11 de outubro de 2008

Mudei de idéia

Admito: meu apoio à Fernando Gabeira foi intempestivo, inconsistente, leviano. Ainda não sei o que pensar sobre as eleições cariocas. Assistirei o debate entre os dois rivais, acompanharei o processo e aí poderei tomar uma decisão mais ponderada. Agradeço aos leitores e comentaristas que participam do blog e me ajudam a pensar. Volto amanhã.

7 comentarios

Anônimo disse...

Caro Miguel,

Postagem nova no blog do Igor, da série sobre a dèbâcle do império americano. Imperdível e impagável! Endereço: http://alexeievitchromanov.zip.net

Alberto

José Carlos Lima disse...

Gabeira está sendo visto como muitos da esquerda como uma candidatura suprapartidária, o que não é o caso.
Seu projeto de derrotar Lula e eleger Serra tá bem claro, de ser oposição a Lula isto é inegável,
não podemos cair nesta cilada de forma alguma.
Pelo menos o PMDB de Cabral e Paes, no momento apoia Lula,
Gabeira não apoia agora nem nunca.
Uma Madre Tereza de Calcutá pairando acima dos partidos, isso o Gabeira não é.
Abs.

Anônimo disse...

Embora eu tenha muitas objeções ao Gabeira, não concordo que teus argumentos a favor da candidatura dele tenham sido inconsistentes ou levianos. Ao contrário ví neles até certa robustez de conteúdo. Contudo havia lido no blog do PHA, carta de uma carioca, Sônia Montenegro, com 15 argumentos também muito sólidos para não votar nele. Se não o fizeste talvez fosse bom dar uma lida neles o que possivelmente ajudaria na decisão. Também me balança o fato de gente do naipe de Niemeyer e Marina Silva apoiarem o cara da sunga. Por fim, concordo que o segundo turno no Rio é hamletiano, no sentido do "to be or not to be". Não sou de lá, dou um suspiro de alívio. Abaixo vou tentar colar a as razões arrazoadas pela Sônia do blog do Paulo H. Amorim.

09/10/2008 11:41

15 RAZÕES PARA NÃO VOTAR NO GABEIRA

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1988


. O Conversa Afiada recebeu o e-mail que se segue:



Subject: 15 razões para não votar no Gabeira


Pobres de nós, cariocas, após 3 mandatos do Cesar Maia (DEMo), somado a 1 de um preposto seu, ter agora que escolher entre Eduardo Paes e Fernando Gabeira.

Reuni alguns dados sobre o Gabeira, já que ele é o novo "darling" da imprensa, que passa dele uma imagem de ético e de esquerda, embora não corresponda à verdade dos fatos.

Isto não significa que o Eduardo Paes não tenha o seu telhado de vidro. O objetivo é apenas o de fornecer informações que a grande imprensa omite, para que possamos fazer o nosso juízo de valor.

Bjs, Sonia.

15 razões para não votar no Gabeira


1- Gabeira é o candidato do César Maia, agora, no 2º turno, ou seja, mais um mandato desta praga do DEMo.

Mas vamos recapitular a sua história:

2- O Gabeira era do PV. Como suas votações vinham em constante declínio, percebendo que não seria fácil se eleger pelo PV, se bandeou para o PT, um fato no mínimo estranho porque no Congresso, ele sempre votou com a base aliada de FHC, com o bloco PSDB, Arena/PDS/PFL/DEMo. Por suas afinidades, deveria ter ido para um desses partidos com os quais tinha mais afinidade, porém o Lula estava em ascensão, portanto tiraria melhores proveitos no PT.

3- Nesta época, Gabeira não se preocupava com a corrupção, porque votou favoravelmente à reeleição de FHC, mesmo com as denúncias comprovadas por gravações, da compra de votos de parlamentares. Depois, questionado, disse que na época não se preocupava tanto com este problema, mas que depois achou que deveria dar a sua contribuição, como se, como representante do povo não fosse uma obrigação denunciar a corrupção.

4- Gabeira votou a favor da flexibilização da Lei do petróleo, que agora permite que grandes empresas multinacionais queiram meter a mão no nosso pré-sal, e mesmo diante de tantas denúncias da forma como FHC estava torrando as estatais brasileiras, votou com o governo, favorável à doação.

