A edição desta semana de Veja mostra bem que a revista encontrou um novo alvo para escoar seus rancores ideológicos: Hugo Chávez. O perfil fortemente esquerdista de Chávez encaixa-se à perfeição no alvo preferido dos editorialistas reacionários da revista.
É interessante ver como a revista exagera na dose, caindo num maniqueísmo ridículo, em que considera Chávez a representação do mal na política latino-americana, e repetindo chavões obsoletos sobre os males do socialismo.
Talvez a revista pudesse dar uma olhada na reportagem do Globo desta sábado sobre o aniversário da vitória vietnamista sobre os EUA. Aliás, faltou ao Globo humildade e sabedoria para acrescentar uma nota editorial à notícia. Mas tudo bem, o que importa é que o jornal informou que a guerra do Vietnã gerou 7 milhões de mortos no país, contra 58 mil americanos.
Sete milhões de mortos... é um verdadeiro holocausto, ou mais que o holocausto, se lembrarmos que a II Guerra matou seis milhões de judeus.
E tem gente que ainda vê os EUA como mocinhos do bem lutando pela liberdade.
Aqui no Rio, o prefeito continua com uma gestão fantástica: manda a guarda municipal pegar camelô enquanto os turistas, sem proteção alguma, são alvo de trombadinhas em Copacabana.
Os Garotinho estão gastando milhões com publicidade. Contrataram a Débora Secco, e vários atores da Globo para espalhar as maravilhas de sua gestão. Enquanto isso, a polícia continua realizando chacinas nas periferias, a criminalidade aumenta e o desemprego prossegue atormentando o cidadão fluminense.
3 de abril de 2005
Rio de Janeiro: a dialética da morte
Seja o primeiro a comentar!
Segue aí em primeira mão, um artigo que devo publicar na Novae (se o Mano aprovar) e no A&P. Abraço.
Rio de Janeiro: a dialética da morte
Chacina da Baixada, crise na saúde, populismo evangélico: dor e política no Rio de Janeiro
Introdução
Ao Rio nunca faltou material para antropólogos, sociólogos, jornalistas e intelectuais em geral discorrerem sobre política, religião, violência urbana, miséria e educação, dentre outros temas pertinentes à organização social.
Capital dos contrastes, o Rio é, ao mesmo tempo, a cidade brasileira com mais escritores por habitante e onde as escolas estaduais aboliram a teoria darwiniana e ensinam agora o criacionimso, ou seja, a teoria de Adão e Eva.
É onde milionários lotam restaurantes nos quais se gasta um mínimo de mil reais por noite e onde existem milhares de favelas nas quais não há saneamento básico, educação e esperança.
E agora, mais uma vez, o Rio vira alvo das atenções nacional e internacionalmente por fatos extremamente negativos: a crise na saúde pública e a chacina de mais de trinta pessoas na Baixada Fluminense.
Usando como exemplo esses dois elementos, gostaria de discutir a atual conjuntura política na cidade e no estado do Rio de Janeiro e também a origem da violência urbana na região. Nessa análise, tentarei inserir soluções que possam amenizar, no curto, no médio e no longo prazo, o sofrimento das populações cariocas e fluminenses.
Antes de tudo, enfatizo que o entendimento dos problemas do Rio servem de lição a todos os brasileiros e, portanto, peço a atenção dos leitores de todo país.
Vamos por parte, e falemos da conjuntura política. Atualmente, o estado é governado por Rosinha Matheus Garotinho, esposa de Anthony Garotinho, que foi o mandatário anterior. A família está, portanto, há seis anos no poder, tempo mais do que suficiente para nós conhecermos sua maneira de fazer política e julgarmos seus resultados. Ambos são do PMDB.
O prefeito César Maia, do PFL, reelegeu-se, em 2004, no primeiro turno, sendo praticamente o único quadro do partido que logrou bons resultados nessas eleições, o que lhe conferiu automaticamente a vaga de candidato a presidente da República.
Essas são as duas principais lideranças políticas do estado. Pessoalmente, sou um crítico ferrenho delas, mas tentarei aqui deixar de lado emoções e ideologias e analisar com fria objetividade as razões e circunstâncias que as conduziram ao poder, as consequências de suas gestões e as perspectivas que se apresentam para o futuro.
