31 de outubro de 2009

Alquimistas midiáticos tentam transformar sucesso da diplomacia brasileira em fracasso

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Os alquimistas medievais estudavam como transformar uma substância qualquer, sem valor, em ouro. Nossos alquimistas midiáticos querem converter ouro em merda. Com o (aparente) fim da crise em Honduras, desenha-se um grande triunfo da diplomacia brasileira, que se posicionou de forma muito explícita, corajosa, dura, contra o golpe de Estado. A mídia e os diplomatas de pijama (todos ligados ao governo FHC) que ela foi buscar, todos, deram declarações confusas, débeis. Sem poder criticar o fato do Brasil ter recebido Zelaya, a mídia agora se concentra em atacar o fato do Brasil ter "permitido" que o presidente deposto fizesse discursos da embaixada brasileira. Ora, queriam o quê? Que o governo brasileiro mandasse costurar a boca de Zelaya? Ele é um político, um cidadão, o presidente do país. Tem todo o direito e a liberdade, e mesmo o dever, de se expressar. Ele é o representante máximo do povo hondurenho. Silenciar Zelaya, portanto, equivalia a silenciar o povo. O governo brasileiro até pediu para que ele fosse mais moderado em suas exortações, e ele foi. Mas ele não podia se calar.

A atuação do Brasil junto às organizações internacionais e junto ao governo americano foram determinantes para dar fim à crise em Honduras. Dá engulhos ler, nos jornais, as matérias tecendo loas aos EUA e denegrindo o Brasil. Os EUA é que estavam dúbios. O Brasil sempre foi firme. Se os EUA tivessem sido firmes como o Brasil, a crise teria sido resolvida antes. Quando os EUA resolveram seguir a posição brasileira, e deram um ultimato final à Micheletti, a crise acabou (aparentemente).

Quando noticiou-se que Micheletti havia cedido, a comemoração dos zelayistas na Embaixada do Brasil foi gritar: Viva o Brasil! Viva Lula! Viva Zelaya!

Sabe o que mais? A imprensa brasileira repercute pesquisas de intenção de voto dos candidatos a presidente em Honduras sem o mínimo cuidado de averiguar a cientificidade desses números. Um país deflagrado, no meio de uma crise, com a maior parte da população proibida de se manifestar, se reunir, sair à noite, com vários canais de comunicação fechados, como é possível a realização de pesquisas confiáveis de intenção de voto? Só agora, com a restituição de Zelaya e a normalização institucional do país, será possível apurar com um pouco mais de exatidão as inclinações eleitorais da população.

Ecoando sempre os mesmos diplomatas de pijama, aqueles colonizados da era fernandista,  os editoriais da mídia criticam a atuação do Brasil, a qual, todavia, é elogiada no mundo inteiro; e esquecem de criticar um crime político de conotações tenebrosas para a América Latina: um golpe de Estado. Quem está informado sobre Honduras, sabe que as acusações de que Zelaya pretendia permanecer no poder são mentirosas. Ele queria consultar a população sobre uma assembléia constituinte. O plebiscito não é uma invenção "bolivariana", esse adjetivo demoníaco que a imprensa agora deu para colar em qualquer coisa que não goste, o plebiscito é um instrumento legítimo da democracia. Existe no Brasil, existe em Honduras, existe em qualquer democracia.

Esse golpe em Honduras serviu para mostrar como há um espírito falacioso, autoritário antidemocrático, que finge defender as leis enquanto as rasga. Serviu para nos lembrar de uma palavra muito comum na Roma republicana, leguleìus. Em português, leguleio, aquele que interpreta a lei servilmente, sem observar o espírito que a rege.

Blogueiro vai ao Mate com Angu mas toma cerveja

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Igor Barradas, apresentando seu novo filme, Queimado


Sabrina Bitencourt, que exibiu seu novo curta-metragem, Nina Vida - Adereços
de uma manhã de carnaval.


Igor Cabral, apresentando o curta Salomé


Panorâmica do público do Mate com Angu - o cerol fininho da baixada.

Crédito das fotos: Carola Oliveira, também conhecida como "Cleópatra".

No dia 28 de outubro, o blogueiro foi ao Mate com Angu , coletivo de cinema realizado há alguns anos em Caxias, na Baixada Fluminense. Uma vez por mês, jovens realizadores da Baixada e também do Rio encontram-se num galpão para assistir produções alternativas, experimentais, e confraternizar. A edição da semana passada, foi intitulada Catapulta, pois correspondeu ao lançamento de vários filmes.

Um dos primeiros filmes exibidos foi Monocelular, de Felipe Cataldo, cineasta que vem amadurecendo uma linguagem muito particular, muito ligado à poesia visual. Depois tivemos, de Slow e Márcio Grafiti, o filme Funk-se 2.0, um passeio (como diz a sinopse) pela lenda do verdadeiro funk carioca, avô do pancadão de hoje.

Gaiola, de autoria do Cineclube Tupinambá, e direção de Felipe de Oliveira e Helio JR, é uma bonita ficção sobre um pássaro que é preso numa gaiola, uma defesa poética e apaixonada pelo fim do cativeiro, que é uma forma de tortura imperdoável.

Bicho Lamparão, de Rafael Mazza e Rodrigues Folhes, é uma entrevista filosófica com um sujeito extraordinário: "eu sou empírico, mas científico!".

O ambiente do Mate com Angu continuava esquentando, e a bebida era vendida a preços módicos. A organização do evento havia disponibilizado, como sempre faz, dois ônibus partindo do Passeio, na Lapa, que vieram cheios de cariocas sedentos por cinema, poesia e cerveja.

E aí um grande momento, o novo curta de Sabrina Bitencourt, uma deliciosa poesia abstrata, Nina Vida - Adereços de uma Manhã de Carnaval. A câmera experimentada e sensível de Igor Cabral  encontra texturas inusitadas, românticas, para contar um sonho de menina, uma fantasia.

Depois tivemos Salomé, ambicioso filme de Igor Cabral (sim, o mesmo) que remete às epopéias de Pasolini. Inspirado na peça homônima de Oscar Wilde, Cabral constrói uma narrativa sólida, cheia de delicadas surpresas fotográficas.

E tudo isso com a cerveja rolando. Mas as pessoas permaneciam atentas aos filmes. O ápice da noite veio agora, com o novo filme de Igor Barradas, um dos fundadores do Mate com Angu. Queimado tem a fotografia do mesmo Igor Cabral, direção de arte de Bia Pimenta e figurino de Fabíola Trinca. Só fera.

Aí pronto. A galera explodiu. A festa começou. No som, Mdc Suingue et Kika Serra, do Caipirinha Appreciation Society. A eletricidade no ar era tanta que os olhos das meninas brilhavam como pássaros incandescentes. Os olhos dos meninos, por sua vez, eram projetores exibindo filmes de Jonh Cassavetes...

Às duas horas da manhã, voltamos para o Rio, ainda nos ônibus obtidos pela organização do Mate.

Eu pensei em escrever tantas coisas bonitas, poéticas, culturais, filosóficas, para agradecer as boas horas que desfrutei, e, sobretudo, para retribuir o prazer de assistir tantos filmes legais; mas não sei o que dizer. É muito difícil explicar. Você tem que ir lá. O Mate é um evento extremamente vivo, refinado, autêntico - seguramente o melhor cineclube do Rio de Janeiro. As pessoas envolvidas são completamente apaixonadas por cinema, e a maneira pela qual elas se entregam, se unem, se ajudam, em prol dessa causa, tão fundamental para o Brasil se tornar, um dia, um país de primeiro mundo, é um exemplo de força, inteligência e amor - e vou te dizer, isso não é para qualquer um. São essas pessoas que estão construindo, pacientemente, determinadamente, incansavelmente, gloriosamente, um país mais interessante, com mais poesia, mais cinema, mais cerveja e mais angú.

30 de outubro de 2009

Grande vitória da diplomacia brasileira

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Ainda é um pouco cedo para cantar vitória, porque vamos ver se Micheletti não apronta outra das suas. Mas, ao que parece, os acontecimentos em Honduras caminham para uma grande e histórica vitória da diplomacia brasileira. Ao contrário dos EUA, que sempre se notabilizou pela defesa de golpes de Estado contra presidentes legitimamente eleitos, o Brasil começa a fazer a sua história defendendo a democracia. Será um feito e tanto e um delicioso cala-boca nos tolos que criticaram a atuação do Brasil no episódio.

É incrível, aliás, como as pessoas, mesmo sem ler jornais, recebem, como que por osmose, as opiniões dominantes da mídia. Uma amiga, por exemplo, que não lê jornal, mas que é uma garota inteligente que ouve aqui e ali as coisas, me perguntou, há algumas semanas, num tom entre perplexo e levemente irritado, porque Zelaya tinha se enfiado logo na embaixada brasileira?

Pois é. Eu respondi que, durante décadas e décadas, refugiados escolhiam embaixadas européias, porque consideram a França, a Dinamarca, ou Suíça, como países confiáveis, democracias seguras onde seus direitos humanos e políticos seriam respeitados. É com base nesses princípios que um cidadão do mundo opta entre uma embaixada ou outra. Zelaya escolheu o Brasil porque identificou em nosso país um Estado defensor dos princípios democráticos, justamente aqueles princípios que haviam sido brutalmente rompidos em Honduras.

A mídia caiu em cima da diplomacia brasileira e de Lula. Chico Caruso não fez uma charge contra os golpistas, que mataram, torturaram, fecharam rádios e jornais, proibiram manifestações, impuseram toque de recolher, e inflingiram as maiores dificuldades aos brasileiros e seus hóspedes na Embaixada brasileira - Caruso apenas fez charges contra Zelaya. Não vou esquecer disso, Chico, que você ficou ao lado dos golpistas. Reinaldo Azevedo alinhou-se caninamente ao golpe. E Roberto Freire, o imbecil do PPS (que se acha esquerdista...), ainda diz que admira o Esgotão da Veja... Merval Pereira, do Globo, apoiou o golpe, ou pelo menos fez tudo para justificá-lo. A mídia brasileira fez um papelão nesse episódio, omitindo-se, hesitando, criticando o Brasil, escondendo notícias, enfim não cumpriu seu papel informativo num episódio chave para a geopolítica latino-americana. Deu a impressão o tempo inteiro de ser simpática ao governo golpista, cujos absurdos totalitários nunca foram alvo de editoriais furiosos, como aqueles dedicados, por razões infinitamente menores, à Hugo Chávez.

O povo armado com sua própria cabeça

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Daí que a garota disse que as crianças no Brasil deveriam ter aula de ética. Até aí tudo bem. A bomba veio em seguida. Deveriam, ela disse, chamar a Lucia Hippolito para ministrá-a. Uau! Ulálá! Corta a cena para uma anotação que eu fiz há pouco, tirada do livro de Peter Burke, O que é história cultural.

Estudos recentes sobre o antisemitismo na Idade Média realizados por Ronnie H. e Miri Rubin, concentraram-se nos rumores recorrentes acusando os judeus de violarem a hóstia e de assassinatos rituais de crianças, rumores que foram gradualmente se consolidando em uma narrativa, discurso ou mito cultural. As histórias (...) constituíram um ataque narrativo aos judeus, uma forma de violência simbólica que levou à violência real, a expurgos.

Outra citação pertinente, desta vez de Roger Chartier, em a História cultural entre práticas e representações:

As lutas de representação tem tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio.

