23 de outubro de 2008

Inflorescências

A manhã infloresce,
amarela, azul, como um monstro
de alegria e dores abortadas,
crianças salvas
de acidentes trágicos.

A manhã implode
de esperanças tolas,
mordentes, imensas
como doce-de-leite
& crimes cometidos
em legítima defesa.

Além dos horizontes
sanguinolentos
além dos mares
discretamente assassinos
a mentira
o sorriso
o amor
cintilam sem euforia
drogados
que choram & juízes
corruptos & apavorados
diante do fim louco

a manhã desflora
& mata os vermes
nascidos à noite
vícios antigos
exílios sem cor
paixões
sem aurora

a manhã terminou
num sol franco
e viril
queimando-me a cara
fazendo-me feliz
insanamente feliz
como um bicho
olhando pro sol

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