23 de outubro de 2008

Notas de uma tarde quente




Assisti ao filme Antes que o diabo saiba que você está morto, de Sidney Lumet, um diretor das antigas de Holliwood (tem uma filmografia de mais de 69 filmes). Peguei na locadora atraído pela participação de Philip Seymour Hoffman, de quem sou fã. O filme conta a história de dois irmãos que decidem roubar a pequena joalheria de seus pais. Marisa Tomei aparece deslumbrante. Mas a trama débil, a trilha sonora enjoada e a choradeira incessante do personagem de Ethan Hawke estragam a refeição.

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O avô de minha esposa, seu Zé, tem mais de oitenta anos e uma lucidez e saúde de quarenta. Outro dia, ele me contava que os ladrões, no seu tempo (o que significa algo entre 1930 e 1960), comportavam-se de uma maneira totalmente distinta: com vergonha, sem olhar nos olhos do assaltado, falando com voz baixa e constrangida. Hoje não. O ladrão aborda a vítima com altivez e orgulho. O trabalhador é que abaixa os olhos, humilhado, resignado, pensando nos filhos que ficariam órfãos se ele decidisse reagir.

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O meu irmão fez uma entrevista, em 2005, muito boa com o jornalista Mauro Santayana, que ainda está inédita. Ele pensava em usar num documentário sobre a ditadura militar, mas o filme não saiu e eu o convenci a publicar aqui no blog. Em breve. O tema da entrevista é sobre os chamados "anos de chumbo". Santayana disse que até hoje as pessoas não sabem o que realmente acontecia na ditadura, porque, como a imprensa era censurada, tinha-se a impressão de que as coisas estavam em ordem. Na verdade, a miséria e a violência crescia exponencialmente nas grandes cidades. Trabalhadores saíam em grupo para não serem assaltados, porque até a suas marmitas eram alvo de cobiça. Mas nada saía no jornal. Por isso hoje há quem se lembre daqueles tempos como uma época de "ordem", quando não havia essa "baderna" e "corrupção" que hoje vemos diariamente em jornais e tv.

Santayana lembrou também que, nos anos 50, um navio chegava ao Brasil de quinze em quinze dias trazendo gasolina. Se aquele navio atrasasse, o país parava, sem combustível. Essa era a dependência terrível que Vargas conseguiu romper criando a Petrobrás.

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O Globo e a mídia em geral receberam a notícia da Medida Provisória que dá mais poder aos bancos estatais com perplexidade e a paranóia anti-comunista de sempre. Mas o pior foi chamar o plano de Proer, na tentativa canhestra de colar em Lula a imagem de amiguinho de banqueiro, queimando-o junto à esquerda mal informada e os festivos radicais. O plano, todavia, nada tem a ver com o Proer, que para quem não lembra significou doação de dinheiro público para diversos bancos em crise. A medida de Lula prevê compra de ações, estatização parcial, copiando a fórmula de sucesso usada por Europa e EUA. É uma medida inteligente porque o governo pode comprar ações a preço baixo e revendê-las, posteriormente, com lucro, gerando ganhos para o Tesouro e, portanto, para o contribuinte.

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