17 de março de 2012

O capitalismo não existe


(Luis Felipe Noe, pintor argentino)

Encerrei o último post com uma provocação: "O capitalismo não existe enquanto sistema econômico, ou antes, não é um regime organizado ideologicamente". Agora preciso explicar. Eu já li Marx, e alguma coisa de economia clássica, mas minha opinião nesse ponto é baseada no bom senso.

O capitalismo é uma ideologia; um tanto vaga, instável, puxada para cá e para lá, mas toda ideologia tem esse problema.

Não é, todavia, um sistema político nem um regime econômico. Na Política de Aristóteles, estudam-se os diferentes regimes de organização política: monarquia, aristocracia, democracia. Em nenhum momento, se fala de capitalismo. Igualmente no opúsculo Política, de Espinoza.

Marx e Engels inventam o conceito de capitalismo a partir de uma reconstrução narrativa da história econômica da humanidade. Em Origem da Família e Propriedade, Engels cita a domesticação do animal como o surgimento do conceito de propriedade, que em seguida se estenderá à terra e à família.

A origem do capitalismo, segundo o marxismo, remonta aos primórdios da humanidade, quando ocorrem os primeiros escambos. O seu desenvolvimento dialético, porém, levaria o capitalismo a entrar em crise, criando condições para uma revolução que o levaria a autodestruir-se, depois de dez mil anos de hegemonia. Veríamos, enfim, o nascimento e o domínio do socialismo.

Eu acho o marxismo tremendamente pretensioso neste ponto, em achar que uma evolução de dez mil anos, envolvendo toda raça humana, seria modificada pelo voluntarismo de alguns poucos "iluminados".

Então eu, também pretensiosamente, vislumbrei os principais erros do marxismo e da interpretação do significado deste na história moderna.

O maior equívoco do marxismo, a meu ver, foi equiparar o socialismo, que é uma interessante e sedutora utopia, mas sempre uma utopia, à realidade orgânica que rege a história humana. Esta realidade orgânica é misteriosa porque não somos capazes de apreendê-la em sua plenitude, assim como não podemos entender, totalmente, os segredos do universo, o funcionamento do cérebro ou a resistência da teia de aranha.

O socialismo pode formar um contraponto dialético ao capitalismo, mas o capitalismo deve ser posto em seu devido lugar: é antes de tudo uma resposta acadêmica ao discurso socialista. O comportamento social do homem baseia-se tanto em fatores psicológicos como econômicos, ambos interligados.

Existe uma psicologia das massas, e não me refiro àquela psicologia registrada por acadêmicos. Esta corresponde a um estudo desta psicologia, uma tentativa, quase sempre canhestra, de captar as sutilezas e complexidades da psicologia social.

Da mesma forma, portanto, que não se pode confundir o estudo da psicologia das massas com a psicologia das massas em si, o estudo da economia política não substitui a economia política. O estudo do ser é uma coisa, o ser propriamente dito é outra. Discursar sobre as correntes oceânicas é uma coisa, o oceano monstruoso e terrível é outra.

O que chamamos de capitalismo, então, na verdade são posições políticas, um tanto precárias, fundamentadas no estudo da história. Não pode ser confundido com a realidade em si da economia humana, que é algo tremendamente poderoso e orgânico.

Por favor, não confundam a minha tese como uma louvação à força eterna do capitalismo. Ou como uma postura resignada, descrente das possibilidades de qualquer transformação efetiva. Ao contrário, podemos observar, na história, transformações profundas na maneira como os homens se relacionam entre si e com a produção de riquezas. Ao confundirmos o ser da história e da economia com o capitalismo, estaremos atribuindo a uma ideologia mambembe, criada às pressas no século XIX para servir de contraponto ao socialismo, uma complexidade que esta nunca teve.

Esta confusão, além disso, apenas gera desencanto, decepção, frustração, e converte jovens fogosamente idealistas em adultos amargos e reacionários. A frequente passagem de um trotskismo entusiasta para a um conservadorismo furioso tem sido frequente nas últimas décadas.

O regime econômico no qual vivemos não é capitalista. Existe, claro, a ideia vulgar segundo a qual o capital rege o mundo. Esta é uma concepção tão poderosamente arraigada nas pessoas, no entanto, que não podemos negá-la simplesmente. Então vamos aceitá-la, e desenvolvê-la dialeticamente.

O capital rege mundo, assim pensa Marx, assim pensa o vulgo, e concordamos. De uma forma ou outra, sempre regeu. Afinal o poder político também sempre foi associado ao capital. Mas eu acho equivocado dar ao capital um poder cabalístico. O capital encarna o conjunto das forças produtivas dominadas por um país ou classe social. Por trás do capital, há sempre um poder político e por trás do poder político há sempre homens.