5- De bobo o Gabeira não tem nada, portanto ele sabia que para aparecer, tinha que puxar o saco da grande imprensa, e como ela SEMPRE foi contra o Lula, logo no início do novo governo, ele já começou a criticar, dizendo exatamente o que a imprensa queria ouvir, fazendo o jogo do ex-aliado arrependido, e então passou a ter grandes espaços no Jornal Nacional e outros programas.

6- Contra a vontade do governo, visando apenas prejudicá-lo, Gabeira, junto com a oposição, elegeu o Severino para presidir a Câmara. Após o resultado vitorioso da oposição ao Lula, entoou junto com eles o hino Nacional. Afirmava que iria moralizar a Câmara. Mas com o Severino? Será que ele ignorava a vida pregressa de seu colega? Difícil acreditar...

7- O Severino não correspondeu aos anseios golpistas daqueles que o elegeram, e aí então resolveram derrubá-lo. Infelizmente, o Congresso Nacional não tem por hábito punir seus membros por corrupção (exemplos não faltam), mas por razões políticas, e eclodiu o escândalo do presidente da Câmara, com retumbante destaque da mídia. Neste momento, a oposição, da qual Gabeira era membro atuante, ainda tentou responsabilizar o governo pela eleição do Severino, mas como se ele tinha sido eleito exatamente pelo voto deles? Quanta hipocrisia!!!

Quando o Severino já estava completamente desmoralizado, Gabeira chutou o cão morto, com direito a todos os holofotes que tanto preza, e que vem usando insistentemente em sua propaganda política.

"Ele fazia o discurso de um grupo restrito, o Posto 9 de Ipanema, era uma audiência muito pequena. Quando foi em cima do Severino, teve a atenção de todo o eleitorado brasileiro, estava falando para 100 milhões de pessoas", diz Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

8- Fernando Gabeira, sub-relator da CPI dos sanguessugas (a que apurava a máfia de compras de ambulâncias superfaturadas), demonstrou não estar muito preocupado com a corrupção, quando ela incriminava membros aliados. O depoimento do Juiz Federal Julier Sebastião Rocha (MT) acusou o Senador Antero Paes de Barros (PSDB), de ter recebido recursos irregulares de João Arcanjo, condenado a 37 anos por crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, mas no relatório, Gabeira inocenta o senador. Pegou tão mal que uma semana depois, Gabeira se retrata em seu site, mas Antero já tinha se beneficiado. Pouco depois, Gabeira é capa da revista Veja, como guardião da ética na política brasileira. Mas que ética?

9- Quando o Gabeira, o Franklin e outros, seqüestraram o embaixador dos EUA no Brasil, Elbrick, além da troca de presos-políticos, exigiram que fosse divulgado um manifesto na imprensa, no qual denunciavam os horrores que rolavam nos porões da ditadura. Depois da anistia, quando voltaram os presos políticos do exílio, a imprensa atribuiu a autoria do texto ao Gabeira, até que muito tempo depois, decobriu-se que o texto era do Franklin. Quando perguntaram ao Gabeira por que ele não tinha desmentido, simplesmente disse que ninguém o havia perguntado.

10- Gabeira é o candidato da Globo e da Veja. Se lembrarmos que elas também apoiaram a ditadura, o ACM, o Collor, etc, conclui-se que o passado não lhes confere qualquer credibilidade em seus apoios políticos.

11- A propaganda da TV de Gabeira é enganosa. São citados inúmeros eventos, afirmando que, quando aconteceram, Gabeira estava lá. Pinochet derrubou Allende e inúmeras pessoas foram presas, torturadas e mortas. O golpe foi um retumbante sucesso, e se Gabeira estava lá, era porque tinha sido banido do Brasil, e não para impedir o golpe, como pretende fazer crer a propaganda. No caso do seqüestro do embaixador norte-americano, o Elbrick, segundo os demais participantes, o Gabeira teve uma atuação pífia. Alugou a casa que serviu de cativeiro do seqüestro, mas, desobedecendo a orientação dos líderes, comprou pizzas em local próximo ao cativeiro, facilitando aos militares a descoberta do local. Foi ainda responsabilizado por não cumprir a tarefa que lhe foi designada, de retirar o mimeógrafo de lá. Vale lembrar que um mimeógrafo naqueles tempos era tão incriminador quanto a posse de armas, uma vez que era o meio usado pela resistência à ditadura, para reproduzir e divulgar os seus informes.
Quando os crimes da ditadura foram julgados na Itália, a propaganda alardeia que Gabeira estava lá, fazendo parecer que ele estaria advogando em prol dos perseguidos pela ditadura. Mas Gabeira não é advogado. Estava lá como um simples espectador.

