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6 de julho de 2010

Registros importantes

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Nossa querida Mrs.Little Big Pig anda bem atacada. No dia 4, grunhiu alto em seu blog, dizendo que Lula representa uma "ameaça à democracia", e hoje, em sua coluna, volta a seu esporte predileto, atacar o presidente, focando desta vez em sua política externa. Não vale a pena comentar, todavia, porque ela não tem argumentos novos. É a mesma ladainha de sempre. Deixo somente o registro por aqui, para a gente saber o que estas pessoas estão dizendo.

*

A imprensa prestou muita atenção ao fato da coordenação da campanha petista ter enviado um texto ao TSE e depois ter recuado, mandando um outro, mais comportado, e devidamente negociado com o PMDB. Merval Pereira não deixou escapar a oportunidade:

Numa manobra tão rápida quanto o receio de revelar seus verdadeiros propósitos e chocar a parte do eleitorado que ainda acredita que Dilma é tão flexível ideologicamente quanto Lula, o programa foi alterado horas depois, com a retirada de pontos polêmicos como o imposto sobre grandes fortunas.

De fato, a coordenação de Dilma cometeu um erro grosseiro, ao não enviar o programa acordado previamente com o PMDB, que é seu principal aliado nas eleições.

É curioso, no entanto, a ausência total de críticas ao fato do PSDB ter enviado, como programa de governo, "duas falas" de José Serra. O PT tinha um programa partidário pronto, e um outro em conjunto com o PMDB. O PSDB não tinha nada. Mandou dois discursos de Serra. E depois Lula que é Luis XIV? Onde está o debate democrático dos programas de governo? Vão me desculpar, mas desta vez terei que citar um adversário:

- Isso é uma vergonha!

*

Tomas Rosa Bueno manda um outro belo texto sobre a incrível manipulação midiático-imperialista em torno da questão iraniana.

3 de novembro de 2008

Quando voam as cegonhas

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Em 1957, o mundo assistiu, embevecido, o novo filme do diretor russo Mikhail Kalatozov, Quando voam as cegonhas. O título não tinha muita ligação com o enredo. A mocinha protagonista gostava de contemplar as cegonhas voando no céu, em formação, e cantar uma musica que falava nesses pássaros tão peculiares, que passam o ano atravessando o país para fugir do terrível inverno asiático. Em breve, a felicidade dela se transformará em pesadelo, por causa dos ataques nazistas à União Soviética, que levam seu noivo a se alistar no exército e sumir de sua vida.

Penso nesse filme ao analisar os resultados das eleições municipais deste ano. As cegonhas observadas pela jovem russa não informavam nada sobre o futuro de dor e solidão que a guerra lhe traria. Assim os resultados eleitorais. Pode-se interpretar o vôo dos candidatos sob inúmeros aspectos, mas o que acontecerá daqui pra frente, as batalhas políticas e intempéries a ser enfrentadas pelos cidadãos, é impossível prever. Se não podemos saber para onde voam as cegonhas, contudo, podemos especular sobre o que vemos: o ritmo com que batem asas, sua velocidade, a altitude de seu vôo, quem é o líder, etc.

Gostaria de compartilhar alguns pensamentos sobre as eleições em duas cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. Embora tenham vivido situações políticas e partidárias bastante distintas, é possível inferir alguns pontos em comum. O que mais me chamou a atenção, é o caráter extremamente classista que as eleições tomam nos grandes centros urbanos.

São Paulo

Na maior cidade brasileira, houve uma forte polarização entre Marta Suplicy, candidata do PT e muito próxima do presidente Lula, e Kassab, do DEM, ligado ao governador José Serra. Marta registrou desempenho espetacular nos bairros mais pobres. Em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, Marta obteve 77% dos votos válidos. Kassab destacou-se nas áreas mais ricas: em Jardim Paulista, teve 84% dos votos. Qual o significado desses números? Para mim, eles revelam exatamente onde está concentrada, geograficamente, a direita e seu eleitorado. Ao contrário dos EUA, onde os conservadores têm força principalmente em áreas periféricas onde residem operários urbanos, a direita brasileira apóia-se, para sobreviver, num fenômeno puramente geográfico: a concentração de pessoas ricas em São Paulo, em poucos bairros. Creio que a esquerda paulistana poderia crescer substancialmente se patrocinasse uma campanha para que os milhões de nordestinos que vivem na cidade transferissem para lá seu título eleitoral.

Rio de Janeiro

No Rio, ocorreu situação similar. Gabeira foi quase unanimidade nas áreas ricas. No Jardim Botânico e Lago, ele obteve 75,8% dos votos. Desconfio que ele só não teve um percentual maior nos bairros nobres porque eles possuem tradicionais enclaves “populares” (eufemismo para favelas). Paes, por outro lado, registrou seu melhor desempenho na região mais pobre, 69% em Santa Cruz e Campo Grande. Gabeira ganhou musculatura em virtude da forte concentração de votos na zona sul, ali nas mesmas ruas por onde circularam manifestações em prol da família, propriedade e religião, num nem tão distante final de março de 1964. O caminho para a esquerda carioca é, por um lado, investir politicamente na periferia, através de ações públicas substantivas e de grande impacto, em prol da saúde, educação e cultura; de outro, procurar reconquistar parte do eleitorado ultra-jovem que votou em Gabeira patrocinando iniciativas ligadas à internet, como sites de discussão política voltados para os jovens.

Lições

Acho que as lições mais importantes que podemos tirar dessas eleições é que o processo de escolha do canditado se dá muito antes do calendário eleitoral. Os ricos estão fortemente organizados para apoiar seus candidatos. Os jovens não têm mais um perfil ideológico. No Rio, sua impulsividade natural tem se revelado, desde a época de Collor, altamente manipulável por televisão e jornais.

