aplique programas sociais. Entendo que isso nem é mais uma discussão entre direita e esquerda, entre capitalismo e socialismo, mas entre barbárie e civilização. Entendo que um governo que se esforce para dar solução à miséria, aos baixos salários, e a recuperar o Estado brasileiro, é um governo civilizador, que significará um futuro mais decente e promissor para milhões de brasileiros.

Muitas pessoas da classe média, que já viveram tempos melhores durante a ditadura militar, não tem a consciência da mudança que experimentamos nos últimos anos. Não sentem essa mudança em seus corações, que se tornaram frios, egoístas. Elas acham que não são egoístas porque amam seus parentes, mas o amor exclusivo aos parentes não é um amor cristão. É um amor fácil, sanguíneo, passivo, bobo. O verdadeiro amor, cristão, humanista, é o amor pela humanidade, conforme pregaram Cristo, Buda, Maomé e todos os grandes líderes. Não foi por outra razão que Cristo, ao ser abordado por sua mãe enquanto ele participava de uma caminhada, respondeu-lhe que não lhe conhecia, e que sua família eram seus amigos e irmãos.

Todos os institutos de pesquisa mostram que dezenas de milhões de brasileiros melhoraram de vida. Outros milhões conseguiram empregos. Os segmentos mais desfavorecidos do Nordeste brasileiro vem crescendo a quase 20% ao ano. Revistas e jornais internacionais relatam as notáveis mudanças operadas na sociedade brasileira. Um renomado instituto internacional sinalizou que o Brasil terá, em menos de 20 anos, uma das três ou quatro maiores classes médias do planeta, depois de EUA, China, e Índia. Mas os setores decadentes da classe média brasileira não sentem essas mudanças porque só enxergam o próprio umbigo. Se a sua vida pessoal não mudou, então nada mudou para elas. Se a sua vida pessoal piorou, se elas se tornaram mais velhas, mais obesas e mais doentes, então o país também piorou.

Pior, no entanto, do que a despolitização de vastos setores da sociedade, é a militância pela despolitização, é a defesa da alienação, através do menosprezo, silencioso ou não, por aqueles que se expõem publicamente, sempre sob o risco de errarem, para defender ou atacar políticas públicas. Esse desprezo toma ares de preconceito aristocrata, como se a política fosse um assunto plebeu.

O homem quieto bebendo seu uísque talvez, enfim, não esteja chorando de tristeza. Talvez chore de raiva, esse sentimento tão humano, demasiadamente humano, certamente mais digno que uma pachorrenta, medrosa e cúmplice perplexidade perante as injustiças.

O julgamento de Raposa/Serra do Sol

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Por João Villaverde

O julgamento histórico do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a demarcação de terras da reserva indígena de Raposa/Serra do Sol em Roraima foi mais uma vez adiado. Dessa vez, foi o ministro Marco Aurélio Mello quem pediu vistas.

Agora a decisão será protelada até fevereiro do ano que vem. E os rizicultores (produtores de arroz) da região vão ficando onde os índios deveriam estar.

A história é inacreditável. Em todos os sentidos.

Um dos pontos que não ficou bem amarrado pela Constituição de 1988 é sobre a demarcação de reservas indígenas. Sempre ficou em aberto se as reservas deveriam ser demarcadas como "ilhas" ou como território contínuo. Qualquer pessoa com o mínimo de coerência sabe que o humanamente correto é a defesa de terras contínuas, que não separem tribos e famílias.

Porque pode parecer estranho para alguns. Mas os índios também são humanos.

Dez anos depois de promulgada a Constituição, o governo federal entrou com um pedido no Supremo - o órgão máximo do Judiciário brasileiro - para que decidisse, de uma vez por todas, o que deve ser seguido pelos estados brasileiros.

Já se passaram dez anos desde que o governo FHC fez o pedido. De lá para cá, nada mudou.

No início do primeiro governo Lula, o governo tomou uma decisão radical: mandou expulsar os arrozeiros da região Raposa/Serra do Sol até que o STF tomasse sua decisão. Em troca, o governo daria terras ainda maiores para esses fazendeiros. E mais importante: daria título de posse. Com a posse de donatário legal das terras, o fazendeiro pôde contratar crédito rural em bancos públicos e privados. Ou seja, um excelente negócio para eles.

Ainda assim, uma minoria dos arrozeiros não arredou pé. Entraram com um pedido para que o governo federal esperasse a safra que já estava plantada. O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza - um homem sério, famoso por ter liderado as investigações contra parlamentares ligados ao esquema do "mensalão" - acatou.

Isso foi em 2005. Os arrozeiros estão lá até agora.

No início desse ano o pedido de análise foi reforçado. A sessão de agosto recebeu um dos mais belos votos já feitos, por parte do ministro Carlos Ayres Brito. Ayres Brito desmembrou, um por um, todos os argumentos daqueles que fazem a defesa dos arrozeiros.

1) Dizem que os índios não podem ficar em faixas da fronteira do Brasil com outros países. A reserva Raposa/Serra do Sol, por exemplo, faz fronteira com os perigosíssimos países da Venezuela e da Guiana.

- Os índios defendem suas terras melhor que qualquer militar. Por lá só entra gente da Funai, que lida com comunidades indígenas, e o presidente da República. O argumento de que eles não defendem a soberania nacional é uma falácia antiga que os militares - que adoram uma teoria conspiratória - defendem. Os arrozeiros tomaram esse argumento para eles por interesse.