O populismo evangélico
O casal Garotinho é um dos pioneiros no país e, certamente, a principal expressão política, do chamado populismo evangélico. Em seis anos de governo, eles implantaram uma política baseada num assistencialismo dos mais chulos, sem compromisso algum com políticas de educação, criação de empregos ou redução de pobreza. E o que é pior, voltado explicitamente para a questão eleitoral, como ficou claro no último pleito, em que a governadora fez discursos em diversas cidades da Baixada ameaçando cortar verbas dos programas sociais no caso dos prefeitos seus aliados não vencerem a disputa.
A ideologia “garotinista” é algo inacreditável: um pseudo-socialismo oportunista e charlatão que, em pleno século XXI, decreta o ensino da teoria criacionista nas escolas, abandona quase que totalmente a maior universidade do estado (a Uerj) e investe num tipo de segurança pública genocida. Aliás, o aspecto genocida da segurança pública no Rio, por mim e muitos outros denunciado há tempos, explodiu de vez com o recente episódio da Baixada (dia 31 de março), no qual morreram trinta pessoas inocentes.
Depois da chacina da Baixada, o fiasco da segurança pública do governo estadual não é mais motivo de chacota: é uma tragédia sem precedentes, por ser a maior chacina da história do Rio de Janeiro, superando a de Vigário Geral e a da Candelária. E com um ponto em comum unindo as três: todas feitas por policiais.
E o que leva servidores públicos ao extremo de tirar a vida de trinta cidadãos, aos quais, teoricamente, deveriam proteger?
A chacina da Baixada constitui um verdadeiro “fato social”, conforme ensinava Durkhein, e como tal nos permite tirar claras conclusões. Aliás, é disso que precisamos, conclusões cristalinas sobre coisas importantes, e não elucubrações complicadas e estéreis sobre Big Brother como o Roberto Damatta vem fazendo no O Globo.
A conclusão, já amplamente sabida por todo morador de regiões pobres da área metropolitana, é que o policial fluminense tornou-se um marginal, com graves problemas psicológicos, devido a seu histórico de tortura, corrupção e violência.
E o governo estadual é o principal culpado, visto que nunca fez nada para melhorar essa situação. No ano passado, durante mais uma das crises de segurança, Rosinha nomeou (quem?) seu próprio marido como secretário de Segurança Pública do estado. Resultado: fracasso total. Garotinho conseguiu o que todos achavam impossível: piorar ainda mais a situação de violência no estado, num crescendo que culminou agora com a tragédia da Baixada. Há alguns meses que ele, silenciosamente, se licenciou do cargo, por esperteza política, ao perceber que lhe seria prejudicial (como de fato o foi) politicamente seu nome ser associado a tantas calamidades.
Enquanto o governo estadual não iniciar uma verdadeira reforma no sistema policial fluminense, a violência urbana continuará a atormentar a vida do cidadão. Mas não precisamos de expurgos mal planejados, cujas consequências recaem sobre a população (a chacina da Baixada foi feita, dizem autoridades, por policiais revoltados com o afastamento de alguns policiais), mas operações dirigida com prudência e inteligência, que evitem que os policiais se vinguem sobre gente indefesa e desarmada.
Crise na saúde: o ocaso de César Maia
A vitória esmagadora nas eleições municipais parece ter detonado, no cérebro de César Maia, uma febre que o tem levado a uma espécie de loucura imperial do tipo Nero. Só falta agora ele mandar incendiar a cidade apenas para sua própria diversão. Quer dizer, ele fez pior: percebeu que podia infligir um tipo de sofrimento ainda mais terrível ao deixar a saúde pública da cidade à míngua.
Há gente que acusa, no entanto, o governo federal, de ter criado um circo político para prejudicar César Maia. Discordo totalmente. Até aceito o argumento de que, por trás da crise na saúde, existe uma disputa política. Mas e daí: até aí não vejo problema, afinal democracia é isso mesmo, disputa política. O negócio é que, enquanto o Ministério da Saúde está brigando com trabalho, médicos, remédios, negociação com o Exército, e todo tipo de armas que apenas beneficiam a população, o prefeito César Maia usa a morte como arma: para sabotar a intervenção, já mandou cortar o fornecimento de remédios (no que foi impedido pela Justiça), o salário dos médicos (idem), e não tem dado um passo na necessária ampliação da rede básica de saúde.
Sua reação dúbia, esquizofrênica, raivosa, confusa e, por fim, agressiva, à intervenção federal na saúde (aprovada por mais de 82% da população carioca, segundo pesquisa divulgado pelo Globo), foi seu atestado de morte política.