22 de outubro de 2008

Por que não voto em Gabeira

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Agora as coisas estão mais claras, mais definidas. Anteontem, no mesmo dia em que as centrais sindicais alinharam-se em torno da candidatura de Eduardo Paes, o deputado federal Fernando Gabeira foi recebido com honra e festa pelo Clube Militar, aquele antro de generais de pijama, direitistas até no pêlo das axilas. Os militares entrevistados admitiram que o apoio à Gabeira, ex-sequestrador de diplomatas, era algo "inusitado". A explicação seria o empenho de Gabeira em lutar contra a corrupção. Lacerdismo em estado puro.

Ficou bem mais fácil agora. A eleição polarizou-se. E daí que os artistas globais votam em Gabeira? Quando Lula tinha apoio de todos os artistas da televisão, quando todos cantavam juntinhos e felizes e esperançosos a musiquinha lulalá brilha uma estrela, lulalá, o Lula só perdia eleição. Em 2006, quando já nenhum artista global arriscava-se a apoiar abertamente Lula (os que o fizeram foram escancaradamente perseguidos e humilhados em praça pública, como Wagner Tiso, Paulo Betti, etc), aí que Lula registrou sua vitória mais esmagadora.

Como dizia Nelson Rodrigues, toda unamidade é burra. A unanimidade da classe artística em torno de Gabeira é burra. Quem é Fernando Gabeira? Andei folheando seus livros. Amontoado de besteirol. Mesmo o famoso Que é isso, companheiro? não passa de uma suposta crítica ao "machismo" da esquerda. Que fez ele como deputado federal? Fernanda Torres aparece na TV afirmando que uma das melhores contribuições do Rio ao país foi ter eleito Fernando Gabeira como deputado federal. Ela esqueceu, porém, de dizer o seguinte. Gabeira não ganhava eleição pelo PV, então mudou para o PT, ganhou as eleições, e saiu do PT meses depois. Elegeu-se com dinheiro e recursos do PT, e mal assumiu seu cargo tornou-se o mais feroz inimigo do partido e do governo que o tinha eleito. Vira casaca e traíra. Seus discursos contra a corrupção sempre foram seletivos. Votou a favor da reeleição golpista de FHC. Onde estava o paladino da ética quando FHC vendeu a Vale por 1 bilhão de reais em moedas podres?

Um rapaz abordou Gabeira na rua e cobrou o apoio que ele deu à privatização. Gabeira respondeu o bordão tucano: "você tinha celular antes?". Ora, ninguém tinha celular antes da privatização, certo. E sabe por que? Porque o celular não fora inventado!

Na verdade, nem sou contra a privatização do sistema telefônico brasileiro. Mas tenho certeza que o governo poderia ter exigido uma série de contrapartidas, sendo a principal delas estabelecer preços de ligação mais baixos. Certo, todo mundo tem celular hoje. Mas ninguém pode fazer ligação, ahaha. A ligação é tão cara, que 90% das pessoas que possuem celular apenas recebem. A ligação de celular pré-pago custa mais de R$ 1 por minuto. De vez em quando eu ponho uns R$ 20 no meu celular. Dura dias, e aí fico meses apenas recebendo. Meus amigos têm celular, mas quase ninguém liga para ninguém. Todo mundo com seu celular "pai-de-santo", que só "recebe".

A propaganda de Gabeira só tem musiquinha. E Arnaldo Jabor me vem com mais um de seus flatulentos artigos: que Kassab e Gabeira são o equivalente ao fenômeno Obama! Tenha dó! O apoio midiático e da direita à candidatura da direita e a submissão sexual da classe artística me enojam.

Em relação às drogas, vocês acham que Gabeira irá fazer qualquer coisa que vá de encontro ao seu novo eleitorado conservador? A última posição realmente corajosa sobre as drogas foi tomada por Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro, Pmdbista e apoiador de Eduardo Paes, que afirmou recentemente, e repetiu diversas vezes depois, que é favorável à legalização das drogas. Não descriminalização. Legalização mesmo. E Gabeira, falou alguma coisa? Nada. Gabeira tem como certo o apoio dos milhões de cariocas, jovens ou não, que orbitam em torno da cultura da maconha. Mas essas pessoas são ingênuas. O próprio Gabeira afirmou que Sérgio Cabral tem uma posição "excessivamente" liberal em relação às drogas.

Eduardo Paes tem sido muito mais substantivo que Gabeira sobre um problema que aflige imensamente os cariocas: a saúde pública. Enquanto Caetano canta cidade maravilhosa, Paes promete abrir Unidades de Pronto Atendimento (UPA) em todo município. Além disso, há o fator político. Gabeira assumiu sua posição há tempos. É mais um garoto propaganda do PSDB. E assim continuará. Sua vitória no Rio fortalecerá a plataforma de campanha de José Serra em 2010.

Ontem eu quase vomitei ao ler a seguinte notícia: que os médicos do município não recebiam salário há dois meses, sendo essa uma das razões da paralização do atendimento no hospital Miguel Couto, o segundo maior da cidade. E o mais absurdo é que os médicos não pagos são os contratados pelo regime privatista de cooperativa, essa invenção tucana que enriquece dois ou três donos de cooperativa e empobrece os milhares de médicos que trabalham dia e noite para salvar vidas. A prefeitura admitiu o atraso e disse que ocorreram "problemas administrativos". Ora, problemas administrativos é o caralho! É falta de vergonha na cara atrasar salário de médico! Ainda mais médico de emergência! De médicos que já sofrem por serem contratados sob o regime precário e inseguro de cooperativa, em vez de serem, como deveria ser, admitidos como funcionários públicos, com todos seus direitos trabalhistas garantidos.

