- O que vocês estão olhando! Vocês precisam de mim! Precisam de alguém para apontar o dedo e dizerem para seus filhos: olha, este é o vilão! Este é o cara malvado! Mas vocês são muito piores que eu! Vocês também bandidos!
O cubano Scarface, como todo bandido inteligente, sabia a hora de lançar mão de discursos políticos. Não comparo Dirceu ao mafioso holliwoodiano, mas não pude evitar pensar na cena ao me deparar com esta nova temporada de caça ao ex-deputado petista. Dirceu se tornou uma espécie de "Chávez" consultor. Uma espécie de íncubo a aterrorizar as inocentes e honestas famílias do Alto Leblon. Observem a capa do Globo desta quarta-feira:
Qual o sentido jornalístico desta foto imensa em close fechado do rosto de José Dirceu? Ora, o jornalismo é uma ciência. O tamanho das fotos, sua disposição na página, a escolha da expressão facial do fotografado, tudo produz determinados efeitos psicológicos. Não estou sendo paranóico, por favor. Isso é uma coisa óbvia. Nem estou dizendo que Dirceu seja um santo, um inocente caipira do interior de São Paulo. Estou dizendo que o jornal sabe muito bem como maximizar uma denúncia. Mesmo que seja uma denúncia duvidosa.
Confiram o texto que encima a foto. Está escrito que o "governo corre para esvaziar denúncia de lobby de Dirceu". O que significa isso? Tirante os missivistas histéricos, os aposentados apopléticos e os raivosos lacerdistas em geral, creio que boa parte dos leitores do Globo lêem as manchetes do jornal com muita desconfiança e um tanto de humor. Eu leio assim: "Governo aprende a reagir à lombada nas costas com mais rapidez."
O leitor mais interessado, como se estivesse perante uma instalação pós-moderna, deverá subir uma longa escada, penetrar no sótão, avistar um tabuleta ao fundo, arrastar-se até lá, para enfim ler a notícia: os sócios privados da Eletronet não vão ganhar nada com a apropriação, pelo governo, das redes de fibra ótica da empresa; e que, portanto, a principal acusação à Dirceu perde força. Se tiver paciência e continuar participando da gincana lerá, no próprio jornal, uma defesa segura do próprio ex-deputado e declarações de diversos órgãos e autoridades desmentindo a matéria da Folha, que foi quem levantou primeiro a bola deste "escândalo". Algumas coisas, no entanto, terão de ser identificadas no escuro, porque os jornais se recusam a explicar. Por exemplo: trata-se de uma denúncia puramente midiática, sem a participação de nenhuma autoridade investigativa, como Ministério Público, polícias, Justiça. Até aí tudo bem, a imprensa também sabe, quando quer, encontrar os bodes pretos; mas se, mesmo depois de tanto sensacionalismo, nenhuma autoridade se manifestar, é porque não há consistência na acusação.
Não boto a mão no fogo por ninguém. Se os jornais intensificarem a caça a Dirceu, podem até topar com alguma infração, e não necessariamente vinculada a Eletronet. Um sobrinho de Dirceu pode ser flagrado, amanhã, fumando maconha em sala de aula. A mídia irá trazer gráficos e fotos do rapaz de mãos dadas com o tio, num dia de sol qualquer do interior de São Paulo.
Boa parte das pessoas entenderá apenas o seguinte: Dirceu ganhou 600 paus, e isso é um absurdo. Os aposentados de Copa que ganham 2 mil e protestam diariamente (com razão) contra a lei (de FHC, mas que agora virou culpa de Lula) que desvinculou seus salários do aumento do mínimo, esses aposentados cogitam diariamente atentados terroristas contra a República. Ninguém lembra nessas horas, claro, que o Faustão ganha 2 milhões de reais por mês... E não creio que o Faustão tenha um caráter assim tão superior ao de Dirceu.
Mas outra coisa chamou-me a atenção. A ciclópica manchete, temperada com a foto gigante do monstro petista, não é a matéria principal que ocupa as páginas 3 a 5, sobre os desdobramentos da mais grave crise política já enfrentada por um estado brasileiro.
A matéria, no entanto, recebe destaque no caderno de economia. Qual a acusação? O governo teria decidido usar as fibras óticas por influência de Dirceu? Ué? O que se deveria ter feito, então, com essas fibras óticas? Deixá-las apodrecendo?
A decisão do governo de usar as fibras óticas da Eletronet como base para a construção da plataforma de internet banda larga no país tem sido efusivamente comemorada nos meios digitais, porque é uma decisão sensata, urgente e necessária. O Brasil precisa ampliar a oferta de banda larga. Grande parte dos internautas brasileiros ainda usa a conexão telefônica, insuportavelmente lenta, e que se torna cada dia mais e mais obsoleta. As próprias empresas privadas que operam no setor de internet comemoraram, mesmo com receio de que o governo decida se responsabilizar também pelo serviço de ponta, pela relação com o consumidor final. Elas sabem que a inclusão de dezenas de milhões de pessoas no mercado digital lhes trará imensas vantagens.