12- Se você tem horror ao crime organizado, saiba que foi Gabeira que ensinou aos criminosos comuns a prática de guerrilha, quando esteve preso na Ilha Grande, tirando proveito de obter a simpatia dos meliantes.

13- Gabeira votou favoravelmente à lei que atenua a punição dos latifundiários que mantêm empregados em regime degradante de semi-escravidão.

14- Mas para mim, o pior foi um episódio que EU VI: o Brasil conseguiu desenvolver uma tecnologia de enriquecimento de urânio muito melhor e mais eficiente do que a dos demais países. Aí então mandaram inspetores para fazer vistoria, naquela paranóia do "desenvolvimento de armas nucleares". Os técnicos brasileiros, cobertos de razão, não quiseram entregar o ouro, e deixaram à mostra a entrada e saída do urânio, cobrindo o segredo. Os inspetores tentaram forçar a barra querendo ver tudo, e a oposição convidou o ministro Celso Amorim, com a nítida intenção de desmoralizar o governo, que estaria fazendo tempestade num copo d'água, para uma sessão no Congresso, para explicar o grave erro que o governo brasileiro estaria cometendo. O Ministro Celso Amorim então afirmou que os técnicos brasileiros explicaram que o que era necessário inspecionar, estava à mostra, e que o que estava escondido era o processo que eles desenvolveram, totalmente desnecessário ao cumprimento da inspeção. País algum entrega a tecnologia que desenvolveu de graça, e que não via sentido do Brasil fazê-lo. Então o Gabeira diz: "Que besteira desse governo de criar problema internacional por causa de um segredinho. Que deixem ver tudo".

Em 1º lugar, não era o governo que fazia a exigência, mas os técnicos. Em 2º lugar, é assim? A gente tem que se sujeitar a tudo que os "países desenvolvidos" querem? O Plínio de Arruda Sampaio, ferrenho crítico do governo Lula, reconhece que a política externa está sendo conduzida com grande eficiência, trazendo maior soberania ao Brasil, perdida nos anos FHC.

Resumo da história, no embate entre os técnicos brasileiros e inspetores, nossos representantes saíram vitoriosos. Fácil é enganar os leigos, mas não os argumentos daqueles que conhecem verdadeiramente o assunto. Se insistissem, estariam reconhecendo que o objetivo era de fato espionar para roubar a tecnologia desenvolvida aqui, e tiveram que aceitar a forma de inspeção que o Brasil queria.

Vale dizer que o Brasil possui uma grande reserva de urânio, e que pode exportar o urânio enriquecido, trazendo divisas para o país. Neste dia, conheci um outro Gabeira: entreguista e subserviente às grandes potências.

Sonia Montenegro

15- A seguir, um artigo de um jornalista sério, Mauricio Dias, publicada na revista Carta Capital:

Transparência embaçada - 25/04/2008 15:28:47

O uso de dinheiro nas eleições é uma das questões essenciais do processo político. Malgrado a hipocrisia recente dos varões da ética, não é um problema recente e, muito menos, exclusivo do Brasil. O dinheiro corrompe e transforma o voto em mercadoria. E, para isso, não há solução à vista.

É difícil um candidato sair eticamente ileso das eleições, sempre movidas por interesses em confronto.

Veja-se o caso do deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde, pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. Ele teve destacada atuação no impeachment do deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, assim como nas CPIs nascidas das costelas do publicitário Marcos Valério.

Gabeira saiu condecorado desses episódios. Recebeu da Veja o epíteto de "Exemplo de Ética" e ganhou de O Globo o prêmio "Faz Diferença". A revista e o jornal catapultaram as ambições do deputado verde. Estimulado pelo PSDB, animou-se a disputar o troféu eleitoral que oferece ao vencedor a cadeira de prefeito carioca.

Um dos estandartes de Gabeira é a transparência. Prometeu, se eleito, que as contas municipais seriam publicadas na internet com inteira franqueza. Porém, há sempre um porém.

Nas contas relativas à campanha de 2006, quando se elegeu deputado pela terceira vez, há problemas. Inicialmente por falta de transparência e, também, por sérios deslizes legais.

Gabeira declarou gastos, entre outros, com a empresa Lavorare Produções Artísticas Ltda. no valor de R$ 117 mil. Os gastos foram divididos em três finalidades: R$ 55 mil para "criação e inclusão de páginas na internet", R$ 5 mil para promoção de eventos e R$ 52 mil em "diversas a especificar".

