O aumento do salário mínimo será um choque de auto-estima no povo brasileiro. Mais um choque legal que Lula vem promovendo desde que se elegeu. Os adversários de Lula podem achá-lo que ele é um péssimo presidente. Mas comparem-no à Collor. A Sarney. Aos militares. Até agora, os únicos presidentes que prestaram no Brasil foram JK, Getúlio Vargas e Lula. Este último ainda pode ter um outro mandato, se os intelectuais tiverem um mínimo de vergonha na cara para não se venderem barato aos setores reacionários da burguesia.
Claro que muitos empresários irão, de pirraça, demitir funcionários em represália ao aumento do mínimo, mas a injeção gigantesca de dinheiro no mercado interno e o aumento da renda de milhões de trabalhadores irão estimular de maneira extraordinária outros empresários a contratarem e investirem em novos negócios.
Fala sério, a única coisa que realmente importa para um governo federal é gerar emprego, valorizar a renda mínima e ter uma política fiscal séria, que dê vigor ao Estado brasileiro para reconstruir o patrimônio perdido em décadas e décadas de governos corruptos e descomprometidos com o bem estar da imensa maioria da população brasileira.
A reconstrução do Estado brasileiro, após o desmonte irresponsável promovido pela gestão tucana, passa pelo rigor fiscal, necessário para o incremento dos gastos em saúde, educação e política social. Essa é a razão pela qual Lula é o verdadeiro pai da política econômica. Por isso mesmo acho irracional e alienígena a teoria inventada pela direita e engolida ingenuamente pela esquerda de que o rigor fiscal é uma política conservadora. Rigor fiscal no Brasil é revolucionário! Com que dinheiro você quer investir em saúde, educação, política agrária, senão tivermos, antes de tudo, um Estado saudável financeiramente?
Faz-se confusão ainda sobre o tema reforma agrária. Os grandes meios de comunicação não estão iluminando o que foi a principal política do governo Lula: a valorização da agricultura familiar. Estive dez dias agora na zona da mata mineira, e observei o enorme crescimento do crédito rural para o pequeno agricultor, somado ao dinheiro do Bolsa Familia para pessoas antes destruídas pela miséria. Conversei com gerentes de agências do Banco do Brasil, funcionários de órgãos de extensão rural e com muitos pequenos agricultores. A agricultura familiar voltou a crescer, de forma prudente e bem informada, sem afobação ou entusiasmo ingênuo, mas com serena fé num futuro promissor.
A história é uma velha sarcástica, ela enfraquece e fortalece os líderes para transformar a história. O enfraquecimento de Lula junto à classe média está empurrando-o novamente para o proletariado, onde encontra ainda febril apoio. Com isso, nunca foi tão fácil para as centrais sindicais negociar um salário mínimo, nem nunca estiveram numa situação tão à vontade como agora. Os sindicalistas compreendem Lula, perdoam-no de qualquer coisa, como acontece sempre na relação das massas com seus líderes, desde que eles, é claro, se preocupem com o bem estar da "patuléia".
As massas não respeitam os líderes por acharem-no perfeito. Pelo contrário, respeitam-no e gostam deles justamente por seus erros. Porque Lula teve 54 milhões de votos, marca nem de longe alcançada por qualquer presidente na história do país, muito superior ao que outro político brasileiro jamais sonharia em ter?
Por causa de seus defeitos, sua falta de um dedo, perdido num acidente de fábrica, sua fala truncada, cheia de erros gramaticais. A alma dura de sertanejo ignorante sim porém mais inteligente, mais esperto - e mais patriota - que qualquer bacharel engomadinho da cidade... O personagem mais inteligente da literatura brasileira é Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, livro que explica o porquê dos sertanejos serem superiores aos intelectuais.
Por que o nordestino é tão sonhador? Por que é tão revoltado, tão sério, tão trabalhador, tão alegre? A história dos milhões de mortos de fome, sede, cegueira, cansaço, no nordeste brasileiro, talvez tenha a ver com isso. Tenho uma teoria que a história da República brasileira tem início em Canudos, em que exércitos de andrajos triunfaram sobre três expedições militares federais.
O Estado venceu porque tinha que vencer. A lei implacável da história. Pra sorte nossa, esteve ali Euclides da Cunha, repórter do Estado de São Paulo, e produziu o documento histórico mais artístico, mais emocionado, da bibliografia nacional, Os Sertões. Ao falar nos sertões, lembro do meu pai, nascido em Araguari, obscura cidade do triângulo mineiro, onde viveu seus primeiros vinte anos, entre o trabalho pesado na roça e os livros - ele me indicou Os Sertões assim que me viu interessado em possuir uma formação. Inclusive sugeriu os capítulos referentes à Guerra e ao Homem, observando que as outras partes do livro são excessivamente descritivas, com alguns trechos um pouco enfadonhos.