Já a mídia, em vez de oferecer à sociedade um debate mais intenso sobre a necessidade premente de assegurar banda larga a todos os brasileiros, prefere se preocupar com os 600 mangos que o Dirceu levou de um empresário, através de um serviço convencional de consultoria, feito com nota fiscal, tudo certinho. É tudo tão mesquinho. Sou um blogueiro duro há muitos anos, mas sei que esse mundo da alta consultoria, assim como a alta advocacia, a alta moda, o alto esporte, enfim, os high business, envolvem valores altos mesmo. É a lei do capitalismo.
Além disso, de que se culpa Dirceu? De fazer lobby? Ora, Dirceu não é mais deputado, nem ministro. Não ganha mais salário público. Tem que ralar para ganhar dinheiro, como todo mundo. É um advogado. Pode prestar consultoria para quem quiser. É sua liberdade.
O que o leitor deve atentar é o seguinte. O governo agiu acertadamente ao lutar pelas fibras óticas da Eletronet. Recuperou para o contribuinte brasileiro um patrimônio de importância estratégica para o desenvolvimento econômico e cultural do país. Não creio que Dirceu tenha exercido qualquer influência determinante sobre o caso. E se tivesse, era o caso de lhe parabenizar por ter convencido o governo a ter tomado uma decisão inteligente.
O verdadeiro sentido da reportagem, todavia, fulgura intensamente logo no início da matéria:
BRASÍLIA, SÃO PAULO e CANCÚN - Quatro dias depois do lançamento da pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República pelo PT, o Palácio do Planalto se movimentou na terça-feira para esvaziar a denúncia de que o ex-ministro José Dirceu fez lobby para beneficiar interesses privados no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). É o que mostra reportagem de Gustavo Paul e Mônica Tavares, publicada nesta terça-feira, no GLOBO.
Realmente... a editoria do Globo perdeu qualquer resquício de escrúpulo em parecer isenta. O que tem a ver que a "denúncia" tenha ocorrido quatro dias depois do lançamento da pré-candidatura da ministra? Daqui a pouco, ao anunciar mais uma enchente na ilha da Madeira, o Globo poderia dizer que a tragédia ocorreu duas semanas após o anúncio da candidatura Dilma.
Os jornais estão desesperados atrás de um escândalo. Se envolver o plano de banda larga, então aí é perfeito. Esse plano mexe com poderosos interesses dos grupos de comunicação. Tenho ouvido muito por aí que a razão maior pela qual a mídia quer Serra em Brasília é para fechar grandes negociatas na área de telecomunicações, incluindo a banda larga - que é pedra fundalmental em todo processo. Em breve, tudo será internet. A TV e o telefone convergirão para a rede mundial, desde que haja banda com largura conveniente. Os grupos de mídia querem participação nestas grandes mudanças, porque esses momentos de transição oferecem oportunidades de lucros colossais, desde que os agentes possuam conexões políticas.
Os grupos midiáticos querem ser protagonistas no processo de revolução digital que o Brasil (assim como o mundo inteiro) está experimentando hoje e que ganhará velocidade nos próximos anos. Para isso, precisam de poder político. Precisam de Serra.
Reparem que o Globo mandou repórter para Cancun (ou teriam acionado alguém de férias por lá?), porque farejaram a possibilidade de produzirem um barulho suficiente para abafar os ruídos que chegam de Brasília e São Paulo. Nada melhor do que um escândalo tendo Dirceu papão como estrela principal para fazer os lacerdistas esquecerem do Arrudagate e dos imbróglios kassabianos.
É impressão minha ou o Dirceu, nessa foto, tá parecendo o Edir Macedo?
[ ]s,
Ninguém
Muito bom post. Bem-vindo de volta!
Ótimo texto, como sempre.
Miguel disse tudo!
O Zé Dirceu é muito esperto, não deixa suas digitais em lugar nenhum, ao contrário deles, que por onde passam vão deixando seus rastros pelo caminho, e que rastros.
Essa midia rastaquera tá achando que vai conseguir tirar da reta, os seus apadrinhados políticos, corruptos demotucanos.
No sábado durante a convenção do PT, me parece ter ficado certo que Zé Dirceu volta a ativa no partido e vai trabalhar na campanha de Dilma, quer melhor do que criar factóides para atacá-lo agora e depois dizer, olha lá o ladrão trabalhando na campanha da terrorista. Segundo o Nassif o reporter da folha que levantou essa lebre já trabalhou na veja, portanto know how ele tem.
Bem vindo de volta ao calor do Brasil.
Qual a lógica da oligarquia?
Vi uma entrevista rápida/rasteira em alguma destas TV com o filho do Bornhausen/SC (aquele que fez campanha contra a CPMF...) me deu vontade de vomitar, não respondeu a pergunta formulada sobre seus amigos do Demo/PFL implicados em Brasília sua resposta desvio-se para Jose Dirceu/PT, parece reprise da música - mensalão do PT, a banda oligarca começou a tocar...
“Os jornais estão desesperados atrás de um escândalo...”.
Qual a lógica do trabalhismo?
Eliminar/combater as práticas oligarquias...
Grata,
Fátima/Fafitoca
Se for pra cobrar os 600 paus do Dirceu tem que cobrar também os 700paus da consultoria que planejou o nome Petrobrax que (graças a deus) nunca foi usado. Além de só cobrarem de um lado eles demonizam o lado cobrado. É uma bandidagem só né não... Mas eles estão desesperados, isso é só o começo.
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