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6 de abril de 2012

Ainda sobre o Minc

10 comentarios

Peço desculpas por atrapalhar a campanha dos que pretendem derrubar a ministra Ana de Hollanda, mas eu sigo as lições de John Stuart Mill: se eles têm razão, o meu contraponto lhes ajudará a inventar um discurso mais firme, mais convicto e mais verdadeiro. Sou da opinião, além disso, que o próprio ato de debater já é um ato cultural importante.

Nesta quinta-feira, a professora Ivana Bentes publicou um artigo no Globo intitulado Sem Projeto, com críticas ao ministério.

Publico o artigo da professora na íntegra, com comentários intercalados. Sei que esse método não é totalmente justo, porque comenta-se frases fora do contexto do argumento geral, mas serei cuidadoso.


Falta projeto

Por Ivana Bentes e Eryk Rocha

Publicado no O Globo - 05/04/2012

Em artigo (24/03) o cineasta Cacá Diegues saiu em defesa da ministra da Cultura Ana de Hollanda utilizando dados passados pelo MinC que destoam das informações trazidas pela mídia, e contrastam com o clima de extrema frustração pedindo mudança de rumo no Ministério da Cultura.

(Informações trazidas pela mídia, que informações? Que mídia? Desde quando a mídia é fonte? Mídia é o meio, não a fonte. Aliás, por que Ivana Bentes não publicou esse texto também na internet, de forma a acrescentar links das fontes que usa, agregar mais argumentos e podermos construir um debate mais consistente? Que mudança de rumo, exatamente, Ivana deseja?)

Manifestações de perplexidade de intelectuais do porte de Marilena Chauí, uma das fundadoras do PT, da atriz Fernanda Montenegro, do músico Ivan Lins, que se somam à indignação dos Pontos de Cultura e à de expressivos nomes.

(Deixemos aquele manifesto dos intelectuais de lado. Qualquer dia desses, se insistirem muito, podemos analisá-lo detidamente. É uma tremenda xaropada, um amontoado de clichês. Vamos nos ater ao nome de Fernanda Montenegro. O manifesto dos artistas quase só tinha atores da Globo, essa é a verdade. O nome de Fernanda passou a ser brandido como um troféu. Não era bem assim. O Ancelmo Góis publicou ontem uma entrevista com a nossa grande atriz em que ela nega qualquer insatisfação com o Ministério da Cultura. Ela aceitou incluir seu nome na lista porque apoiava o nome de Danilo Santos Miranda para o ministério da Cultura no caso de vagar o posto do ministério. 


Confira a nota do Gois:




Ou seja, o nome de Fernanda Montenegro está sendo indevidamente usado. Ivana Bentes mencionou outros "expressivos nomes". Deveria ter citado Regina Duarte e Nelson Motta. )

O mais grave é que os números do MinC soam como inoportuna maquiagem que Cacá Diegues repete ao dizer, por exemplo, que "chega-se hoje a R$ 1,64 bilhão, um recorde sem precedentes na pasta".

Não informaram a Diegues que a pasta da Cultura chegou a ter, no fim de 2010, R$ 2,2 bilhões em seu orçamento. Ou seja, R$ 500 milhões a mais que o suposto "recorde".

(Não entendi muito bem essa parte. Essa guerra de números só faz sentido para mim se apresentarem qual a fonte. De qualquer forma, o orçamento do Minc não é mérito do titular, depende do Congresso, da Presidente e das emendas parlamentares. 2011 foi um ano de muitos cortes no orçamento, até porque foi o primeiro ano de gestão, e todo mundo sabe que o primeiro ano é sempre problemático. Os governos geralmente deixam para fazer grandes gastos no último ano, o que aliás foi o que ocorreu.)

Sobre os Pontos de Cultura, os números dados por Cacá Diegues estão distantes da realidade. O programa foi abandonado por Ana de Hollanda e retirado do planejamento do governo. A matéria do GLOBO (8/03) é farta em números e negligências: aponta corte de mais 70% no orçamento do Programa e a indignação dos Pontos de Cultura. A gestão rompe o compromisso da presidente Dilma Rousseff de expandir o mais inovador programa cultural do governo Lula.

