5 de dezembro de 2008

Os paladinos da liberdade X blogueiros

Engraçado. Antes jactavam-se de ser paladinos da liberdade. Agora se tornaram carrascos. O senador Eduardo Azeredo tenta emplacar um projeto que restringe a liberdade de opinião de blogs, e Diogo Mainardi faz um podcast em que defende, sempre em seu costumeiro tom de brincadeira, o fim dos blogueiros profissionais (íntegra do texto aqui).

Essa agressividade contra blogueiros é sintomática. E contraproducente, e ignorante. Mainardi menospreza e subestima o poder dos blogueiros (" velhos jornalistas de terceira linha"). No Brasil são criados, diariamente, milhares de blogs. Nos EUA, há blogs que já faturam mais que o NYTimes, como é o caso do Huffington Post.

E os mesmos que viviam protestando contra a ditadura do politicamente correto, afirmando que se tratava de um vício esquerdista, agora atacam o presidente por ter falado "sifu", num contexto divertido, que descontraiu o ambiente e provocou gargalhadas no público. Onde estava a sua liberalidade? Vale para todo mundo, menos para o presidente? Têm saudades de FHC, sempre educado? A maioria esmagadora da população não tem.

Na pesquisa do Datafolha divulgada hoje, mostrando outro recorde de popularidade de Lula, um gráfico que me impressionou é um que mostra FHC como o presidente mais impopular desde a redemocratização. No segundo mandato, sua melhor avaliação (isso mesmo, o seu pico de popularidade!) foi uma aprovação de 31%!

Confiram abaixo (clique na imagem para ampliar).




*

A ascensão de Lula junto aos segmentos mais escolarizados tem um significado claro. A classe média está caindo em si. Esse apoio será particularmente importante em caso de agravamento da crise econômica, porque é um setor que, teoricamente, é mais esclarecido em relação às turbulências internacionais. O que realmente me choca é constatar que, cada vez mais, a direita torce para a situação brasileira piorar. Mesmo sem a garantia de que esta piora significará lucro político, a direita torce contra o Brasil. Por inveja, má fé, mau caratismo. Não importa que uma piora corresponda a sofrimento, à fome, a desemprego, a crescimento da criminalidade. É nojento, é criminoso. Depois perdem ainda mais votos e seus assessores de imprensa, ou seja, os colunistas de jornal, vem à público afirmar que um governo sem oposição é uma ditadura. Ora, então que façam oposição construtiva, voltada aos interesses maiores do país! Para começar, defendam a queda nos juros! Ataquem os bancos, que cobram spreads absurdos! Cobrem uma reforma agrária mais ágil e efetiva! Não é difícil ser oposição, o difícil é escolher as bandeiras certas. A direita, com suas bandeiras eternamente anti-trabalhistas, não tem futuro, porque 99% do eleitorado pertence à classe trabalhadora. Dialoguem com os sindicatos, com as centrais, com os pequenos agricultores! Não é jantando com Antonio Ermírio de Moraes que a oposição irá crescer eleitoralmente.

Por que Serra é tão cruel e mesquinho com seus funcionários públicos, com médicos, policiais e professores? Por que é tão rápido em liberar bilhões para magnatas da indústria automobilística e obriga seus policiais a uma batalha desgastante, sofrida, de meses, para obterem míseros pontos percentuais de aumento salarial, que mal recompõem perdas inflacionárias? Deus! Apesar do meu lema Delenda Serra, eu não quero o mal de Serra, não desejo um governo ruim pra ele. Queria, para o bem do Brasil, que ele fizesse uma boa administração.


*

Ontem assisti ao filme O Crocodilo, do italiano Nanni Moretti. Fala de um produtor decadente que decide fazer uma derradeira aposta, e aceita produzir um filme de uma jovem roteirista e diretora. O filme é uma denúncia política deliberada e explícita contra Silvio Berlusconi. Há um trecho em que Berlusconi repete o mantra da direita mundial: "Menos Estado, mais privado". O filme repete a cena várias vezes. Menos Estado, mais privado. Menos Estado, mais privado. Parece até o lema do PSDB.

É uma lema mafioso, espertinho. Menos Estado para os trabalhadores, para o povo, e mais Estado para empreiteiras, bancos, firmas que terceirizam trabalho, donos de jornais, enfim toda a súcia de amiguinhos do rei. A estratégia neo-liberal foi desmascarada com essa crise. Essa é a herança do neoliberalismo: trilhões de dólares de prejuízo aos governos, várias guerras, países devastados por desemprego e miséria, Aids fora de controle, risco de epidemias globais. Tudo porque a ideologia neoliberal obstruiu a consolidação e fortalecimento dos organismos internacionais, que poderiam levar saúde, emprego, crédito, às nações menos desenvolvidas, e elaborar regulamentação mais racional para os mercados financeiros.

