7 de outubro de 2008

Pés no chão

Tenho visto manifestações triunfalistas por parte da esquerda e gostaria de fazer um contra-ponto. De fato, a base aliada ao governo Lula ampliou fortemente sua presença nos municípios. Entre as 77 maiores cidades do país, a base aliada levou 34 vitórias no primeiro turno; a oposição levou 14. Haverá segundo turno em 29, sendo que em 15 não há candidatos da oposição.

As eleições corresponderam a uma importante vitória política para o PT e demais partidos de esquerda e a tentativa midiática de negar esse fato tem se revelado patética. As facilidades da internet estão permitindo e estimulando que as pessoas façam suas próprias contas. O site do TRE, informatizado e interativo, permite a produção de qualquer gráfico: por partido, por estado, por cidades com mais ou menos de 200 mil habitantes, por capital.

No entanto, é preciso evitar o salto alto. Tentarei destacar pontos que poucos estão abordando. Muito se tem falado da polaridade de PT X PSDB, deixando-se sempre de lado o PMDB, que seria um partido atrasado e decadente. As urnas não mostram isso. O PMDB consolida-se como o partido com maior número de votos do país e que possui o maior número de prefeituras.

Ao que tudo indica, o PMDB será o grande fiel da balança eleitoral brasileira nos próximos 4 anos. O partido elegeu 1.193 prefeitos no primeiro turno de 2008, assumindo a liderança em quantidade de votos, com 18,42 milhões de votos nominais. Em seguida, vem o PT, com 16,48 milhões de votos, mas com um número de prefeituras ainda inferior a do PSDB - os tucanos levaram 778 cadeiras, contra 545 levadas pelo PT.

Considerando o PMDB como situado bem ao centro do espectro político (e mesmo com inclinação mais à direita do que à esquerda), podendo tender para PT ou PSDB de acordo com as circunstâncias, há um equilíbrio apertado entre as diferentes correntes ideológicas.

O momento é de comemoração, certo, mas também de meditar sobre a necessidade de continuar atualizando e modernizando o discurso político, com vistas à fortalecer a esquerda e preparar terreno para as próximas décadas. O Brasil ainda possui demasiados problemas sociais a serem resolvidos antes da direita voltar ao poder e estragar tudo.

Abaixo uma tabela, com a relação de quantas prefeituras e quantos votos cada partido obteve. Repare que PMDB e PT figuram no topo da lista, com 18,4 e 16,4 milhões de votos, cada um, seguidos de PSDB e DEM, com 14,4 e 9,29 milhões de votos. A direita perdeu votos mas continua na cola. Se o PMDB virar a casaca, como acredito que fará, no caso de uma vitória de Serra em 2010, o quadro se inverterá rapidamente.

O ponto fraco do PSDB é a extrema concentração no estado de SP. Um terço de todo seu eleitorado nacional está em SP. Outros partidos têm penetração muito mais diversificada. Esse fato explica-se pelo apoio que o PSDB possui junto à mídia impressa paulista, a mais importante do país, e pelo fato do governador ser tucano e principal nome do partido para disputar as eleições presidenciais de 2010.

Outra lição é a debilidade eleitoral da chamada ultra-esquerda. O PSTU registrou apenas 77 mil votos num universo de mais de 130 milhões de eleitores! O PCO teve menos de 10 mil votos. Nenhum conseguiu eleger sequer um vereador em nenhum dos cinco mil municípios. Considerando que são partidos já bastante consolidados e conhecidos, é uma lição para toda a ultra e extrema-esquerda, inclusive PSOL, que obteve um número um pouco mais razoável de votos, 795 mil votos, porque todos seus integrantes projetaram seus rostos e nomes em campanhas pagas pelo PT. Tais resultados mostram a necessidade da esquerda brasileira prosseguir caminhando para o centro, mas sempre muito consciente da linha divisória com a direita. Indo ao centro, a esquerda conseguirá captar e integrar melhor o PMDB (movendo-o um pouco para a esquerda) e vencer tranquilamente as eleições em 2010.

O PCdoB, partido que tem exercitado um pragmatismo admirável, sem abrir mão de seus princípios, obteve resultados eleitorais extraordinários: elegeu em todo o país 39 prefeitos e 608 vereadores. O número de prefeitos quadruplicou em relação às eleições de 2004, enquanto o de vereadores cresceu 122,7%. O melhor desempenho foi na Bahia: 18 prefeitos e 149 vereadores comunistas eleitos. Nas capitais, o partido reelegeu no primeiro turno o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, enquanto Flávio Dino enfrenta no dia 26 o tucano João Castelo, em São Luís.


Clique na tabela para ampliar.



3 comentarios

José Carlos Lima disse...

A vitória do PT vai além das prefeituras conquistas e dos votos que recebeu.
É que o partido opotou por alianças, de forma que, somente em BH, se o PT tivesse lançado candidato, teria tido milhões de votos a mais.
Em goiânia compôs com o PMDB, de forma que aqui os votos petistas também não são computados.
E se o PT tivesse lançado no RJ um candidato com densidade eleitoral, o partido teria tido milhões de votos a mais.

Anônimo disse...

Caro Miguel,
se não estou enganado, muitos votos dados a candidatos do PMDB foram oriundos do apoio dado pelo PT e, especialmente, pelo Presidente Lula, não?
Abraços.

José Augusto Valente disse...

O PT amadureceu e participou destas eleições em coligações com o PMDB, PDT, PCdoB, entre outros. Em muitas dessas como vice. Em outras, "apenas" terá a participação no governo.
Seria interessante analisar esses números: PT na cabeça, PT na vice, PT apenas no governo

Esse é o que eu acho o grande salto em 2008, rumo a 2010.

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