17 de maio de 2005

Juros baixos e liberdade para os camelôs

Não basta baixar os juros. O mais importante é proporcionar juros baixos a quem realmente precisa deles. Afinal, juros baixos, num país de descapitalizados e despossuídos, vão beneficiar principalmente os proprietários, sobretudo os grandes, que usarão o crédito fácil para amealhar mais propriedades. Digamos que o sujeito seja dono de cinco apartamentos. Com juros baixos, ele compra mais dois. Enquanto isso, o pequeno, mesmo com juro baixo, não consegue aprovação para sua carta de crédito porque seu comprovante de renda apresenta um valor muito baixo para o imóvel.

Ou seja, o sujeito que ganha menos de dois mil reais por mês, ou 80% a 90% da população brasileira, vai conseguir comprar, no máximo, um barraco no alto do morro, pelo módico preço de vinte mil reais, pagáveis em quinze anos. Infelizmente, devido a taxa de risco incutida maliciosamente pelo banco, alguns jurinhos extras e taxas de serviço deverão ser acrescentados às mensalidades. Discretamente, é claro.

Portanto, é preciso que o governo prossiga lançando todos esses pacotes de crédito especiais para determinadas categorias. Só assim o juro baixo vai beneficiar efetivamente o trabalhador e o agricultor.

Entre as classes médias e altas também existem segmentos que merecem juro baixo. São aqueles voltados para o desenvolvimento. O setor de turismo, por exemplo, merece juros baixos. Mas não para grupos internacionais pegaram dinheiro no BNDES ou no Banco do Brasil e construir mais um resort na Bahia. O juro baixo deve ir para o pequeno ou médio empresário aplicar num projeto ecologica e socialmente correto, com estudos sobre os benefícios sociais e econômicos para as economias locais.

Alguns segmentos da construção civil também merecem, sobretudo para projetos de casas populares.

A área de tecnologia, também.

Enfim, isso se chama fazer "política industrial", o que era um palavrão nos anos 90, quando o neo-liberalismo era um consenso. Agora é uma palavra de ordem.

No mais, falta dar liberdade aos camelôs. Ajudá-los a se organizarem, sindicalizarem-se, pagaram a previdência, dar-lhes crédito. É preciso investir no comércio ambulante, essencial para um país de grandes dimensões como o nosso. Precisamos de muita gente no comércio ambulante, para distribuir para o sul e para o norte as riquezas do país.

O que não é mais possível é reprimi-los da maneira estúpida e truculenta como vem fazendo o César Maia no Rio de Janeiro e creio que muitos outros prefeitos e governadores no resto do país. Especialmente no Rio, isso é terrivelmente contra-producente do ponto-de-vista da segurança pública. Primeiro porque enquanto a guarda municipal está recolhendo as canetas Bic do camelô, os pivetes estão assaltando (e matando e estuprando) turistas em Copacabana. Pensem bem. O que é mais importante?

César Maia lê cartinha de leitor do Globo protestando contra o caos gerado pelos camelôs no Centro e aí manda baixar o cacete nos pobres diabos, que são pais de família e estão ali dando duro para ganhar o leite das crianças honestamente. No Rio é assim. Roubar pode. Tem ladrão parando o carro na calçada, arrancando a caixa eletrônica inteira e levando pra casa. Tem policial matando inocente. Franceses sendo esfaqueados na Avenida Atlântica. Mas o prefeito está preocupado com o camelô vendendo CD pirata na Carioca.

PS: Parece que os adultos do país decidiram, finalmente, dar um puxão de orelha no "Garotinho"... Ameaçaram deixá-lo de castigo por três anos. Que dó...

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