6 comentarios

Anônimo disse...

Miguel, ler os seus textos é sempre um prazer! Realmente chocante é a sabotagem contra o país, é o torcer contra não importando quantos pagarão por isso, e não um "sifu" proferido às claras e carregado de bom humor. Criticá-lo é tão hipócrita quanto às críticas à campanha da Marta, são frutos da mesma árvore cara-de-pau. Somados os ótimo/bom/regular são 93% de aprovação; como alguém comentou em um blog, os que desaprovam (7%) devem caber no espaço da Daslu. Esses que "sifo" afogados na própria inveja.

RLocatelli Digital disse...

Mas que delícia ver o PiG "sifu".
Globo, Veja, Folha, Estadão, todos deram um duro danado por meses, bombardeando a população com a tal crise. Tentando mostrar que o mundo acaba segunda-feira e que o Brasil será tragado pelo Oceano Atlântico, a não ser que coroemos Serra imperador perpétuo do Brasil - e futuramente do sistema solar.
E esse povo insolente faz o que? Dá a Lula um recorde de aprovação!
Sugestão para o PiG: demitir já o Serra e o Dantas, e contratar Zé do Caixão, que é especialista em medo.

Anônimo disse...

Amigos,
Sem contar que a tucanagem, quando assume o poder, só sabe vender bens públicos preexistentes, criados - sem a mínima participação sua -, por Governos anteriores, atrav[es da arrecadação de impostos. FHC fez uma hiper-privatização do Estado brasileiro, vendendo, a preço de banana podre em fim de feira, valiosíssimas empresas públicas, que muito poderiam ajudar o País, na atual fase de crise internacional. Covas vendeu o Banespa a um grupo estrangeiro. O antigo Banco do Estado de S. Paulo, muito poderia ajudar injetando recursos na economia paulista. Além disso privatizou boa parte das estradas construídas pelo Estado. Serra vendeu a Nossa Caixa e deu continuidade à privatização daquilo que restou das rodovias paulistas. Pretende também desestatizar a CESP, uma das últimas empresas públicas do Estado de São Paulo. Para onde vai o dinheiro arrecadado com as privatizações tucanas ? Virou Conceição: ninguém sabe, ninguém viu

Anônimo disse...

93% de aprovação, mandar o PIG "sifú", estou no olimpo!!!
Que final de semana em Miguel?
Feliz,feliz,feliz.........

Bob Silva disse...

Lula é aclamado pelo povão.
So resta a grande mídia se ligar que não adianta "plantar" falsas noticias contra o governo.

Bob Silva - Jandira News

Jurandir Paulo disse...

Sintomas da guerra perdida

Vou confessar uma perversão: adoro ver os meus inimigos estrebucharem na derrota. É o que assisto quando Diogo Mairnardi dedica um podcast para tentar desqualificar blogueiros. Êta guerra gostosa. “Velhos jornalistas de terceira linha, com a carreira definitivamente acabada”, diz sobre eles. Ah, quanta alegria. A voz da senzala ofusca no Olimpo as belas letras dos escolhidos de Mercúrio. Quem diria? A seção de cartas ganhou importância neste mundo novo, para desespero da terceira linha do jornalismo, que ainda resiste em suas arcaicas trincheiras.


Talvez não seja só isso. Entenda um tanto que apenas dominar a língua, essa velha arma das classes dominantes para se colocar em distância ao gentio, não garante todo o seu poder. É um repertório básico, pode ser conseguido com um bom curso fundamental. Nem precisa de mestrado, doutorado. Carlos Drummond de Andrade o fez, formando-se depois em farmácia para agradar aos pais. Depois ingressou no serviço público. Seria possivelmente hoje apenas mais um blogueiro para atormentá-lo. Ainda bem que existiu um Correio da Manhã e um Jornal do Brasil para divulgar aquela profusão de belas palavras, concatenadas para expressar uma incontida ligação com a vida, nosso povo, suas alegrias e angústias.

Algo onde vejo que a obra mainardiana nunca terá reconhecimento. O tempo é cruel com o conteúdo formado apenas por clichês preconceituosos. Se ao menos existisse aí uma bela forma...

Sinto, você perdeu. E estou brindando por esta alegria. É a guerra, entenda.

Postar um comentário