(Ivana faz uma afirmação bem peremptória. Diz que o programa Cultura Viva, que gere os "pontos de culturas", foi abandonado por Ana de Hollanda e retirado do planejamento do governo. Me desculpe, Ivana, mas a sua afirmação não corresponde à realidade. Outro dia escrevi um post sobre isso e repito os dados aqui:


"Os gastos concretos com o programa Cultura Viva em 2011 e 2010, segundo o portal da Transparência, foram estes: R$ 47, 44 milhões em 2011 e R$ 38, 4 milhões em 2010. Ou seja, não houve nenhum retrocesso, ao contrário. Link 2011 Link 2010"






A ministra Ana de Hollanda, em recente depoimento no Congresso, discorreu longamente sobre os Pontos de Cultura. Não falou em abandonar, ao contrário, mas de ampliá-lo. A menos que ela tenha uma agenda oculta. Então que se acuse abertamente a ministra de estar mentindo. Há uma página no site do Minc dedicada especialmente ao programa Cultura Viva. Ele continua lá, vivo e crescente. O que Ivana Bentes não disse é que o programa foi entregue quase colapsado ao Minc da Ana, com milhares de processos pendentes.


O arquivo dos inadimplentes está aberto para consulta pública. Confira lá. Pra facilitar, eu fui lá e imprimi em PDF mais de 300 contratos inadimplentes. 


http://migueldorosario.webs.com/inadimplentes1.pdf
http://migueldorosario.webs.com/inadimplentes2.pdf
http://migueldorosario.webs.com/inadimplentes3.pdf


A maioria vem da gestão Gil/Juca. É uma bomba, porque por mais que o programa seja legal e vá para grupos de produtores culturais legais, estamos falando de verba pública, cujo gasto precisa ser justificado rigorosamente; em caso contrário, o contratante sofrerá sanções penais graves. Terá que devolver o dinheiro. Há centenas, talvez milhares de grupos culturais devendo dinheiro ao Minc, e que terão que devolver os recursos. Quando Ana assumiu, havia contratos não pagos desde 2008, porque o ministério é virtualmente proibido, por lei, de repassar recursos a entidades inadimplentes. A coisa piorou mais ainda a partir de 2008 quando (isso eu li no livro do Ipea sobre o programa Cultura Viva) as gestões regionais do programa foram repassadas para secretarias municipais e estaduais de cultura, porque estas não estavam preparadas.


São falhas que o programa enfrenta, e que vinham se acumulando e crescendo desde anos durante a gestão Juca Ferreira. Negar isso é desonestidade. Qualquer um que tenha lidado diretamente com o programa Cultura Viva sabe desses problemas. E a pesquisa do Ipea confirma. Portanto, se há problemas nos repasses do programa, é uma situação que vem desde o Juca, por razões estruturais, burocráticas e conceituais gravíssimas.


Informação é essencial. O que o ministério está fazendo para dar solução a estes problemas? Entre neste link e verá. O orçamento para 2012 do programa Cultura Viva está lá, com mais verba do que em 2011, e com propostas para dar soluções a estes graves problemas. Não sei se os problemas serão solucionados, não sou vidente, mas o ministério já fez conferências para discutir suas mazelas e prometeu tentar resolvê-las este ano).







Hoje, todos os projetos da Cultura estão parados no Congresso: a reforma da Lei Rouanet, o Vale Cultura, a PEC 150 e a lei do Sistema Nacional de Cultura. A ministra não tem força no Congresso: "Os manifestos surgem porque há a percepção de falta de projeto estratégico" - diz a deputada federal Jandira Feghali.

(Concordo plenamente. A ministra não tem força no Congresso. Esse Danilo dos Santos que querem por no lugar dela também não tem. Fazer campanha pra derrubar a ministra naturalmente não a fortalece. Tivemos um 2011 tomado por crises políticas. Vamos ver se em 2012 as coisas andam. O Juca conseguiu, por acaso, aprovar alguma coisa no Congresso? Não.)

Até 2010, o Brasil era referência internacional pela política para a internet e proposta de reforma dos direitos autorais.