2) Dizem que os arrozeiros são mais importantes para o país porque produzem riqueza, enquanto os índios nada fazem para o desenvolvimento nacional.

Convenhamos. O que é desenvolvimento nacional? Se você responder que é devastar florestas, matar animais e dizimar índios para produzir arroz que será vendido no mercado internacional gerando riqueza apenas para meia dúzia de fazendeiro, então OK, eles estão certos.

Depois do voto de Ayres Britto, o ministro Carlos Alberto Direito pediu vistas, para que todos pudessem estudar melhor o assunto.

Quanto a estudar melhor o assunto, nada contra. Esse país está precisando de gente disposta a estudar melhor as coisas. Mas essa história está aí desde 1988. E o processo está lá no STF desde 1998! O mínimo que se espera de um ministro do Supremo é que conheça a Constituição ou que ao menos conheça os processos que lá estão.

O julgamento foi marcado então para dia 10 de dezembro.

Pois ontem, dia 10 de dezembro, lá estavam todos reunidos mais uma vez para finalmente decidir se a regra é justa para os índios ou para os rizicultores. Dos 11 ministros do Supremo, oito votaram. Todos a favor da demarcação de terras contínuas para os indígenas da região. Tudo corria bem, até que o ministro Marco Aurélio Mello pediu vistas ao processo.

A decisão foi, mais uma vez, protelada. Os índios continuam esperando. E o país continua esperando. Esperando enquanto os arrozeiros de Raposa/Serra do Sol ganham seu dinheiro com o arroz plantado onde índio deveria estar vivendo.

O que fazemos? Esperamos.

O julgamento do STF sobre o que fazer com os índios de Roraima é um desenho perfeito de algo maior: a história do Brasil.

10 de dezembro de 2008

Oleo do Diabo & Gonzum no Orkut

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Nunca fui muito de Orkut. Desde que iniciei minhas atividades na internet, restringi-me à blogosfera. Mas agora que me profissionalizei, não posso me dar ao luxo de ficar de fora da maior rede de comunidades da web brasileria. Com um detalhe: o Orkut brasileiro é o maior do mundo.

Então fiz uma comunidade para o blog, que está nesse endereço, quem quiser, pode entrar e participar.

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=51490708

Nadando a favor da corrente

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A politização dos números da economia está enlouquecendo as redações. O que houve hoje, quarta-feira 10 de dezembro, não foi outra coisa que não uma sabotagem midiática organizada. O IBGE divulgou que o crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre bateu um recorde histórico. Mais que isso. Registrou-se um crescimento de qualidade, com ampliação do parque industrial, aumento da massa salarial, do nível de emprego, e com melhores índices entre as regiões e as camadas sociais mais pobres - portanto com distribuição de renda. O que seria uma excelente oportunidade para melhorar o astral e incentivar um clima de otimismo às vésperas do Natal, quando as vendas costumam ganhar ritmo, incentivando a economia e gerando mais empregos, foi transformado, por uma operação alquímica típica de nossa mídia, em augúrio de novas desgraças. Nem o bom senso está sendo mais respeitado. Miriam Leitão entrevista analistas - certamente escolhidos a dedo entre a turma urubunômana - que chegam ao cúmulo de afirmar que a alta na economia no terceiro trimeste tem um ponto negativo: de que formarão uma base alta para uma queda abrupta no quarto trimestre. Nem consigo explicar direito, de tão estúpido. Quer dizer que os milhões de empregos gerados, a felicidade nos lares, os eletrodomésticos, tão sonhados, que foram adquiridos, têm um ponto negativo? Tudo tem um lado negativo, ok, mas neste caso, é como dizer que viver tem um lado negativo, que é a constante possibilidade de morrer. Morrer também é uma "queda abrupta".

"Crise freia país no auge de seu crescimento econômico"

Esta é a manchete do Globo. No entanto, como ele pode afirmar, peremptoriamente, que a crise "freia país", se o referido recuo na economia é apenas uma previsão? O que é científico, comprovado, é o crescimento do país.

Na tentativa de desculpar-se por ter previsto tanta desgraça e agora ser obrigado a vir a público com a notícia do maior crescimento da história recente, a mídia diz que a crise financeira iniciou-se somente em setembro, ao final do terceiro trimestre, com a falência do Lehman Brothers, e que afetaria a economia brasileira apenas no quarto trimestre. É mentira. A crise econômica mundial, e mais especificamente nos EUA, iniciou-se há dois anos, com a quebra de várias grandes corporações. Recentemente, a própria imprensa noticiou que os EUA vivem recessão há um ano.

Houve um estouro de bolha a partir de setembro, está certo, mas, apesar dos trilhões envolvidos, não adveio de queda na demanda mundial. Ao contrário, a demanda global prossegue crescendo. Essa crise tem sido uma crise de marcas famosas. Uma crise de bancos privados, estatizados pelos governos europeus e, parcialmente, também pelo governo americano. Os trilhões de dólares mudaram de mãos.

Os profetas do apocalipsse, aqui no Brasil e lá fora, subestimam o poder criativo da raça humana, que já enfrentou crises infinitamente piores que essa. Andaram comparando com o crash da bolsa de Nova York. Outra incorreção histórica. Em 1929, não havia uma Ásia industrializada e pujante. Não havia uma América Latina industrializada e pujante. Não havia uma União Européia unida e forte. Não havia um Brasil industrializado e com petróleo! O Brasil, em 1929, não possuía uma gota de petróleo e, pior, ainda éramos acossados pela propaganda - apoiada por Globo, como sempre - de que não havia possibilidade de haver petróleo no país!