E sabe quem é responsável, desde que César Maia surgiu no horizonte político carioca, pela área de saúde pública no Rio? O PSDB. Na verdade, Gabeira representa simplesmente a continuidade. Seus quadros serão os mesmos do atual prefeito, pois o PV também fazia parte da gestão Maia. O maior nome do PV no Rio, Alfredo Sirkis, é homem do César Maia. O PSDB tem sido, há anos, aliado de César Maia.

Essas são as razões para eu não votar em Gabeira, e sim em Eduardo Paes. Quando eu lembrar de outras, escrevo aqui.

21 de outubro de 2008

Pelo voto universal

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Mauro Santayana é um dos jornalistas que mais admiro atualmente, pela elegância e argúcia de seu texto. Hoje o Paulo Henrique Amorim reproduziu sua coluna no Jornal do Brasil. Selecionei o trecho abaixo. Depois comento.


Santa Bárbara, próxima de Belo Horizonte, fica nas encostas da Serra do Caraça. É vizinha do mais famoso educandário da província, em que estudaram algumas das personalidades políticas mais destacadas em seu tempo, como Affonso Pena e Arthur Bernardes. Recordo-me de velho comerciante do lugar, Saulo ou Paulo, não me lembro bem, porque conversamos por acaso. Era véspera eleitoral, e lhe perguntei se iria votar no PSD ou na UDN. Ele me disse que estava pensando. “Pensando nos candidatos”?

- “Não, menino, pensando no mundo”. E me disse de suas preocupações, que vinham de Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, a Juscelino, então governador do Estado, passando por Getúlio, já sob o tiroteio da oposição. – “Meu votinho pode não valer de nada para o mundo, mas vale para mim mesmo. Não quero ficar arrependido, por isso ainda estou pensando”.

Muitas campanhas recentes, em lugar de mostrar, com transparência, as razões desse ou daquele voto, têm embaçado os problemas do mundo, do Brasil e dos Estados. É engano pensar que a administração do prefeito escolhido esgota-se em si mesma. Ela implica resultados políticos, e todos nós pensamos, todos nós temos idéias, logo é estultice imaginar que as ideologias estão mortas. Enquanto houver a hegemonia de uns sobre os outros – no mundo e dentro das sociedades nacionais – as idéias serão as armas dos injustiçados.

Logo depois das eleições, encontrei-me, novamente por acaso, e em Belo Horizonte, com o interlocutor de Santa Bárbara. Ele votara, como me disse, em Juscelino. “Como, em Juscelino?” – perguntei, já que a eleição fora para prefeito. Explicou que pesara o mundo, pesara o Brasil e pesara Minas. Votara com Minas, pensando no Brasil e no mundo. Votara em uma aliança do então PSD de Minas com o PTB de Getúlio. E foi exatamente essa aliança que levou Juscelino ao governo da República, nas eleições de 1955. Ao olhar pela janela, devemos ver a rua, mas, além da rua, o mundo.


O texto possui um charme antigo, um encanto nostálgico de um tempo em que a utopia por um país melhor não fora tornada cafona, a política era levada à sério, com paixão e inteligência. Mas não caiamos na esparrela melosa de que eram tempos melhores. Não, o Brasil não tinha petróleo nem gasolina, e havia uma massa de milhões de cidadãos ainda excluídos do processo eleitoral brasileiro. Mais da metade da população era analfabeta e a miséria grassava e matava nos sertões com uma violência de peste negra. O jornalismo, porém, ainda tinha um romantismo e, ironicamente, apesar de um mercado consumidor menor, cidades como o Rio de Janeiro possuíam muito mais jornais de boa qualidade. O Globo já era um jornal importante, mas era superado em tiragem e prestígio pela Última Hora, Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Havia também a Tribuna da Imprensa e o Jornal do Commércio.

O que me tocou no texto, contudo, foi a singeleza do velho comerciante. Ao meditar em quem votaria para prefeito de uma pequena cidade mineira, Santa Bárbara, ele pensava antes no país e no mundo. Acabou optando por um prefeito aliado à Juscelino Kubischek, estadista que veio a ser fundamental para continuar as reformas iniciadas por Getúlio Vargas.

Na enquete ao lado para saber o melhor candidato para o Rio, noto que a maioria dos leitores do blog estão se dividindo entre o voto nulo e o voto em Eduardo Paes. Os votos neste último são votos pensando no Brasil e no mundo. A ligação de Gabeira com os partidos que representam a direita, o PSDB e o DEM, tem sido determinante para se não votar nele. Santayana nota a leviandade de se pensar que o voto num prefeito não implica em consequências maiores para o país e o mundo.

Confesso à vocês que nunca levei tão à sério uma eleição municipal. Em São Paulo, é fácil. No Rio, a coisa está mais difícil, pelas razões que já apresentei aqui. Muitos leitores vêm argumentando pesadamente contra o candidato Fernando Gabeira. Esse artigo do Santayana mexeu comigo e me fez pensar novamente nas consequências nacionais de uma vitória de uma coligação formada por Gabeira e os partidos da direita na segunda maior cidade do país.

20 de outubro de 2008

Nova enquete no blog

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Inaugurei nova enquete no blog, sobre os candidatos a prefeito no Rio, aí do lado. Continuo verificando enorme preferência por Fernando Gabeira junto à classe artística, em proporção à ojeriza a ele por parte de pessoas mais conectadas à realidade nacional e à luta partidária. Um amigo leitor do blog me disse que não aguenta mais a minha indecisão. Nem eu. Estou puto comigo mesmo. Vamos ver quem vence a enquete: ela vai me influenciar, com certeza.

