É por essas e outras que não dou a mínima para diploma universitário. Quando vejo essas matérias falando que concurso para gari tinha tantos bacharéis, mestrandos e doutores, eu penso que está muito bem. Está na hora desses doutores começarem a botar a mão no lixo. Quem sabe não aprendem a viver?
Penso nisso porque ainda me recupero de uma notícia lida na Folha, sobre uma estudante de Turismo que foi quase linchada na Universidade de São Bernardo (Uniban) porque vestia uma microssaia. Reflitam comigo. A garota saiu de casa, numa comunidade pobre, sem ser molestada na rua. Entrou num ônibus, onde causou apenas o frisson natural. Enfim, circulou por toda a parte tranquilamente.
É na Universidade, porém, que ela encontrou o ambiente mais agressivo, mais preconceituoso, mais brutal. Centenas de estudantes se aglomeraram em volta dela gritando "Puta! Puta! Puta!". Rapazes tentavam pôr o celular entre suas pernas para tirar fotos. Ela teve que ser escoltada por seis policiais militares para sair do prédio.
Há uma explicação para isso. É a prepotência do fraco. O sujeito entra na universidade e acha que é melhor que os outros. Perde a humildade natural do ser humano. Perde o senso democrático.
30 de outubro de 2009
Universidade dá aula de preconceito
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Caro Miguel,
Merecida essa repercussão de um ato de baixeza de caráter do gênero humano.
Mas, mais do que mostrar algum comportamento específico de "universitários", mostra que eles, no que diz respeito a comportamento, não tem nada, ou muito pouco, de diferente do que de qualquer outro aglomerado de pessoas (como as cantadas de trabalhadores de construção civil em horario de trabalho, excursões escolares de adolescentes), ao contrário do que gostariam de acreditar.
Mas lamentável tanto os causadores de tamanho pandemônio, como também as baixas tentativas de explicação pelos protagonistas dessa vergonha.
prezado livio, o que eles fizeram foi muito pior do que cantadas de pião de obra. Eles ameaçaram estuprar, ofenderam, agrediram.
ei, miguel,
e essa merda de universidade não teve um professor ou funcionário que encarasse essa corja de fdp?
que coisa nojenta, rapaz!
Sim, covardemente escondidos pelo anonimato da multidão, essas pessoinhas mostraram o pior dos seus valores.
Mas, universitário é muito mais do que isso, né? E um campus não representa o grosso do pensamento do corpo discente, que ainda leva cacetetes de policiais, e etc.
Miguel, foi-se o tempo em que título acadêmico era sinal de bom senso. Com essa expansão das universidades e o lixão da sociedade pós, pós... não espere comportamentos éticos, meu caro, isso é mode on!! Estamos na era do salve-se!
Dizem que os reacionários da UNIBAN vão repetir o "show" contra esta pobre moça. Cadê o Ministério Público que não age? E a própria universidade, o que fez até agora além de mandar apagar os vídeos? Trata-se de uma gente que pensa que ser moderno é andar por aí com um MP3 no ouvido, quando modernidade é, antes de tudo, ser democrático. Como seres não pluridimensional estes reacionários acompanham o primeiro esturro da boiada. É a cultura bovinóide.
Segue link para interessantes textos sobre o ser unidimensional
http://www.google.com.br/search?source=ig&hl=pt-BR&rlz=1R2ADFA_pt-BRBR343&q=unidimensional+marcuse&meta=lr%3D&aq=6&oq=unidimensional
Veja Caro Miguel, isso não acontece só na universidade, não! leia minha experiência.
UMA ESCOLA CRIATIVA DIZ MENOS “NÃO”
Claudeci Ferreira de Andrade
Ontem vi um cartaz na Escola Senador Canedo que dizia: “é proibido mini-saia e micro-saia” [sic]. A pesar da escrita não está nos padrões do acordo ortográfico, mas ficou extremamente claro o recado taxativo. Infelizmente eu não sei qual a diferença entre os dois tipos de saia e creio que muitos não saibam, porém o que importa é a intenção proibitória, objetivando tornar o ambiente escolar “respeitoso” e “moralista”. Esse não seria exatamente o tipo de cartaz que eu aconselharia a colocar em escola alguma, nem de brincadeira! Mas, o apelo fora feito e eles devem ter seus motivos plausíveis. Até porque, tem quem goste.
Assim falando, talvez não vá me entender facilmente, mas vou tentar escrever o que tenho em mente sobre o assunto. Parece verdade que assim alguém está tentando impedir a manifestação de autoestima das adolescentes. E cada vez que se impede de revelar, expor, evidenciar o mais precioso e cobiçado que elas acham que têm: um corpo jovem e bem delineado, mais acreditam não ter valor aos olhos dos outros. Sentem-se tão sem identidade que por isso tentam através das vestimentas “míni” uma busca de reconhecimento. As escolas deveriam trabalhar mais com o “sim” que com o “não”. Dizer sim ao intelectual dessas meninas ao invés de incentivar a ocupá-lo o tempo todo, procurando driblar a circunstância, debatendo-se para decidir o que vestir em quanto deveria está decidindo que atividade escolar fazer primeiro.
Todo trabalho da escola deveria ser construir ou restaurar o verdadeiro senso de valor e dignidade nos jovens, não estou querendo dizer que é papel da escola incentivar que eles andem pelados, mas dá prioridade ao amor acolhedor, ensinar o caminho da intelectualidade, como usufruir das relações saudáveis, e andar sabiamente, quem sabe assim eles cheguem a conclusão que deva expor mais roupas e menos corpo nu?
A escola é a comunhão da cultura de todos os lares ali representados, e ela existe para preparar academicamente o indivíduo para retornar um técnico a sociedade. Formar cidadão para vida é discurso irresponsável de quem não consegue fazer nem uma coisa e nem a outra, educar para a vida é responsabilidade da família, com seus princípios culturais. Talvez a escola pública é o que é, por está sobrecarregada com a dupla função, tomou as responsabilidades da família e não faz bem nem uma coisa nem a outra. Mas, ela deveria pelo menos restaurar a autoestima dos jovens que ela mesma destruiu, pois não sabem ler nem escrever, não passam em concursos concorridos, desempregados e com outras deficiências acadêmicas, procuram nas bijuterias e na nudez a admiração social. A Prova Brasil o a Saeb pegou as escolas públicas goianas de “calça curta”, ou melhor, de minissaia, porque o foco educacional tem sido outro: proíbe-se boné, saia curta, camiseta de time, óculos escuros, aparelho celular. Aliás, uma escola que proíbe o uso do aparelho celular em sala de aula não tem futuro, pois "Escola de ensino fundamental na China. Uso de notebooks já é realidade em sala de aula desde a mais tenra infância" (http://planetainteligente.blog.terra.com.br/2009/04/10/como-sera-a-escola-do-futuro/) (10/04/2009). Conheço duas professoras que usam didaticamente o aparelho celular, uma de matemática incentiva o manuseio da calculadora do aparelho, a outra de sociologia criou a “colinha educativa” permitindo que os alunos escrevam no celular. Uma escola criativa diz menos “não”.
Adotar e fornecer um uniforme constitui-se um filtro sutil para resolver pelo menos que os ranços domésticos, nesse assunto de vestimentas, interfiram na escola. Termino com as palavras da psicóloga Élide Camargo Signorelli: “uma verdadeira preparação para a vida reservaria lugar para certo despreparo no sentido de se estar aberto para o desconhecido e para os mistérios”.
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