Os pagamentos da rubrica "diversas a especificar" foram feitos após as eleições.

A empresa Lavorare é de propriedade da atriz Neila Tavares, atual namorada e assessora do deputado Fernando Gabeira. A empresa de Neila não é do ramo da criação de sites e não se sabe igualmente do talento da atriz para esse negócio. No endereço declarado pela Lavorare, no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), funciona uma empresa que dá assessoria a empresas teatrais, o ramo de Neila Tavares.

"O endereço daqui é apenas um ponto de referência", explicou a secretária da empresa, que se identifica como Márcia.

Gabeira, no entanto, tem um colaborador de reconhecida competência na sua equipe. Trata-se do webmaster e militante do PV Fabiano Carnevale, responsável pelo site da campanha.

Em princípio Gabeira pagou por serviços que não foram prestados. Talvez com o objetivo de dar cobertura a outra destinação com recursos de sobras de doações eleitorais.

Por lei, esses recursos que sobram devem ser dados ao partido do candidato.

Anônimo disse...

Tá difícil mesmo, Miguel. Se a gente muda de idéia toda hora é sinal de que está encarando a inevitável escolha com a seriedade que a eleição merece. É preciso ouvir o que os candidatos dizem, sim, mas também é preciso não esquecer a história pregressa de cada um, ou seja, considerar a retórica de hoje no contexto de uma trajetória política. Bjs, Vera

Anônimo disse...

Oi Miguel,

É, rever as idéias é muito bom sinal, muita gente debateu o primeiro turno, agora o segundo, e isso é bom nesse nosso aprendizado democrático, apesar do sistema político deixar muito a desejar. Oxalá consigamos efetuar a reforma política no mandato do sucessor de Lula.
Recomendo que além do debate (em que fatores... digamos assim... publicitário$-midiático$-consumista$ influem bastante)você procure dar uma lida também nas listas de compromissos que o candidato do PMDB assinou com o PT e com o PCdoB. Acho que já escrevi isso aqui, mas não custa lembrar que a campanha do candidato do PV/PSDB/DEM tem se apresentado deliberadamente "apartidária", se é que isso existe...
Bem, hoje é domingo, e gostaria de deixar registrado aqui também que Gabeira estudou fotogenia profundamente, desde os tempos das areias da Montenegro, atraído pelos holofotes roliudianos, (daí lamentar tanto não poder entrar nos EUA), e acho até que fez mestrado em... Estocolmo (?!) dessa matéria (fotogenia) tão importante para exercer um cargo executivo na segunda cidade (para nós, a primeira) do Brasil...
Entre o preconceito com os "suburbanos" como ele chamou a vereadora Lucinha, o esquecimento do mimeógrafo no cativeiro do Rio Comprido e a compra bandeirosa das pizzas, o que será que ele vai atacar, esquecer e entregar, se chegar à prefeitura?
abraço,
Alyda

Anônimo disse...

relembrando...

Seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, 1969, no Rio de Janeiro

Quem conhece minimamente os fatos, sabe que a participação do Gabeira foi absolutamente circunstancial (...) o Gabeira que só soube que a ação ia ser feita na manhã da captura. Não soube previamente, não participou do planejamento porque não era da frente de trabalho armado. Era responsável pela edição e distribuição do jornal-panfleto da organização. Tinha alugado uma casa onde estava um mimeógrafo, onde era produzido esse jornal, quando o comando decidiu que o cativeiro seria essa casa, ele, então, que era a pessoa conhecida como o morador da casa para a vizinhança, continuou a fazer a "fachada", entrando e saindo da casa. E foi essa a participação dele. Silvio Da-Rin

Depois de 39 anos, os que de fato atuaram dizem não se arrepender da ação. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que teve um papel secundário e duvidoso, não só se arrepende como não gosta nem de falar do assunto.

Gabeira afirma que sua imagem ficou muito ligada ao seqüestro, do qual se arrepende de ter participado. "Aquela ação e todo o processo de luta armada minou a possibilidade (?) de uma resistência pacífica" (!), diz.

Cid Benjamin, o estudante que dirigiu um dos veículos usados no seqüestro, concorda. Ele diz que tentar derrubar a ditadura pela luta armada foi um erro porque a população não estava mobilizada. "Sem apoio popular, a luta armada nos levou ao isolamento e facilitou nossa derrota. Mas nosso método era legítimo porque a ditadura prendia, torturava e matava."