Poderíamos argumentar que o capitalismo é sim um regime econômico e um sistema ideológico e que a prova disso são as leis capitalistas, que regulam o direito de herança e propriedade privada, por exemplo.

Eu diria que foi o capitalismo que se auto-associou a essas leis, milenares. As constituições modernas, aliás, relativizam essas leis. O direito à herança nos EUA, por exemplo, é bastante limitado. O imposto sobre a herança nos EUA é draconiano. A maioria dos milionários, antes de morrer, entregam boa parte de seu patrimônio para fundações sem fins lucrativos. A propriedade privada, por sua vez, é uma conquista do trabalhador moderno, uma vez que, durante séculos, ou mesmo milênios, este não tinha segurança jurídica sobre seu próprio patrimônio. A propriedade privada não é um conceito apenas capitalista. Alguns pensadores marxistas alegam que o socialismo é um grande criador de propriedade privada: faz com que, pela primeira vez, trabalhadores que não tinham nada, possuam um pedaço de terra e uma casa.

Um dos problemas do que poderíamos chamar de capitalismo seria a concentração da propriedade. Aí sim, temos situações realmente nocivas. Mas esse é um problema que, se levado ao extremo, prejudica severamente as economias capitalistas, porque empobrece o consumidor, gerando uma demanda deficitária.

Um regime autoritário, por sua vez, comunista (como a Coréia do Norte) ou não (como a Arábia Saudita) concentra a propriedade em mãos do Estado ou família dirigente.

A concentração da propriedade não é uma característica orgânica do capitalismo. Ela também obedece a leis econômicas naturais. Ela concentrar-se-á necessariamente, ou em mãos de corporações, ou em mãos do Estado. Em ambos os casos, quanto maior for, ficará cada mais sujeita ao controle social. As empresas gigantes são sempre mais fáceis de tributar e vigiar.

Então, se não é capitalista, qual o nome para o sistema econômico e político que temos no Brasil?

Ainda não resolvi a questão do nome para o modo econômico, mas pode-se dizer que vivemos um regime político constitucional republicano democrático presidencialista. É um regime político cujo valor é quase sempre subestimado pelos observadores leigos ou desatentos, à esquerda e direita. Não podemos esquecer que o sufrágio no Brasil e no mundo apenas se universalizou a partir da década de 70 e em muitos países, somente a partir da década de 90 que esta universalização alcançou a maturidade. E falo de países como EUA, Inglaterra, Alemanha e Brasil.

É incrível pensar que, até o final da década de 60, ainda havia restrições de ordem tributária para que negros e homens pobres votassem nos EUA!

Por isso mesmo que eu encaro estas teses sobre "crise de representatividade" com muito ceticismo. Como assim crise de representatividade se os povos mal tiveram tempo de se acostumar ao sufrágio universal, que lhes conferiu um novo poder político?

Muitas dessas teses nascem de interpretações contaminadas de moralismo, ou mesmo preconceitos bem vulgares, acerca dos representantes e partidos políticos. Ora, o poder político é um problema grave para o homem, em termos filosóficos. Um problema que vale para democracias ocidentais, autocracias árabes ou ditaduras comunistas. O homem é um bicho complicado, um animal político com uma psique repleta de impulsos contraditórios: por exemplo, anseia por liberdade, por um lado, mas aceita que esta liberdade seja cerceada por leis que lhe garantam segurança, de outro. Liberdade versus segurança, criatividade versus padronização cultural; são forças dialéticas que se complementam, mas a beleza espiritual do homem reside justamente na tensão entre elas, e na pureza de cada uma. Não se espera de um artista genial que se porte do mesmo jeito que o secretário de segurança, e, no entanto, a saúde social de uma cidade depende igualmente de ambos. Em nossa cachola convivem forças antagônicas cuja tensão configura a nossa personalidade, e cujo equilíbrio nos torna produtivos.

Com esta análise, não quero dizer que o mundo tem um futuro brilhante, medíocre ou sombrio. Isso seria tarefa para videntes. Aceito também que existam divergências ideológicas bem marcantes, que podem ser associadas, em algum grau, a conceitos de esquerda ou direita, embora não concorde com a simplificação maniqueísta com que seus respectivos militantes tratam uns aos outros.

Uma coisa boa, no entanto, é que a fé na democracia hoje ganhou consenso de ambos os grupos ideológicos. Nem sempre foi assim. Acreditar na república e no sufrágio universal já foi sinônimo de esquerdismo radical, e muita gente foi fuzilada, presa e perseguida por causa disso. Eu acredito que os princípios que regem a democracia, se desenvolvidos com inteligência e sensibilidade social, podem nos levar a um mundo bem mais justo. É um ideal tranquilo, que me conforta o suficiente a ponto de cometer a loucura de acreditar no futuro.

47 comentarios

Vania Ortis disse...

Dá o que pensar, Miguel. Abraço.

