10 de novembro de 2011

Conversa Fiada



Ainda estou me acostumando ao ritmo de trabalho lá do Cafezinho. É difícil. Tenho que acordar no máximo às cinco da manhã. Acho que em duas semanas já estou adaptado. Estou fazendo cinco posts diários, de terça a domingo. Trabalhando oito horas por dia, dá para produzir um material de primeira qualidade.

Só que no Cafezinho não posso viajar muito. Tenho que ser conciso, objetivo, direto. Deixo as viagens para Óleo. Os poemas, os vídeos do Hendrix, enfim, a parte mais hippie da alma fica por aqui, a mais yuppie fica por lá.

Nisso também ainda estou me acostumando. Errei a mão da maioria dos posts lá no Cafezinho. Ainda estou muito blogueiro, muito passional, muito ideológico. Tenho que deixar essas paixões para esse espaço aqui, e agir apenas profissionalmente por lá. É meio esquizóide, mas estou acostumado. Houve um tempo em que eu me dividia em três personas bem distintas: o Miguel do HellBar, interessado apenas em literatura; o Miguel do Óleo, interessado só em política; e o Miguel do Coffee Business, interessado só em café. Era uma loucura, rs, embora olhando retroativamente eu admita que me diverti um bocado. Eu sei que todo mundo tem essas divisões, mas eu era uma pessoa inteira em cada caso. Envolvia-me pessoalmente e assumia uma postura para cada persona. Criava um universo e uma atmosfera distinta para cada situação.

Mudando de assunto, terei que me acostumar em manter uma disciplina editorial estrita no Cafezinho, e deixar para soltar os cachorros no Óleo.

Assisti outro dia um filme muito bom, Agentes do Destino, com o Matt Dammon. É baseado num livro do mestre Philip Dick, o grande escritor de ficção cientítica. Aliás, um dos meus sonhos de burguês é passar as tardes à tôa, lendo Philip Dick... Ele constrói histórias futuristas alucinantes, mas com muito fundamento, uma pegada política sempre no momento certo, afora a criação de personagens incríveis.

Eu queria trabalhar com roteiro de cinema, escrever romances, um tratado de filosofia. Dirigir um filme. Ter um barco. A gente sonha tanto que sente pontadas na cabeça quando caminha na rua, olhando para o chão sujo e levemente deprimido com a sensação de que o tempo escorre muito rápido a seu redor e que você não realizará quase nenhuma de suas fantasias.

Mas agora estou me sentindo até aliviado por ter tomado a decisão certa. Política é algo sério demais para eu ficar levando apenas na brincadeira. Eu estava quase enveredando para esse lado, para a gozação, mas como sou péssimo em humor, descambo para um tipo sombrio de sarcasmo.

Eu estava levando uma vida maravilhosamente vagabunda, embora entremeada de momentos de trabalho intenso (os tais free-lances). Começara finalmente a ler o Ulisses, do Joyce, o original de um lado, a tradução de outro, um dicionário de inglês, e muita pesquisa na internet. O livro tem citação pra cacete, e eu não quero perder nada. Então é uma leitura lentíssima, acho que vou demorar mais de um ano para terminar. Mas estou bem mais simpático ao livro agora (no passado, eu o considerava uma das grandes farsas da literatura mundial). A tradução pura é que não dá para engolir. As traduções do Ulisses tornam o livro ridículo.

Acabou a pilantragem. Como diz a canção do Simonal, agora é o momento de levar uma vida de otário. É preciso trabalhar e ganhar dinheiro.

Enfim, as coisas vão se equilibrando. Quando eu fiz o Gonzum.com, não fui nem um pouco profissional. Escolhi um provedor gratuito, depois um provedor pago mas horrível que ficou fora do ar por dias. Agora não. Escolhi o melhor provedor, comprei o melhor pacote. Escolhi um nome mais inteligente. Estudei html, php, e até um pouquinho de javascript. Nessas horas é bom não ter dinheiro nem poder. Se o tivesse, contratava um monte de gente para trabalhar para mim. Mas aí também não aprendia nada. Eu sou obrigado a aprender tudo.

Eu gostaria muito de escrever uma resenha falando do novo livro do Mirisola, Charque, e do novo do Paulo Scott. Conheço ambos, pessoalmente, e suas respectivas obras, e outro dia fiquei divagando sobre um mini-ensaio de literatura comparada.

Aquela polêmica em torno do Rafinha Bastos depois se desenvolveu positivamente para mim. Outro dia li uma entrevista do Veríssimo, em que ele afirma que Rafinha "tem seu talento". Fora dos circuitos neurastênicos das redes, as pessoas gostaram do meu posicionamento pela liberdade de expressão. Acontece que a maioria não gosta de se meter em polêmicas. Pena que uma galera tenha reagido de maneira tão estranha. Parece que guardavam rancor contra mim há um tempo, e aí a coisa explodiu. Mas preciso me acostumar a isso também.

Poxa, há tempos que não escrevia com tanta liberdade aqui no blog. Acho que eu forcei um pouco as polêmicas porque estava me sentindo oprimido, sob pressão, tendo sempre que dar opiniões importantes sobre temas importantes. Agora o peso se foi. O Óleo respira alivado, olhando a linha do horizonte, pensando vagamente em como os pilares que sustentam os sonhos se deterioram rápido, ainda mais tão perto do Atlântico. A maresia lhes corrói, e tudo parece balançar, inseguro, trêmulo, qual um barco a singrar por águas turbulentas.

4 comentarios

Anônimo disse...

Alo, Miguel. Muito bom esse texto. Gosto quando voce faz essa narração do teu trabalho, dando satisfações ao seus leitores, além de escrever muito bem. Parabéns e continue sendo essa pessoa maravilhosa e sincera que voce é.

Adriano Matos disse...

Tá curtindo escrever no óleo, revelando por inteiro e só, teu lado sonhador, vagabundo, né?

Tô lendo o cafezinho também, e o óleo só tende a melhorar!

Abraços e bom trabalho.

Banca dos B-Boyzz disse...

bom parceiro, sou fã da tua literatura "trip" e te acho muito estranho nesses personas, tão fechados em conceitos, posicionamentos... também não mata: só pingo por aqui ou por ali de vez em quando... No geral, me dou super-bem com suas letras! :)
- tudunosso! xnd

luzete disse...

pois continue se dividindo e multiplicando. a gente só sai ganhando e você, claro, com mais trabalho. sorte a nossa! firme e forte, miguel. precisamos de gente como você.

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