Ao contrário de Gabeira, Benjamin não se arrepende do episódio. "Não me arrependo do seqüestro. Nosso objetivo era libertar os presos e conseguimos. Se exigíssemos a liberdade de 150 pessoas, os militares teriam atendido nosso pedido."

"É preciso considerar a conjuntura do período", diz João Lopes Salgado, que estava no outro veículo que participou do seqüestro. "O governo estava em crise porque o presidente Costa e Silva sofreu um derrame, e o vice, que era civil, não pôde assumir."

Ele diz que a ação, inédita, causou surpresa internacional. Ao contrário de Gabeira, ele diz "Eu me sinto privilegiado por ter participado daquele seqüestro."

Para Paulo de Tarso --um dos quatro seqüestradores que tomaram o carro em que estava o embaixador--, a militância estudantil ficou de mãos atadas depois do AI-5. "Foi a própria ditadura que jogou os jovens nos braços da luta armada", diz. "Não havia outra alternativa para quem se engajou, mas eu sei que é difícil para as pessoas entenderem esse quadro hoje."

O ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, diz que com a experiência de hoje não teria partido para a luta armada depois do AI-5. Ao contrário de Gabeira, ele diz "Mas não me arrependo de ter pegado em armas ou de ter contribuído, seja na clandestinidade, seja no exílio, para o fim daquele regime odioso."

Foi Franklin Martins que redigiu a carta pedindo a libertação dos 15 estudantes em troca de Elbrick.

Manoel Cyrillo Netto, outro a invadir o carro do embaixador, também não fala em arrependimento. "Aquele foi um dos episódios mais importantes dos povos de todo o mundo", diz. "É algo com o nível de importância de uma guerra do Vietnã porque foi uma das mais grandiosas ações contra o império americano."

Netto diz que a ação não pode ser considerada um seqüestro. "O que fizemos foi capturar um embaixador de um país inimigo e trocá-lo por aliados nossos."

Como foi o seqüestro

Eram 14h30 do dia 04 de setembro de 1969 quando um fusca azul guiado por Cid Benjamin bloqueou a rua Marques, no bairro Humaitá, no momento em que passava o Cadillac preto em que estava Elbrick. No banco de trás do fusca estava Franklin Martins.

"O embaixador estava saindo de casa em direção à embaixada", lembra o hoje jornalista Benjamin. "Nós conhecíamos sua rotina: ele ia para a embaixada às 10h, voltava para casa ao meio-dia para almoçar e retornava ao trabalho depois das 13h."

Ele conta que naquele dia, houve um imprevisto e Elbrick não foi trabalhar de manhã. "Nós planejávamos seqüestrá-lo às 10h, mas, como ele não apareceu, imaginamos que ele só fosse para a embaixada depois do almoço", diz. "E estávamos certos."

Enquanto o fusca que ele guiava bloqueava a passagem, um fusca vermelho com João Lopes e Vera de Araújo Magalhães a bordo parou atrás do Cadillac.

Foi quando outros quatro guerrilheiros que estavam na calçada (Paulo, Manoel, Cláudio Torres --que não fala sobre o assunto-- e Virgílio Gomes da Silva) invadiram o carro do embaixador armados cada um com uma Tauros calibre 38. Toda a operação foi vigiada de perto por José Sebastião Rios de Moura.

Eles renderam o embaixador e seu motorista, tomaram o Cadillac e o estacionaram em uma rua pouco movimentada. O motorista foi deixado no veículo com um bilhete em que estavam descritas as exigências para o resgate.

Os guerrilheiros levavam o embaixador para uma Kombi verde dirigida por Sérgio Rubens Torres. Seguiram direto para o cativeiro, um sobrado de cinco dormitórios na rua Barão de Petrópolis, no Rio Comprido, onde o esperavam Joaquim Câmara Ferreira e Fernando Gabeira.

O grupo completo era formado por 12 integrantes. A ação foi comandada pela Dissidência Comunista da Guanabara, que contava com oito guerrilheiros. "Estava tudo pronto, mas achávamos que era importante convidar a ALN (Ação Libertadora Nacional), que enviou quatro pessoas de São Paulo", afirma Benjamim. Eles acreditavam que a ação conjunta estimularia a unificação da esquerda.