(A proposta de reforma dos direitos autorais foi enviada por Ana de Hollanda à Casa Civil. É uma proposta elogiada e que repete quase todos os pontos defendidos pela gestão anterior. O Minc de Juca promoveu um debate, mas nunca fez nada de concreto. Ana também enviou à Casa Civil uma lei que permite xerox de livro inteiro. Ou seja, em pouco mais de um ano, Ana já mandou duas leis que modernizam o direito autoral no Brasil. É preciso reconhecer isso. )

Hoje retrocedemos ao ponto de a ministra dizer que "a internet vai matar a produção cultural brasileira". A proximidade do MinC com o Ecad retarda a reforma da Lei do Direito Autoral e é motivo de duras críticas na mídia e de CPI aberta no Congresso.

(A frase é descontextualizada. Criticamos constantemente a grande mídia quando faz isso com objetivo de derrubar ministros, e agora vejo críticos da mídia usando a mesma tática. Ana citava um caso específico de um cineasta que fez uma denúncia ao ministério acerca do prejuízo com a pirataria. Há setores extremamente radicalizados nessa questão do direito autoral. É uma coisa meio esquizóide porque Gil e Juca, apesar de seu discurso, jamais tocaram no direito autoral, e aliás o próprio discurso deles jamais cogita em dar fim aos direitos dos autores. Toda a produção cultural do mundo foi construída em cima de direitos autorais: livros, filmes e músicas. Negar isso é negar a realidade. Temos que harmonizar a internet à necessidade de criarmos uma indústria cultural sustentável. Produzir filmes custa milhões de reais e o povo quer filme bom, não quer filme experimental que só meia dúzia de hipongas vão entender e gostar. Para isso, é preciso proteger sim e nesse sentido faz todo sentido falar que é preciso evitar que a internet prejudique a indústria cultural brasileira. É uma questão de soberania. A liberdade da internet é uma coisa excepcional, mas não esqueçam que o dinheiro agora se concentra em mãos do Google.)

Na área audiovisual, Diegues atribuiu à gestão Ana de Hollanda conquistas da política cinematográfica do governo Lula: como os recursos do Fundo Setorial e o espaço para produção independente na TV por assinatura. Já a gestão Ana de Hollanda interrompeu um programa como o Doc TV que renovou a produção de documentários. Também cresce a insatisfação de cineclubes e realizadores independentes.

(Gostaria de saber mais sobre esse negócio do Doc TV. Conferi que o ministério fez edital do Doc TV em 2011. Cancelou para 2012, foi isso? Tá confirmado? Não há nenhum programa substituto? Foi incorporado em outro programa? A verba para cinema, como um todo, foi ampliada? Eu acharia interessante que Ivana escrevesse um artigo apenas sobre o Doc TV. As críticas são todas muito vagas. Quanto a afirmação de que "cresce insatisfação de cineclubes e realizadores independentes", me parece uma afirmação um tanto chutada e ao mesmo tempo generalizante demais para se referir a um universo tão imenso e plural. Seria necessário nos aprofundarmos mais: qual a demanda específica de cada grupo? O que pode ser feito? Eu imagino que eles devem ter milhões de demandas, mas não entendo porque o diálogo com o Minc passa necessariamente pela derrubada da ministra.)
Em meio à crise crônica, os números oficiais do MinC são mais do que mera inépcia administrativa. Indicam ausência de projeto político, pobreza na construção de imaginários e narrativas para o Brasil.

(Construção de imaginários e narrativas para o Brasil? Tem certeza que esta é a função do Minc? Pensei que era função dos escritores, dos filósofos, dos cineastas. Quero distância de um país que dependa do governo para "construção de imaginários"!)

O que se vê no MinC desde janeiro de 2011: falta de diálogo, confusão entre público e privado, brigas entre facções rivais, incapacidade de formulação, cortes no orçamento e expansão da burocracia.

(Concordo que há falta de diálogo. Mas há também uma campanha baixo nível. Outro dia, um tuiteiro conhecido, ao saber que Ana de Hollanda estava em Angola, mandou uma mensagem nesses termos: "o que Ana de Hollanda está fazendo em Angola, só se for reunião do Acta. Só pode. #vazaanadehollanda. Ou seja, o sujeito não quis nem se informar que a ministra havia se reunido com seus congêneres de países africanos. Criou logo um factóidezinho qualquer para dizer algo negativo sobre a ministra. E eu não falo "vaza" nem para espantar cachorro. É assim que os militantes da cultura pretendem "construir narrativas"? Na base da grosseria e da baixaria? A própria Ivana, por ocasião do artigo do Cacá, ficou no Twitter tentando satanizar o cineasta porque ele participou de uma reunião com Serra em 2010. Ora, isso também é baixaria pra mim. O fato dele ter participado, democraticamente, de uma reunião pública com um dos candidatos, desqualifica-o para debater política cultural brasileira?) 

