21 de novembro de 2007

Exposição de Nilton Pinho na Gávea



(uma parede do ateliê de Nilton Pinho)



O meu amigo Nilton Pinho está inaugurando uma exposição individual no Galpão das Artes Urbanas Helio Pellegrino. A abertura do evento, para a qual os leitores deste blog estão convidados, acontece no dia 23 de novembro de 2007, sexta-feira, às 19:00. O Galpão fica embaixo do viaduto Lagoa-Barra, Rua Padre Leonel Franca, S/N, Gávea, Rio de Janeiro. Confira aqui o endereço no Mapa do Google.

Aproveitando o ensejo, escrevi uma resenha para a exposição, que terá salgadinhos e cerveja Devassa e, seguramente, a presença da minha pessoa. Boa sorte, Nilton.

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Sobre o Pós-Conceitualismo Boêmio e Pioneiro de Nilton Pinho

Muito se tem falado sobre a crise da arte contemporânea. Ferreira Gullar chegou a escrever um excelente livro atacando teorias que prediziam a morte da arte. Outros criticam um suposto vazio e desalento observados em grande parte das obras modernas, sobretudo as que mais recebem destaque em bienais. Por falar em Bienal, a edição deste ano da Bienal de São Paulo não traz obras de arte, apenas perfomances, com um terceiro andar vazio como forma de "protesto". Chegou-se ao paroxismo da glamourização de curadores, acadêmicos e artistas conceitualóides de toda espécie. Neste contexto, falar de Nilton Pinho é como avistar um copo d'água num deserto.

As obras de Nilton Pinho põem em ridículo as teorias sobre a morte da arte. Com objetos adquiridos em feiras de usados, no lixo, na lona de trapeiros ou em fontes ainda mais misteriosas, Pinho realiza obras primas de extrema complexidade e beleza. Não se trata apenas de causar surpresa ou apresentar objetos de maneira inusitada. Nilton Pinho produz símbolos que comovem profundamente, que perturbam e deliciam, símbolos carregados de angústia, erotismo, desespero e terrível entusiasmo. Os objetos de Nilton Pinho não se limitam a chocar o senso comum, através da subversão do uso tradicional das coisas - eles têm um objetivo muito mais nobre, que é causar efetivamente um prazer estético. Objetivo, é importante ressaltar, perseguido com uma deliberação absolutamente consciente, afinal Nilton é o que eu chamo de um artista pós-conceitual.

Apesar de sua determinação estética consciente, a ferramenta utilizada por Nilton, não é a razão, como se depreende do resultado desconcertante de seus esforços, e sim a intuição pura e simples, na linha dos grandes mestres. Seu pós-conceitualismo, portanto, ao mesmo tempo que usa as informações estéticas mais avançadas da modernidade, resgata a ingenuidade apaixonada dos clássicos, convocando forças dionisíacas ao palco frio e racional da arte contemporânea.

Desfruto o privilégio de ser assíduo frequentador de seu ateliê na rua do Riachuelo, Lapa, o que é sempre uma experiência fascinante, um mergulho profundo em sua imaginação obscura, incendiária, perigosa. Situado no segundo andar de um sobrado decadente, o quartinho de poucos metros quadrados acumula centenas de obras, grandes e pequenas, nas paredes até o teto, nas estantes, sobre a mesa, pregado nas janelas, na porta - totalmente diversas entre si, compondo uma incrível multiplicidade de visões e estéticas.

Outros artistas, brasileiros ou não, se notabilizaram mundialmente por trabalhos com objetos. Mas ainda estou para encontrar alguém que tenha produzido obras tão maravilhosamente carregadas de humor e mistério como Nilton Pinho. E olha que nem falei de suas pinturas, igualmente grávidas de beleza e susto. Pinho também é um exímio pintor - a sua especialização em objetos, conforme ele explica, foi em parte incentivada pelos custos mais baixos de produção que estes oferecem.

O poeta Alexei Bueno escreve, no convite para a exposição do artista, que Nilton é um arqueólogo das relíquias desamparadas de nossos sonhos, e suas assemblages não necessitam de verbalizações críticas, tão imprescindíveis nesse momento de fabulosa mistificação artística. Eu acrescentaria que são desnecessários igualmente prêmios, benesses públicas ou laudatórias resenhas jornalísticas - embora fossem todos bem vindos, claro. Para serem justamente apreciadas, as obras de Nilton precisam somente de pupilas desarmadas, limpas de pudores acadêmicos e, de preferência, levemente alteradas por levedos de cerveja.

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