Quando o Globo, que outrora foi seu grande apoiador, divulgou que, desde meados do ano passado, a maior parte dos serviços prestados aos hospitais públicos municipais não haviam sido pagos, enquanto o prefeito se gabava de ter mais de um bilhão de reais em caixa, ficou absolutamente claro que temos um louco furioso diante de nós.
Estado violência
A lição que tiramos de todos esses fatos é simples. A violência pública do Rio, que tem raízes históricas, continua sendo alimentada pela má gestão de seus governantes. A própria polícia admite: ela é a única a entrar nas favelas, o único serviço público que chega às comunidades carentes. E que serviço público! Entra atirando, chutando portas, criando desordem. Tudo isso pra quê? Pra apreender dez trouxinhas de maconha e três ou quatro pistolas velhas? E o que é pior: tirar a vida de três ou quatro jovens negros?
Até quando, meu Deus, perdurará essa situação?
O único consolo, e dos mais débeis, que encontro, é apelar para a velha e boa filosofia. De acordo com as clássicas leis da dialética, o homem só aprende o que é bom quando vive o que há de pior. Assim os europeus compreenderam o valor da paz apenas depois de séculos de atroz violência. Aguardo, então, com estóica paciência, o tempo em que cariocas e fluminenses, aprenderão com o sofrimento a importância de escolher com cuidado os políticos que serão responsáveis (literalmente) por suas vidas. Não só do poder executivo, mas também do poder legislativo, o qual, aliás, é também uma instância ainda totalmente obscura do estado, com grande parte de seus representantes envolvidos em grossas falcatruas.
Desfusão do Rio: patética discussão
Finalizando esse artigo, já grande demais, coloco em questão a mais nova polêmica entre as elites cariocas: deve a cidade do Rio voltar a ter status de estado? Ou seja, tornar-se uma cidade estado, assim como o era antes de 1975?
Considero esse debate um escapismo patético, fruto do desespero das elites para com o governo populista de Garotinho. Não tenho, inclusive, nem paciência para discorrer sobre isso. Apenas acho que é apenas mais um debate desagregador e artificial, que nos distancia dos verdadeiros problemas da região. Além do mais, economicamente falando, a cidade do Rio não é mais grande coisa, se é que já foi algum dia, para ganhar alguma coisa com isso. As indústrias e o petróleo estão no estado. Em segundo lugar, é um papo discriminatório e elitista, que trata os moradores de outras cidades com desdém, como se o cidadão que nasceu em Duque de Caxias, Queimados, Nova Iguaçu ou em qualquer outro município, fosse um cidadão menor que não merecesse a preocupação dos “intelectuais” cariocas. Fala-se que parte dos problemas do Rio vem de fora, o que, além de ser uma grande mentira, embute uma resposta burra e reacionária, que é negar a solidariedade aos irmãos fluminenses. O Rio deve e vai continuar sendo um município do estado do Rio de Janeiro, e deve continuar recebendo de braços abertos, assim como seu Cristo, todos aqueles que vêm de fora procurar sua ajuda, seu carinho e seu calor humano.
O lado carioca de todo brasileiro
Por falar em calor humano, lembro que é a característica mais apreciada pelos que vem de fora, segundo pesquisa entre turistas. Machado de Assis, esse carioca ilustre, de família humilde, mulato, sem nem o segundo grau completo, criado aos pés do morro da Providência, ficaria muito feliz em saber dessa pesquisa, porque ele se irritava com gringos que gabavam apenas a natureza do Rio, sem ver a beleza muito maior que existia na alma magnânima, tolerante, alegre e criativa de quase todos os cariocas. Inclusive daqueles cariocas que não nasceram no Rio, e mesmo daqueles que nem vivem no Rio. Enfim, do carioca que existe dentro de cada cidadão desse imenso país.
Rio de Janeiro: a dialética da morte
Chacina da Baixada, crise na saúde, populismo evangélico: dor e política no Rio de Janeiro
Introdução
Ao Rio nunca faltou material para antropólogos, sociólogos, jornalistas e intelectuais em geral discorrerem sobre política, religião, violência urbana, miséria e educação, dentre outros temas pertinentes à organização social.
Capital dos contrastes, o Rio é, ao mesmo tempo, a cidade brasileira com mais escritores por habitante e onde as escolas estaduais aboliram a teoria darwiniana e ensinam agora o criacionimso, ou seja, a teoria de Adão e Eva.