Em 1929, éramos uma grande fazenda monocultura de café. Hoje o Brasil exporta centenas de produtos e todos são importantes para nossa balança comercial. O café, e o Brasil continua sendo o maior produtor e exportador mundial, representa menos de 1% de nossas exportações.

A crise financeira mundial serviu a vários propósitos interessantes. Ajudou a eleger Obama, um negro de esquerda, para a presidência dos EUA, um fato que terá desdobramentos geopolíticos em todo planeta. E servirá para reduzir o desequilíbrio entre as nações, com redução proporcional do PIB americano em relação aos PIBs de outros países. O Brasil ficará melhor na foto. O Brasil deverá sair da crise com uma graduação mais alta entre as maiores economias do mundo, saindo décima posição para a oitava ou sétima, superando Espanha e Itália e emparelhando com França e Inglaterra.

Na década de 30, nossa única riqueza, o café, atingiu preços tão baixos que Getúlio achou melhor manda queimar quase 100 milhões de sacas estocadas. Com as exportações paralisadas, passamos a investir no mercado interno, e diante de um mundo que afundava em crises e hostilidades, que culminariam na II Guerra Mundial, o Brasil viveu momentos gloriosos em sua economia e cultura, com a implantação de indústrias de base e o surgimento de grandes gênios da literatura, como Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade.

Há que se refletir algumas coisas. Primeiro: mesmo se o PIB brasileiro levar um tombo no quarto trimestre, o crescimento acumulado em 2008 terá sido o maior em décadas. Segundo: um país não vive só de PIB. Teremos vivido mais um ano de melhora na distribuição de renda. Regiões pobres, como o Norte e Nordeste, continuam experimentando um crescimento muito acima da média nacional. Criamos a TV Brasil, que deverá se consolidar em breve como a maior TV pública das Américas. Mais de 43 milhões de brasileiros estão acessando a internet, um número incrível, quase metade da população economicamente ativa. As vendas pela internet explodiram. A blogosfera brasileira ganhou autonomia e densidade política, possuindo hoje, provavelmente, mais leitores do que a mídia impressa tradicional. Com um detalhe: se no início, a blogosfera era dominada por playboyzinhos branquelas e mimados, geralmente do Sul e Sudeste, hoje atingiu um amadurecimento muito mais democrático e diversificado, com produtores e leitores de todas as idades, classes sociais, raças e regiões.

Repito: não podemos pensar o Brasil apenas em termos econômicos. O país amadureceu politicamente. Ainda falta amadurecer culturalmente, livrar-se de alguns entulhos do regime militar, sendo o principal deles a paranóia anti-comunista da grande mídia. E o golpismo político. Eliminadas as possibilidades de novos golpes militares contras as forças de "esquerda", a direita avançou sobre as redações de jornal e revista para tentar aprovar sua agenda mafiosa e anti-nacionalista.

TV Gonzum: Bate papo com Godofredo Quincas

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A nossa famigerada TV Gonzum tem a honra de apresentar um bate-papo sobre cinema e cultura com o também famigerado Godofredo Quincas, cineasta, ator, historiador, filósofo, nobre e notável figura do Quadrilátero e adjacências. Gravamos três blocos de 10 minutos. O último bloco termina abruptamente, porque na empolgação da conversa nem percebemos que a câmera já tinha desligado. Mas ficou muito bom, na minha opinião. Conversamos sobre cinema, principalmente.

Parte 1/3


Parte 2/3


Parte 3/3 (desculpem o final abrupto, é que não vimos o tempo passar...)

9 de dezembro de 2008

Chora Miriam

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(mulher chorando, de Pablo Picasso)


Crescimento do PIB passa dos 6% e bate recorde histórico

Resultado supera estimativas; investimento também é recorde e mostra que indicador ainda não reflete crise

Jacqueline Farid e Alessandra Saraiva, da Agência Estado

RIO - O aumento de 6,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 12 meses, até setembro de 2008, foi a maior taxa acumulada para 12 meses desde o início da série, em 1996, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE). A taxa acumulada em nove meses, de janeiro a setembro (6,4%), também é a maior para o período da série. Soma de todas as riquezas produzidas no País, o PIB cresceu 6,8% no terceiro trimestre de 2008 ante igual trimestre do ano passado e somou R$ 747,3 bilhões. Trata-se do maior aumento trimestral desde o segundo trimestre de 2004.

Ler mais.

Brasil exportou US$ 38 bilhões para América do Sul em 12 meses

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Já escrevi sobre isso aqui, mas como o Globo prossegue sua campanha para desestabilizar as relações políticas entre Brasil e seus vizinhos, eu repito. Nos 12 meses até outubro deste ano, a América do Sul foi um parceiro comercial muito mais importante que os Estados Unidos, tanto em termos de valores absolutos quanto dos preços pagos. A América do Sul aumentou em 410% suas importações do Brasil, liderada por países governados por aqueles que a mídia agora, esquizofrenicamente, tenta transformar em "inimigos" do Brasil. As exportações brasileiras para a América do Sul totalizaram US$ 38,60 bilhões em 2007/08, até outubro, com preço médio de US$ 14.832 a tonelada. Comparando: no mesmo período, as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 28,22 bilhões, com preço médio de US$ 9.825 a tonelada. Ver tabela ao final do post.