O que sempre me espanta, porém, é a facilidade com que a classe média assume um discurso incoerente com a sua própria história, algumas vezes contrário a seus próprios interesses. Por exemplo, uma senhora amiga. Ela é udenista de nascença. O Carlos Lacerda morava há um quarteirão de sua casa. No entanto, ela é, acima de tudo, uma mulher. E casou com um comunista, por causa de seu charme, inteligência e carisma. Ficou casada por mais de 30 anos, até ele morrer. No entanto, o lacerdismo continua lá, e agora, com esse revival midiático, voltou com toda força. Ela me disse que a universidade precisa ser paga. Ora, como eu me formaria se tivesse que pagar a universidade? Nem ela, nem nenhuma de suas irmãs talvez tivesse conseguido se formar não fosse a gratuidade. Não importa. Ela está repetindo um discurso ouvido de alguém com muito mais dinheiro que ela, para quem não teria nenhuma importância o fato da universidade pública ser paga ou não, já que seus filhos não estudarão mesmo em universidades públicas. O irônico é que essa pessoa (aquela com mais dinheiro, da qual a senhora repete o discurso), além de formada em universidade pública, é filha de outra formada na universidade pública. Ou seja, não respeita nem a sua própria história. Ganhou dinheiro, adeus passado. Não pensa que outros brasileiros também devem ter a oportunidade de ascensão social que ela teve.

Aí senhora me disse que a violência no Rio começou com Brizola. O Rio é uma cidade com mais de 400 anos. A violência, então, nasceu com o único governante de esquerda em 400 anos de história? É uma acusação leviana, tola, de que Brizola teria feito "aliança" com traficantes, um boato lançado naturalmente pela oposição, mas que até hoje circula pela classe média raivosa. A origem do boato deve-se ao fato de Brizola ter sido o único governador a tentar dar um fim à matança indiscriminada que caracteriza a política de segurança do governo do Rio de Janeiro, desde tempos imemoriais, e procurar um novo relacionamento entre o Estado e as comunidades. Para determinados setores do Rio, a matança é o normal. Quem manda parar a mortandade é "amigo" dos traficantes...

O engraçado é a incoerência, porque a mesma senhora fala que tudo se resume à educação (como se fosse possível combater a miséria e a violência apenas com educação... ou como se a educação se limitasse apenas ao colégio, e não a todo um sistema de mudanças na mídia, na cultura, na política, na economia. O pobre, para se educar, tem que ter dinheiro, para pegar filme no vídeo, comprar livro, ir a shows, etc), e quando pegamos um governante que efetivamente apostou pesado na educação, como Brizola, a pessoa dá voz a esse tipo de boato inconsequente. Pode-se criticar Brizola por ter investido demais em prédios, os chamados brizolões, mas só porque os governantes seguintes não quiseram mantê-los, e eles foram abandonados - e a mídia não os criticou suficientemente por isso. Ou seja, em vez de condenar Moreira Franco, por ter abandonado os projetos de educação de Brizola, condena-se Brizola por conta de boatos caluniosos. Brizola elevou substancialmente o salário dos professores - e essa senhora, que foi professora, confirmou que a renda dos professores de fato melhorou muito na época. Brizola instituiu a merenda completa nas escolas, café da manhã, almoço e lanche. Permitiu o horário integral optativo, pelo qual a criança poderia ficar o dia inteiro no colégio. Enfim, ele concentrou esforços e capital na educação pública. E a senhora em questão, quando fala de Brizola, em vez de lembrar do mais importante, repete um boato leviano, uma calúnia sem pé nem cabeça, de que foi por culpa dele que o tráfico se consolidou nas favelas. A mesma senhora repete que Carlos Lacerda, um dos artífices mais importantes do golpe de 64, foi um "bom administrador". As histórias de violência contra favelas e comunidades, contra bairros inteiros, o ataque sistemático de Lacerda ao povo mais humilde, isso não é lembrado. Foi Lacerda quem inventou a Cidade de Deus, entre outras favelas violentíssimas, criadouros de bandidos, instaladas em áreas isoladas do município.

É a história das narrativas, dos ataques simbólicos. Todo aquele simbolismo trabalhado em décadas pelo Globo está ali no inconsciente da classe média carioca. É só apertar um botãozinho e todos vão às ruas pedir a cabeça do presidente e a volta da ditadura... A semântica golpista continua exatamente a mesma. O discurso ético, a indignação seletiva, a eleição de alguns "iluminados" da mídia como referência política. É muito fácil fazer discurso ético. O difícil é bater perna na rua para pedir voto; correr o chapéu entre empresários; convencer milhares de pessoas a trabalhar de graça para você, como militantes voluntários, sem oferecer nenhuma garantia; enfim, o difícil é ser um político numa democracia ultracompetitiva como a nossa. É muito mais fácil sentar numa sala ar-condicionada, ganhando um polpudo salário, e, em vez de contribuir para aperfeiçoar o respeito pela democracia, explorar o preconceito do povo para vender mais anúncio.

E Lula, pelo jeito, já entendeu direitinho que a oposição a seu governo está principalmente na mídia, assim como acontece em toda a América Latina. É uma guerra de representações, de símbolos, mais do que de idéias, e as novas forças sociais e políticas que emergiram no continente já entenderam essa dinâmica. Já que o conflito é inevitável, por ser inerente à democracia e à divergência entre os grupos sociais envolvidos, é necessário que seja feita às claras, e que ao povo seja permitido participar dessas lutas. Por isso, a internet é tão importante: ela faculta ao povo a possibilidade de participar da construção de sua própria cidadania.

Universidade dá aula de preconceito

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É por essas e outras que não dou a mínima para diploma universitário. Quando vejo essas matérias falando que concurso para gari tinha tantos bacharéis, mestrandos e doutores, eu penso que está muito bem. Está na hora desses doutores começarem a botar a mão no lixo. Quem sabe não aprendem a viver?

Penso nisso porque ainda me recupero de uma notícia lida na Folha, sobre uma estudante de Turismo que foi quase linchada na Universidade de São Bernardo (Uniban) porque vestia uma microssaia. Reflitam comigo. A garota saiu de casa, numa comunidade pobre, sem ser molestada na rua. Entrou num ônibus, onde causou apenas o frisson natural. Enfim, circulou por toda a parte tranquilamente.

É na Universidade, porém, que ela encontrou o ambiente mais agressivo, mais preconceituoso, mais brutal. Centenas de estudantes se aglomeraram em volta dela gritando "Puta! Puta! Puta!". Rapazes tentavam pôr o celular entre suas pernas para tirar fotos. Ela teve que ser escoltada por seis policiais militares para sair do prédio.

Há uma explicação para isso. É a prepotência do fraco. O sujeito entra na universidade e acha que é melhor que os outros. Perde a humildade natural do ser humano. Perde o senso democrático.

Parafuso antimidiático

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O dia espreguiçou-se muito bonito hoje. O céu azul profundo, salpicado de nuvens gostosas. Acordei cedo, resolvi minha vida, e agora tenho mil assuntos e não sei por onde começar. Quando não se sabe o que fazer, o melhor é varrer a casa, como diz a dona-de-casa à filha adolescente deitada no sofá.

Ontem eu assisti ao Jornal da Globo e nosso indefectível William Waack mostrou-se particularmente inspirado. Sua carranca sinistra mais que nunca exalou sentimentos mórbidos e negativos. Tenho certeza que ele poderia dar uma colaboração extraordinária ao cinema brasileiro se fizesse uma participação especial nos próximos filmes do Zé do Caixão. Suas olheiras profundas, o olhar tenebroso, sempre sarcástico, associados ao timbre eternamente blasé de sua voz, a ausência radical da mais leve sombra de bom humor ou otimismo, compõem um personagem mais que adequado para um "telejornal macabro", onde o apresentador daria apenas notícias relacionadas a mortes violentas, estupros e demais crimes hediondos.

O jornal abriu com um breve editorial criticando a entrada da Venezuela no Mercosul. Ao fundo, uma fotografia escura e fosca de Hugo Chávez, uma espécie de demônio dos demônios segundo a nova mitologia midiática. Faltou só uma musiquinha de terror.

Quando chegou a matéria, porém, Waack não conseguiu arrancar de Heraldo Pereira, repórter em Brasília, nenhuma observação negativa. Ao contrário, Pereira repetiu o que é corrente no Congresso (tanto que foi a idéia vencedora), de que a inclusão da Venezuela no Mercosul obedece a interesses econômicos muito relevantes para o Brasil; e aí partiu para o pinga-fogo, onde o repórter entrevista um membro do governo e outro da oposição. Romero Jucá defendeu a decisão do Senado, e Eduardo Azeredo, pai do mensalão tucano e defensor do AI-5 digital, tucaneou como de praxe, não tomando posição nenhuma.

Aí entrou Jabor, atacando violentamente o Mercosul, o Brasil e a Venezuela. Disse que o Mercosul é uma "porcaria". Façamos uma parada aí. Esses caras falam qualquer coisa. Não se dão mais ao trabalho de procurar informações. O Mercosul, hoje, é nosso principal parceiro comercial. As exportações brasileiras para o Mercosul saltaram de 7,7 bilhões de dólares em 1998/99 para 15,16 bilhões em 2008/09, quase alcançando as vendas para os EUA, as quais somaram 17,5 bilhões de dólares. Com a Venezuela, porém, o Mercosul ultrapassa de longe os EUA em termos de parceria comercial. E olhe que estou usando os números de 2008/09, que experimentaram forte queda sobre o ano anterior, em função da crise econômica. Se usasse 2007/08, ver-se-ia que o salto das exportações brasileiras para o Mercosul é muito mais espantoso.

Repito o que venho dizendo neste blog há tempos. As exportações brasileiras de produtos industrializados se dão essencialmente para países latino-americanos, o Mercosul à frente. Portanto, o Mercosul não é nenhuma porcaria. Porcaria é o Arnaldo Jabor. O preço médio de nossas exportações para o Mercosul, nos últimos 12 meses, foi de 1.461 dólares por tonelada. Comparando: as exportações brasileiras para os EUA registraram preço médio de 823 dólares por tonelada; para Europa, de 452 dólares por tonelada; e para a China, 135 dólares por tonelada.

Que espécie de porcaria é essa, Jabor, que paga os melhores preços, que compra nossos melhores produtos, que contribui de forma tão sólida para nossa balança comercial e, portanto, para a geração de empregos e para o desenvolvimento social e econômico do Brasil?

O Globo vive citando as brigas aduaneiras entre Brasil e Argentina como prova do fracasso ou da debilidade do Mercosul, mas não diz o principal: que essas brigas são consequência do aumento brutal do volume de comércio praticado entre os dois países. Só quebra pratos quem os lava.

*

Sardenberg explicou ontem, no Jornal da Globo, que no mundo inteiro os governos aumentaram gastos para combater a crise, mas que os gastos foram bons; só aqui (claro) foram ruins. Ele citou um programa de Obama que distribuiu cheques de 8 mil dólares para famílias americanas. Que política progressista, héin? Aqui, os gastos foram muito ruins, segundo Sardenberg, como Previdência e funcionalismo. Ou seja, um arauto do neoliberalismo acha melhor distribuir dinheiro à classe média (medida populista idiota do governo americano), do que contratar professores, médicos e aumentar o salário dos aposentados. Ele mostrou um gráfico numa tela, mostrando aumento de gastos e investimentos, e tentou encontrar ali um dado negativo. Gaguejou e apontou o nível de investimento, que apresentava forte crescimento de 13% sobre o ano passado, como tendo "crescido menos que todos" - o que era desmentido pelo próprio gráfico que ele mostrava, porque havia outro item ali com crescimento de 12%; o gasto em investimento, portanto, seria, no mínimo, o segundo maior.

De qualquer forma, essa é uma visão tacanha, porque não entende contratação de professores, médicos e engenheiros como "investimento". Investimento, nesses gráficos tecnocráticos, é só dar dinheiro para a Odebrecht.

29 de outubro de 2009

Desfragmentando o futuro

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Ontem eu fui num evento muito legal, chamado Mate com Angu. É um encontro mensal de cineastas e amantes da sétima arte, onde são exibidos curta-metragens do circuito alternativo e experimental. Depois rolou uma festa. A tertúlia acontece em Caxias, na Baixada Fluminense. Os organizadores põem ônibus de ida e volta a 10 reais saindo da Lapa, para que os moradores do Rio possam ir.