É difícil aceitar esse Ministério da Cultura fraquejante. O que está por trás dos números é ainda mais grave. O que está em crise é um projeto coletivo, que está sendo desmontado, em nome do quê? Cresce um legitimo desejo por mudanças.

(Bem, eu não estava sabendo, vejam só, desse "projeto coletivo". Não me chamaram para essa reunião. Sei que o Brasil é um país de 200 milhões de pessoas, e não creio que todas concordem que havia um projeto coletivo e que não há mais. Havia um grupo no entorno do Minc de Juca, que foi se formando ao longo de oito anos de gestão. De repente, mudou o ministro.Muita gente ficou desestabilizada. Entendo isso e até me sensibilizo por essas pessoas e seus sonhos interrompidos. Não acho saudável, porém, essa obsessão pelo Minc. Há centenas de editais, em todas as instâncias de governo, em todas as estatais, para se produzir cultura. Tenho impressão que o que cresce é a arrogância de se achar que existe um "projeto coletivo" muito genial que vá salvar a cultura brasileira. Não há. E se há um Projeto não é necessariamente este que um determinado grupo tem em mente. E projetos coletivos devem aprender a andar com as próprias pernas, sem depender do Ministério da Cultura, que é uma as pastas mais humildes da União. Até o Sesc-SP tem mais verba.)


IVANA BENTES é professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ.


O que me espanta, enfim, em todas essas críticas, é que nenhuma delas se destina a pressionar, democraticamente, o ministério a adotar este ou aquele rumo. Nenhuma explana as ideias geniais que eles tanto se gabam de ter. Eu também tenho milhares de ideias para a cultura brasileira, mas jamais me passou pela cabeça derrubar o ministro para pô-las em prática. Eu escrevo, lanço-as na rede. Se quiser ganhar dinheiro, posso fazer um projeto e correr atrás. Não, as críticas visam única e exclusivamente a demissão sumária da titular da pasta. Isso não me parece democrático. Se viessem da grande mídia, não seria correto chamá-las de... golpistas?

Aborrece-me ainda a tentativa de construir uma unanimidade e um consenso que não existem. Não há nenhuma unanimidade e nenhum consenso da classe artística contra a Ana de Hollanda. Se tem, não estou sabendo. Conheço dezenas de escritores, e até agora ninguém se manifestou contra a ministra. Minto: o melhor escritor que conheço, o Mirisola, gosta muito dela, porque viu nela uma defensora de seus direitos. É a única manifestação de que me lembro. A Márcia Denser escreveu uma crônica pessimista, reclamando da falta de investimentos em cultura e repercutindo, um tanto vagamente, informações sobre o suposto "conservadorismo" da pasta atual, mas não se posicionou claramente contra Ana de Hollanda. Não assinou nenhum manifesto.

Conheço também dezenas de artistas plásticos e não vi até agora nenhum se manifestar contra Ana de Hollanda. A gente sai, toma cerveja, tem mil projetos em conjunto, eu escrevo resenhas para suas exposições, mas igualmente não passa pela cabeça de ninguém derrubar o ministro. Não fizemos isso no governo Collor, não fizemos no governo FHC, não faremos agora.

Repito: não sou dono da verdade. Talvez os críticos da Ana estejam totalmente certos. Possivelmente há gente muito mais qualificada para ser ministro da Cultura. Pode-se dizer a mesma coisa de qualquer ministro, e até mesmo da presidente. Minha intenção aqui é debater e trazer dados. Estou pronto para mudar de ideia. Convençam-me, todavia, com argumentos, não com palavras de ordem, slogans fáceis, frases descontextualizadas, afirmações vagas, números errados, e, o pior de tudo, com posições nos TT do Twitter.