E agora o Globo quer "estremecer" as relações do Brasil com seus vizinhos por causa de US$ 5 bilhões, valor que se refere à dívidas de mais de 30 anos, e cujo prazo para pagamento também é indefinido?

Piorando a situação, caluniaram a servidora pública Maria Lucia Fattorelli, auditora fiscal, afirmando na matéria que o governo, ao emprestar a funcionária ao governo equatoriana, teria ajudado o país a preparar o calote no país. Fattorelli escreveu longa carta aos parlamentares brasileiros, externando a sua indignação com a reportagem do Globo, acusando-a de falsa e tendenciosa, ao omitir a informação - que foi repetida diversas vezes ao repórter - de que a sua atuação no Equador, que se realizou dentro das convenções internacionais de amizade entre os povos, não tratou das dívidas bilaterais do Equador.

Neste momento de forte recessão nos países do primeiro mundo, o Brasil precisa, mais do que nunca, continuar ampliando as relações comerciais com seus vizinhos. Portanto, é burra e perigosa a estratégia midiática de produzir conflitos diplomáticos por causa de dívidas antigas cuja revisão e auditoria são normais. Muito mais importante, para o Brasil, é manter em alta o fluxo de comércio, onde lidamos com dinheiro vivo, dinheiro saudável, dinheiro presente, que geram empregos, e não títulos de dívida de décadas atrás, cujo pagamento, mesmo que fosse feito integralmente, seria diluído ao longo dos próximos 20 ou 30 anos.


Clique na imagem para ampliar.

Ingenuidades e maldades da oposição midiática

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As forças políticas da oposição ao governo federal, é um fato notório, concentram-se hoje na mídia corporativa. Por isso, tentam ampliar qualquer suposto deslize de Lula, transformando-o num escândalo. O recente discurso do presidente no edifício Gustavo Capanema (filmado pela TV Gonzum), em que ele citou a expressão "sifu" trouxe a esperança de criar um grande movimento de indignação nacional. Mas somente os mesmos ranhetas missivistas do Globo se indignaram. Ao contrário, ajudaram a dar ainda mais cartaz a Lula. Os líderes são respeitados por suas qualidades, mas amados por seus defeitos. Essa é uma lei milenar, e que vale inclusive para as relações interpessoais. As lideranças, ao demonstrarem defeitos, descem do pedestal e se misturam às pessoas comuns, e por isso são carismáticas, populares, amadas. Lula, em seu discurso no Capanema, fez as pessoas rirem, e não vulgarmente, porque o texto que dizia era pertinente. Lula abordava o aspecto midiático da crise, muito importante, porque, se a mesma é exagerada, pode gerar medo no consumidor (como está gerando), criando uma recessão artificial, abrupta, que somada à temporária escassez de crédito, representa um forte golpe na saúde das empresas, que são obrigadas a demitir, e aí a crise se torna real.

E aí, a ingenuidade da oposição se torna maldade. Parece que ela está disposta a destruir o Brasil, desde que se abra caminho para a ascensão de José Serra em 2010. Em vez de apontar os inúmeros pontos firmes da economia brasileira, que a colocam em situação de enorme vantagem no mundo, em vez de sondar os aspectos que podem levar o Brasil a superar a crise, a mídia repete, de forma sensacionalista, manchetes apavorantes. A única fórmula sugerida pela mídia & oposição para enfrentar a crise são as mesmas receitas neoliberais que produziram a crise no mundo: mais neoliberalismo, corte de gastos públicos, redução do Estado, mais liberalização econômica. Na contramão de todo planeta, a mídia brasileira tornou-se completamente isolada. Tornou-se extremista e radical.

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Trabalhando duro no blog & novidades

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Hoje passei o dia trabalhando no blog, pesquisando e estudando templates e outros assuntos ligados a blogosfera. Na verdade, há meses que venho fazendo isso. Só não me tornei um nerd porque tenho o privilégio de morar no centro, na Lapa, onde se não vamos à boemia, ela vem até a nós. E assim consigo manter um pouco de equilíbrio.

Os leitores do blog já notaram que o mesmo tem mudado constantemente. É que estou sempre descobrindo coisas novas e procuro sempre melhorar o visual.

Além disso de trabalhar em meu próprio blog, estou fazendo mais um trabalhinho (depois da Bienal) para o movimento estudantil. Pediram-me para re-estruturar o blog do Cuca Rio. O Cuca é sigla para Centro Universitário de Arte e Cultura, instituições que podem ser montadas em toda faculdade, com auxílio da União Estadual dos Estudantes. Alguns se tornaram "pontos de cultura", ou seja, recebem recursos tecnológicos e verba do Ministério da Cultura.

Nessa brincadeira, venho me profissionalizando, fazendo blogs para terceiros. É um trabalho gostoso, que me deixa livre para escrever no meu próprio blog. Atualmente, não tenho outra ambição que escrever no meu blog. Segundo pesquisa divulgada hoje, já existem no Brasil 42 milhões de pessoas com acesso à internet. Tenho certeza que, como blogueiro, tenho condições de acessar leitores de maneira muito mais efetiva que através dos meios impressos convencionais.