Daí que acordei tarde e cansado, e ainda tinha que compilar e imprimir os documentos necessários à inscrição no mestrado de história, cujo prazo termina neste dia 30. Amanhã eu quero escrever um texto sobre o Mate com Angu. Tenho que aprontar agora a Carta Diária de amanhã.

Por hoje, deixo vocês com essa bela citação de Hegel:

Perseguindo seus interesses pessoais, os homens fazem história e são, ao mesmo tempo, as ferramentas e os meios de qualquer coisa de mais elevada, de mais vasta, que eles ignoram, e que eles realizam de maneira inconsciente. *
E mais, dou acesso universal a meu anteprojeto de mestrado, intitulado Desfragmentando o Futuro: Relendo Burckhardt à luz de Hegel.

Burckhardt é Jacob Burkhardt, autor do primeiro grande clássico moderno de história cultural, "A Cultura do Renascimento na Itália". De Hegel, vocês já ouviram falar.

Caso eles aprovem minha inscrição, eu farei leituras bem pesadas este ano. Mas tentarei, nesse espaço, usar sempre a linguagem mais simples possível, porque, para citar um trecho do meu anteprojeto...

Nietszche afirmava que os grandes escritores da Antiguidade procuravam se distinguir usando uma linguagem mais simples e despojada que a usada pelo povo. A linguagem popular é que era considerada arrojada, complexa, complicada, em oposição à simplicidade e clareza da escrita culta. Hoje é o contrário. A segmentação do conhecimento fez surgir verdadeiros sub-idiomas acadêmicos. A popularização do ensino acadêmico levou intelectuais a priorizarem o vocábulo e a sintaxe mais difíceis como forma de conferir distinção (o capital simbólico de Bordieu) ao texto especializado, perdendo-se, por outro lado, a noção de um leitor universal. No debate sobre os valores universais, o tema da linguagem certamente será sempre relevante, e deverá influenciar a própria forma do texto do meu ensaio.


A íntegra do anteprojeto está aqui.

* La Raison Dans L'Histoire – Introducion à la Philosophie de l'Histoire - Hegel – Le monde em 10:18 – pág.48-49.

*

Aproveito para publicar um texto fundamental, porque trata de um tema sempre importante: educação e respeito aos professores. É a réplica do sindicato de professores de São Paulo à uma entrevista do secretário de educação do mesmo estado, Paulo Renato, à revista Veja. Eu pesquei esse texto no excelente blog Esquerdopata. Agora, que estou decidido a ser historiador e professor, além de blogueiro, escritor, etc, mais que nunca tenho que defender a categoria. Este blog, claro, dá apoio aos professores, que estão lá, ralando, ensinando, e não a esses almofadinhas, como Paulo Renato, e seus tiques napoleônicos, sempre querendo humilhar os trabalhadores. Aumentar salário, que é bom, nada. Em vez disso, criam novas dificuldades e constrangimentos.



APEOESP responde à última flor do fascio
Carta à Veja sobre a entrevista do secretário da Educação

Carta enviada à Veja sobre a entrevista do secretário Paulo Renato nas Páginas Amarelas.

Senhor editor,

A entrevista do secretário Paulo Renato (Veja, 28/10) apenas confirma que o governo do PSDB no estado de São Paulo está mais preocupado em fomentar a “competitividade” entre os professores e aplicar receitas empresariais ao sistema público de ensino do que com a melhoria da qualidade de ensino para todos os estudantes das escolas estaduais.

O secretário culpa os sindicatos de professores pela queda na qualidade de ensino, como forma de fugir de suas próprias responsabilidades. Ele já foi secretário de Educação no governo Franco Montoro e ministro da Educação por longos oito anos, no governo FHC. Seu viés é sempre o da exclusão. Quando criou o FUNDEF, deixou descobertas as duas pontas da educação básica: a educação infantil e o ensino médio, concentrando recursos apenas no ensino fundamental, praticando assim uma política de foco. Esta é a forma como vê a educação.

Um projeto que exclui, de imediato, 80% dos professores de reajustes salariais e, ainda assim, não assegura que os demais 20% terão mesmo direito à melhoria salarial (pois depende de disponibilidade orçamentária) não vai contribuir para a qualidade de ensino e sim para gerar mais revolta e desestímulo na categoria. Os professores tem como ofício educar e sua ferramenta é a educação; e a educação não está sendo valorizada.

As posições externadas pelo secretário estão na contramão de todos os avanços que se tem verificado na educação nacional nos últimos anos. Por certo são ainda insuficientes, mas apontam na direção da escola pública de qualidade.

Por outro lado, é difícil entender como, num Estado democrático de direito, todo o espaço é reservado apenas para um dos lados, que se permite fazer juízos de valor sobre o sindicato, sem que nos seja oferecido espaço equivalente. O que queremos, em nome dos 178 mil associados da APEOESP, é que nos seja aberto espaço nesta revista para que nós próprios possamos expor nossas posições.

Não somos corporativistas. O que nos move é a qualidade da educação e a valorização dos profissionais que nela trabalham, pois a educação abrange bem mais que a relação professor-aluno em sala de aula. Entretanto, ainda que fôssemos corporativistas, o papel de um sindicato não é justamente defender os direitos e reivindicações da categoria que representa?

Aguardamos a publicação desta carta e a abertura de espaço para que possamos expor e defender nossos pontos de vista.

Atenciosamente,

Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da APEOESP
Membro do Conselho Nacional de Educação

Atraso hoje

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Hoje vou atualizar o blog só à noite.

28 de outubro de 2009

Assine a Carta Diária Óleo do Diabo

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Acabo de enviar aos assinantes a edição de quinta-feira da Carta Diária Óleo do Diabo, onde eu me aprofundo na análise das estatísticas de exportação brasileira para a América Latina e Caribe. Lembro que o blogueiro só está podendo escrever com mais desenvoltura e tempo em função da entrada de assinaturas para a Carta.

Para assinar, entre nesse link.

A importância dos cucarachas

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Clique na imagem para ampliar. Eu gosto muito dessa tabela, porque ela é um retrato do novo mundo. Comparei as exportações brasileiras de 2008/09 com as de 10 anos atrás, 1998/99, para o período de 12 meses Outubro/Setembro. Repare que o bloco Países Desenvolvidos era o destino de 61% das exportações nacionais em 1998/99, contra uma participação de 38% dos Países em Desenvolvimento. Dez anos depois, a situação se inverte, e os Países em Desenvolvimento passam a responder por 54% de nossa balança comercial, contra um percentual de 44% para os Países Desenvolvidos.

Outro número que me impressiona muito é o crescimento da participação da América Latina e Caribe entre os destinos de nossas exportações, superando dois gigantes: União Européia e EUA. Não supera a Ásia, mas repare num detalhe: as exportações brasileiras para a Ásia registram preço médio de 172 dólares por tonelada, contra o valor de 1.027 dólares por tonelada nas vendas para América Latina e Caribe.

Os preços das exportações brasileiras para União Européia e EUA, por sua vez, também são relativamente baixos, de 452 dólares e 823 dólares por tonelada, respectivamente.

Ou seja, nosso melhor mercado, de longe, é a América Latina, que adquire produtos brasileiros de maior valor agregado.

Miriam, a estrela negra da blogosfera

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A coluna de ontem da Miriam Leitão continua fazendo sucesso na web. O editor (ou um dos editores) do Vermelho, Bernardo Joffily, publicou um artigo sobre a combativa jornalista. Estou me sentindo até meio distraído, em não perceber o potencial midiático deste caso. Como blogueiro profissional, eu devo me preocupar em elevar a visitação deste sítio e Miriam Leitão, definitivamente, é um grande tema.

Na verdade, a coluna de Miriam repercutiu em centenas de blogs e sites. A expectativa agora é saber como a oposição reagirá às pesadas críticas da colunista.

De minha parte, tentarei consertar hoje minha negligência de ontem, comentando algumas das observações leitonescas. Ressalvo, antes de tudo, que guardo profundo respeito pela jornalista, porque a considero uma valente guerreira. Uma guerreira do lado dos opressores, está claro, mas sempre uma guerreira.

Uma das teses repetidas na coluna, e que, de resto, tem sido ventilada frequentemente por aí, é sobre a necessidade de oposição para a democracia. Trata-se de um desses lugares comuns reiterados infinitamente até se converterem em dogmas. Não concordo de jeito nenhum.  Onde está escrito que uma democracia precisa de oposição para ser democracia? O conceito de democracia é simples e não merece ser complicado desnecessariamente. O poder emana do povo, e se o povo quiser eleger exclusivamente parlamentares do PPS (Deus nos livre!), então teremos um governo do PPS sem oposição e mesmo assim teremos uma democracia. A oposição, por outro lado, é uma necessidade da vida. Nada no mundo existe sem contraste. Qualquer partido, qualquer partido, qualquer pessoa, tem o seu oposto enraizado em si mesmo. A dialética é o conceito mais essencial da realidade, segundo a filosofia moderna e, a despeito das bebedeiras deleuzianas, até hoje não foi superado.

O senhor Sardenberg, coleguinha da Miriam Leitão no Globo e CBN, e provavelmente colhido no mesmo manicômio onde a musa do PIG se encontrava hospedada, vem, há anos, comparando o crescimento econômico chinês ao brasileiro, sempre com objetivo de mostrar a mediocridade de nossos 3% a 5% ao ano. Nessas horas, todavia, Sardenberg sempre esquece de falar na ausência total de democracia na China, e de oposição, e de imprensa ranheta e golpista, o que deve facilitar sobremaneira o trabalho dos burocratas que planejam e executam obras na pátria de Mao...

Se a existência de oposição fosse tão necessária à democracia, teríamos que instituir "cotas mínimas" para o DEM e PSDB? Mais ainda, teríamos que forçá-los, por lei, a se opor ao governo? Dona Miriam anda muito desequilibrada, em virtude das terríveis notícias que desabaram sobre as redações econômicas nos últimos dias: queda no desemprego, crescimento do PIB, recorde na bolsa de SP, recuperação da indústria, otimismo em alta dos empresários...

Ao analisar a debilidade da oposição ao governo Lula, Miriam não faz as perguntas certas, nem elabora nenhuma resposta coerente. Em primeiro lugar, ela trata a oposição como isolada da sociedade civil. Joffily foi no ponto: a situação é muito mais fácil para Miriam do que para a oposição parlamentar. Miriam não terá que enfrentar eleições em 2010. Não terá que correr o chapéu pelas empresas e militância, à cata de contribuições para a campanha. Para a mídia, fazer política é muito fácil. A ditadura quebrou seus concorrentes, criando um mercado oligopolizado onde meia dúzia de famílias exercem uma hegemonia napoleônica no segmento de idéias impressas.

Miriam, além disso, esquece completamente a existência da internet. Há blogs de pessoas físicas, como o do Paulo Henrique Amorim, do Nassif, do Azenha, que conquistaram um volume de visitação monstruoso, muito superior ao número de incautos que ainda acreditam no que lêem na imprensa escrita. Mesmo entre os que lêem jornais, houve uma reviravolta na forma como essa leitura é realizada. Esse é um processo consolidado, que tem sido tema de constantes seminários, estudos, teses, livros, palestras, etc. O leitor se tornou crítico e quer interagir. A sensação de engolir uma idéia e não poder regurgitá-la, no caso de má digestão, é muito desagradável. Schopenhauer falava sobre essa violência diabólica, pior que a violência física, que é anular o outro através da astúcia, fazendo o outro acreditar numa mentira, fazendo o outro, enfim, não ver o abismo para o qual, inocentemente, se dirige... É isso o que essa mídia decadente faz: conduz parte de seus leitores, a parte desavisada, ingênua, subdesenvolvida ideologicamente, para uma estrada vazia, que não leva a lugar algum, ou antes, que leva ao precipício da ignorância, da depressão e do desespero. Depois vão todos gritar, histéricos, espremidos na seção de cartas do Globo, contra o Brasil, contra o mundo, contra a vida. E dá-lhe Rivotril!