12 de outubro de 2008

O dilema Gabeira II

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A eleição no Rio gerou confusão no eleitorado ideológico. Conservadores votando em Gabeira, defensor da liberação das drogas e do aborto? Esquerdistas votando em Paes, quinta-coluna tucano infiltrado no PMDB, verdugo midiático de CPI, ex-PFL, ex-pupilo de César Maia? Os partidos e lideranças de esquerda do estado articularam-se a favor de Paes, mas sem entusiasmo, procurando buscar unidade através de repúdio comum (um pouco forçado) ao representante do velho udenismo, o candidato Carlos Lacerda Gabeira. Não deixa de ser irônico que o lacerdismo conservador retorne vestindo sunguinha de crochê, fumando maconha e fichado como sequestrador de diplomatas americanos.

Adriana Calcanhoto, Frejat, Caetano Veloso, a maior parte da classe artística, apóia entusiasticamente Gabeira. Fazem-no com sinceridade, não para ganhar docinhos do Globo. Identificam-se com o "jeito avançado de ser" de Fernando Gabeira, ou mesmo por identificar nele uma personalidade "artística". Afinal, Gabeira é um talentoso artista, um ator, um performer.

Atacar Gabeira é extremamente delicado e receio que a sua candidatura servirá, como está servindo, para ampliar a distância entre as lideranças e instâncias partidárias de esquerda e o eleitorado jovem. Ao mesmo tempo, não creio que a estratégia mais eficaz para compreender o fenômeno Gabeira seja desclassificar o discernimento da classe artística e da juventude, tratando-as, simplesmente, como alienadas. A ascenção de Gabeira tem como causa a falência da esquerda, notadamente de sua vertente carioca, de superar os debacles conceituais e políticos sofridos pelo socialismo durante a década de 90. A esquerda carioca alinhou-se à oposição desde o primeiro ano do primeiro mandato de Lula, em 2003. Alternando entre o brizolismo decadente e um extremismo caricatural e festivo, a esquerda carioca marginalizou-se e possibilitou a ascensão de Gabeira que, no fundo, senão identifica-se ideologicamente com essas esquerdas, veste-lhes as mesmas roupas, frequenta a mesma praia e os mesmos bares. Apoiando Gabeira, o eleitorado de esquerda carioca, há tempos incomodado com o cerco ideológico patrocinado por mídia & elites, respira aliviado, porque pode expressar seu cosmopolitismo liberal sem o risco de sua opinião ser ridicularizada em rede nacional por Arnaldo Jabor, João Ubaldo Ribeiro, Demétrio Magnoli, Merval Pereira, para ficar apenas no Globo.

A situação de dependência comercial da classe artística carioca (resenhas, status), e de perseguição ideológica, da classe média em geral, diante das organizações Globo, é algo monstruoso. Um escritor, um cineasta, um músico, um artista plástico, que não beije a mão dos cardeais das ruas Jardim Botânico e Irineu Marinho, terá um caminho espinhoso diante de si. Artistas (a maioria, pelo menos) não são lutadores políticos, não têm paciência nem interesse nem força moral para exercer a luta política – por isso Virgílio (o poeta, não o senador) dedicou seus versos à Cesar, e Caravaggio e Michelangelo pintaram para a Igreja Católica. Alguns menos afortunados, ao envolverem-se em pelejas políticas, como Dante Alighieri e Ovídio, perderam suas propriedades e amargaram humilhante exilio. Dostoiéski, depois de ser vítima de uma encenação de fuzilamento, ser trancado por quatro anos junto à criminosos comuns e passar mais 9 anos exilado na Sibéria, aprendeu a lição e se tornou um "neutro" na relação com o czarismo – embora nem assim tenha se livrado de ver sua revista ser proibida pela censura da época.

Raríssimos, como William Blake, garantiram sua independência dominando a edição e distribuição de seus próprios trabalhos. Com o surgimento da internet, todavia, surgiram novos movimentos de resistência, independentistas, que podem sonhar, e lutar por isso, com uma cultura não dominada por corporações midiáticas. Alguns músicos, como o Racionais MC, ficaram ricos sem beijar a mão da mídia. Ao contrário, ganharam prestígio com letras extremamente agressivas em relação ao mundinho cor-de-rosa pintado pelos meios de comunicação.

O irônico é que Gabeira, o avançado Gabeira, está recebendo um apoio absolutamente personalista. Seus eleitores não votam em sua plataforma política, em sua aliança de partidos, em sua ideologia. Até porque Gabeira, confessadamente, é um pós-ideológico, um neo-liberal verde. Num mundo sem ideologia, com partidos e instituições políticas desprestigiadas por décadas de campanhas midiáticas negativas, quem poderá nos salvar senão uma referência ética, um símbolo da liberdade sexual, uma figura que une uma visão ideológica conservadora a um liberalismo aristocrático? Um político que defenda a riqueza e o direito de usá-la comprando drogas me parece uma mescla perfeita para o eleitorado zona sul.

Confundindo ainda mais o eleitorado, Gabeira recebe apoio de ministros, governadores e senadores petistas, como Carlos Minc, Jaques Wagner e Marina Silva, e do ícone maior do comunismo brasileiro, Oscar Niemayer. Afinal, Gabeira tem dois importantes trunfos para conquistar o eleitorado progressista: seu passado de guerrilheiro marxista, e suas posições avançadas quanto ao homossexualismo, ecologia e drogas. Não é pouca coisa, embora possa se acusar o primeiro de ser uma moeda falsa, não atualizada ao câmbio ideológico de hoje, e o segundo de serem bandeiras puramente cosméticas, não defendidas na prática dura da vida. Qual o histórico de luta de Gabeira em prol do meio-ambiente? Em prol dos gays? Em prol da liberação das drogas? Há que analisar detidamente esse histórico e o que ele propõe hoje a respeito.

