Eleição 2010 começa a entrar nos botequins

Sobre a mesa, três pastas importantes que precisam ser despachadas urgentemente: Olimpíadas, Lula, eleições 2010. Ao trabalho.

1) Olimpíadas no Rio em 2016. Segundo li por aí, o evento deverá trazer mais de 100 bilhões de dólares para a cidade. Se for pensado com inteligência, poderá contribuir muito para o desenvolvimento sócio-econômico da segunda maior cidade do Brasil.

É preciso, aliás, fazer uma análise em perspectiva. Diversos fatores simultâneos prometem uma profunda transformação na estrutura social fluminense. A Petrobrás está construindo, em Itaboraí, município vizinho à capital, já conurbado à megalópole, a maior refinaria de petróleo da América Latina. A perspectiva é que dezenas de indústrias se instalem ao redor desta refinaria, para ficarem próximas à fonte de matéria-prima, produzindo um poderoso cinturão industrial numa das áreas mais pobres do estado. A quantidade de empregos que devem ser gerados é incalculável.

O porto de Sepetiba, que recebeu enormes investimentos públicos e privados, também deverá representar uma importante mudança na estrutura industrial do estado. Dezenas de grandes companhias estão instalando unidades nas imediações do porto, que possui o maior calado (profundidade no mar) da América Latina, permitindo receber navios gigantes. Em Itaguaí (município onde fica o porto de Sepetiba) será montada a estrutura de apoio da Petrobrás para a exploração do pré-sal.

Estes dois fatores poderão corresponder à libertação social da Baixada Fluminense, uma das áreas mais sinistramente miseráveis e violentas da América Latina, quiçá do mundo.

A descoberta de enormes reservas de petróleo - as maiores do país - em águas fluminenses é outro fator, obviamente, crucial para o futuro econômico do estado. Mesmo que os royalties sejam distribuídos para todo país, como eu defendo, as unidades de refinaria, o transporte, os serviços, a engenharia, enfim, a maior parte da estrutura de exploração ficará no estado do Rio, beneficiando-o com impostos e geração de empregos.

Outro ponto relevante são os vultosos investimentos que o governo federal vem realizando na cidade, através das obras do PAC, como a duplicação de estradas, a reforma no porto do Rio, o aumento do porto de Sepetiba, o anel rodoviário, a reativação de linhas ferroviárias (com integração destas com os portos), além das importantes reformas urbanas nas principais favelas da cidade do Rio de Janeiro, como Rocinha, Complexo do Alemão e Favela da Maré. Há notícias de que o PAC irá realizar reformas em outras favelas da cidade.

Diante dessa conjuntura tão positiva para a cidade do Rio de Janeiro, a realização das Olimpíadas deverá somar investimentos que poderão fazer do Rio, em 15 anos, uma cidade bem distinta da cidade desesperançada, violenta e decadente que tem sido nos últimos 30 anos. O Rio agora pode olhar para seu futuro com um olhar menos mórbido.

2) Sobre Lula, não tenho muito a dizer. Apenas que a conquista das Olimpíadas significou uma importantíssima vitória política. Num botequim em frente a meu prédio, os antilulistas foram obrigados a ouvir calados muitos discursos orgulhosos e laudatórios do presidente. "Lula é o cara! É o melhor presidente que o Brasil já teve!", foi o que ouvi no botequim. Detalhe: até hoje, nunca vi alguém ter a coragem e a desenvoltura de se expressar assim, nesse bar ao menos, que fica no centro da cidade, área ainda sob forte influência da zona sul. Aliás, sobre papos de rua, escutei conversas entusiasmadas no supermercado, de gente que mora em favela e se inscreveu nos programas de habitação do PAC. Com as Olimpíadas, há enorme expectativa das populações residentes nas áreas mais pobres da cidade de que os investimentos públicos aumentem, que  as ruas sejam repavimentadas, os sistemas de esgoto e coleta de lixo sejam aperfeiçoados, etc.

3) Sobre as eleições de 2010, minha opinião, inspirada pelo mais simples e honesto bom senso é que Lula será um eleitor decisivo. Quando ele for pra rua e pra TV pedir voto para seu candidato, ou candidata, seus eleitores votarão com ele. Se a capacidade de comunicação de Lula é extraordinária, como admitem seus mais ferrenhos e histéricos opositores, não entendo como podem duvidar de que ele conseguirá o que quer: informar ao povo de que a sua candidata é Dilma Rousseff e que somente ela poderá dar continuidade a seu governo. As pesquisas apontam que o grosso dos eleitores de Lula ainda não sabem quem é Dilma. Mas vão saber, claro, quando chegar o momento, quando todas as TVs, rádios e jornais do país passarem a exibir a propaganda eleitoral obrigatória e quando o próprio debate político esquentar, com a informação correndo livre, incluindo, claro, o meio de informação mais antigo e mais eficiente do mundo, o boca a boca.