Com seus argumentos em terra, a Folha tenta desesperadamente manter uma brasinha acesa não mais se embasando em fatos, mas na própria figura de Dirceu. O editorial é lombrosiano. Lembra aqueles acusadores da idade média que apontavam o acusado ao júri dizendo: "Vejam! Não tenho provas conclusivas, mas observem esse nariz curvo, essas têmporas pronunciadas, esse queixo quadrado! É o rosto de um criminoso!"
Abaixo o editorial, intercalado de comentários meus.
Banda turva
Atuação de Dirceu expõe alianças entre empresas favorecidas pelo governo e grupos de interesse que se aninham no Estado
A CADA ENXADADA, uma minhoca. Natural da cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais, José Dirceu certamente conhece esse dito popular, segundo o qual basta procurar para encontrar.
E minhocas não parecem faltar quando o assunto são os negócios de consultoria a que passou a se dedicar o ex-ministro do governo Lula. Desde que deixou a Casa Civil e teve o mandato de deputado cassado pela Câmara, em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão, Dirceu tem se mostrado uma figura equívoca. A militância política e a atividade profissional, os contatos no mundo privado e as incursões pelos porões do poder público se misturam nebulosamente na vida deste personagem anfíbio.
[Bem, Dirceu teve seu mandato de parlamentar cassado, num processo que até a oposição admite ter sido puramente político. Não é mais funcionário público. Também afastou-se do PT, pelas mesmas razões políticas. Ao mesmo tempo, toda a sua vida foi dedicada à política. É só isso que ele sabe fazer. As pessoas se especializam. Dirceu se especializou em política, e política envolve necessariamente relações com o Estado e seus representantes. Acredito que ele precise ganhar dinheiro para viver. É natural que suas consultorias tenham relação com a política. Queriam que ele desse consultoria sobre esportes? Vai ver ele está fazendo algo de errado em alguma parte. Não boto a mão no fogo por ninguém. Mas é preciso provar, ou na impossibilidade disso, ao menos apontar indícios consistentes de infração, o que não foi o caso nas matérias sobre a Eletronet. Acusações genéricas como "incursões pelos porões do poder público" e "se misturam nebulosamente" são levianas e não tem valor nenhum. ]
O próprio Dirceu, vale dizer, alimenta uma certa mitologia em torno de seu personagem, sem que se saiba quanto disso é lobby de si próprio e quanto corresponde à influência que ainda exerceria sobre setores do Estado e da máquina petista.
Em 2007, numa longa entrevista à revista "Playboy", a certa altura ele explicava seu trabalho nos seguintes termos: "No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque, no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas do que com empresas que têm relações com o governo".
Primeiro, há esses telefonemas com exclamação, que mais mereceriam pontos de interrogação. Segundo, há o fato incontestável de que Dirceu trabalha, sim, com empresas que têm relações com o governo. Como revelou esta Folha, é o caso da consultoria que prestou ao empresário Nelson Santos entre 2007 e 2009, pela qual recebeu R$ 620 mil.
[Até onde eu sei não é proibido fazer propaganda de si mesmo. A Folha tenta transformar o ponto de exclamação (que foi escrito pelo redator, não pelo entrevistado), em prova de um crime... Dirceu foi um dos ministros mais importantes do primeiro governo Lula. É claro que seu telefonema tem peso. Que eu saiba, Nelson Santos não tem relação com o governo. Se ele comprou ações da Eletronet, uma empresa que possuía uma rede de fibras óticas, e a empresa perdeu essa rede para o governo, através de uma batalha judicial que durou anos, é problema dele. Se for levado ao pé da letra, eu também tenho relações com o governo, porque tenho conta no Banco do Brasil. Qualquer empresa no Brasil tem relações com o governo. ]
Dono de uma "offshore" num paraíso fiscal, Santos adquiriu em 2005, por R$ 1, uma participação na Eletronet, empresa em processo de falência que o governo Lula planeja recuperar para usar seu principal ativo -uma rede de 16 mil km de fibras óticas- na oferta de internet a 68% dos domicílios até 2014.