É onde milionários lotam restaurantes nos quais se gasta um mínimo de mil reais por noite e onde existem milhares de favelas nas quais não há saneamento básico, educação e esperança.
E agora, mais uma vez, o Rio vira alvo das atenções nacional e internacionalmente por fatos extremamente negativos: a crise na saúde pública e a chacina de mais de trinta pessoas na Baixada Fluminense.
Usando como exemplo esses dois elementos, gostaria de discutir a atual conjuntura política na cidade e no estado do Rio de Janeiro e também a origem da violência urbana na região. Nessa análise, tentarei inserir soluções que possam amenizar, no curto, no médio e no longo prazo, o sofrimento das populações cariocas e fluminenses.
Antes de tudo, enfatizo que o entendimento dos problemas do Rio servem de lição a todos os brasileiros e, portanto, peço a atenção dos leitores de todo país.
Vamos por parte, e falemos da conjuntura política. Atualmente, o estado é governado por Rosinha Matheus Garotinho, esposa de Anthony Garotinho, que foi o mandatário anterior. A família está, portanto, há seis anos no poder, tempo mais do que suficiente para nós conhecermos sua maneira de fazer política e julgarmos seus resultados. Ambos são do PMDB.
O prefeito César Maia, do PFL, reelegeu-se, em 2004, no primeiro turno, sendo praticamente o único quadro do partido que logrou bons resultados nessas eleições, o que lhe conferiu automaticamente a vaga de candidato a presidente da República.
Essas são as duas principais lideranças políticas do estado. Pessoalmente, sou um crítico ferrenho delas, mas tentarei aqui deixar de lado emoções e ideologias e analisar com fria objetividade as razões e circunstâncias que as conduziram ao poder, as consequências de suas gestões e as perspectivas que se apresentam para o futuro.
O populismo evangélico
O casal Garotinho é um dos pioneiros no país e, certamente, a principal expressão política, do chamado populismo evangélico. Em seis anos de governo, eles implantaram uma política baseada num assistencialismo dos mais chulos, sem compromisso algum com políticas de educação, criação de empregos ou redução de pobreza. E o que é pior, voltado explicitamente para a questão eleitoral, como ficou claro no último pleito, em que a governadora fez discursos em diversas cidades da Baixada ameaçando cortar verbas dos programas sociais no caso dos prefeitos seus aliados não vencerem a disputa.
A ideologia “garotinista” é algo inacreditável: um pseudo-socialismo oportunista e charlatão que, em pleno século XXI, decreta o ensino da teoria criacionista nas escolas, abandona quase que totalmente a maior universidade do estado (a Uerj) e investe num tipo de segurança pública genocida. Aliás, o aspecto genocida da segurança pública no Rio, por mim e muitos outros denunciado há tempos, explodiu de vez com o recente episódio da Baixada (dia 31 de março), no qual morreram trinta pessoas inocentes.
Depois da chacina da Baixada, o fiasco da segurança pública do governo estadual não é mais motivo de chacota: é uma tragédia sem precedentes, por ser a maior chacina da história do Rio de Janeiro, superando a de Vigário Geral e a da Candelária. E com um ponto em comum unindo as três: todas feitas por policiais.
E o que leva servidores públicos ao extremo de tirar a vida de trinta cidadãos, aos quais, teoricamente, deveriam proteger?
A chacina da Baixada constitui um verdadeiro “fato social”, conforme ensinava Durkhein, e como tal nos permite tirar claras conclusões. Aliás, é disso que precisamos, conclusões cristalinas sobre coisas importantes, e não elucubrações complicadas e estéreis sobre Big Brother como o Roberto Damatta vem fazendo no O Globo.
A conclusão, já amplamente sabida por todo morador de regiões pobres da área metropolitana, é que o policial fluminense tornou-se um marginal, com graves problemas psicológicos, devido a seu histórico de tortura, corrupção e violência.
E o governo estadual é o principal culpado, visto que nunca fez nada para melhorar essa situação. No ano passado, durante mais uma das crises de segurança, Rosinha nomeou (quem?) seu próprio marido como secretário de Segurança Pública do estado. Resultado: fracasso total. Garotinho conseguiu o que todos achavam impossível: piorar ainda mais a situação de violência no estado, num crescendo que culminou agora com a tragédia da Baixada. Há alguns meses que ele, silenciosamente, se licenciou do cargo, por esperteza política, ao perceber que lhe seria prejudicial (como de fato o foi) politicamente seu nome ser associado a tantas calamidades.