Gabeira projetou-se no imaginário recente da classe média brasileira por sua participação vigorosa nas CPIs e no Congresso Nacional, como paladino da ética. Ajudou a eleger Severino Cavalcanti, um obscuro, impopular e caricatural nordestino, e depois agiu com o presidente da casa como a Casa Grande deve tratar a Senzala. A cena de Gabeira com o dedo apontado para Severino, ameaçando derrubá-lo, constitui um marco do coronelismo e do preconceito. E do golpismo. Virou santo, naturalmente, no altar dos jornais conservadores e da Veja.

Logo após as eleições de primeiro turno, os repórteres flagraram Gabeira, falando ao celular, referindo-se a uma popular vereadora da zona oeste como "suburbana" e "analfabeta política". Para alguém que tem seus votos principalmente na zona sul, a frase de Gabeira não poderia ser mais sintomática.

Entretanto faça-se justiça. Não é correto afirmar que Gabeira é candidato do César Maia ou do DEM. O César Maia apóia Gabeira porque não tinha para onde correr, porque o candidato verde tem aliança com o PSDB e mantém uma posição crítica e mesmo oposicionista ao governo Lula.

No meu caso, ainda estou tropeçando nas pernas. A candidatura Gabeira embebedou-me. Sobretudo em vista de seu adversário, o mauricinho camaleão Eduardo Paes. Ainda indeciso, assistirei ao debate entre dois na Globo, hoje, domingo 12 de outubro, que talvez me permita formar uma opinião mais consistente.

De qualquer forma, acho que o retorno do debate político e ideológico às eleições municipais cariocas significa um avanço. Vejo o pleito carioca com otimismo, porque sepultou a carreira política de César Maia e, consequentemente, prejudicou a de seu herdeiro, Rodrigo Maia, atual presidente do DEM. Uma eventual vitória de Gabeira não seria a meu ver, uma inserção tucana no estado, e sim mais uma prova de que o PSDB só poderá voltar a crescer aproximando-se da esquerda.

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Em São Paulo, creio que a direita está cantando vitória antes da hora. E parte da esquerda derramando lágrimas precoces. Até pouco antes das eleições, Marta Suplicy despontava na liderança isolada. Esse é um fato incontestável. E o PT cresceu de maneira extraordinária na Grande São Paulo, conquistando as cidades mais importantes do rico ABC paulista. A direita quer transformar uma possível derrota de Marta numa catástrofe política do petismo. A manchete de outro dia de um jornalão paulista ecoava uma pesquisa do IBGE que dizia que a área de influência da cidade de São Paulo chega a 40% do PIB nacional. A pesquisa é certa, mas a manchete é bairrista, tendenciosa, exagerada e provinciana. Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se dizer que o Rio de Janeiro, ao sediar Petrobrás e BNDES tem "influência" sobre um terço do PIB latino-americano.

10 de outubro de 2008

Meditações pós-invernais

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É... o mundo mudou. Os EUA cogitam estatizar seus principais bancos. A Islândia, referência mundial em qualidade de vida e democracia, já o fez. A Inglaterra também, na prática, ao comprar mais de US$ 800 bilhões em títulos de instituições financeiras, impondo uma série de exigências. Esta crise colocou em questão os dogmas mais caros do capitalismo neo-con e, portanto, pode-se afirmar que ela causou irreparáveis danos ideológicos ao capitalismo em si. Fez-me pensar, então, no valor de uma ideologia. Quanto vale uma ideologia? Um trilhão, dois trilhões, dez trilhões de dólares? Quanto será necessário para a civilização entender que a humanidade não pode ficar à mercê do cassino das bolsas? Que grandes corporações privadas não podem subsitituir o Estado e as organizações internacionais coordenadas entre Estados.

Há tempos que venho observando similitudes entre a realidade contemporânea e a época medieval. Os senhores feudais dominavam o mundo – hoje são grandes corporações. Eles tinham moeda própria – as empresas de hoje têm ações. Os senhores feudais articulavam-se contra a formação do Estado moderno, inclusive ideologicamente. O pensamento corporativo, neocon e direitista de hoje também mobiliza-se, com muito êxito, contra o Estado. Os novos ventos ideológicos que sopravam ao fim da idade média não significaram o fim do capitalismo, assim como as mudanças que se discutem atualmente também não o significarão – ao contrário, a revolução francesa representou a verdadeira fundação do capitalismo moderno, baseado em leis igualitárias que salvaguardavam não apenas a propriedade mas sobretudo o direito universal dos homens à liberdade e à dignidade. Está certo que nem tudo que está no papel corresponde à prática, mas seria desonesto negar o tremendo avanço que as constituições pós-revolucionárias trouxeram para o mundo moderno. Elas trouxeram, em primeiro lugar, a própria modernidade.

A história não se move com passinhos curtos. Analisando-a atentamente, observamos que a civilização humana, desde seus primórdios, evolui através de fatos grandiosos: guerras monstruosas; impérios erguidos quase que subitamente, e que depois desabam também de forma brusca; pestes devastadoras que dizimam milhões; e crises econômicas. Aliás, as crises econômicas, de longe, sempre foram os principais motores da história. Todas as ideologias foram concebidas e desenvolvidas a partir de reflexões, ponderadas ou desesperadas, sobre crises econômicas.

Creio que esta crise que vivemos é a que poderá ser enfrentada com mais sabedoria pela humanidade, pois as novas tecnologias permitem uma articulação entre países e entre diversos segmentos econômicos que nunca existiu antes. Mais: hoje existe uma interação informacional com as massas. A internet produziu uma grande rede, que é como um grande cérebro mundial, ainda não acostumado a pensar, ainda caótico, mas que pensa, articula, reage e influencia as decisões globais.