O mais importante pra mim, todavia, é que, escrevendo no blog, eu aprendo a escrever, eu desenvolvo e amadureço técnicas de redação. Escrever é um aprendizado duro, lento, um exercício de paciência. Não adianta apenas ler muito, assim como, para ser músico, não basta escutar muita música. É preciso sobretudo escrever muito, pensar muito, viver muito.

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Terminei a quarta edição da Revista Manuskripto. O tema do mês é economia, mais especificamente comércio exterior. Publiquei tabelas atualizadas sobre os principais destinos da exportação brasileira e sobre os principais produtos exportados pelo Brasil, com atenção especial para Argentina, que já é o segundo maior mercado de produtos brasileiros, e para o Equador, devido à recente crise diplomática. Mostrei que o Equador é o importador de mais qualidade, que importa os produtos brasileiros de maior valor agregado, que paga os preços médios mais elevados. Por isso, é tão idiota e contra-producente essa campanha midiática contra o Equador, como se Rafael Correa fosse um presidente nocivo ao Brasil. Ao contrário, os presidentes sul-americanos, Chávez em primeiro lugar, mais demonizados pela mídia brasileira foram os que ampliaram, de maneira mais expressiva, as importações de produtos brasileiros.

Assine a revista Manuskripto e confira as tabelas. Clique no link aí em cima. Você ajuda o blogueiro a se sustentar e ainda tem acesso a informações que a mídia tradicional não dá.

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Aliás, eu queria entender porque a mídia não traz informações mais detalhadas e explicadas sobre o comércio exterior brasileiro. É tão fácil. O Brasil alimenta um dos sistemas de estatística online mais modernos e atualizados do mundo.

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Às vezes, quando vejo um literato me olhando atravessado, por eu não ser um "puro", ou seja, um literato que só fala de literatura, arriscando-me a escrever sobre tudo e todos, penso em Machado de Assis. O que é melhor para um escritor? Escrever livremente sobre política, economia, arte, cultura, ou ser funcionário do Ministério da Agricultura?

A intelectualidade brasileira ainda não se acostumou a ser livre. Existe um medo inconsciente. Mas talvez esse medo seja, em parte, justificado. Por que nunca existirá plena liberdade de pensamento no país enquanto não houver uma desconcentração midiática mais efetiva, que permita aos intelectuais um leque de ofertas profissionais mais amplo, mais diversificado ideologicamente. Agravando o quadro, não temos um mercado editorial propriamente dito, de maneira que a única maneira de um escritor ganhar algum dinheiro é estar bem com a mídia corporativa, a qual, para mim, que estudo história e tenho veleidades de entender de política, sei que é aliada ao que existe de mais reacionário e traiçoeiro no Brasil.

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Ah, escrevi mais duas resenhas para a livraria Gonzum. Dêem um pulo lá e comprem um livro!

Anotações e considerações - Cultura e Política

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Por João Villaverde

Na segunda-feira à noite, depois do expediente, corri para o auditório do Masp, na Avenida Paulista, para acompanhar o primeiro dia da série de três debates promovidos pela Folha acerca das comemorações de 50 anos de seu caderno cultural, a Ilustrada.

O primeiro debate é o que mais me interessava: Cultura e Política, com Maria Rita Kehl (psicanalista), Caetano Veloso, Cacá Diegues e Ferreira Gullar. Para mediar, o editor do caderno de política do jornal, Fernando Barros e Silva, também colunista de Opinião da Folha, ocupando às segundas-feiras a coluna de Clóvis Rossi.

Graças ao infernal trânsito de São Paulo, perdi as falas iniciais de Caetano, Maria Rita e Cacá Diegues. Quando cheguei, Gullar começara a falar.

Antes, que fique claro meu respeito à todos os debatedores. Minhas opiniões e divergências são de visões de mundo, de mudança com as coisas como elas estão. Nada tem a ver com a obra passada deles.

Para Ferreira Gullar, poeta e escritor surgido nos anos 50, historicamente ligado ao comunismo soviético - chegou a morar na URSS nos tempos de exílio nos anos 70 -, os tempos de cultura no Brasil são outros. Enquanto que nos anos pré-ditadura havia um grande debate nacional acerca de um país "novo", que se descobria, e nos anos da ditadura havia um "Inimigo" óbvio a ser escancarado e combatido, a partir dos anos 80 perdeu-se o engajamento.

Gullar falou muito que o Brasil da ditadura não era o mesmo que os militares expunham. "Havia fome, violência, favelas, desrespeito, tudo ficava escondido pela censura e pelos números de crescimento". Para ele, aquilo deveria ser mostrado de alguma forma, e a cultura estava encarregada desse papel.

De um certo modo, essa era a opinião dominante entre os convidados.
Não deixa de ser curioso que essa visão - que é dominante nas artes e na cobertura de cultura, bom que se diga - é um espelho da máxima de Fukuyama, de que, após o fim da União Soviética em 1991, tínhamos alcançado o "fim da história". É um espelho porque a frase não pode ser literalmente associada ao pensamento dos três artistas presentes (Caetano, Cacá e Gullar). Os três são críticos, em maior ou menor escala, da sociedade atual. Mas não deixa de ser sintomático esse pensamento reducionista de que, com o fim da ditadura militar, não há mais porque existir engajamento político nas artes. Quer dizer então que não há mais fome, violência, favelas e desrespeito no Brasil? A sucessão de Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula erradicou todos esses males do país. É isso?