Ó Miriam, estrela desta sombria e triste noite da mídia, tua luz brilha forte no céu dos infelizes. Junto a ti, oram ardentemente para que as piores desgraças desabem sobre o Brasil. Quem sabe a Natureza, sempre tão surpreendente, não traz um tsnunami às tranquilas plagas tupinambás. Seria tão consolador assistir milhões de brasileiros sucumbindo às ondas assassinas! Sim, seria consolador para a infeliz legião dos adoradores de Miriam - protegidos em seus casarões no interior de São Paulo, eles poderiam culpar Ele, o Satanás das madames do Leblon, o Belzebu das senhorinhas que almoçam ao lado de Arnaldo Jabor, de todos que têm prazer em pagar pedágios cada vez mais caros (saboreando sadicamente a aflição que devem sentir os motoristas pobres), enfim, o maldito Lula, que tanto sofrimento e depressão tem causado aos proprietários das grandes editoras, os quais poderiam estar agora gozando de contratos bilionários com o governo federal, a distribuir país afora milhões de cartilhas (sem Uruguai, sem o Piauí, e com dois Paraguais, conforme a orientação de uma secretíssima e misteriosa seita ultraliberal), se o ocupante fosse alguém mais civilizado...

27 de outubro de 2009

Carta Diária Óleo do Diabo passa de 50 assinantes. Promoção encerrada.

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Prezados, agradeço profundamente o interesse de todos pela Carta Diária Óleo do Diabo, um serviço diário com textos exclusivos enviados por email, que o blog oferece desde semana passada, mediante assinatura anual. A carta já conta com mais de 50 assinantes e, portanto, conforme o combinado, encerra a promoção que vinha fazendo. Mas, para não deixar ninguém chateado, iniciamos outra facilidade. Quem quiser pode pagar em 2 vezes de R$ 25. Basta depositar o dinheiro agora e o restante daqui a 30 dias.

O blog continua vendendo seu peixe. Assine a Carta Diária, você não vai se arrepender. As crônicas exclusivas para os assinantes tem ficado muito boas e olhe que estamos apenas começando.

Não se esqueça de que, além de receber uma crônica diária exclusiva em seu email, você terá contribuído para manter esse blog cada vez mais ativo. Um abraço a todos. Para assinar, clique neste link.

Produtos exportados pelo Brasil, até setembro de 2009 (corrigido)

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Clique na tabela para ampliar.  Reparem que o preço do minério de ferro subiu de 22 dólares a tonelada em 1998 para 60 dólares este ano. FHC, claro, vendeu a Vale quando o ferro estava barato, e as contas da empresa apresentavam finanças mais apertadas. Agora, com o ferro a 60 dólares, e depois de ter aberto seu capital nas bolsas, é claro que a empresa registra um valor muito mais alto. Não foram, seguramente, os belos olhos do Roger Agnelli, presidente da companhia, bibelô da grande imprensa, os responsáveis pela performance extraordinária da Vale nos últimos anos.

Outro item que chama a atenção é o aumento enorme (quase 4.000%) das exportações de petróleo e derivados, que saltaram de 323 milhões de dólares em 1998 para 13 bilhões de dólares em 2009 (período Out/Set).

O Brasil exportou um total de 158 bilhões de dólares nos últimos 12 meses até setembro, o que representou queda sobre o período imediatamente anterior, quando a exportação totalizou 195 bilhões. Na comparação com 1997/98, porém, o crescimento acumulado é de 210%.

Por fim vale atentar para o incremento, de 1998 a 2009, de 686% nas exportações brasileiras de carnes, que  somaram 9,77 bilhões de dólares, consolidando-se como um dos principais produtos de nossa balança comercial.

A tabela foi compilada e editada pelo blog.

Nassif Exterminator X Urubóloga Suprema

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Esse artigo do Nassif resume muita coisa. É a explicitação de um outro artigo dele, sobre o mesmo tema. Nos dois, Nassif aborda as consequências negativas para a oposição conservadora em adotar, acritica e submissamente, teses políticas defendidas pela mídia.

O texto de hoje, tenho certeza, embora não a cite, refere-se à coluna de Miriam Leitão desta terça-feira do jornal O Globo. Coitada da Miriam. O caderno de economia do Globo hoje traz uma péssima notícia para ela: a bolsa de SP (BMF) registrou o melhor desempenho entre todas as bolsas do mundo. E isso dias depois do desemprego no Brasil, medido pelo IBGE, atingir o menor patamar para um mês de setembro da história. É natural que Míriam esteja à beira de um ataque de nervos.

Cansada de bater em Lula, ela parte para o ataque à oposição, a qual, segundo ela, não estaria sendo suficientemente agressiva em relação ao presidente. Sem querer comparar Lula à Chávez, e sim a forma como as oposições se comportam no continente, sempre imbricadas às corporações midiáticas, vejo um movimento similar ao que observei na Venezuela. Quando viram a inutilidade de seus ataques à Chávez, colunistas midiáticos, já demonstrando enorme confusão psicológica, passaram a atacar a oposição, chamando-a de incompetente. O resultado foi o quase aniquilamento da oposição na Venezuela.

Miriam está histérica. Há pouco previu que a Bolsa de SP iria fechar o ano com queda recorde de quase 50 mil pontos. A Bolsa deve fechar com alta recorde - a maior do mundo. Previu forte queda no PIB - o PIB deve crescer mais de 1% este ano. Previu desemprego em massa - chegou a entrevistar José Pastore apenas para arrancar a profecia de que mais de 1 milhão de empregos evaporariam este ano. E agora, Miriam?

As desgraças não estão se realizando. Hoje, em sua coluna, Miriam lista todas as ações do governo e diz que todas são ruins, ressalvando apenas aquelas iniciadas por FHC - e que, somente na época de FHC, eram boas. Diz que o Bolsa Escola do FHC, convertido em Bolsa Família por Lula, é que era bom. Sim, com certeza. FHC dava 15 reais por mês para meia dúzia de nordestinos - muito bom o Bolsa Escola. Realmente, o Bolsa Escola mudou o Brasil...

Miriam consolida sua imagem de suprema urubóloga, profetisa do caos, tribufu-mor do jornalismo econômico... Seu blog no site do Globo, quando não fica às moscas, é invadido por brasileiros revoltados com sua verve mau-cheirosa e seu messianismo diabólico...

26 de outubro de 2009

Metendo a mão na massa

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Eu quero escrever algo muito diferente e acabo não escrevendo nada, essa é a verdade. Não tem jeito, tenho que rebater as bolas que vêm, sem escolher tanto. Por exemplo, essa entrevista do Roberto Freire, presidente do PPS, a um programa de tv lá do nordeste.

Freire é talvez uma das figuras mais odiadas do Brasil. Nem tem graça chutar esse cão morto. No entanto, vale a pena analisar, por puro interesse científico, a carcaça apodrecida de um político que já foi bastante respeitado.

Nessa entrevista, ele diz que Serra é mais esquerdista que Lula. Esse é um truque velho na América Latina, que é posar de socialista para angariar apoio popular. Mas isso passou de moda. A onda do momento, ou pelo menos tentou ser até agora, é estufar o peito e se declarar de direita sim, com muito orgulho. César Maia mesmo, há dias, publicou artigo falando de sua obsessão: de que a direita tem um grande futuro eleitoral no Brasil (os fatos sempre negam as teorias de César, lastreadas, entre outras coisas, num complicado cálculo linguístico sobre a preferência pela palavra "direita").

Freire é um cara-de-pau safado. Serra não representa esquerda nenhuma. Na entrevista, ele diz outro absurdo. Que a política do PSDB não será a de FHC, o que é uma incoerência tal, que somente um imbecil sem moral como Freire poderia pronunciar. Serra vem fazendo, em São Paulo, um governo ainda mais direitista e privatista que o de FHC. Toda a gestão tucana é ancorada em passar responsabilidades do Estado para empresas privadas. Não importam os resultados desastrosos. Há, por parte dos tucanos paulistas, uma fé ideológica no mercado tão grande, que parecem nem ter notado os trilhões de dólares que governos do mundo inteiro tiveram que gastar, nessa última crise, para corrigir esse ideologismo antirepublicano, vulgar e irresponsável.

Para ser de esquerda, é preciso combinar antes com as bases autênticas que formam as forças políticas do país: sindicatos, movimentos sociais, intelectuais. A partir do momento em que Serra não tem apoio de nenhuma força de esquerda, e que sua forma de governo permanece estacionada no mesmo terreno baldio e sujo antes ocupado pelo conservadorismo fernandista, afirmar que Serra seria esquerdista é não apenas tentar enganar o povo e o eleitorado, é também uma insuportável agressão à inteligência alheia.

O papinho de que os banqueiros estariam rindo à tôa é outra artimanha boçal. Diante da quebradeira bancária registrada em dezenas de países, e que tiveram como consequência o desembolso, por parte dos contribuintes, de centenas de bilhões de dólares para salvar as instituições da bancarrota, o vigor financeiro dos bancos brasileiros representaram, no mínimo, uma enorme salva-guarda para a economia nacional.

Em virtude dos juros básicos terem atingido, no momento, o menor patamar da história, abriu-se o debate sobre a necessidade de pressionar os bancos, e possivelmente até aprovar uma nova lei nesse sentido, para que reduzam sensivelmente os spreads bancários. Por que as bancadas do PSDB e do PPS, já que são tão esquerdistas como diz Freire, não propõem algo assim?

Freire é um fantasma. Destituído de cargo político, sem qualquer popularidade, é sustentado por um jabá da prefeitura de São Paulo.

Confiram o resumo da entrevista de Freire à TV O Povo. Comento em seguida.

PSDB terá de renegar FHC, diz presidente do PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que a política econômica adotada por FHC não será exemplo a ser lembrado durante a campanha do PSDB à Presidência, em 2010. Defensor do nome de José Serra, ele disse que o tucano é mais esquerda que Lula

Hébely Rebouças
hebely@opovo.com.br
26 Out 2009 - 03h40min

O presidente nacional do PPS e um dos principais opositores do governo Lula, Roberto Freire, disse no programa Coletiva da TV O POVO que foi ao ar ontem, que a campanha do PSDB à Presidência da República deverá renegar o modelo econômico adotado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

FHC governou o Brasil entre 1995 e 2002 com base em uma linha neoliberal, marcada por privatizações e redução da interferência do Estado na economia.

Já prevendo comparações que podem vir à tona nas próximas eleições, entre a chamada "Era FHC" e a gestão de Lula, Freire defendeu que "a política econômica de Fernando Henrique não é a do PSDB. Não vamos associar isso ao programa de José Serra, por favor!", insistiu, em referência à pré-candidatura do governador de São Paulo ao Palácio do Planalto.

Sem esconder sua preferência por Serra ele sequer citou o nome do governador de Minas Gerais e outra opção tucana para a disputa, Aécio Neves, Freire avaliou que é em Lula que se deve colar a imagem de "monetarista".

O presidente do PPS acusou o petista de ter dado continuidade ao modelo que faz "banqueiro rir à toa", classificando como "inadmissível que o Brasil tenha uma das maiores taxas de juros do mundo" hoje, a taxa de referência é cotada em 8,75%.

Mas, se por um lado, Freire teceu duras críticas a FHC, por outro, era só elogios à postura administrativa de Serra. O ex-senador chegou a dizer que o tucano é "mais esquerdista" que o próprio Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o nome preferido pelo Palácio do Planalto.