Na verdade, há uma crise sim, mas de informação, que leva as pessoas a se posicionarem de maneira confusa. Todo mundo quer ter uma opinião inteligente e de esquerda sobre cultura. Daí se constrói um simbolismo que associa Ana de Hollanda ao conservadorismo, à direita, com ajuda de um partidarismo muito barato, com o que ela se torna uma espécie de Geni de todos os revolucionários dos botequins virtuais e não virtuais. Os focos de ódio mais intensos à ministra partem de núcleos extremamente politizados. Em algumas pessoas, tornou-se até meio irracional.

A realidade do setor cultural, no entanto, está muito distante das utopias acadêmicas e das conversas de botequim.

A questão da reforma da Lei Rouanet, por exemplo. Depois de anos debatendo, Juca preparou um projeto de Lei em que a única mudança substancial era acabar com o desconto de 100%. Ora, a medida causou protestos em toda a cadeira já estruturada no país. Se já é difícil captar dinheiro para pagar seu projeto, imagine se você só poderá fazê-lo botando 20% do próprio bolso. A intenção pode ser boa, mas acaba prejudicando produtores menos capitalizados. Enfim, é preciso melhorar as leis de incentivo, não piorá-las.

A ministra poderia investir mais em internet? A Lei Rouanet está sendo liberada para blogs e sites, como se vê pela liberação de 1 milhão para o blog da Bethania (que desistiu do projeto depois das críticas) e 900 mil para o blog Farofafá. Isso é investir, não?

Depois de tantas idas e vindas, hoje eu entendo mais a Lei Rouanet. Imagine o escândalo que fariam se o Ministério liberasse, diretamente, por decisão da ministra, 1 milhão para Maria Bethania, ou 900 mil para o Farofafá? Claro, é um colegiado, mas mesmo assim. Não ia dar certo. Na França, onde o ministro da Cultura é uma espécie de deus, tudo bem. No Brasil, não.

Concordo que é preciso ampliar o poder de investimento em cultura por parte do Estado, mas a Lei Rouanet já foi incorporada à realidade da nossa produção cultural. Tem que criar outros mecanismos, não reduzir ou destruir os já existentes. Com a reforma da Lei Rouanet, imagino que serão combatidas distorções, como empresas bancando projetos próprios, quase publicitários, usando a lei, dentre outros absurdos atuais.

O ideal seria ampliar o volume de recursos via editais públicos. Deixem a Lei Rouanet aí, sem piorá-la, ou torná-la mais difícil, e ao mesmo tempo amplie-se gradualmente as verbas para editais, até que, daqui a alguns anos, consiga-se talvez eliminar a Lei Rouanet e aplicar os fundos culturais somente via editais públicos, que são um instrumento bem mais democrático.

27 de março de 2012

Dilma, os ativistas e as conspirações

1 comentário

Prezados, eu publiquei no Cafezinho um texto que eu queria ter publicado por aqui no sábado. Mas não tive inspiração na hora para fazê-lo, então acabei publicando lá no Cafezinho mesmo, apesar de ser um texto mais com a cara do Óleo.

http://www.ocafezinho.com/2012/03/27/dilma-os-ativistas-e-as-conspiracoes/

20 de março de 2012

Notas sobre um retrocesso que não houve

2 comentarios

Perdoem o texto meio truncado e confuso. Estou correndo contra o tempo para terminar um trabalho, mas não podia deixar de registrar aqui algumas descobertas. Não sou dono da verdade. Corrijam-me, por favor, se tiver errado alguma coisa. Como diz Veríssimo, sou o cara mais humilde do mundo.  Não recebo um centavo do Minc, nem conheço ninguém por lá. Não recebo dinheiro de lugar nenhum. Sempre trabalhei no setor privado, e aliás estou com prazo estourando para entregar a tradução de um filme. Sinto-me obrigado a dizer essas coisas porque vejo que alguns críticos da Ana, antes mesmo de entrarem no debate, lançam suspeitas sobre quem pensa diferente. Parece a política Bush do ataque preventivo. A polêmica do Minc virou um ambiente barra pesada. Espero que poupem este modesto blogueiro de sua agressividade.