Orlando Escopial disse...

Bah, bobajada teórica! O que manda no mundo é o poder da guerra!

Anônimo disse...

Miguelito, gosto muito das suas viagens na filosofia! Essa aí é bem original! Abs!

Vera Magalhães

Amelia Rodrigues disse...

Nem sei se concordo ou não, mas admito que é uma tese provocante.

Beijos,
Amélia Rodrigues

Anônimo disse...

Teoria no lugar dos fatos...

Anônimo disse...

Tomou seus remédios hoje?

Anônimo disse...

Esse é meu garoto! Cada vez mais surpreendente!

Abraço e parabéns pelo post!
Elias Magalhães

Jorge Herval disse...

O capitalismo não existe! O Óleo do Diabo também não!

Valeu, Miguelito!

Anônimo disse...

Não sei se o seu post foi muito revolucionário, muito reaça ou muito moderado. Ficou uma coisa bem Kassab, hehe. Mas gostei, tá bem original.

Beijos!
Helena Massad

Anônimo disse...

Miguel, não sei se você escreveu alguma coisa inteligente ou esquisita, mas é inegável que você ao menos está tentando pensar com a propria cabeça.

Isso é raro!

Saudações,
Eduardo Portella

Macaco Preto disse...

Você já leu Norberto Nobbio? Queria ver você comentando algo dele por aqui.

Atenciosamente

Anônimo disse...

Valeu, meu chapa. Bons argumentos. Não sei se concordo, mas é bem articulado.

Abs
Cristóvão Bellozo
Muriaé

Priscila disse...

Agora a burrice de Jorge Herval é algo realmente verdadeira. Dura como uma pedra!
Priscila

Francisco Ebeling Barros disse...

Acho interessante a sua linha de raciocínio, mas queria te alertar para alguns pontos:

- A ideia de que a origem do capitalismo, segundo o marxismo, remonte aos primórdios da humanidade, quando ocorrem os primeiros escambos, é equivocada.
Essa é, inclusive, uma ideia liberal. Isto é, haveriam elementos capitalistas latentes desde sempre. Na versão marxiana, o capitalismo essencialmente
começa com a acumulação primitiva do capital, de duas formas: o comércio internacional e a desapropriação.

- Uma das características iniciais do capitalismo é desalojar os homens do seus meios de produção. Isto é, havia uma espécie de propriedade privada implícita
antes da transição para o capitalismo. Os homens eram forçados a pagar uma parte da sua produção em tributos para o senhor feudal, mas possuíam o direito de explorar
aquela área.

- As empresas gigantes tem mais poderio para influenciar decisões políticas, vide Estados Unidos.

Sugiro a leitura de Ellen Meiksins Wood e também de Norberto Bobbio, como fala o amigo acima.

Miguel do Rosário disse...

Tem razão, Chico. As origens do capitalismo viriam de longe, segundo o Marxismo, mas o capitalismo propriamente dito, em sua forma moderna, começa a partir da acumulação original do capital.

Tem razão sobre as empresas gigantes também. Mas elas não são tão poderosas quanto pareciam tempos atrás. Vimos que elas quebram. E elas são obrigadas cada vez mais a partilhar decisões com um número crescente e variado de sócios.

Não me refiro aqui a indústria bélica, monstros que ainda não sei onde posicionar.

Obrigado pela colaboração. Nobbio é um autor que preciso conhecer mais.

Abs

Miguel do Rosário disse...

Outra coisa, sobre os meios de produção. Não acho válido comparar a idade moderna com a idade média, e ainda mais tentar mostrar que houve um regresso, com os meios de produção saindo das mãos dos trabalhadores. A idade média um tempo sem nenhuma liberdade política, e também de grande atraso tecnológico. Havia as corporações, das quais alguns barnabés eram donos, mas é na idade contemporânea que o cidadão terá muito mais facilidade de possuir seu próprio negócio. Pode ser difícil ser dono de fábrica, mas o setor de serviços é amplamente democrático num país com alguma estabilidade política.

Abs

nora j. s. silva disse...

Inquietante. Tem muita coisa pra se pensar nesse texto. Não sei ainda, mas tem alguma coisa que se ilumina com ele. Ótimo texto, tenho o domingo inteiro pra lê-lo e pensar.Obrigada Miguel!

Anônimo disse...

