29 de outubro de 2008
Alice no País das Maravilhas
Hoje tem abertura da exposição do maior artista brasileiro de todos os tempos, Flavio Shiró, autor da pintura acima. O evento acontece no Espaço Cultural dos Correios, no centro histórico do Rio de Janeiro. E por falar em centro, hoje consegui me libertar da hipnose que a volta da banda larga deixou-me nos últimos dias e passeei longamente por estas ruas impregnadas de história e literatura. Andei até a biblioteca estadual, na avenida Presidente Vargas, que passará por uma profunda reforma, com os recursos que o Cabral conseguiu arrancar, à força de sorrisos, do presidente Lula. Devolvi um romance chato do Tariq Ali e troquei por uma coletânea de contos de Ernest Hemingway. Na dúvida, fique sempre com os clássicos.
No salão de jornais de revistas da biblioteca, li o Jornal do Commercio, o mais antigo do país, que faz uma cobertura bem diferenciada da realidade política e econômica brasileira, sem as obsessões serristas da trinca Estadão-Folha-Globo. Saí dali e peguei a rua Buenos Aires, coração do comércio popular carioca e onde a ignorância furiosa dos especuladores imobiliários deixou intactos centenas de belos sobrados do século XIX. Queria ir ao Centro Cultural de Justiça, que também possui um salão de jornais. Chegando lá, ainda não havia aberto, então pus-me a dar voltas pelas adjacências, e quando dei por mim estava na rua do Consulado Americano e da Academia Brasileira de Letras - onde me enfiei para ver a exposição em homenagem a seu fundador, o grande escritor carioca Machado de Assis, único romancista brasileiro apreciado por Philiph Roth e Wood Allen. Boa pedida. Projetada e executada por Anselmo Maciel, a exposição foca na ambientação histórica de Machado de Assis, recuperando fotos antigas das ruas do centro onde ele residiu e viveu durante seus anos de formação. As fotos receberam tratamento especial, o que permitiu que fossem ampliadas em dezenas de vezes, dando-nos uma forte sensação de viagem no tempo. Ver a rua Primeiro de Março, a imponente igreja de são francisco, os bondes puxados a burro e os edifícios elegantes do centro, provocou-me, como sempre, nostalgia de um tempo que não vivi, e revolta pela destruição brutal sofrida pelos bairros históricos. A já citada ignorância especulativa, afinal, não apenas derruba bolsas e empobrece trabalhadores em todo mundo - seu rolo compressor também esmagou a belíssima arquitetura art-noveau do Rio Antigo.
Por fim, voltei ao Centro Cultural de Justiça e terminei minha leitura da famigerada TRINCA. Quem procura, acha, diz Silvio Santos, sucessor de Roberto Marinho na galeria dos vasos ruins que nunca quebram, e o Globo, na ânsia de encontrar algum viés positivo para o tucanato, abraçando o slogan do concorrente, procurou e achou. Achou um "índice de sucesso", segundo o qual o PSDB ficou em primeiro lugar no ranking dos partidos, elegendo uns 40% do total das candidaturas lançadas. O PT, claro, ficou em último, com uns 20%. O Estadão, como sempre, publica editoriais elegantemente indignados e reacionários, quiçá num tom acima do mentalmente saudável, contra todos os presidentes sul-americanos reunidos num encontro recente. Para o Estadão, o fato da América do Sul já ser o principal destino das exportações brasileiras não tem importância nenhuma, e por isso qualificou a reunião de inútil.
Daí peguei a Bravo, onde li uma excelente entrevista com Veríssimo, por Marcelo Rubens Paiva, e matérias tolamente encomiásticas sobre a artista visual Beatriz Milhazes e seu eterno jardim de flores pintadas, o que me levou a reler Alice no País das Maravilhas, conforme cantava Raul Seixas. Acabei de tomar meu quilindrox, meu discomel e outras pílulas a mais. Duas horas da manhã recebo nos peito um ploct-pus 25 e vou dormir quase em paz. E a chuva promete não deixar vestígios. E a chuva promete não deixar... vestígios. Acho tão lindo esse último verso.
Bem, desculpe o desvario. Continuando: eu falava de quê? Ah, de artes plásticas. Então, é isso. Essa Bienal de São Paulo, para mim, simboliza o que há de mais ridículo na arte, na crítica de arte e, sobretudo, na curadoria. Os curadores atuais merecem ser condenados por crime de lesa-pátria, traição aos princípios mais elementares da arte, egolatria delirante e, finalmente, incomensurável incompetência e ignorância estética. Existe tanta coisa boa para ser mostrada numa Bienal! E os infelizes, depois de reclamar de dinheiro, montam um tobogã? Deixam um andar vazio? Tenho tanta coisa a falar sobre isso que me dá preguiça. Vou escrever um artigo detalhado sobre o tema para a revista Manuskripto (já assinou? não? vai na coluna da direita e assina, pô!).
E voltamos ao começo. Daqui a pouco vou encontrar meu amigo Juliano Guilherme, outro grande pintor, e vamos à vernissage de abertura de Flavio Shiró, comer quitutes, beber champagne e apreciar as obras do maior artista brasileiro - nasceu no Japão, mas veio ao Brasil com 4 anos, então já virou produto nacional - de todos os tempos. Esse aí não perde tempo pintando florzinhas tropicalóides, tão idiotamente alegres, tão imbecilmente brasileiras!, para vender em Nova York.
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# Escrito por
Miguel do Rosário
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quarta-feira, outubro 29, 2008
# Etichette: artes plásticas, Crônica, Política
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Enquanto você toma champanhe:
A derrota de Paes
Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia as teve), aliando-se ao que há de mais podre no estado, gastando rios de dinheiro, jogando sujo, usando descaradamente a máquina estadual, federal e universal, beneficiando-se até de um feriado mal intencionado, enfim, com tudo isso, Eduardo Paes só conseguiu ganhar de Gabeira por 50 mil míseros votos.
Como vitória política, já é um resultado extremamente questionável; mas do ponto de vista pessoal, é uma derrota acachapante.
Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso ficou com uma quadrilha de aliados que não deixa nada a dever àquela que ele acusava o presidente Lula de comandar.
Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas para o Crivella, para o Lupi, para o Piciani, para a Clarissa Garotinho, para o Roberto Jefferson, para a Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para a Jandira... estou esquecendo alguém?
Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o desprezo mais profundo de metade do eleitorado.
Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua administração.
Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significa nada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seria obrigado a prestar atenção.
Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente nulidade, quatro anos em que o recado das urnas será interpretado, pela corja que domina esta infeliz cidade, como um retumbante 'Liberou geral!'
Nojo, nojo, nojo.
do blog da Cora Ronai, não preciso dizer mais nada
Acreditar no Gabeira é acreditar no coelinho da páscoa, no pó de pirlimpimpim, sem falar no Papai noel. No dia que ele for eleito para algum cargo administrativo, se é que ele realmente quer, vai ter novamente uma avalanche de "desiludidos com a política". Quem será então o novo candidato a "herói ético da classe média"?
me perdoe, mas a cora ronái é uma besta, uma besta reacionária da direita. Recuso-me a disperdiçar mais do que essas palavras. Conselho: não leia. Evite úlceras.
"Toda a unanimidade é burra".Então sem idéias contrárias não há discussão, não há evolução.Por isso não desanimo quando leio opiniões tão simplistas, porque sei que ao final de 4 anos estaremos pensando igual.O difícil é que junto com pessoas que pensam iguais a você, infelizmente, também eu estarei no mesmo barco.
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