"Eu disse em 2002 e hoje repetiria com ainda mais força: o candidato apoiado pelas esquerdas era Lula. Mas o candidato da esquerda sempre foi Serra", a quem ele classificou como "desenvolvimentista" e "dissidente" político.

Serra foi ministro do Planejamento e Orçamento do Governo FHC e ficou dois anos (1995 e 1996) à frente de uma das pastas diretamente ligadas à gestão econômica do Governo.

As eleições de 2010 serão emocionantes e, naturalmente, não apenas o pleito majoritário. Os resultados nos estados e no Congresso prometem mudanças imprevisíveis.

Gostaria de lembrar alguns fatos políticos que deverão ter peso no ano que vem.

1) A conquista do delegado Protógenes Queiroz para a base aliada. Os leitores certamente se lembram que o "ínclito" policial, após o embróglio em que se meteu com a própria instituição, parecia extremamente aborrecido com o governo e tendia a unir-se à turma do contra, o PSOL. O mundo deu voltas, o Protógenes conversou com diversos partidos, e decidiu-se pelo PCdoB, a agremiação mais genuinamente lulista de todas. Protógenes é um trunfo especial, porque ele simboliza a ética. Mais ainda: qualquer um pode ser ético quando não exposto às provações e tentações pelas quais passou o delegado. Ele entrou no inferno, encarou os demônios de frente e saiu de cabeça erguida, trazendo-os presos e algemados. Se Gilmar Mendes decidiu soltá-los todos, a culpa não é do Protógenes. Mas ele tirou uma experiência dura desse episódio, e sua ação criou um marco. Protógenes foi um representante do povo que pregou uma bandeirinha do Brasil bem no meio do inferno, assustando os moradores daquelas plagas sinistras... No entanto, houve um tempo em que Protógenes parecia tonto com as luzes dos holofotes. Quando começou a fazer declarações críticas sobre Lula, a mídia colocou-o num pedestal, e durante um tempo, ele pareceu balançar-se para lá e para cá, desorientado. O PSOL grudou nele como um carrapato, achando que havia encontrado a solução para evitar o ostracismo que as eleições de 2010 podem significar para o partido. Felizmente, Protógenes soube pensar com independência. Deu-se tempo, conversou e tomou a decisão mais sensata. Seguramente, viu quem defendia Dantas e seus comparsas, e quem o defendia. Protógenes pode vir a ser, a partir de agora, como parlamentar, um combativo lutador contra a corrupção instalada nos meios políticos.

2) A lulização do mundo. De um ano para cá, o mundo inteiro parece ter "lulado". Obama, o homem mais poderoso do planeta, e que goza de enorme popularidade no Brasil, inclusive por parte de antilulistas radicais, como Jabor e Kamel, fez inusitadas declarações de amor à Lula. Isso constituiu um poderoso fato político em favor do presidente e, portanto, em favor das forças políticas que o apóiam, incluindo aí a sua candidata Dilma Rousseff. Depois de Obama, o planeta inteiro parece derramar-se de paixão por Lula, através de editorais frequentes e sucessivos em favor das políticas sociais e econômicas do governo brasileiro. O fato de termos atravessados incólumes por uma terrível crise financeira mundial serviu para consolidar o prestígio de Lula, cujo capital político atingiu tal ponto que mesmo o tributo de 2% recentemente imposto ao capital especulativo ganhou apoio de inúmeras instituições do grande capitalismo.

3) A esquerda continua crescendo na América Latina. Os únicos governos de direita do continente, México e Colômbia, vivem péssimo momento. O México, por suas políticas neoliberais, foi o país que mais sofreu com a crise econômica, e a Colômbia, até então o xodó da imprensa conservadora nacional, passou a ocupar o noticiário policial com frequência constrangedora, por causa das acusações da Justiça colombiana de que as pessoas mais próximas de Uribe teriam ligações com os paramilitares e o narcotráfico. Para piorar, Uribe quer mudar a Constituição, para disputar um terceiro mandato, desmoralizando o discurso histérico de certo colunismo antibolivariano. Detalhe: todos os que atacaram tão violentamente o continuísmo bolivariano nunca mencionaram o fato de que foi o Brasil de Fernando Henrique Cardoso que inaugurou essa mania, quando o tucano muda a Constituição para beneficiar a si mesmo e se reeleger.

4) A desmoralização de Serra e do PSDB. O partido dos tucanos não conseguiu mobilizar sua bases, que sequer têm renovado suas fichas de filiação. Há pouco desistiram até de realizar prévias, mostrando mais uma vez a incapacidade tucana de lidar com escolas democráticas e transparentes.

O governo de José Serra tem revelado ao país um político autoritário, fechado, enigmático, incompetente, sem criatividade. O Nassif tem demolido politicamente o governo Serra através de artigos lúcidos, calmos e esclarecedores. A violência com que Serra tem tratado estudantes, professores, médicos e policiais, é assustadora. Agora mesmo, Serra aprovou uma lei para a educação em São Paulo que cria uma "casta" de professores que ganham mais que outros, porque fizeram uma prova, cujas questões são aplicadas pela Secretaria de Educação. Ou seja, Serra humilha os professores, que não querem a criação de castas antidemocráticas, e sim aumentos horizontais de salário. O pior, porém, é a falta de diálogo com as associações de classe, que vivem o dia-a-dia da educação e tinham as suas próprias idéias para melhorar seu desempenho.

5) Outro característico do governo Serra é a instituição descontrolada de pedágios rodoviários, uma medida que afronta a liberdade humana de ir e vir. Todos queremos melhores estradas, mas Serra, em vez de aplicar os altos impostos pagos pelos contribuintes para melhorar as estradas, entrega-as como fonte de lucros para empresas amigas. Não há sequer preocupação em instituir preços baixos para o pedágio. O sistema de privatização das estradas do governo de SP não prioriza o preço baixo do pedágio, e sim o pagamento de uma gorda comissão para as caixas do Estado. Tudo isso revela o espírito antidemocrático e insensível socialmente do PSDB. Cobrar pedágio é injusto socialmente, porque cobra o mesmo preço de cidadãos com rendas diferentes, além de causar retardo no trânsito, ao obrigar os carros a fazerem uma parada obrigatória, e criar constrangimentos para quem vive momentos de aperto financeiro. É tudo muito injusto e atrapalha a economia das cidades. Imagine um sujeito que está sem um tostão, mas ainda tem um pouco de gasolina no carro e decide ir até outra cidade cobrar uma dívida. Não pode fazê-lo, porque há vários pedágios no caminho.

6) O crescimento de Dilma e Ciro Gomes e a queda de Serra nas pesquisas. Não preciso nem comentar o que isso significa. A parceria entre PT e PMDB, por sua vez, sepultou as canhestras tentativas da mídia e seu braço político, o PSDB, de evitar a formação de uma coalizão de centro-esquerda com esse peso e força. Essa parceria significará, especialmente, a possibilidade de uma grande derrota do PSDB nos estados e nas eleições legislativas.

Tá bom por hoje, né. Amanhã tem mais.

Pensando as favelas

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As recentes guerras entre os traficantes do Rio, ao atiçarem a curiosidade pública sobre o tema, ajudaram a reforçar algumas verdades que andavam meio obscuras. Primeiro: a população dos próprios morros cariocas tornou-se a grande consumidora das bocas de fumo. Paulo Lins, o romancista de Cidade de Deus, profundo conhecedor da realidade das favelas, diz isso há anos, conforme se pode verificar em seu depoimento ao documentário de João Moreira Salles sobre traficantes, Notícias de uma guerra particular.

As drogas se popularizaram. Compra-se maconha a 1 ou 2 reais. Cocaína, por 2 a 50 reais. Crack a 1 real. Esse fato alivia a consciência da classe média, que andou cabisbaixa após a repercussão do filme Tropa de Elite, onde um playboy da zona sul adquire maconha diretamente no morro, um caso raro, mas ainda realista. O morro oferece preços mais baratos, então é evidente que muitos playboys, pensando no lucro, preferem comprar lá do que junto a "amigos" do bairro, que vendem a mercadoria a um custo muito mais elevado.

Há outros fatores relevantes a serem esclarecidos. Em primeiro lugar, não há playboys somente na zona sul. Todas as zonas do Rio de Janeiro detêm boa quantidade da mesma espécime - jovens de uma faixa de renda que lhes permite viver "intensamente". Há áreas fora da zona sul, aliás, que apresentam um perfil sócio-econômico parecido ao da zona sul. O morro dos Macacos, por exemplo, onde ocorreram os ataques ao helicóptero da PM, situa-se em Vila Isabel, um bairro classe média da zona norte, vizinho à Tijuca, também um bairro de bom poder aquisitivo.

As favelas cariocas, por outro lado, vêm registrando um desenvolvimento econômico significativo nos últimos anos. Em muitas dessas comunidades, o desemprego, hoje, é baixo. O problema social no Rio está, principalmente, na Baixada Fluminense, e em favelas específicas.

O tal poder paralelo das favelas consolidou-se no Rio de Janeiro durante a fase mais aguda dos anos de chumbo. A polícia carioca, assim como suas congêneres em outras unidades da federação, perdera qualquer noção de direitos humanos; e se torturava e matava jovens de classe média, é evidente que praticava barbaridades muito piores com rapazes anônimos, pobres e pretos, que viviam nas comunidades carentes. A saúde sócio-econômica das favelas degenerou terrivelmente durante a ditadura. O processo de concentração de renda criou empregos bons para a classe média branca e produziu um verdadeiro vácuo nas periferias. Mais que isso, o autoritarismo insensível dos governos militares destruiu, por exemplo, a já frágil agricultura familiar do Rio de Janeiro, sobretudo do norte, provocando uma avalanche migratória que superpovoou zonas inteiras da cidade, na baixada e nos morros. Esses foram os fatores que levaram as populações carentes a desacreditarem totalmente no poder público - até hoje mais temido que o próprio tráfico - e a criarem uma cultura de auto-defesa, uma cultura para-militar, cujo financiamento, por ser ilegal, ocupa uma atividade que não concorre com nenhuma outra, não havendo, em tese, oposição econômica ao tráfico.

Os anos 80 apenas ajudaram a manter esse tipo de situação. O fim da guerra fria inundou o mercado negro mundial com armas boas e baratas, oriundas de uma super-produção já sem demanda. A produção de coca explodiu na América do Sul, baixando o preço da droga e criando novos mercados, de consumidores com menor poder aquisitivo - o que elevou exponencialmente a quantidade consumida em toda parte, principalmente nas próprias comunidades.

O racismo é um grande problema para as comunidades do Rio. Quem conhece as favelas cariocas sabe que há uma hegemonia absoluta de negros. O mercado de trabalho no Rio é racista. Não há garçons negros na cidade. É rara a presença de negros em trabalhos de zelador. Prefere-se, sempre, dar emprego a nordestinos, mais disciplinados e confiáveis, talvez em virtude de não apresentarem as patologias psíquicas decorrentes do racismo e da escravidão. O racismo no Brasil tem uma história própria e, algum dia, um historiador deveria escrevê-la. Há um constructo cultural que nasce junto com a escravidão. O Rio foi o maior mercado de escravos da América Latina. Na época, quase nenhum branco trabalhava. Qualquer barnabezinho possuía dois ou três escravos para fazer todo o tipo de serviço: varrer a casa, lavar a roupa, engraxar sapatos. Muito antes da Lei Áurea, tal situação já havia degenerado em criminalidade. Clóvis Moura conta essa história em seu clássico, Rebeliões da Senzala, no qual relata a formação de milhares de quilombos em todo país, sobretudo nas regiões com maior concentração negra. O Rio, em particular, assistiu à criação de incontáveis quilombos. Como eram clandestinos, refugiavam-se nos altos mais inacessíveis dos morros cariocas, e, não possuindo agricultura suficiente para se auto-sustentarem, praticavam furtos sistemáticos, muitos seguidos de morte.