Enquanto o governo estadual não iniciar uma verdadeira reforma no sistema policial fluminense, a violência urbana continuará a atormentar a vida do cidadão. Mas não precisamos de expurgos mal planejados, cujas consequências recaem sobre a população (a chacina da Baixada foi feita, dizem autoridades, por policiais revoltados com o afastamento de alguns policiais), mas operações dirigida com prudência e inteligência, que evitem que os policiais se vinguem sobre gente indefesa e desarmada.
Crise na saúde: o ocaso de César Maia
A vitória esmagadora nas eleições municipais parece ter detonado, no cérebro de César Maia, uma febre que o tem levado a uma espécie de loucura imperial do tipo Nero. Só falta agora ele mandar incendiar a cidade apenas para sua própria diversão. Quer dizer, ele fez pior: percebeu que podia infligir um tipo de sofrimento ainda mais terrível ao deixar a saúde pública da cidade à míngua.
Há gente que acusa, no entanto, o governo federal, de ter criado um circo político para prejudicar César Maia. Discordo totalmente. Até aceito o argumento de que, por trás da crise na saúde, existe uma disputa política. Mas e daí: até aí não vejo problema, afinal democracia é isso mesmo, disputa política. O negócio é que, enquanto o Ministério da Saúde está brigando com trabalho, médicos, remédios, negociação com o Exército, e todo tipo de armas que apenas beneficiam a população, o prefeito César Maia usa a morte como arma: para sabotar a intervenção, já mandou cortar o fornecimento de remédios (no que foi impedido pela Justiça), o salário dos médicos (idem), e não tem dado um passo na necessária ampliação da rede básica de saúde.
Sua reação dúbia, esquizofrênica, raivosa, confusa e, por fim, agressiva, à intervenção federal na saúde (aprovada por mais de 82% da população carioca, segundo pesquisa divulgado pelo Globo), foi seu atestado de morte política.
Quando o Globo, que outrora foi seu grande apoiador, divulgou que, desde meados do ano passado, a maior parte dos serviços prestados aos hospitais públicos municipais não haviam sido pagos, enquanto o prefeito se gabava de ter mais de um bilhão de reais em caixa, ficou absolutamente claro que temos um louco furioso diante de nós.
Estado violência
A lição que tiramos de todos esses fatos é simples. A violência pública do Rio, que tem raízes históricas, continua sendo alimentada pela má gestão de seus governantes. A própria polícia admite: ela é a única a entrar nas favelas, o único serviço público que chega às comunidades carentes. E que serviço público! Entra atirando, chutando portas, criando desordem. Tudo isso pra quê? Pra apreender dez trouxinhas de maconha e três ou quatro pistolas velhas? E o que é pior: tirar a vida de três ou quatro jovens negros?
Até quando, meu Deus, perdurará essa situação?
O único consolo, e dos mais débeis, que encontro, é apelar para a velha e boa filosofia. De acordo com as clássicas leis da dialética, o homem só aprende o que é bom quando vive o que há de pior. Assim os europeus compreenderam o valor da paz apenas depois de séculos de atroz violência. Aguardo, então, com estóica paciência, o tempo em que cariocas e fluminenses, aprenderão com o sofrimento a importância de escolher com cuidado os políticos que serão responsáveis (literalmente) por suas vidas. Não só do poder executivo, mas também do poder legislativo, o qual, aliás, é também uma instância ainda totalmente obscura do estado, com grande parte de seus representantes envolvidos em grossas falcatruas.
Desfusão do Rio: patética discussão
Finalizando esse artigo, já grande demais, coloco em questão a mais nova polêmica entre as elites cariocas: deve a cidade do Rio voltar a ter status de estado? Ou seja, tornar-se uma cidade estado, assim como o era antes de 1975?