Meu interesse não é defender ninguém. Respeito a Ana de Hollanda como sempre respeitei qualquer ministro da Cultura anterior a ela, inclusive dos governos FHC pra trás. Quero trazer o debate para o campo dos argumentos. Acredito que devemos respeitar os outros se queremos que nos respeitem. Isso vale para adversários também, porque se perdermos a linha, perdemos a razão. Quando escrevia contra o Serra e contra o governo FHC, baseava-me exclusivamente em dados, em argumentos, nunca usei slogans fáceis, jamais apelei para a baixaria. Quem o fez, na verdade ajudou Serra a crescer nas eleições. Se respeitava os ministros da Cultura de FHC, também respeitarei os da Dilma.

Ontem eu passei muitas horas estudando Siafi, Portal da Transparência, relatórios governamentais para o tribunal de contas, para ver direitinho os gastos do governo, e poder fazer uma análise séria sobre um possível retrocesso político da atual administração. Analisei a gestão do Ministério da Cultura, especialmente os Pontos de Cultura. Li o livro do Ipea sobre o assunto, lançado há alguns meses, com dados pesquisados ao final de 2010 junto a centenas de pontos de cultura. O livro do Ipea é elogioso, mas ao fim (ver o capítulo IV, eu copiei trechos aqui) aponta um rol de problemas graves de gestão e conceito, que precisariam ser resolvidos. O Minc inclusive já fez seminários para discutir o livro do Ipea, encontrar soluções e reformular o programa.

Em 2007, o Minc (que incluíra apenas 109 pontos no ano anterior) aceita a inscrição de 1.843 pontos de cultura. Nos anos seguintes, iria voltar para 200 ao ano, em média. Mas a partir de 2008, tendo que lidar com aquele aumento súbito feito em 2007, os recursos e a gestão dos pontos do Brasil inteiro foram sendo transferidos para prefeituras e estados, que não estavam preparados para tal responsabilidade (segundo analisou o Ipea). Em 2010, o programa quase entrou em colapso, e o Minc pagou pouquíssima gente, entregando à gestão da Ana de Hollanda um passivo de centenas de milhões de reais.

O relatório do Minc para 2012 e próximos anos, porém, prevê solucionar esses problemas e continuar a política de expansão do programa Cultura Viva, conforme se verá abaixo. Mas imagino que não vai ser fácil.

Agora uma rápida digressão.

Vi também os gastos do governo com Saúde, Educação e Meio Ambiente. O governo ampliou os gastos nesses setores em relação aos gastos totais.

Os gastos do Ministério da Saúde, por exemplo, somaram 24,15 bilhões de reais em 2011, aumento de 29,4% sobre o ano anterior, e representaram 1,88% dos gastos totais do governo, contra 1,79% em 2010 e 1,65% em 2009. Sugiro que pesquisem os gastos destinados às políticas públicas de saúde para a mulher. Terão uma agradável surpresa também.

Já falei sobre a forte expansão do Bolsa Família em 2011 e 2012, tanto em valor total, como em valores únicos para cada família.



Fiz essa digressão rápida, porque acho importante salientar que o governo Dilma ampliou substancialmente os gastos sociais em relação ao último ano do governo Lula (que foi o melhor ano de Lula), mesmo enfrentando um momento econômico bem mais difícil. É o que se espera de um governo de esquerda. É o que realmente faz diferença na vida dos mais pobres. Paparicar o povo do Twitter não ajuda o mais necessitado.

Voltando aos pontos de cultura, em 2010 foram incluídos 215 novos pontos; e em 2011, 251 pontos. Ou seja, até nisso houve avanço. E o Minc planeja ampliar o programa para 4.170 pontos até 2014 (contra 3,6 mil hoje). Repito: é uma informação oficial do Minc. Teremos que checar isso no futuro. Mas é preciso que a blogosfera dê ao Minc o direito de apresentar sua versão. Os críticos devem trazer dados e links para contestar. Falar em retrocesso da boca pra fora é leviano.

A coisa é bem confusa, porque tem verba aprovada que não é paga, restos a pagar, etc. Eu encontrei vários números diferentes, mas suponho que os relatórios já consolidados do Portal da Transparência sejam os mais confiáveis.