Além disso, os escravos usavam maconha nas senzalas, para aliviar as dores físicas decorrentes de espancamentos e trabalhos forçados e amortecer a consciência do estado humilhante em que viviam. A maconha é um conhecido anestesiante, físico e psicológico. Provavelmente os quilombolas assumiram o tráfico de maconha desde os tempos mais remotos, fornecendo para seus irmãos na senzala, e para mulatos e brancos que também apreciavam a erva.

O histórico de tráfico e assalto gerou, por parte do poder público (dominado pela elite branca), um sentimento de vendeta e truculência em relação aos negros, que sempre foram espancados e mortos pela polícia sem que isso gerasse maior repercussão. Pior, mesmo quando há repercussão, ela não é sequer notada. Outro dia uma amiga, conversando, citou uma crônica de jovem escritor de Copacabana, cujo tema era a falta de disposição do carioca para protestar. A solução, apontada por essa crônica ficcional, seria interromper o consumo de chope na cidade. Eu logo pensei: carajo, a população nessas favelas queima ônibus, interrompe o trânsito de avenidas enormes, manda fechar o comércio de bairros inteiros, tudo com enorme risco da própria vida, porque manifestações nessas áreas nunca recebem o mesmo tratamento cuidadoso que a polícia dispensa às passeatas em Copabana ou Ipanema, e um cronista diz que o carioca "não protesta"...

O novo prefeito, o jovem Eduardo Paes, resolveu seguir os conselhos dos missivistas do jornal O Globo, e concentrar sua política de segurança na repressão ao vendedor ambulante. Esse tipo de política é especialmente ofensiva ao morador da favela, porque o emprego de camelô sempre foi a alternativa de sobrevivência preferida pelo negro pobre, deseducado, porém orgulhoso, cuja psicologia atormentada por séculos de escravidão lhe dificulta adotar aquela submissão necessária ao trabalho humilde. O trabalho de vendedor ambulante, mesmo pagando pouco, permite-lhe autonomia e independência. Não tem patrão, ajustando-se assim às características psicológicas do negro. Quando prefeito, governador e mídia se unem numa campanha violenta contra a camada profissional mais humilde do Rio - os vendedores ambulantes -, perseguindo-lhes pelas ruas como cães, tomando-lhes as mercadorias, é evidente que o impacto emocional dessa política sobre a consciência das favelas é terrível, e provoca as condições ideais para o nascimento daquela rebeldia criminal, aquela subversão com ares semi-políticos, que tão bem caracteriza o jovem traficante carioca.

Há momentos em que me pergunto se não estou me tornando um desses malucos com idéia fixa. Já conheci vários e todos em geral aparentam ser inteligentes e bem informados. Digo isso porque, nessa campanha antiambulante, há uma força fundamental: é o jornal O Globo. Será que eu tenho mania de atacar o Globo? Não quero acreditar nisso. O Globo, a maior força política de facto na cidade, persegue há décadas, em seus editoriais, o comércio ambulante, e nunca publicou um mísero artigo, ou entrevistou um especialista para tentar explicar porque essa atividade é tão popular no Rio, nem para alertar sobre as consequências negativas que um combate insensível e truculento aos trabalhadores ambulantes pode trazer à psicologia já traumatizada por trezentos anos de escravidão do negro favelado carioca. Os políticos apoiados mais entusiasticamente pela família Marinho, como o ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, sempre foram os que se notabilizaram por uma truculência desmedida, quase vingativa, contra ambulantes e trabalhadores informais. Já o Brizola, que procurava evitar o confronto entre Estado e comunidades, na tentativa de estabelecer para as favelas uma política de longo prazo, lastreada na educação e no respeito, recebeu combate implacável da grande imprensa fluminense, e foi taxado, pelos conservadores que orbitam em torno dela, de "amigo" dos traficantes.

Muitos cariocas assistem, horrorizados, a guarda municipal roubar, descaradamente, as mercadorias dos ambulantes. Claro que é necessário organizar o comércio ambulante no Rio. Mas é preciso formular estratégias mais sensíveis socialmente, com projeções de longo prazo, que evitem produzir traumas psico-sociais que resultem em revolta contra o poder público. Afinal, como nasce uma consciênca criminosa? Não seria um processo de degeneração moral e psicológica, para a qual a falta de perspectiva profissional contribui enormemente? Não devemos esquecer que, até poucos anos atrás, o salário mínimo correspondia a menos de 50 dólares. Não era possível sobreviver com isso no Brasil, muito menos no Rio de Janeiro, cidade que apresenta um dos custos de vida mais altos da América Latina. Acredito que esse fato não devia ser estimulante para um jovem impetuoso da favela, o qual, sentindo-se cheio de energia e coragem, preferia o mundo aventuresco do crime à uma vida de terríveis provações de um sub-emprego. Hoje, com o salário mínimo no Rio superior a 400 reais (mais de 200 dólares), o trabalho formal não é mais tão humilhante. Um salário de 400 reais para um jovem que anda mora com seus pais, por exemplo, lhe permite se divertir minimamente. E aí reentramos no ciclo da droga. O jovem do morro agora tem dinheiro para comprar drogas, assim como tem o rapaz da zona sul. E a falta de oportunidades de lazer na favela acaba incentivando-o a optar por esse tipo de diversão. Mas o problema do consumo de drogas existe em toda parte, inclusive nos países desenvolvidos. E onde existe consumo, há oferta. E tudo que é proibido é caro e tudo que é caro proporciona lucros altos. E mesmo na sociedade mais desenvolvida, não faltará gente interessada em explorar uma atividade que gera lucros altos. Essas são outras questões, que o blog colocará em debate em breve.

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Acabo de enviar aos assinantes a edição de segunda-feira da Carta Diária Óleo do Diabo. Se você assinou e não recebeu o email, ou tiver qualquer outra dúvida ou sugestão, entre em contato através do email oleodiario@gmail.com.

Agradeço a todos pela colaboração. O blog continua recebendo assinaturas e isso, claro, me estimula muito a escrever por aqui. A promoção de 50% não deve passar desta segunda-feira. Procurarei atualizar o blog antes das 11 horas desta segunda-feira.

Ontem assisti a um filme muito legal, Distrito 9, uma ficção científica extremamente bem feita. Agora, estou na expectativa de ver Bastardos Inglórios.

Cordialmente.

24 de outubro de 2009

Record revela os podres da Folha de São Paulo

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Carta Diária Óleo do Diabo: promoção perto do fim

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23 de outubro de 2009

A esquerda morreu. Viva a esquerda.

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uns posts atrás, prometi criar um debate a partir de dois textos (ir no link para ler), um do Azenha, outro do Lungaretti, no qual ambos afirmam que Lula não é de esquerda. O próprio Lula declarou, em mais de um momento, que não é de esquerda, e sim um político com inclinação à esquerda, ou, usando ironia, apenas um torneiro mecânico.

Este é um debate interessante, e não se trata aqui de "defender" ou "criticar" Lula, e sim meditar um pouco sobre temas universais. Azenha e Lungaretti cometem, para mim, o mesmo erro conceitual: têm uma idéia abstrata e um tanto arbitrária do que seria esquerda. Falemos do Azenha, em primeiro lugar. Aliás, antes quero esclarecer que tenho o maior respeito e admiração por ambos, Azenha e Lungaretti. Decidi debater com eles hoje porque nem todo o dia tenho paciência para fazer o contra-ponto à grande imprensa. Gosto de realizar o debate interno, até porque entendo que o maior perigo para o futuro da esquerda latina é a deterioração dentro de casa, é se deixar contaminar pelo vírus do radicalismo e da fragmentação. Para evitar isso, é necessário o exercício dialético, o debate, a busca pela unidade em meio ao caos de opções e caminhos que a política desdobra diante dos povos. Acredito que Azenha e Lungaretti representam um segmento importante da opinião na blogosfera, e por isso, quando os cito, penso em todo um grupo.

Outra observação: eu gostei do texto do Azenha. O debate com o texto dele é uma contribuição crítica. No caso do Lungaretti, com perdão da palavra, achei apenas uma diatribe adolescente. O fato dele ter 59 anos não significa nada. Os romanos tem uma frase que diz que cabelos brancos significam apenas velhice, não sabedoria. Não quero dizer que Lungaretti não seja sábio, mas que esse post em particular, na minha opinião, é uma tolice e não vou comentar agora. Amanhã, talvez, falo o que eu penso do anarquismo e como ele tem sido usado e abusado como refúgio de nefelibatas. Eu já me declarei anarquista e já li os clássicos do anarquismo e terei algumas palavrinhas sobre isso. Adianto apenas que Lungaretti ecoa um saudosismo que é muito mais cultural e, porque não, sexual, do que político. Quando ele fala em "idealistas" que acreditaram em Lula, ele se refere à meia dúzia de comunistas de botequim que, de qualquer maneira, provavelmente nem nunca votaram no metalúrgico. Sempre haverá uma Heloísa Helena para cumprir o papel de herói da revolução macunaímica que eles esperam acontecer no Brasil. O pior é que Lungaretti também não gosta do PSOL, muito menos do PSTU, odeia Chávez, Fidel e Morales... O seu esquerdismo e sua revolução, portanto, são uma espécie de bloco do eu-sozinho, que ele escuta, todavia, com muito orgulho e dignidade.

O que é esquerda, afinal? Azenha insinua (ou ao menos é o que entendi nas entrelinhas de seu texto) que a esquerda seria uma espécie de pedra filosofal encontrada apenas nos acampamentos do MST, grampeada no uniforme de Hugo Chávez ou escondida nos cabelos de Evo Morales. Há segmentos da esquerda brasileira que insistem em comparar Chávez com Lula, e Chávez é, quase que invariavelmente, colocado no pedestal do esquerdista perfeito. Ele usa sempre roupas vermelhas, usa boina e passa boa parte de seu tempo imprecando contra o imperialismo ianque.

A origem do termo esquerda remonta aos primórdios da Revolução Francesa. Durante as primeiras discussões constitucionais realizadas na época, os deputados que se opunham ao rei se agrupavam à esquerda (em relação ao lugar central, ocupado pelo rei), enquanto os que se alinhavam ao rei ocupavam a direita do auditório.

O termo irá se disseminar por todo o mundo, tornando-se parte do vocabulário político em todas as democracias. Indo mais longe, os historiadores passaram a aplicá-lo às clivagens políticas observadas em diversas civilizações da Antiguidade, particularmente na Grécia e em Roma.

Era natural, além disso, que o termo recebesse uma carga simbólica pesadíssima. Tão pesada que muitos pensadores acharam, e ainda acham, que ele dificulta o debate e as articulações politicas.

De fato, o termo "esquerda" ficou pesado. Tem gente que não suporta mais sequer ouvi-lo. Conheço muitos que torcem o nariz e viram a cara quando o escutam, e não porque sejam reacionários ou coisa parecida. É mais um cansaço, talvez um pouco de medo, inconsciente ou não, de que alguma coisa violenta e triste possa acontecer.

Houve uma época em que eu também enjoei da palavra. Lembro de que, há muitos anos, lendo um artigo do Emir Sader, senti uma espécie de repugnância pela repetição cansativa, sistemática, às vezes até desnecessária, daquela palavrinha. Havia umas frases do tipo: a esquerda tem que ser esquerda, etc.

O tempo passou e aquela palavra (não vou repeti-la) continuou viva, e até reconquistou prestígio. É bobagem, afinal, extinguir um conceito com tanta importância na história moderna. E a própria esquerda identificou, naquela campanha para eliminá-la, um ataque ideológico capcioso, na forma de ataque simbólico.