O Brasil, nesse contexto, é um país altamente privilegiado. A crise financeira tem levado desespero a países que, efetivamente, viviam de crédito, como os EUA. Em outras palavras, viviam de ostentação, de riquezas que não mais possuíam. Agora terão que mudar seus hábitos, simplificarem suas vidas. Andar mais de bicicleta, por exemplo. Comer menos. Talvez seja bom para a saúde. Já o Brasil... tem uma produção industrial e agrícola pujante e crescente, uma economia literalmente baseado no ferro, no aço, nos alimentos e, agora, no petróleo, ou seja, uma economia real que só tem a ganhar com o estouro das bolhas financeiras, que geram otimismo falso para economias decadentes.

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As eleições municipais em Rio e São Paulo merecem ser objeto de minunciosa reflexão. São as duas maiores cidades do país, com eleitores relativamente politizados (embora não necessariamente bem informados), cuja opinião e votos devem ser respeitados. Não adianta simplesmente menosprezar o voto paulistano, taxando-o de conservador, malufista, tucano, mal-informado. É preciso compreender em profundidade porque o paulistano é conservador e rejeita particularmente o PT.

Tenho achado as explicações aventadas pela esquerda para o sucesso tucano no estado de São Paulo (não esquecer que o partido manteve o controle da maioria dos municípios paulistas) bastante simplórias e auto-defensivas. Concordo, por exemplo, que o discurso de "vamos conquistar a classe média", levantado pelo PT paulista, em especial por Marta Suplicy, tem sido ingênuo e contra- producente. Soa, em verdade, direcionado apenas à classe média alta, uma infima embora barulhenta minoria. A classe média média e classe média baixa, esmagadora maioria, podem até votar em conjunto com seus pares mais ricos, mas suas demandas são completamente distintas.

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A dialética e o dilema de Gabeira

Sobre o Gabeira, uma reviravolta. Apóio o Gabeira. Tenho razões ideológicas, partidárias, municipais e culturais. Gabeira está ligado às grandes demandas cariocas, ecologia, drogas, a loucura. É forte. Prefeito é um agente político, existe o aspecto universal. O Rio guarda relações profundas com Gabeira. Primeiro, o aspecto ecológico. Há um elo selvagem fundamental entre o carioca e a natureza. Mesmo com toda a destruição verificada nas últimas décadas, o Rio é uma das metrópoles que mais convive com o verde, a floresta, além da baía, os rios, as belíssimas montanhas cobertas de mata atlântica que rodeiam e atravessam o município. Cidade de índios guerreiros, quilombos, abolicionistas, republicanos radicais, o Rio tem vocação para metrópole cosmopolita artística vanguarda cultural política. Por isso também é elitista. No sentido cultural e espontâneo de elite, que é desvinculado diretamente (embora indiretamente, claro, está ligado à questão de classe) do financeiro. Tanto que Gabeira ganhou não só na Zona Sul, mas também Zona Norte, ou seja, mostra que Gabeira invadiu o lado mais intelectual do subúrbio, que é Vila Isabel, Tijuca, Andaraí, Méier, Madureira, etc. A Zona Norte é imensa. Se Gabeira ganhou na Zona Norte, ele rompeu com o estigma de ser elitista.

Oscar Niemayer apóia Gabeira. O governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, torce pelo Gabeira. A juventude carioca torce pelo Gabeira. A mesma lógica que leva PT e PcdoB a não apoiarem Gabeira é a que os leva a terem representação insignificante no estado. Não compreendem (e diga-se de passagem, se fossem legítimos comunistas, compreenderiam) a dialética local do Rio de Janeiro. Gabeira é um símbolo, e símbolos são essenciais na política, especialmente na política brasileira, que é personalista. E daí que Gabeira aliou-se aos tucanos? O PV é um partido não-ideológico. Isso que é importante entender, tanto que o partido compõe a base governista, a nível nacional, com Gilberto Gil, por exemplo, ministro da Cultura até poucas semanas atrás, e ao mesmo tempo alia-se a partidos de oposição em diversos estados.

De qualquer forma, é preciso entender que o candidato é Fernando Gabeira, defensor da liberação das drogas, gays, aborto, e não somente um aliado dos tucanos. No frigir do bife, Gabeira tem muito mais história, tem muito mais a doar, e a perder, do que Eduardo Paes, almofadinha recém-convertido, oportunisticamente, ao lulismo. Vocês sabem que apóio o Lula, mas hoje em dia qualquer safado se pendura, despudoradamente, no cangote de Lula, sem ter o mínimo de bagagem ideológica, política ou moral, e Paes é um deles; melhor, é o rei deles, é o maior de todos os caras-de-pau que se penduram no prestígio do presidente para ganhar votos e apoio político. Por isso voto no Gabeira. Lula – nem o Brasil, e muito menos o Rio - não precisa de mais um puxa-saco corrupto. Não deve criar mais uma cobra para lhe morder depois – já chega o Roberto Jefferson. Isso que Eduardo Paes é: X9, desleal, corrupto. É bobagem jogar Gabeira no colo da direita. A esquerda deve atrair o Gabeira para si; afinal, ele, obviamente, se identifica com as bandeiras da esquerda, no que toca às drogas, aborto, gays. Seu lado privatista, mercadológico, deslumbrado com o capitalismo, é uma ideologia, coitado, que acaba de ser desmoralizada pela crise financeira mundial, que está obrigando governos (leia-se Estadeo) do mundo inteiro a ampliarem o seu espaço e soberania e poder sobre as economias privadas locais. Gabeira, naturalmente, observará isso. O mundo, o Rio de Janeiro, precisa hoje de bicicletas, preservação da natureza (limpar a baía de guanabara, etc) e cultural. Gabeira pode estar do nosso lado, desde que estejamos do lado dele. É idiotice a esquerda carioca isolar o Gabeira. É isolar-se de si mesma. A esquerda carioca tem que, humildemente, compreender a opinião de seu eleitor, que está votando no Gabeira, sob o risco de desrespeitá-lo e perdê-lo. O apoio oficial e partidário da esquerda à Eduardo Paes e, do outro lado, os votos maciços que ele terá na esquerda, com possível vitória, ou derrota em margem apertada, podem representar um prejuízo político enorme à esquerda fluminense, tendo como causa os mesmos erros que levaram-na à estagnação e decadência dos últimos anos. A esquerda fluminense tem muitos defeitos: é sectária, ingênua, elitista, mal-informada, comercial, fragmentada, radical, intolerante, retrógrada, ignorante, anacrônica. Em todos os outros estados, a esquerda reformou-se. No Rio, não. Ao contrário, os radicalóides todos vieram pra cá, tentar a sorte. Aqui é sede do PSTU, PSOL e onde os brizolistas resistem heroicamente à derrocada do socialismo internacional. Todos votarão em Gabeira. Sua posição crítica ao Lula, e a dignidade com que lida com isso agora, sem a hipocrisia (como fez Alckmin, Kassab, Paes, e tantos outros candidatos) de se pendurar nas costas do Lula., procurando, ele Gabeira, notabilizar-se por suas próprias idéias, por sua trajetória particular, também ganham pontos junto a esquerda, direita, traseira e diagonal norte de todos os cariocas.