[Mentira. O governo Lula não pretende "recuperar" a Eletronet. O que ele fez foi recuperar, na Justiça, a posse da referida rede, que, portanto, não é "principal ativo" da Eletronet, mas um patrimônio da Eletrobrás e do povo brasileiro. A Folha, como sempre, desinforma. Nelson Santos fez uma aposta. A Eletronet é uma empresa privada; privatizada, é bom lembrar, em 1999, no governo FHC. Qualquer um podia comprar participação nela, se quisesse arcar com o risco de levar pra casa também uma dívida imensa. Esse tipo de coisa sempre tem utilidade, nem que seja para lavar dinheiro Mas aí é problema de Santos e, se ele cometer alguma irregularidade, da Justiça.]
É no mínimo uma coincidência sugestiva o fato de que a massa falimentar da Eletronet tenha sido convertida em ouro pelo governo meses depois da contratação de Dirceu por Santos. Qualquer que seja o desfecho dessa história, ela constitui o mais recente capítulo do que se tem procurado ocultar sob a retórica do "Estado forte" lulo-petista: a aliança entre empresas privadas favorecidas pelo poder e grupos de interesse aninhados no Estado e no partido.
[Mentira. A massa falimentar da Eletronet não foi convertida em ouro depois da contratação de Dirceu. Santos é que contratou Dirceu no momento em que avançavam as discussões, dentro do governo, para recuperar a rede de fibra ótica da qual a Eletronet era gestora ou proprietária - mas que, por decisão da Justiça, entendeu-se pertencer apenas à Eletrobras, a saber, ao governo, e não à Eletronet, porque foi construída antes da privatização da empresa, a qual nunca investiu um centavo na dita rede. De qualquer forma, a Folha tenta iludir algum trouxa derradeiro que só tenha acompanhado a história através de suas páginas. Nelson Santos não ganhou. O governo recuperou a rede de fibra ótica sem pagar nada à Eletronet. Esse é o fato concreto. Isso é que importa. Não há "coinciência sugestiva". Santos contratou Dirceu para tentar reverter um processo que estava em trâmite da justiça. Ou para ser melhor informado sobre o caso e evitar perder dinheiro. Provavelmente a consultoria envolveu outras informações que devem ter feito valer os 620 paus pagos ao ex-deputado. Essa é vida, senhor redator da Folha. O Luciano Huck ganha 3 milhões por mês. Um professor de história ganha 600 reais no Rio de Janeiro.]
A operação de compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, que demandou mudanças importantes na legislação e contou com forte injeção de dinheiro do Banco do Brasil e do BNDES, é um exemplo acabado do neopatrimonialismo em curso no país.
[Isso é outra história. Mudar de assunto não vale. Neopatrimonialismo foi privatizar a Vale e a Telebrás com dinheiro do BNDES, entregando tudo na mão de amiguinhos, como o Benjamin Steinbruch e Daniel Dantas. Aliás, aquilo sim era aliança entre mercado e Estado... Receber de mão beijada uma Vale, uma Telebrás, meu caro...]
Com seu maquiavelismo de almanaque, Dirceu apenas mostra de maneira mais didática o que se tornou diretriz de governo.
[Dirceu não é mais governo. Está tentando voltar. Mas não integra o governo desde 2005. A conclusão é dúbia, incoerente, vaga. A Folha já soube morder mais forte.]
Muito bem, Miguelito.
A França fez bem a você, amigo. A mídia golpista que se cuide. Miguel está simplesmente demolidor. A Folha, que já vem cambaleando meio desdentada, já faz uma "quadra", agora desdentou de vez.
Menos, Miguel. Não se deve bater forte assim em cachorro banguela, moribundo de desmoralização!
Miguel, até hoje ninguém me convenceu de que o Daniel Dantas, não passa de contador/administrador/testa de ferro, do Sergio Motta (In memoriam) e FHC. Espero viver o suficiente para ver a abertura, e divulgação do conteúdo, dos HDs apreendidos na casa do “orelhudo”.
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