De todo modo, é importante tirar um pouco de peso do conceito, deixá-lo um pouco mais arejado, flexível, moderno, agradável. Eu acho que Lula ajudou nesse sentido. O que importa, afinal, não é vestir o figurino esquerdista, e sim criar políticas bem sucedidas de desenvolvimento e inclusão social. Talvez seja o momento de deixarmos de lado esse esquerdismo meio vaidoso, meio hipócrita, meio chauvinista e inventarmos outras palavras que, dizendo a mesma coisa, tenham uma força simbólica maior e sejam mais eficazes na peleja contra as forças retrógradas.

Eu entendo a importância de Chávez para a América Latina, e, nos meses que antecederam o golpe de Estado por lá, em 2002, escrevi dezenas de artigos defendendo-o dos ataques midiáticos da imprensa venezuelana. Mas não acho válida a comparação com Lula, como se Chávez fosse um esquerdista nota 10 e Lula merecesse nota 5 ou 6. A estrutura econômica venezuelana é totalmente distinta da brasileira. A participação da PEDEVESA - a estatal do petróleo controlada com mão de ferro pelo Executivo - na economia do país chega a mais de 70%. Os partidos que apóiam Chávez amealharam uma maioria absoluta no Congresso, que é unicameral, ou seja, não tem Senado. Eu tenho a impressão que, se eliminássemos (digo, eleitoralmente, não me entendam mal) o PSDB e o DEM, isso acrescentaria alguns dígitos ao crescimento do PIB nacional. Se a grande imprensa pedisse as contas, então, cresceríamos num ritmo superior ao da China...

No caso de Morales, a situação é parecida. As transformações políticas mais importantes não se dão por decisões pessoais de presidentes da república, e sim, e principalmente, pelas condições políticas e econômicas do momento, nas circunstâncias específicas de cada país. Além disso, da mesma forma que há um preço alto na política de fazer concessões e alianças com partidos de orientação diferente da sua, também há um preço, talvez ainda mais alto, em não fazer concessões nem alianças. O exemplo de Honduras é o caso mais gritante, mas tanto a Bolívia como a Venezuela também pagaram um tributo altíssimo ao radicalismo de seus líderes. A Venezuela chegou a experimentar queda no PIB próxima a 10% em 2001 ou 2002, e vocês sabem muito bem que o lado mais fraco é o que sofre mais.

Voltando à discussão sobre o esquerdismo, eu me pergunto se o trabalhador, quando repara, no seu contra-cheque, que o valor do seu salário mínimo cresceu expressivamente, irá se importar se Lula é considerado esquerdista ou não pelos intelectuais do botequim. Um nordestino, quando observa os operários construindo uma escola técnica perto de sua casa, também não deve fazer elocubrações profundas sobre a ideologia do presidente. Da mesma forma, um pequeno agricultor, quando recebe um financiamento, pelo Banco do Brasil, que permitirá que ele, finalmente, adquira um trator e inove suas lavouras, não irá pensar nos discursos anti-imperialistas de Chávez. O Brasil tem uma dinâmica própria, e uma clivagem ideológica singular. Aqui, no Brasil, Lula é de esquerda, a esquerda mais autêntica e mais moderna, preocupada com o povo e preocupada também em realizar as mudanças da forma menos traumática possível. Enquanto os "botequins ideológicos", como os chamava Nelson Rodrigues, insistem que o presidente perdeu a virgindade esquerdista, Lula trabalha para que os conservadores não retomem as rédeas do Executivo, o que, em função do poder de influência do Brasil sobre seus vizinhos, embute o risco de iniciar um retrocesso político e social em toda a América Latina.

Registro rápido de um crime jornalístico

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A imprensa desta sexta-feira 23 de outubro silencia vergonhosamente sobre a repercussão da denúncia de que o governo golpista de Honduras está praticando tortura contra brasileiros e hóspedes estrangeiros residentes em nossa embaixada de Tegucigalpa. Nenhuma carta de leitor, nenhuma nova notícia, nenhuma entrevista. Nada. A única preocupação da imprensa hoje é tentar vender a idéia de que as eleições em Honduras, manipuladas pelo governo golpista, poderão ter legitimidade, contrariando a orientação da OEA e da comunidade internacional, de que o pleito apenas será válido após a restituição de Zelaya ao poder. A imprensa não tomou posição contra o golpe e não informa aos brasileiros sobre as terríveis arbitrariedades por lá, impedindo, através da desinformação, que se crie, no Brasil, um sentimento de antipatia pelo ditador Micheletti. Ao invés disso Chico Caruso faz charges contra a diplomacia brasileira e contra o presidente legítimo, deposto por um golpe de Estado. Com isso, a imprensa serve ao golpe, e presta um desserviço à  causa democrática da América Latina.

Desemprego cai para 7,7%, menor nível da história brasileira

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Bem, o dentista foi rápido e resolvi dar uma escapulida. Tenho que esperar 30 minutos para a massa do dente secar e eu poder comer o contra-filé que comprei no supermercado. Então fiz esse gráfico acima com os números do IBGE e queria fazer alguns comentários rápidos.

Juro que não queria parecer esse ufanista cândido que devo parecer para alguns. Mas que posso fazer se o Brasil dá mostras cada vez mais sólidas de pujança econômica? Na contramão da crise mundial, o país registrou, em setembro deste ano, o menor desemprego para o mês de setembro de toda a sua história. Está certo que é o mesmo patamar do ano passado, mas é o menor patamar da história do mesmo jeito. A diferença é que, no ano passado, não havia a "a maior crise financeira do mundo desde a II Guerra"  e agora, com crise e tudo, o desemprego no Brasil encerra o mês de setembro, segundo o IBGE, em 7,7%.

A imprensa hoje não dá nenhum destaque a esses números, relegando-os ao interior dos cadernos de economia como se fosse uma notícia menor. Não entrou na capa dos jornais, nem na capa dos cadernos de economia, nem mereceu sequer um comentário editorial. Miriam Leitão ignora o fato solenemente em sua coluna. Repare que Miriam Leitão, durante a crise econômica, reverberou as projeções mais catastróficas para o emprego no Brasil. Inclusive entrevistou o famigerado José Pastore, que previu um saldo negativo de 1 milhão de empregos este ano. Onde está José Pastore agora? Ninguém vai lá perguntar a ele o que aconteceu?

A Miriam Leitão se dedica hoje a espinafrar o imposto sobre o capital especulativo de 2% criado pelo governo. Mas foi obrigada a conter a sua sanha, porque o Financial Times elogiou a medida...

Discutindo Judas: Preparativos para um debate

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Quando se opta por escrever diariamente, perde-se um pouco o controle sobre os temas a serem abordados. Eles é que se impõem. Digo isso porque não havia pensado em discutir a entrevista de Lula. Não por não achá-la relevante, mas porque, sei lá, queria falar de outras coisas. Mas hoje, depois de ler os jornais, noto, entre divertido e perplexo, a criação do "factóide" Judas, conforme o título de um post lá no blog do Azenha. E o Azenha também bota lenha nessa fogueira, ao reproduzir um texto de Lungaretti, e escrever, ele mesmo, um editorial, ambos contendo críticas relevantes ao governo Lula.

Eu sinto-me obrigado (com prazer) a participar desse debate. Essas discussões mais propriamente ideológicas que políticas são a minha praia; é onde me sinto mais à vontade.

Reproduzo abaixo os textos do Azenha e do Lungaretti, para que os leitores possam ler e se inteirar melhor sobre o debate a ser realizado aqui o blog.

Ontem prometi atualizar o blog toda manhã, mas esqueci de dizer que não posso seguir à risca essa determinação, porque há dias, ou melhor, há noites em que preciso discutir os assuntos com amigos, o que prejudica o desempenho do blogueiro na manhã seguinte. Agora tenho encontro com uma dentista, e depois preciso pegar a biblioteca aberta para realizar algumas pesquisas; de maneira que só poderei voltar à noite.

DISCUTINDO A METÁFORA
Atualizado em 23 de outubro de 2009 às 12:40 | Publicado em 23 de outubro de 2009 às 12:24

por Luiz Carlos Azenha

Nem parece que vivemos no Brasil, um país com problemas gravíssimos que demandam algum tipo de composição política para resolvê-los. Até recentemente, não fazer nada servia à elite econômica do país. Não fazer nada implicava em administrar as demandas sociais de forma a fazer o menor número possível de concessões à grande maioria dos brasileiros.

Lula não rompeu com essa lógica, embora tenha alargado as bases para as quais se espalharam os benefícios do dinheiro público. O presidente da República foi absorvido pela elite brasileira dentro de parâmetros bem definidos: mude, para que a gente mantenha nossos privilégios. Esses privilégios se perpetuam na confluência de interesses entre os donos de terra, de meios de comunicação e de mandatos federais, no Congresso.

A Globo fala mal de Sarney, aliado de Lula, mas não desfaz os negócios que tem com Sarney no Maranhão. A Globo fala mal de Collor, aliado de Lula, mas não desfaz os negócios que tem com a família Collor em Alagoas. São disputas políticas que não implicam em um rompimento do acordão das elites que tem permitido a elas manter seus privilégios no Brasil por tanto tempo.

A agenda de Lula deixou intocados esses privilégios. Não houve mudanças institucionais profundas como as que aconteceram na Venezuela, no Equador e na Bolívia, que levaram a uma recomposição social, política e econômica. É por isso que o presidente falou recentemente na necessidade de votar uma consolidação das leis sociais. O quadro de aumento do salário mínimo e de expansão dos programas sociais, para usar apenas dois exemplos, pode ser revertido com uma simples canetada pelo próximo ocupante do Planalto, se ele quiser.

A falsa polêmica sobre as declarações de Lula de que, se necessário, Jesus faria acordo com Judas em nome da governabilidade, não deixa de ser reveladora da estreiteza de nosso debate político. Querendo marcar pontos junto à opinião pública, opositores distorcem as declarações para dizer que Lula "fala com Cristo", cometeu algum tipo de heresia ou foi infeliz na metáfora.

Politicamente, Lula falou uma verdade incômoda para todos os progressistas e todos os candidatos à presidência da República que se apresentam como progressistas. Não dá para governar o Brasil sem alianças que impliquem na rendição prévia aos interesses da elite brasileira que descrevi acima. Os limites da mudança são dados antes mesmo de cada eleição presidencial.

E a sociedade brasileira, cada vez mais conectada e informada, tem pressa. Vivemos uma profunda crise social, da qual os meios não se dão conta por estarem unicamente interessados em noticiar para e em defesa da elite política e econômica. A crise sai nos jornais via noticiário policial: explosões de violência nos morros do Rio, confrontos nos trens de subúrbio cariocas, enfrentamentos entre moradores e a polícia em Heliópolis e outros bairros de São Paulo. A questão social sempre foi e continua sendo tratada essencialmente como um problema de polícia, no Brasil. A simples existência das polícias "militares" é uma demonstração clara disso.

Um aspecto pouco analisado da recente entrevista do presidente Lula diz respeito ao fato dela ter sido dada logo depois do fechamento da aliança PT-PMDB. Lula escolheu a Folha de S. Paulo, um jornal que tem entrada junto ao empresariado paulista. Em minha modestíssima opinião, o recado dele aos empresariado paulista foi claro:

Sou um realista político e jamais endossarei rupturas. É melhor mudar com Dilma do que embarcar em "aventuras". Vocês sabem muito bem que nem de esquerda eu sou.

À direita a oposição entendeu e tentou usar algumas opiniões e metáforas presidenciais para desqualificar o conteúdo da mensagem. À esquerda a mensagem de Lula foi entendida e causou desconforto por Lula ter prometido, indiretamente, que Dilma será mais do mesmo: um reformismo cauteloso que manterá intocados os interesses essenciais da elite brasileira.

Politicamente, a manobra de Lula é muito inteligente. Ele ocupa o centro político, incorpora a "moderação" diante dos "radicais" à esquerda e à direita. O único problema é saber se as demandas sociais, que se multiplicam junto com as tecnologias de informação, cabem dentro do velho molde de uma aliança entre o PTB e o PSD em pleno século 21.