Ferreira Gullar aproveitou a deixa para tratar de política contemporânea: "Não há, a exceção do Chávez na Venezuela, quem acredite em socialismo nos dias de hoje". Não pretendo entrar nos méritos do conteúdo exposto, mas na conotação social e comportamental colocada como pano de fundo. Discutir se Gullar está certo ou errado, se Chávez é bom ou ruim, se o socialismo é possível ou não, é indiferente. O contexto é outro. Ao pensar dessa forma - e não sofrer contestação dos debatedores - está se passando a visão de mundo hegemônica na classe artística de hoje: 1) os engajados do passado não vêm mais razão para esse engajamento na sociedade atual. 2) os artistas do presente já estão inseridos nesse mundo. Não querem, nem precisam discutir as coisas. Afinal, as coisas são como elas são. Não há porque mudar.

A tristeza desse pensamento é atestar para o sofrível nível das artes no Brasil atual. Se antes tínhamos artistas e pensadores de artes ao mesmo tempo - pessoas que, além de produzir, discutiam a produção dos outros e as condições sociais ao mesmo tempo - hoje não temos nem um nem outro. A arte é recebida acriticamente, porque foi assim concebida. E o movimento se retro-alimenta: não há obra engajada, que discuta os rumos da sociedade. Ao mesmo tempo, a crítica especializada - cada vez mais pulverizada, porém ainda fortemente centralizada nos cadernos culturais dos grande jornais - não propõe qualquer julgamento político àquilo que recebe. E o público - cada vez mais transformado em consumidor - busca cada vez mais alienação e abstração.

O que se vê, então, é um crescente processo de alocar às artes o papel de abstração.

Gullar tratou disso em sua fala. Disse que o artista tem a liberdade de escolher produzir uma arte política ou abstrata. No entanto, disse que a arte é eminentemente abstrata. É verdade. E seu ponto de vista pode ser entendido de qualquer forma. Mas o que parece coerente é que, mesmo política, a arte antes é abstrata. Se for direta não é arte, mas panfleto. E a arte política reside justamente na crítica do sistema e do status quo por meio da abstração reflexiva.

E falando em reflexão. Qual foi o último grande momento de reflexão acerca dos rumos do país e da sociedade mundial proposto pelas artes? A Bienal do Vazio? O Ensaio sobre a Cegueira? Paulo Coelho? Mallu Magalhães?

Aí entramos no ponto que iniciou o verdadeiro debate (até então se tratava das falas iniciais dos convidados). A questão do individualismo e da descentralização do consumo de cultura graças ao desenvolvimento tecnológico.

Cacá Diegues contou de um amigo que, voltando de viagem ao Vietnam, comprou uma cópia pirata de "Tieta" - filme de Diegues - em DVD. Ele disse adorar a idéia de ter um filme piratiado e comercializado no Vietnam. Disse apoiar a iniciativa. Maria Rita Kehl lembrou que o rapper Mano Brown gostava de dizer que nada o deixava mais feliz que saber que seus cds eram vendidos por ambulantes nas estações de metrô em São Paulo. Caetano aproveitou a deixa para dizer sobre as enormes possibilidades abertas pela internet, que vem destruindo o tradicional modelo da indústria fonográfica. "Já fiz música para poucos ouvirem, já passei pela fase pesada da indústria cultural, e agora estou vendo uma abertura total", disse.

Para Cacá Diegues é questão de tempo - entre cinco e dez anos - para que não haja mais produção física dos meios de distribuição de filmes. "Poderá se passar filmes de Miami, Los Angeles, para a Avenida Paulista por meio de linhas telefônicas. Nesse momento, o custo de exibição será zero e o produto vendido será o agregado: a pipoca mais cara do mundo, a Coca-Cola mais cara do mundo, a camiseta, o boné, etc.".

A palavra chave dos novos tempos, para os três artistas, é democratização. É a democracia na produção, na distribuição e no acesso à todas as formas de cultura. De fato, é um sinal dos tempos contemporâneos. É assim com cultura, é assim com jornalismo. Com os blogs, por exemplo, a informação e a opinião é descentralizada da figura dos grandes jornais, e o debate é instantâneo, por meio dos comentários. Há enorme interação entre o produtor e o consumidor da notícia. A mesma coisa acontece com a cultura.

"O mercado continua sendo importante. Antes, importante para a indústria. Agora, importante para a figura individual do produtor de conteúdo artístico", disse Caetano. Para Ferreira Gullar, os homens são iguais em direitos, mas diferentes em qualidades. "Ninguém é Pelé. O Oscar Niemeyer é um gênio, mas se não fosse pelo pedreiro, o desenho não sairia do papel. Em casa é a mesma coisa. Não fosse a comida da dona Maria, eu não faria minhas poesias". Foi aplaudido.

Maria Rita Kehl pegou o microfone: "A questão é: quem vai querer ser o Niemeyer e quem vai querer ser o pedreiro?". Poucos, mas fortes aplausos localizados no auditório.

Alcançaram o consenso por meio da "cultura de nichos", isto é, da arte sendo feita pensando em grupos específicos, sem mais a pretensão de alcançar as massas.