É uma merda mas o artista é envolvido pela política mesmo contra a sua vontade... sobretudo nos dias de hoje, em que a concentração dos meios de comunicação no país (os mesmos de que necessita para divulgar seu trabalho) atingiu níveis nunca dantes navegados, e esses meios de comunicação são extremamente engajados no processo político nacional. A concentração dos meios de comunicação é um fenômemo natural e inevitável em todo mundo, e tem a ver inclusive com a democratização e popularização de seu acesso, por isso não adianta querer só ir contra. Tem um bocado de chauvinismo apressado e imperdoavelmente ingênuo dizer "sou contra tudo que está aí" e sair para beber sua coca-cola ou navegar em seu ibm. O indivíduo precisa adaptar-se às circunstâncias e lutar a boa luta no ringue oferecido pela História. Ademais, o advento da internet criou espaços de interação que podem se tornar um excelente contra-peso à concentração midiática.
No caso do Estado, vejo que ele não pode mais ficar dependendo da boa vontade de seus inseguros eleitores. Precisa possuir uma boa estrutura de comunicação, que permita fazer frente aos poderosos grupos privados que controlam o mercado de mídia. Os movimentos sociais, por seu lado, precisam também crescer e se organizarem, como já estão fazendo, para ser o terceiro elemento, o fiel da balança entre Estado e o setor privado.
O debate político no Brasil precisa ser aprofundado. A luta politica não é entre Lulistas e anti-Lulistas e sim entre diferentes grupos econômicos, aos quais se aliam interesses sociais legítimos, mas nem sempre justos ou progressistas.
Por exemplo, setores da classe média não simpatizam de forma alguma com a idéia de pagar 50 reais a mais para sua empregada doméstica. Claro que muitos já pagam inclusive muito mais, mas estão sempre jogando isso na cara, em forma de palavras, olhares, sorrisos, ordens, de seus funcionários.
As relações trabalhistas sempre serão tensas. Por isso devem estar sendo sempre aprimoradas, estudadas, para que possamos construir uma socidade organizada em hierarquias eficientes, democráticas e justas. Não é utopia, são fórmulas já usadas em muitos países. Isso é o que se discute nos fóruns sociais, embora os meios de comunicação e certos setores sociais insistam em ridicularizar todos os debates sérios sobre o futuro da humanidade. Cartas de amor são ridículas, dizia Fernando Pessoa, discutir o futuro da humanidade também soa ridículo. Mas tanto cartas de amor como discussões sérias fazem parte da vida e, quando menos esperamos, somos lançados no meio de fóruns, discussões de bar, crises domésticas, crises políticas, crises profissionais, que nos obrigam a constatar que, para compreendermos um pouco mais a nós mesmos, sempre ajuda entender o que se passa a nossa volta.
Claro que muitos empresários irão, de pirraça, demitir funcionários em represália ao aumento do mínimo, mas a injeção gigantesca de dinheiro no mercado interno e o aumento da renda de milhões de trabalhadores irão estimular de maneira extraordinária outros empresários a contratarem e investirem em novos negócios.
Fala sério, a única coisa que realmente importa para um governo federal é gerar emprego, valorizar a renda mínima e ter uma política fiscal séria, que dê vigor ao Estado brasileiro para reconstruir o patrimônio perdido em décadas e décadas de governos corruptos e descomprometidos com o bem estar da imensa maioria da população brasileira.
A reconstrução do Estado brasileiro, após o desmonte irresponsável promovido pela gestão tucana, passa pelo rigor fiscal, necessário para o incremento dos gastos em saúde, educação e política social. Essa é a razão pela qual Lula é o verdadeiro pai da política econômica. Por isso mesmo acho irracional e alienígena a teoria inventada pela direita e engolida ingenuamente pela esquerda de que o rigor fiscal é uma política conservadora. Rigor fiscal no Brasil é revolucionário! Com que dinheiro você quer investir em saúde, educação, política agrária, senão tivermos, antes de tudo, um Estado saudável financeiramente?
Faz-se confusão ainda sobre o tema reforma agrária. Os grandes meios de comunicação não estão iluminando o que foi a principal política do governo Lula: a valorização da agricultura familiar. Estive dez dias agora na zona da mata mineira, e observei o enorme crescimento do crédito rural para o pequeno agricultor, somado ao dinheiro do Bolsa Familia para pessoas antes destruídas pela miséria. Conversei com gerentes de agências do Banco do Brasil, funcionários de órgãos de extensão rural e com muitos pequenos agricultores. A agricultura familiar voltou a crescer, de forma prudente e bem informada, sem afobação ou entusiasmo ingênuo, mas com serena fé num futuro promissor.