Os gastos concretos com o programa Cultura Viva em 2011 e 2010, segundo o portal da Transparência, foram estes: R$ 47, 44 milhões em 2011 e R$ 38, 4 milhões em 2010. Ou seja, não houve nenhum retrocesso, ao contrário. Link 2011 Link 2010



Se os críticos têm dados diferentes a apresentar, por favor, façam-no, trazendo as fontes.

Fui analisar o cadastro de inadimplentes. São milhares de pontos inadimplentes Brasil a fora. O livro do Ipea discorre bastante sobre isso, lembrando que a inadimplência implica a devolução dos recursos. Imagine o impacto para um grupo de produtores pobres em ter de devolver 180 - 200 mil reais? O programa Pontos de Cultura se tornou, de repente, um problema social grave, arriscado. A coisa se complica ainda mais porque tudo tem de passar pelas secretarias municipais e estaduais de cultura, que não tem funcionários preparados. É uma verdadeira bomba.

Cada vez mais eu estou estupefato com a falta de elegância do Juca Ferreira. Ele ficou 8 anos no Minc, teve tempo para aprender bastante, daí volta e ataca a sua substituta que está somente há 1 ano, e justamente em relação a problemas nos pontos de cultura que ele mesmo não conseguiu resolver?

O que me aborrece é que é fundamental que haja crítica, mas que seja responsável, embasada, séria. Não fique no tititi. Eu adoraria ver uma boa crítica de esquerda à Dilma Rousseff, mas tragam mais dados, por favor.

Ah, tem também essa entrevista com a mulher que gerenciava os pontos de cultura do Minc, estava lá desde os tempos do Juca. Ela fala que é preciso olhar para os Pontos de Cultura sem "messianismo", para avaliar com frieza a extensão de seus imensos problemas, gerenciais e mesmo conceituais:

"Não se trata apenas de dívidas, mas de desorientação administrativa, de pilhas de processos sem resolução, de prestações de contas sem retorno desde 2008. Como lidar com tudo isso de forma respeitosa com as pessoas e cuidadosa com as exigências de ser governo e estado, sem provocar atrasos? É impossível."

Tem o lance do Ecad. Não entendo nada disso, admito. Eu gostaria, no entanto, de assistir a um congresso de músicos e compositores, para ver a opinião de todo mundo. Queria vê-los discutindo, com tranquilidade, saber o que pensam, e analisar a conjuntura toda, pesando todos os lados. Nesses manifestos contra a ministra, onde a principal acusação era ser "amiga" do Ecad, não vi um músico (ou quase nenhum). A maioria era global, incluindo Regina Duarte e Nelson Motta. Até onde entendo, a ministra não pode mandar fechar o Ecad, assim como Juca Ferreira jamais o fez. Enquanto não ouvir a opinião de uma grande quantidade de músicos, especialmente os mais produtivos, que mais contribuíram para a música brasileira, prefiro me manter à parte nessa polêmica.

Apenas uma observação sobre o manifesto dos intelectuais, onde figura na cabeça da chapa a filósofa Marilena Chauí: um amontoado de clichês sobre globalização, pelo amor de Deus! Prefiro acreditar que os signatários mais ilustres não prestaram a devida atenção ao conteúdo. Vocês sabem que não me impressiono com "carteirada" de intelectual. O manifesto podia trazer a assinatura de Immanuel Kant e Spinoza. Se fosse um texto mal escrito, conceitualmente confuso, mesmo assim eu criticaria.

Na minha opinião, e me perdoem se falo besteira, a principal virtude de um ministro da Cultura deve ser a honestidade. É um dos ministérios com menos verba, e o pouco que tem está amarrada a programas sempre deficitários, como os que respondem pela conservação do patrimônio arquitetônico do país. Acho que é saudável termos um ministro da Cultura discreto. A cultura de um país quem faz é o povo e suas vanguardas. Não precisamos de nenhum gênio no Minc para nos conduzir a um "novo patamar".


Abaixo outros links para ajudar:

http://www.cultura.gov.br/culturaviva/secretaria/scdc-em-numeros/
http://www.ipea.gov.br/digital/Ebook/culturaviva/index.html
http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2012/03/APRESENTACAO_programas-prioritarios-2012-site.pdf
http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/PrestacaoContasPresidente/RelatorioPareceresTCU/RPP2010.pdf