A mídia e suas alquimias. A liderança do candidado Marcio Lacerda, do PSB, partido da base governista, tendo como vice Roberto Carvalho, à prefeitura de Belo Horizonte, tem sido considerada apenas como vitória de Aécio Neves, do PSDB. Não vejo bem assim. O mais importante, a meu ver, é a força da esquerda na capital mineira, tanto que obrigou um partido de centro-direita, a não apenas desistir de ter candidato próprio como apoiar partidos contra os quais faz oposição a nível nacional.
Aliás, de modo geral, a esquerda continua vivendo um momento de vigorosa expansão no Brasil, na esteira do que ocorre em toda a América Latina. A direita se vê acuada, em crise, com seus principais partidos encolhendo ou tendo que ocultar suas plataformas ideológicas e ludibriar eleitores mostrando seus candidatos junto a fotos montadas de Lula.
Que dizer de Geraldo Alckmin afirmando a seus eleitores que "com Lula, tudo bem, o problema é o PT"? Ou de Kassab divulgando fotos suas ao lado do presidente e afirmando, em todas as entrevistas, que Lula é um grande político e que tem ajudado tanto São Paulo? Onde está a oposição? Até Rosinha Garotinho, em Campos, mostrou fotos de Lula em sua propaganda! Rosinha Garotinho! Queria saber se o maridão, por causa disso, irá fazer outra greve de fome...
*
O Globo e suas malícias. Tá ficando difícil, Deus, cada dia mais difícil. Hoje, ele vem com manchete dizendo que "BC libera 28 bilhões de reais para bancos pequenos e médios". Tomei um susto porque, se existe uma coisa que estraga meu humor, é ver a boa vontade dos Estados com banqueiros em crise. A matéria procura confundir o leitor, porque não esclarece que não haverá dinheiro público envolvido, e sim a flexibilização de um regulamento, permitindo que os grandes bancos comprem carterias de crédito de instituições menores.
Se houvesse dinheiro público envolvido, eu seria contra, e continuo pasmo de ver com que placidez e empatia os editorialistas encaram ajuda estatal para instituições financeiras privadas, na contra-mão de seu ódio visceral contra qualquer investimento público na melhoria da vida dos mais pobres.
A manchete do Globo cumpre a velha estratégia da direita brasileira de "dividir para governar". Foi a direita que mais vendeu a teoria de que Lula e o PT teriam traído seus ideais, abrindo generosamente suas páginas para a extrema esquerda e para qualquer agente intelectual insatisfeito com as "concessões" do governo ao capital. O objetivo é dividir a esquerda, isolando o governo de suas bases ideológicas e políticas. Em 2003, quando o governo ainda tinha que administrar o país com orçamento aprovado pela gestão anterior, apostou-se pesadamente nessa estratégia, criando efetivamente uma divisão na esquerda, com dispersão de vários quadros históricos do PT. A reforma da Previdência, por exemplo, foi pintada como uma traição aos ideais socialistas, como se limitar a aposentadoria pública a R$ 2.400 ao mês (com possibilidade de muito mais, devido aos fundos de pensão especiais dos setores organizados do funcionalismo público), fosse um grande traição aos que lutam para combater a pobreza no país. Bem, a história passou. Lula provou que não era contra o funcionalismo público. Ao contrário, seu governo proporcionou uma recuperação consistente das folhas salariais e muitas estruturas foram reformadas ou mesmo reconstruídas. Heloísa Helena, influente e respeitada senadora da República, eleita com recursos financeiros, políticos e humanos do PT, caiu na armadilha e passou a vociferar contra seu próprio partido e seu próprio presidente, usando os mesmos argumentos da direita midiática. Ela, Chico Alencar, Babá, entre outros, esqueceram que falta de lealdade também denota ausência de ética. Deslealdade e a ingratidão relevam mau-caratismo, obtusidade e arrogância. Não é questão de "ser cúmplice" de crimes ou corrupção, e sim evitar julgamentos precipitados e ter humildade e sabedoria de saber que todo ser humano é um criminoso em potencial. O tempo passou e hoje ela luta para eleger-se vereadora em Maceió, fazendo uma campanha obscura, fugidia, sem plataforma, com medo de despertar no eleitor nordestino (onde Lula tem índice de popularidade superior a 90%) a lembrança de seus discursos viperinos contra o governo.
Lembro-me de um discurso do senador Francisco Dornelles, um inveterado conservador que tem lá suas razões para apoiar Lula (é um político não midiático, que sempre ganhou votos por sua relação próxima com o eleitorado, não tem aquele nojentismo aristocrático de alguns caciques da direita), defendendo Renan Calheiros. Aprendi a respeitar Dornelles porque ele evoluiu para um político pragmático e progressista, que defende redução de juros, investimento na indústria nacional e mais verbas para os setores desassistidos. Pois bem, Dornelles subiu à tribuna logo após Pedro Simon, que havia feito um de seus surrados discursos éticos. Dornelles disse que havia senadores que confundiam a ética com a sua própria pessoa, e que consideravam qualquer pessoa que não seguisse o seu estrito comportamento pessoal, aí incluindo hábitos sexuais (o pivô do escândalo de Renan fora seu caso extra-conjugal com Mônica Veloso) não seria um "ético".
*
Sobre as eleições cariocas, o PT tinha que apoiar a Jandira. É um absurdo que o partido não tenha tido a visão e a generosidade de aliar-se a uma candidata forte, com penetração em todas as camadas sociais e regiões da cidade. Agora passa pela humilhação de terminar o pleito com menos de 4% dos votos, segundo as pesquisas, e deixar a esquerda de fora do segundo turno fluminense. Depois de tudo que o PCdoB fez e faz pelo PT e pelo governo, a falta de visão petista mostrou-se egoísta e muquirana. Resultado: Paes e Crivella no segundo turno e o meu voto nulo.
3 de outubro de 2008
Esquerda se fortalece no Brasil
Tweet Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Gostou deste artigo? Então assine nosso Feed.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Miguel, o que você acha pior no segundo turno: Paes X Gabeira ou Paes X Crivella? É o que corremos o risco de ter votando agora na Jandira. É uma pena, mas não vai dar pra ela mais. A esquerda - isto é, PT, PSOL (esquerda?), etc.(??)- devia ter se unido muito antes. Agora ficou brabo. Na verdade tô achando a primeira opção muito mais perigosa.
Concordo com a Vera.Gabeira,tô forézima e vou de Crivella(nunca pensei escrever isso).Raiva dessa esquerda egoísta e fanfarrona q deixou essa situação acontecer aqui,viu...
Pior são os desavisados q acham q tão votando em Gabeira maconheiro e de sunga de crochê,aiaiai...
Pois é, eu não voto mesmo é em demo-tucano disfarçado de "chapeuzinho vermelho". Vou de Crivella, e, quem diria, assinei como no. 37 121 a petição on line contra o projeto dele de incluir as igrejas no Pronac. Continuarei contestando o Crivella sempre que for preciso.
Oi Vera, mas é justamente a Jandira que tinha (tem?) chance de desafiar Crivella e Paes. Vamos esperar o resultado, daqui a pouco a gente conversa.
Postar um comentário