Considero esse debate um escapismo patético, fruto do desespero das elites para com o governo populista de Garotinho. Não tenho, inclusive, nem paciência para discorrer sobre isso. Apenas acho que é apenas mais um debate desagregador e artificial, que nos distancia dos verdadeiros problemas da região. Além do mais, economicamente falando, a cidade do Rio não é mais grande coisa, se é que já foi algum dia, para ganhar alguma coisa com isso. As indústrias e o petróleo estão no estado. Em segundo lugar, é um papo discriminatório e elitista, que trata os moradores de outras cidades com desdém, como se o cidadão que nasceu em Duque de Caxias, Queimados, Nova Iguaçu ou em qualquer outro município, fosse um cidadão menor que não merecesse a preocupação dos “intelectuais” cariocas. Fala-se que parte dos problemas do Rio vem de fora, o que, além de ser uma grande mentira, embute uma resposta burra e reacionária, que é negar a solidariedade aos irmãos fluminenses. O Rio deve e vai continuar sendo um município do estado do Rio de Janeiro, e deve continuar recebendo de braços abertos, assim como seu Cristo, todos aqueles que vêm de fora procurar sua ajuda, seu carinho e seu calor humano.
O lado carioca de todo brasileiro
Por falar em calor humano, lembro que é a característica mais apreciada pelos que vem de fora, segundo pesquisa entre turistas. Machado de Assis, esse carioca ilustre, de família humilde, mulato, sem nem o segundo grau completo, criado aos pés do morro da Providência, ficaria muito feliz em saber dessa pesquisa, porque ele se irritava com gringos que gabavam apenas a natureza do Rio, sem ver a beleza muito maior que existia na alma magnânima, tolerante, alegre e criativa de quase todos os cariocas. Inclusive daqueles cariocas que não nasceram no Rio, e mesmo daqueles que nem vivem no Rio. Enfim, do carioca que existe dentro de cada cidadão desse imenso país.
2 de abril de 2005
PSTU em crise
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O fato do governo decidir não renovar o acordo com o FMI deixou a turma do PSTU em crise existencial. Finalmente, terão que trocar o bordão "Fora FMI", por outro. É claro que não querem dar o braço a torcer e levantam uma série de argumentos para criticar, não a decisão em si, mas para colocar panos quentes na notícia.
Agora, triste mesmo é a entrevista que fazem com uma senhora, diretora do Sindiprev, que mete o cacete na intervenção federal na saúde do Rio. A referida cidadã é, explicitamente, uma aliada de César Maia e o PSTU, candidamente, transcreve suas respostas como se já fizessem parte de seu próximo editorial.
Citam, inclusive, de forma ambígua, o apoio do senador Geraldo Mesquita, recém-ingresso no PSOL, ao governo Lula. Em razão da não renovação do acordo com o FMI, Mesquita decidiu dar um voto de confiança à Lula.
De fato, a decisão de romper com o FMI talvez sirva para reduzir o muro de amargura que distancia uma parte das esquerdas do governo Lula, o que é muito oportuno, visto que 2006 se aproxima e a direita sonha ardentemente com a volta ao poder.
Aqui no Rio, César Maia e o próprio PFL, deram vários tiros no pé em toda essa história da saúde. Maia, desde que venceu a reeleição tem se mostrado totalmente inebriado pelo poder, superestimando sua imagem e a confiança do eleitor. O povo carioca dará as respostas nas urnas nas próximas eleições. Claro que ele ainda tem força, e pode até vir a ganhar a eleição para governador do estado, mas será muito mais difícil agora.
Agora, triste mesmo é a entrevista que fazem com uma senhora, diretora do Sindiprev, que mete o cacete na intervenção federal na saúde do Rio. A referida cidadã é, explicitamente, uma aliada de César Maia e o PSTU, candidamente, transcreve suas respostas como se já fizessem parte de seu próximo editorial.
Citam, inclusive, de forma ambígua, o apoio do senador Geraldo Mesquita, recém-ingresso no PSOL, ao governo Lula. Em razão da não renovação do acordo com o FMI, Mesquita decidiu dar um voto de confiança à Lula.
De fato, a decisão de romper com o FMI talvez sirva para reduzir o muro de amargura que distancia uma parte das esquerdas do governo Lula, o que é muito oportuno, visto que 2006 se aproxima e a direita sonha ardentemente com a volta ao poder.
Aqui no Rio, César Maia e o próprio PFL, deram vários tiros no pé em toda essa história da saúde. Maia, desde que venceu a reeleição tem se mostrado totalmente inebriado pelo poder, superestimando sua imagem e a confiança do eleitor. O povo carioca dará as respostas nas urnas nas próximas eleições. Claro que ele ainda tem força, e pode até vir a ganhar a eleição para governador do estado, mas será muito mais difícil agora.