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Entrei no prédio e o porteiro estendeu-me um envelope. Era uma cortesia da editora Abril, uma revista Veja, acompanhada de carta informando-me que eu (na verdade, minha esposa) fora especialmente escolhido para receber, gratuitamente, seis edições da renomada publicação. Imaginem minha alegria. Não, sério. Imaginem minha expressão facial, dentro do elevador, segurando nas mãos, um exemplar da revista Veja. A primeira coisa que pensei, naturalmente, foi: safados! É assim que eles mantém os números de tiragem no IVC (Instituto Verificador de Circulação). Eles mandam de graça. Assim mantém o número místico de 1 milhão. Agora... falando sério, analisando friamente. A Veja é uma merda. Claro que sou suspeito, mas a qualidade jornalística da Veja caiu abaixo de qualquer padrão imaginável. A coluna do Diogo Marnardi, que tristeza, que previsível. Sabe o que ele fala? Mal do Brasil, que novidade. Aliás, pensando bem, é prova de lealdade à seu jeito traíra de ser. Lealdade à traição. Democracia é isso, respeita seus traidores. Mas despreza-os. Sempre soube disso: a melhor forma de reagir ao desprezível, é desprezá-lo. Sejamos mais altivos e confiantes. Desprezemos os desprezíveis, e só. Se fulaninho despreza o Brasil, então que seja desprezado pelo Brasil. Sejamos independentes. O lema de Oiticica, Seja Marginal, Seja Herói, deve ser atualizado para Seja Independente, Seja Feliz. Herói o caralho. Temos que ser independentes, felizes se possível, ricos se possível. Somente assim a arte, o jornalismo, a filosofia, o futebol, a ciência, irão adiante, evoluirão, no Brasil. E viva Antônio Conselheiro, Luiz Gonzaga, Lampião, Zumbi, Bezerra da Silva, Raul Seixas, Chacrinha, Sganzerla, Glauber, Dylan Thomas, Dylan, Rimbaud, Cezanne, Van Gogh, El Greco, Josué de Castro e Cartola.

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Propostas revolucionárias: acabar com os impostos sobre pessoa física e jurídica (incluindo imposto de renda), criando apenas 2 impostos: um sobre o consumo e outro sobre a movimentação financeira. Depois explano mais essa idéia. Outra: extingir as câmaras de vereadores e o Senado, medidas que implicariam na economia de bilhões de reais ao Estado brasileiro, sem trazer nenhum dano, ao contrário, à democracia brasileira. Vereador e senador não servem, com perdão da palavra, para porra nenhuma.

7 de outubro de 2008

Pés no chão

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Tenho visto manifestações triunfalistas por parte da esquerda e gostaria de fazer um contra-ponto. De fato, a base aliada ao governo Lula ampliou fortemente sua presença nos municípios. Entre as 77 maiores cidades do país, a base aliada levou 34 vitórias no primeiro turno; a oposição levou 14. Haverá segundo turno em 29, sendo que em 15 não há candidatos da oposição.

As eleições corresponderam a uma importante vitória política para o PT e demais partidos de esquerda e a tentativa midiática de negar esse fato tem se revelado patética. As facilidades da internet estão permitindo e estimulando que as pessoas façam suas próprias contas. O site do TRE, informatizado e interativo, permite a produção de qualquer gráfico: por partido, por estado, por cidades com mais ou menos de 200 mil habitantes, por capital.

No entanto, é preciso evitar o salto alto. Tentarei destacar pontos que poucos estão abordando. Muito se tem falado da polaridade de PT X PSDB, deixando-se sempre de lado o PMDB, que seria um partido atrasado e decadente. As urnas não mostram isso. O PMDB consolida-se como o partido com maior número de votos do país e que possui o maior número de prefeituras.

Ao que tudo indica, o PMDB será o grande fiel da balança eleitoral brasileira nos próximos 4 anos. O partido elegeu 1.193 prefeitos no primeiro turno de 2008, assumindo a liderança em quantidade de votos, com 18,42 milhões de votos nominais. Em seguida, vem o PT, com 16,48 milhões de votos, mas com um número de prefeituras ainda inferior a do PSDB - os tucanos levaram 778 cadeiras, contra 545 levadas pelo PT.

Considerando o PMDB como situado bem ao centro do espectro político (e mesmo com inclinação mais à direita do que à esquerda), podendo tender para PT ou PSDB de acordo com as circunstâncias, há um equilíbrio apertado entre as diferentes correntes ideológicas.