Aí reside boa parte do mundo que vivemos hoje. Há nichos espalhados por toda a parte. Na política há aqueles que buscam os grandes jornais. Há aqueles que buscam os blogueiros de direita. Os blogueiros de esquerda. Os blogueiros grosseiros. Os blogueiros educados. Os blogueiros intelectuais. Os engraçados. Os músicos. Os blogs de teatro. Os blogs sobre séries de televisão americana. Os blogs de novelas. Os blogs de celebridades. Os blogs jurídicos. As revistas financeiras. As revistas de celebridades. As rádios de música clássica. Os sites de rock indie.

A televisão à cabo nso Estados Unidos dos anos 90 já trazia um pouco do que a internet oferece hoje. Diversificação do conteúdo, atendendo a fatias específicas de mercado, sem rabo preso com índices de audiência, mas com a publicidade, que também é localizada, uma vez que se mapeia e se conhece perfeitamente o público consumidor.

Os produtores de conteúdo interagem com seu público consumidor. A interação gera sintonia de discurso, criando uma fórmula que emula aquilo que se quer com os limites impostos pelo consumidor. Aos poucos, aumenta-se o debate, mas permanecem os gostos e costumes. A arte industrial, que fala às massas, ainda resiste com pontos específicos em determinados campos, é claro. O filme "Batman, o cavaleiro das trevas", por exemplo, está perto de alcançar um faturamento de um bilhão de dólares apenas de bilheteria, ao redor do mundo. Mas está se verificando uma falência de um modelo, anterior mesmo à indústria da cultura, que é o da arte que instiga, que insere o novo, aquilo que ninguém estava acostumado a ver e pensar, criando novas reflexões e novos caminhos. Isso está cada vez mais difícil de ser feito.

Até porque, os pontos mais interessantes do mais recente sucesso de cinema (Batman) - a anarquia social e o maniqueísmo ilusório entre homens - foram solenemente ignorados frente à morte do ator que interpreta o coringa (Heath Ledger) e aos efeitos especiais introduzidos pelo filme (a cidade computadorizada).

O interessante que se formou no debate da Ilustrada esteve, o tempo todo, no subterrâneo. Mesmo nas horas de opiniões distintas, não faltou a tranquilidade habitual pela maturidade dos debatedores e pelo evento em si. Afinal, antes de debate, tratava-se de um dos três grandes dias de comemorações de 50 anos da Folha Ilustrada.

Mas o debate ajuda a fomentar algo que está sendo esquecido. Perguntas colegiais e existenciais clichês: Onde estamos e para onde pretendemos ir.

7 de dezembro de 2008

Ameaças pró-capitalistas

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A maior ameaça ao capitalismo hoje não é vermelha, nem azul e amarela. É branca. A cor da razão. O principal adversário ideológico do feudalismo não foi a justiça social, mas a lógica. A situação se repete hoje. A elite brasileira tem a sua própria idéia de capitalismo. As elites mundiais têm a sua própria idéia de capitalismo. A maior ameaça, ia dizendo, não é o comunismo, dado como irrealizável e, mesmo que o fosse, indesejado. A maior ameaça ao capitalimo não é uma revolução, onde quem lucraria, como sempre, seria a indústria bélica. A maior ameaça são reformas racionais.

A solução para a crise econômica mundial está diante de todos, mas todos se recusam a ver, apavorados, presos a dogmas ultrapassados e a velhos esquemas ideológicos. A solução é uma geral e irrestrita estatização do capital financeiro global e mudanças constitucionais que proibam a existência de bancos privados. Assim como a moeda é monopólio do Estado, a circulação da moeda também deve ser. O dinheiro é um bem público e deve ir para quem precisa dele, ou seja, cidadãos, empresários, artistas e donas-de-casa.

Ontem, conheci um sujeito muito boa praça. Um artista plástico de mente ágil, vasta cultura e incansável sede por novos conhecimentos. Num aspecto, contudo, revelou-se assustadoramente ingênuo. Contou-me que vivia, há muitos anos, no cheque especial do Itaú. Orgulhava-se disso. "O segredo é ter crédito! Tenho o mesmo banco, a mesma agência, há mais de quinze anos, e ganhei crédito ilimitado!" Sua conta oscila sempre em torno de 10 mil reais negativo, forçando-o a pagar milhares de reais, por mês, apenas de juros. Esse artista não tem renda fixa, não tem salário. Como vive? Como ocorre com milhões de brasileiros, é um enigma.

O que ele não percebe é que, em quinze anos, já pagou ao Itaú o equivalente a dois ou três apartamentos. Ele diz que dorme muito bem, não fica nervoso. Toca sua vida com grande tranquilidade. O dinheiro que ganha usa para adquirir peças de arte. "Quando meu cheque especial chega a 3 mil reais negativo, eu me sinto rico!", explicou-nos, lançando depois irônicas acusações sobre nossa preocupação burguesa com dívidas. No entanto, não percebe que o problema não é manter ou não uma estabilidade emocional. O problema é ser roubado.

Não aguentei e disse a ele: por que você não vende uma de suas peças de arte, paga sua conta no Itaú, encerra-a, e abre uma outra na Caixa Econômica Federal, uma conta poupança, que praticamente não tem taxa nenhuma, não oferece cheque especial nem cartão de crédito, e começa vida nova? Ele fingiu que não me ouviu e não insisti para não o ofender.