Link original do artigo.


***

CELSO LUNGARETTI: DE LULA-LÁ A PILATOS
Atualizado em 22 de outubro de 2009 às 15:40 | Publicado em 22 de outubro de 2009 às 15:34

por Celso Lungaretti (*)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu longa entrevista a Kennedy Alencar, que é matéria-de-capa da Folha de S. Paulo e está integralmente reproduzida na Folha On Line.

O que dela se filtra é, principalmente, a metamorfose do Lula num mais do que competente político convencional.

Caíram do cavalo os que apostavam na sua incapacidade de pensar, falar e agir como presidente da República, por ter formação escolar apenas básica.

Pelo contrário, suas palavras e raciocínios são os mesmíssimos dos presidentes que essa gente erige como modelos.

Decepção real é a dos idealistas que apostaram nele e fizeram campanhas voluntárias, com doação extrema dos seus esforços, para colocá-lo no poder.

A faixa presidencial o fez esquecer ideologia e se tornar mais um adepto do realismo político, com tudo que isso tem de sinistro num país tão desigual e tão injusto como o Brasil.

Lula já emitiu, com outras palavras, o conceito de que só um desmiolado continua esquerdista ao se tornar sexagenário.

Agora ele acrescentou outras pérolas na mesma linha. P. ex.: "Não utilizo mais a palavra burguesia".

Coerentemente, qualifica Roger Agnelli (presidente da Vale) e Eike Batista (o homem mais rico do Brasil) com a mesma expressão: "grande executivo".

Eu preferia os tempos em que ele designava tais figuras como burgueses fdp. Mas...

Também é chocante ouvir Lula confessar que suas afirmações aparentemente tão convictas de outrora não passavam de papo furado: "Quando se é oposição, você acha, pensa, acredita. Quando é governo, faz ou não faz. Toma decisão".

Ou seja, se você não tem o poder, o que diz não passa de retórica inconsequente. Quando você está no poder, aí sim é que mostra quem realmente é, por suas atitudes.

Deu-me razão. Há anos venho afirmando que o Governo Lula se define mesmo é por sua política econômica -- no caso, neoliberal, idêntica à de FHC.

Fiquem os leitores sabendo que ele concorda com este critério. Discurso é conversa pra boi dormir, o que vale é a ação.

E a atuação concreta do Governo Lula prioriza o grande capital, os banqueiros e o agronegócio. Em suma, os burgueses, que continuam existindo e sendo socialmente perversos e nocivos, pouco importando a forma como os denominemos.

Lula também deixa claro o motivo de hoje fazer coro aos reacionários em suas críticas aos MST:

"Em 2002, fizemos uma pesquisa em que 85% diziam que a reforma agrária tinha de ser pacífica. Levei mais de 15 dias para que minha boca pudesse proferir reforma agrária tranquila e pacífica. Essas mudanças têm de ter. Algumas coisas que a gente fala, pensando que está agradando, não batem com o que povo pensa".

Só esquece de dizer que o que o povo pensa tem 99% a ver com o que a grande imprensa martela na sua cabeça. E que a cobertura das ações do MST é extremamente tendenciosa e distorcida.

Mas, para um político convencional, o que importa mesmo é aquilo que o povo acredita ter concluído por conta própria, embora, na verdade, lhe tenha sido impingido pela indústria cultural.

Então, se houver considerável maioria de posições contra o MST, nas tais pesquisas de opinião nunca totalmente confiáveis, é nesta direção que o político Lula irá. Sorry, MST!

"JESUS TERIA DE CHAMAR JUDAS PARA FAZER COALIZÃO"

O Lula realista só não aprendeu a falar muito sem dizer nada, como fazem os outros políticos convencionais. Às vezes, seus excessos retóricos permitem que descortinemos a verdade oculta atrás dos biombos.

Seu maior ato falho, desta vez, foi proclamar em alto e bom som o que realmente são os partidos da base aliada:

"Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Depois disto, nada mais surpreende.

Nem a defesa que faz de sua própria atuação no Sarneygate, não por considerar inocente o "grande republicano" (é assim que Lula se refere a ele noutro trecho), mas porque, se fosse feita justiça, a presidência do Senado seria assumida por um tucano. Ah, a maldita governabilidade, quantas infamias se cometem em seu nome!

Nem sua justificativa tosca ("Não tenho relações de amizade, mas relações institucionais") para a atual promiscuidade com figuras que o Lula do passado abominaria, como Fernando Collor, Renan Calheiros e Jader Barbalho.

Nem sua entendiado descaso, só faltando bocejar ("Palocci pode reconstruir a vida dele"), diante da incompatibilidade extrema entre o que Antonio Palocci fez (mobilizar todo o poder do Estado contra um mero caseiro) e a proposta original do PT (representar os humildes e os fracos na sua luta contra os poderosos).

O Lula realista, que admite fazer alianças com quaisquer judas, escolheu ser Pôncio Pilatos: lava as mãos dos resíduos imundos da governabilidade e vai em frente.

Que nunca lhe falte sabonete, e que não venha a ter também nas mãos o sangue dos inocentes -- é o que lhe desejo.

*Jornalista e escritor, Celso Lungaretti mantém os blogues: naufrago-da-utopia.blogspot.com/ e celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

Link original desse artigo.

22 de outubro de 2009

Nem todos são inocentes no "Leblon"

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O título é uma brincadeira meio sem graça em torno do nome do articulista da Carta Maior, Saul Leblon, que publicou um artigo muito bom no site da Carta Maior. Aliás, a Carta Maior traz diversos artigos excelentes. Vale a pena conferir e ler todos, com calma. Observo que a ferocidade e mau caratismo das mídias latino-americanas e sobretudo seu monolitismo ideológico conseguiram uma proeza que eu julgava impossível. A esquerda latino-americana está deixando para trás o seu troskismo fragmentante e inepto, que converte qualquer força ou movimento político num saco de gatos mordendo-se uns aos outros, e adquirindo maior consciência de si mesma e dos perigos à sua volta. Está aprendendo a medir as correlações de força onde se encontra e perdendo aos poucos aquele melindre preconceituoso, aquele jeito ongueiro e reacionário de ser, que tanto prejudicou a esquerda durante a era da redemocratização. Aquela esquerda cabelo-no-suvaco, rancorosa, acadêmica, pusilânime na relação com a imprensa, eclesiástica, desprovida de astúcia, desleal, vaidosamente midiática, perdeu espaço para uma outra, com mais jogo de cintura, mais graça, experiente, popular, culta sem ser pedante, valente no enfrentamento da imprensa, leal, astuta, uma esquerda de mulheres bonitas e homens espirituosos. Enfim, é um processo cultural mais profundo e mais importante do que, simplesmente, ganhar espaço eleitoral. Os modos de pensar (eufemismo mais suave para se referir às ideologias) disputam espaços na sociedade civil. Por isso insisto que a política não se resume às disputas mais visíveis - mas acontece também nos subterrâneos de cada consciência. Na literatura, na ciência, nas artes, na TV, no cinema. Na blogosfera, estamos bastante conscientes dessa competição: quem escreve melhor, quem leu mais livros, quem argumenta com mais elegância, tudo isso conta na guerra silenciosa e terrível que se trava no íntimo de milhões de mentes ainda inseguras quanto a seu caminho. Há toda uma geração de poetas no Brasil que lêem e admiram o senhor Olavo de Carvalho, que é um imbecil e um louco.

Quem conhece bem o cinema americano, pode observar como a esquerda estadunidense vem se refugiando, há 50 anos, na produção cultural. Da mesma forma que os negros conquistaram a música norte-americana, a esquerda conquistou corações e mentes através de seu maior trunfo, o anticonservadorismo, esse discurso que até hoje seduz a juventude. Para citar casos recentes, vale a pena ver o filme Boa noite, boa sorte, dirigido por aquele homem, coitado, sem nenhum charme ou beleza, George Clooney, para ver o que é fazer um cinema com densidade política e alta qualidade estética, coisa que o Brasil, infelizmente, encontra grande dificuldade de fazer (vide o melancólico Batismo de Sangue). Lá se vão os tempos em que o cinema brasileiro sabia equilibrar beleza e inteligência. Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber), Os Fuzis (Ruy Guerra), Ao sul do meu Corpo (Saraceni), são exemplos de cinema que alcançaram um patamar universal justamente em virtude dessa densidade dialética entre a política e a arte. Por outro lado, o cinema brasileiro conseguiu dar um salto em relação aos anos 80 e 90. Os últimos 10 anos foram bastante férteis. Mas acho que falta um pouco de maturidade. Há uma espécie de síndrome de adolescente entre os produtores de cultura no Brasil... Voltarei a falar disso em outra ocasião. Estou ansioso pela hora em que teremos a oportunidade de discutir cinema à vera aqui no blog.

*

Quero dizer que a esquerda latino-americana já se deu conta de que seus adversários políticos usam a mídia corporativa como sua principal arma. É preciso, todavia, não esquecer que essas mídias foram estruturadas e consolidadas durante a sombria época totalitária vivida em todos os países do continente. A luta contra essa mídia, portanto, é a continuação da luta contra a ditadura. A tática de conciliação só é válida se articulada dialeticamente com o enfrentamento. Entretanto, mais importante que tudo, é a criação de novas referências culturais, que existam fora do âmbito das mídias convencionais. Nos anos 60, existiam revistas especializadas em cinema, música, política, que possuíam grande prestígio junto à opinião pública. Hoje temos sites e blogs. É preciso prestigiar esses sites e blogs, encontrar alguma forma de ajudá-los, inclusive financeiramente. Por exemplo, fazendo uma assinatura da Carta Diária Óleo do Diabo (risos)... Desculpem enfiar essa propaganda vulgar no final do texto. Não resisti. Abraço a todos.

*

Abaixo um trecho do artigo do Leblon ao qual me refiro no início do post.

A repetição e o alcance dos mesmos métodos e argumentos nas mais diferentes latitudes parece indicar que estamos diante de um fenômeno de recorte histórico mais geral. O fato é que o conservadorismo está acuado em diferentes fronteiras após o esfarelamento econômico e político do credo neoliberal. A falência dos mercados financeiros desregulados na maior crise do capitalismo desde 1930 já é reconhecida, à direita e à esquerda, como um novo divisor histórico.

Corroído em seus alicerces de legitimidade pela falência de empresas, famílias e bancos, ademais do recrudescimento do desemprego e da insegurança alimentar - inclusive nas sociedades mais ricas - o conservadorismo vê sua base social derreter. A radicalização do seu ‘braço midiático’ soa como uma tentativa derradeira de reverter o processo ainda nos marcos da democracia, desqualificando o adversário mais próximos formado por partidos e governos progressistas. A radicalização é proporcional à ausência de um projeto conservador alternativo a oferecer à sociedade.

Abre-se assim uma etapa de absoluta transparência, uma radicalização aberta; um embate bruto de forças em que a mídia dominante não tem mais espaço para esconder os interesses que representa. Tampouco parece ter pejo em descartar uma neutralidade – que, diga-se, a rigor nunca existiu - mas da qual sempre se avocou guardiã para descartar a democratização efetiva dos meios de comunicação. A isenção parece, enfim, não representar mais um valor passível sequer de ser simulado.

A diferença entre o que acontece no caso brasileiro e o resto do mundo é o grau de envolvimento do governo na reação em sentido contrário a essa ofensiva. A liberdade de informação e o contraditório aqui respiram cada vez mais por uma rede de blogs e sites de gradiente ideológico amplo, qualidade crescente e capacidade analítica incontestável. Mas ainda de alcance restrito. O protagonismo do governo e o dos partidos e sindicatos que poderiam ir além na abrangência de massa, é tíbio.