O momento é de comemoração, certo, mas também de meditar sobre a necessidade de continuar atualizando e modernizando o discurso político, com vistas à fortalecer a esquerda e preparar terreno para as próximas décadas. O Brasil ainda possui demasiados problemas sociais a serem resolvidos antes da direita voltar ao poder e estragar tudo.

Abaixo uma tabela, com a relação de quantas prefeituras e quantos votos cada partido obteve. Repare que PMDB e PT figuram no topo da lista, com 18,4 e 16,4 milhões de votos, cada um, seguidos de PSDB e DEM, com 14,4 e 9,29 milhões de votos. A direita perdeu votos mas continua na cola. Se o PMDB virar a casaca, como acredito que fará, no caso de uma vitória de Serra em 2010, o quadro se inverterá rapidamente.

O ponto fraco do PSDB é a extrema concentração no estado de SP. Um terço de todo seu eleitorado nacional está em SP. Outros partidos têm penetração muito mais diversificada. Esse fato explica-se pelo apoio que o PSDB possui junto à mídia impressa paulista, a mais importante do país, e pelo fato do governador ser tucano e principal nome do partido para disputar as eleições presidenciais de 2010.

Outra lição é a debilidade eleitoral da chamada ultra-esquerda. O PSTU registrou apenas 77 mil votos num universo de mais de 130 milhões de eleitores! O PCO teve menos de 10 mil votos. Nenhum conseguiu eleger sequer um vereador em nenhum dos cinco mil municípios. Considerando que são partidos já bastante consolidados e conhecidos, é uma lição para toda a ultra e extrema-esquerda, inclusive PSOL, que obteve um número um pouco mais razoável de votos, 795 mil votos, porque todos seus integrantes projetaram seus rostos e nomes em campanhas pagas pelo PT. Tais resultados mostram a necessidade da esquerda brasileira prosseguir caminhando para o centro, mas sempre muito consciente da linha divisória com a direita. Indo ao centro, a esquerda conseguirá captar e integrar melhor o PMDB (movendo-o um pouco para a esquerda) e vencer tranquilamente as eleições em 2010.

O PCdoB, partido que tem exercitado um pragmatismo admirável, sem abrir mão de seus princípios, obteve resultados eleitorais extraordinários: elegeu em todo o país 39 prefeitos e 608 vereadores. O número de prefeitos quadruplicou em relação às eleições de 2004, enquanto o de vereadores cresceu 122,7%. O melhor desempenho foi na Bahia: 18 prefeitos e 149 vereadores comunistas eleitos. Nas capitais, o partido reelegeu no primeiro turno o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, enquanto Flávio Dino enfrenta no dia 26 o tucano João Castelo, em São Luís.


Clique na tabela para ampliar.



16 de março de 2008

Eleições 2008: Boas perspectivas para o Rio

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As eleições municipais no Rio trazem boas perspectivas de mudança. A melhor delas é o fim da dinastia César Maia. A entrada de Gabeira na disputa acirrou a concorrência e qualificou o pleito. Não gosto do Gabeira porque acho que ele tem jogado muito para platéia. Mas não deixa de ser irônico que a direita nacional (leia-se PSDB) tenha se curvado a um ex-guerrilheiro, defensor da maconha e ecoxiita de primeira linha.

Se o Gabeira ganhar as eleições será uma ótima oportunidade para ele viver a experiência de vidraça. De qualquer forma, se ele não descambar pavorosamente para a extrema-direita, inclusive na questão das drogas, como acontece às vezes com alguns ex-guerrilheiros, ex-comunistas e ex-hippies mundo afora, ele pode ter a oportunidade de fazer uma boa administração. Mas terá que fazer alianças políticas com Sérgio Cabral e com Lula. Vamos ver.

Se o vencedor for o Crivella, não sei bem o que vai acontecer. Seguramente, o Globo, anti-evangélico até os ossos, inclusive por razões comerciais (a Record, sua concorrente, pertence ao Edir Macedo) não irá dar trégua. Mas o Crivella não é o bicho papão que o Globo diz. Seus interesses têm um cunho fortemente social que pode ser interessante para o município há décadas governado pela direita - nas raríssimas vezes que a esquerda governou, foi em momentos macro-econômicos nacionais desastrosos.

Hoje, com a economia vivendo um bom momento, o próximo prefeito do Rio de Janeiro poderá fazer uma administração para ficar na história, desde que não a use como trampolim político (como Serra fez em São Paulo) para ser governador ou presidente.

O candidato que o César Maia queria impor, Solange Amaral, só dá traço nas pesquisas e provavelmente continuará dando. Assim gorou o acordo patético que Maia fez com Garotinho para o PMDB ficar com a vaga de vice. O que me espanta é o PMDB, maior partido fluminense, cogitar ser vice de uma candidata apática como Solange Amaral, do DEM. Só mesmo o Garotinho, mais preocupado em marcar oposição ao Lula do que propor algo de novo e positivo para o Rio, pra entrar numa canoa furada dessas. Outro dia, li uma notícia que Garotinho tinha sido internado com falta de memória e confusão mental. É, depois daquela greve de fome ridícula que ele fez contra as denúncias do Globo, não me surpreenderia se eu topasse com o Garotinho vagando pelas ruas, catatônico, falando sozinho, xingando o Lula.

Eduardo Paes, ex-PSDB, agora PMDB, preferido do Sergio Cabral, também não é uma opção ruim para a cidade. Não por seu histórico pessoal, que não é lá essas coisas, mas por ser aliado do Sérgio Cabral, que vem fazendo um bom governo (à parte a truculência ainda não resolvida da Polícia). De qualquer forma, pela primeira vez em muitos anos, teremos um leque de bons candidatos para o Rio.