Casos como esses são incrivelmente comuns. A classe média brasileira, em peso, vive de cheque especial de Bradesco e Itaú. Muitos prefeitos e governadores, inclusive, realizam pagamento de seu funcionalismo nesses bancos, obrigando milhões de coelhinhos a entrar na toca da raposa. Minha mãe, professora aposentada do município do Rio, foi obrigada, pelo César Maia, a abrir uma conta no Itaú para receber seu salário. Isso é crime!

O problema do Brasil, hoje, não é apenas o juro básico do Banco Central. Se os brasileiros pagassem apenas 12% ao ano por suas dívidas, tudo bem. O problema são os juros de 1.000% do cheque especial, de 2.000% do cartão de crédito, de 3.000% da agiotagem institucionalizada.

Está aí uma crítica contundente que a oposição, se tivesse compromisso com o povo brasileiro, poderia fazer ao Lula. Podia cobrar do Lula uma lei que desse um fim à farra dos bancos. Podia, ainda, articular, com inteligência e debate, uma nova legislação que desse fim aos bancos privados, e decretasse o monopólio estatal da circulação financeira no país. Bancos privados não produzem dinheiro. Quem produz é o Banco Central. O capital de um país é valioso demais para ficar em mãos de playboys irresponsáveis. O capital é um bem público, que deve estar em poder de trabalhadores, empresários e donas-de-casa, através de bancos públicos que não cobrem nenhuma taxa.

Os bancos são os culpados pelas grandes crises econômicas do capitalismo moderno. Na Argentina, a quebradeira de bancos privados fez o país retroceder quase 100 anos de desenvolvimento. Aqui no Brasil, FHC deu quase R$ 80 bilhões aos bancos, através do Proer, com a desculpas de "salvar" a economia brasileira de uma quebradeira sistêmica.

Não tem sentido. Se os bancos são privados, qual o sentido do Estado salvá-los? Se a sua falência traz riscos tão grandes para a economia, está provado que a sua existência é um risco excessivo para a civilização. Bancos privados não podem existir, porque põem em risco o próprio capitalismo.

A maior imbecilidade da direita é associar um Estado forte ao comunismo. Quem precisa de um Estado forte é, sobretudo, o capitalismo, para regular a concorrência e estabelecer regras que tragam estabilidade e segurança às sociedades.

Qual a contribuição de um banco privado para o Brasil? O máximo que eles fazem é financiar peças de teatro da Regina Duarte com a lei Rouanet! Isso! Patrocinar aquelas merdas com meu dinheiro! E a Regina Duarte, não satisfeita, ainda vai em Brasília protestar e pedir mais!

Pelo bem do capitalismo mundial, acabem logo com essa excrescência feudal. Acabem com os bancos privados. Nacionalizem tudo! Antes que uma nova crise leve o mundo à bancarrota final!

Ninguém merece seu amor, amem

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Por Fernando Soares Campos

Ninguém morreu, portanto estou desolado
Ninguém estava no velório
Ninguém chorou
Ninguém sentiu saudades de ninguém
Ninguém rezou
Ninguém cantou o réquiem das carpideiras
Ninguém nem mesmo reclamou o corpo de ninguém

Ninguém precisa fazer alguma coisa para que ninguém padeça
De solidão tumular

Nínguém deve tomar uma atitude para que ninguém
Continue abandonado à própria sorte

Ninguém está sentindo dificuldade de encontrar o túmulo de ninguém
Ninguém precisa que ninguém eleve uma prece por ninguém
Ninguém, sem isso, pode ressurgir dos mortos
Ninguém merece seu amor
Amem

Crise expõe brutalidade ideológica das elites

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A manchete de hoje do Globo não deixa dúvidas:

Desemprego no Brasil pode chegar a 9% em 2009


A previsão é do Bradesco. Muito bem. Os mesmos bancos que vem quebrando por falta de planejamento e irresponsabilidade agora voltam à carga como profetas do apocalipse. Miriam Leitão, naturalmente, nunca esteve tão radiante. Apure os ouvidos e escutará a voz daquela que eregeu a desgraça como estética primeira de seu jornalismo. "Eu disse! Eu avisei! AHAHA!", vocifera, às gargalhadas, nossa querida musa da urucubaca. Todas as fichas estão sendo apostadas no aprofundamento da crise. Nesse momento tão glorioso para nossas elites, que só gozam contemplando a miséria alheia, FHC resolveu dar as caras.

Leiam essa nota, que pesquei no blog do Rovai.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a crise que assola os mercados financeiros de todo o mundo irá crescer de forma exponencial no Brasil em 2009 e condicionou o enfrentamento dela a medidas de contenção de gastos do governo federal.

"A crise está apenas começando, essa crise é séria, o centro dela não é aqui é lá fora, mas ela já nos alcançou e vai alcançar mais. O ano que vem será um ano difícil. Eu vou ver se o governo do presidente Lula contornará a crise se tiver responsabilidade fiscal" disse.


Um comentarista lá, que por acaso é amigo deste blog, o Roberto Locatelli, fez uma observação pertinente sobre as declarações de FHC.

Roberto Locatelli - 04/12/2008 06:38
O Pavão da USP repete a cantilena neoliberal de que o governo tem que gastar menos. O que não avisaram a ele é que o neoliberalismo derreteu junto com Wall Streeet, Paul Krugman, prêmio Nobel de economia em 2008, diz o contrário: é preciso que o Estado ative a economia aumentando os investimentos públicos. Parece que o Príncipe dos Sociólogos encalhou no século 20 e de lá não saiu mais...