O manifesto deixado no carro foi assinado pela ALN e pelo MR-8. Foi assim que a Dissidência passou a se intitular a partir de então. A intenção do grupo era provocar os militares, que haviam acabado com um outro grupo guerrilheiro de mesmo nome meses antes.

"Nosso objetivo era salvar os presos políticos, mas a ação representava muito mais", diz Benjamin. "Ela tinha um impacto político internacional e era um golpe na propaganda dos militares que falava sobre um Brasil potência."

Entre os presos estavam Vladimir Palmeira e José Dirceu, que tinham sido capturados em outubro do ano anterior durante um congresso clandestino da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna, interior de São Paulo.

"A condição dos militares era que, depois de liberados, a gente fosse banido para o México", diz o ex-ministro José Dirceu. "Fiquei uma semana por lá e fui para Cuba passar por treinamento militar."

Elbrick ficou no cativeiro de quinta-feira até domingo, quando foi deixado às 18h30 no Largo da Segunda-feira, zona norte da cidade. Ele voltou para casa de táxi. Depois do seqüestro, retomou os trabalhos na embaixada, mas no ano seguinte voltou para os Estados Unidos, onde morreu em 1983 aos 75 anos.

Dos 12 envolvidos, oito foram presos. Os únicos que ficaram livres foram Franklin Martins --que se exilou em Cuba e voltou ao Brasil em 1973--, José Sebastião, João Lopes e Sérgio.

Do grupo, quatro morreram. José Sebastião foi baleado em 1983 perto de casa, em Salvador, e não resistiu. Vera morreu em dezembro do ano passado vítima de câncer.

Dois dos envolvidos foram assassinados logo depois do seqüestro do embaixador. Joaquim foi preso no dia 24 de outubro de 1970 e morreu no mesmo dia durante sessão de tortura. Já Virgílio, o comandante da operação, chegou à cadeia no dia 29 de setembro de 1969 e, também torturado, acabou morto no dia seguinte.

"Não tenho dúvidas que se eu pudesse recuperar meus amigos, eu não entraria na luta armada, mas a gente não sabe como é o futuro", afirma Paulo de Tarso.

"Tive o privilégio de sair vivo de tudo isso. Muitos não tiveram a mesma sorte e ficaram pelo caminho", diz Franklin Martins. "Mas posso contar para meus filhos e meus netos tudo que fiz. Não me envergonho de nada. Já os que seqüestraram, humilharam e torturaram milhares de opositores do regime e assassinaram centenas deles não podem fazer o mesmo."

Silvio Da-Rin (Hércules 56) para Brasil de Fato:

Qual o critério de escolha para as pessoas da mesa de discussão? Essa ação foi retratada no filme O que é isso, companheiro?, baseado no livro do Fernando Gabeira. Para muitos talvez surpreenda o fato dele não estar lá.

Surpreende para um observador que não tem intimidade com os fatos e com a História, num olhar superficial. Quem conhece minimamente os fatos, sabe que a participação do Gabeira foi absolutamente circunstancial, de modo que não haveria nenhuma justificativa para convidá-lo. Treze pessoas tiveram diretamente envolvidas na ação. Três morreram. Se eu reunisse as dez pessoas seria uma assembléia. Queria reunir um grupo menor para que a discussão pudesse fluir com naturalidade, então, chamei, sobretudo, aqueles que tiveram uma participação mais destacada. Meu critério era político, queria aqueles que decidiram politicamente que a ação seria feita. Não convidei pessoas de importância fundamental para a operação de captura, como João Lopes Salgado, Cid Benjamin ou a Vera Silvia Magalhães. Então, não convidei pessoas que tiveram uma participação fundamental e não iria convidar justamente o Gabeira que só soube que a ação ia ser feita na manhã da captura. Não soube previamente, não participou do planejamento porque não era da frente de trabalho armado. Era responsável pela edição e distribuição do jornal-panfleto da organização. Tinha alugado uma casa onde estava um mimeógrafo, onde era produzido esse jornal, quando o comando decidiu que o cativeiro seria essa casa, ele, então, que era a pessoa conhecida como o morador da casa para a vizinhança, continuou a fazer a "fachada", entrando e saindo da casa. E foi essa a participação dele.

abraço,
Alyda

carlos augusto a. doria disse...

Aí Miguel, aqui é o Dória. Também estou numa dúvida cruel em quem votar. Vou acompanhar o horário eleitoral para me decidir. Até agora, estou mais propenso a votar no Gabeira.
Aquele abraço

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