A história é uma velha sarcástica, ela enfraquece e fortalece os líderes para transformar a história. O enfraquecimento de Lula junto à classe média está empurrando-o novamente para o proletariado, onde encontra ainda febril apoio. Com isso, nunca foi tão fácil para as centrais sindicais negociar um salário mínimo, nem nunca estiveram numa situação tão à vontade como agora. Os sindicalistas compreendem Lula, perdoam-no de qualquer coisa, como acontece sempre na relação das massas com seus líderes, desde que eles, é claro, se preocupem com o bem estar da "patuléia".
As massas não respeitam os líderes por acharem-no perfeito. Pelo contrário, respeitam-no e gostam deles justamente por seus erros. Porque Lula teve 54 milhões de votos, marca nem de longe alcançada por qualquer presidente na história do país, muito superior ao que outro político brasileiro jamais sonharia em ter?
Por causa de seus defeitos, sua falta de um dedo, perdido num acidente de fábrica, sua fala truncada, cheia de erros gramaticais. A alma dura de sertanejo ignorante sim porém mais inteligente, mais esperto - e mais patriota - que qualquer bacharel engomadinho da cidade... O personagem mais inteligente da literatura brasileira é Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, livro que explica o porquê dos sertanejos serem superiores aos intelectuais.
Por que o nordestino é tão sonhador? Por que é tão revoltado, tão sério, tão trabalhador, tão alegre? A história dos milhões de mortos de fome, sede, cegueira, cansaço, no nordeste brasileiro, talvez tenha a ver com isso. Tenho uma teoria que a história da República brasileira tem início em Canudos, em que exércitos de andrajos triunfaram sobre três expedições militares federais.
O Estado venceu porque tinha que vencer. A lei implacável da história. Pra sorte nossa, esteve ali Euclides da Cunha, repórter do Estado de São Paulo, e produziu o documento histórico mais artístico, mais emocionado, da bibliografia nacional, Os Sertões. Ao falar nos sertões, lembro do meu pai, nascido em Araguari, obscura cidade do triângulo mineiro, onde viveu seus primeiros vinte anos, entre o trabalho pesado na roça e os livros - ele me indicou Os Sertões assim que me viu interessado em possuir uma formação. Inclusive sugeriu os capítulos referentes à Guerra e ao Homem, observando que as outras partes do livro são excessivamente descritivas, com alguns trechos um pouco enfadonhos.
É uma merda mas o artista é envolvido pela política mesmo contra a sua vontade... sobretudo nos dias de hoje, em que a concentração dos meios de comunicação no país (os mesmos de que necessita para divulgar seu trabalho) atingiu níveis nunca dantes navegados, e esses meios de comunicação são extremamente engajados no processo político nacional. A concentração dos meios de comunicação é um fenômemo natural e inevitável em todo mundo, e tem a ver inclusive com a democratização e popularização de seu acesso, por isso não adianta querer só ir contra. Tem um bocado de chauvinismo apressado e imperdoavelmente ingênuo dizer "sou contra tudo que está aí" e sair para beber sua coca-cola ou navegar em seu ibm. O indivíduo precisa adaptar-se às circunstâncias e lutar a boa luta no ringue oferecido pela História. Ademais, o advento da internet criou espaços de interação que podem se tornar um excelente contra-peso à concentração midiática.
No caso do Estado, vejo que ele não pode mais ficar dependendo da boa vontade de seus inseguros eleitores. Precisa possuir uma boa estrutura de comunicação, que permita fazer frente aos poderosos grupos privados que controlam o mercado de mídia. Os movimentos sociais, por seu lado, precisam também crescer e se organizarem, como já estão fazendo, para ser o terceiro elemento, o fiel da balança entre Estado e o setor privado.
O debate político no Brasil precisa ser aprofundado. A luta politica não é entre Lulistas e anti-Lulistas e sim entre diferentes grupos econômicos, aos quais se aliam interesses sociais legítimos, mas nem sempre justos ou progressistas.
Por exemplo, setores da classe média não simpatizam de forma alguma com a idéia de pagar 50 reais a mais para sua empregada doméstica. Claro que muitos já pagam inclusive muito mais, mas estão sempre jogando isso na cara, em forma de palavras, olhares, sorrisos, ordens, de seus funcionários.
As relações trabalhistas sempre serão tensas. Por isso devem estar sendo sempre aprimoradas, estudadas, para que possamos construir uma socidade organizada em hierarquias eficientes, democráticas e justas. Não é utopia, são fórmulas já usadas em muitos países. Isso é o que se discute nos fóruns sociais, embora os meios de comunicação e certos setores sociais insistam em ridicularizar todos os debates sérios sobre o futuro da humanidade. Cartas de amor são ridículas, dizia Fernando Pessoa, discutir o futuro da humanidade também soa ridículo. Mas tanto cartas de amor como discussões sérias fazem parte da vida e, quando menos esperamos, somos lançados no meio de fóruns, discussões de bar, crises domésticas, crises políticas, crises profissionais, que nos obrigam a constatar que, para compreendermos um pouco mais a nós mesmos, sempre ajuda entender o que se passa a nossa volta.