Só não concordo que a democracia seja um ideal tão tranquilo assim. A subjetividade humana não tem fim, assim como a sua complexidade, e a democracia tem o louvor de satisfazer-la mais que outros regimes políticos, no sentido de avanços nas conquistas de direitos, mas ainda assim é e sempre será incapaz de confortar tal subjetividade infindável e renovadora. Wanderley Guilherme dos Santos já afirmou algo nesse sentido, a democracia muito provavelmente é carregada de tensão e eternas frustrações também. Como a vida. No exato momento que ela satisfaz numa conquista de direito, gera frustração existencial na necessidade de novos direitos, de ampliação da autonomia, isso quando ela consegue realmente atender de maneira razoável tal direito reivindicado, o que muitas vezes não acontece. A verdade é que a subjetividade humana é tão ambiciosa quanto o capital. Pela ótica do cinema, não é a toa que os países nórdicos (com democracias avançadas, qualificadas e consolidadas) retratam tão bem esse mal estar existencial que o regime político é incapaz de solucionar nos indivíduos, de tranquilizante a democracia não tem nada na psique humana. Abs Felipe

Miguel do Rosário disse...

Tem razão, Felipe. Não falo desse tipo de tranquilidade.

Miguel do Rosário disse...

Só para avisar a vocês que eu corrigi o lance do voto feminino na Inglaterra, que na verdade foi conquistado em 1923 (o prof.Wanderley Guilherme dos Santos acaba de me corrigir). O que eu queria dizer (e me confundi) é que os últimos entraves ao sufrágio universal nos países mais desenvolvidos só foram removidos ao final da década de 60, como taxas e documentos que, na prática, vetavam o voto de pobres e (nos EUA) negros.

Felipe Vargas disse...

Não necessariamente em todas as culturas setores os valores conquistados geram frustrações por novas conquistas.
O sentido de organização coletiva equilibrada ao invés de priorizar a vontade individual , esta existindo mas convivendo com a necessidade da organização coletiva funcionar para a individual poder ser plena , não é um raciocínio novo para muitos e se forem a maioria ou quando forem podem imprimir ou formar uma nova imagem ou teoria , ou forma de organização social e política , sem pré verdades sobre supostos defeitos da alma ou caráter humano vaticinado por alguns.
Manero o raciocinio do texto , pensar e ler são hábitos prazerosos por vezes.......Saudações literarias

Anônimo disse...

Felipe Vargas, o fato da subjetividade humana ser inesgotável não é um defeito da alma e sim sua principal qualidade. Acho que a democracia tem o potencial de organizar coletivamente e satisfazer individualmente, mas o desejo de ampliação da autonomia permanece na alma humana buscando novas roupagens, nesse sentido a democracia é capaz de gerar satisfações e frustrações ao mesmo tempo. Ainda bem que é assim, é talvez um dos únicos regimes políticos capaz de almejar acompanhar o movimento humano. Abs Felipe

Anônimo disse...

Olá Miguel,


Como vai? Bom, acabo de tomar conhecimento deste texto em função do post da Priscila no FB. Inicialmente, gostaria de parabeniza-lo pela reflexão. Confesso que após ler seu texto, fiquei tentado a escrever algumas linhas para dialogar, ainda que de maneira superficial, sobre algumas das questões levantadas. Todavia, ao ler os comentários ao final do blog, fiquei ainda mais instigado à escrever algumas bobagens. Forma salutar de contribuir não apenas com a discussão do site, bem como dar uma animada numa manhã chuvosa de um domingo “belorizontino”. Então, peço licença para o atrevimento....


Quanto a polêmica sobre a origem do capitalismo na área dirigida aos comentários, diria que as origens deste “processo” serão sempre alvo de muitas controvérsias, pois qualquer tipo de análise, por mais transdisciplinar que seja, ou que pretenda ser, dificilmente dará conta de analisar e elucidar a totalidade da complexa teatralidade social. Ora, a (re)conhecida concepção antropológica de cultural como sistema, onde as crenças, ações, produção de artefatos, consumo e etc. fazem parte de um emaranhado, estando ligado ao um todo “orgânico” (ainda que seja no sentido durkheimiano) impede que explanações meramente econômicas consigam dar conta deste tema. Ainda sim, é importante frisar a importância das mesmas.

(cont...)

Beto

Anônimo disse...

De uma forma geral, alguns autores se preocupam em explicar o “quando”, enquanto outros se preocupam com o “que” mudou. O que caracteriza de forma genérica o grupo do “quando” é o argumento de que uma “revolução do consumo” precedeu a Revolução Industrial. Esse revisionismo questiona por exemplo, como o capitalismo, e industrialização poderiam ter ocorrido sem a existência prévia de uma demanda adequada para a produção? Bom, neste aspecto, outra bobagem interessante (e não menos importante) que gostaria de lembrar é que as grandes invenções tecnológicas que estão associadas à Revolução Industrial ocorreram depois da explosão de consumo a que todos os autores se referem. As principais invenções mecânicas da indústria de tecidos, por exemplo, principal elemento da “revolução”, só aparecem a partir de 1780 (aproximadamente), embora a indústria de roupas já funcionasse a pleno vapor, calcada no trabalho externo ou doméstico dos artesãos. Ou seja, podemos concluir, portanto, que não foram essas invenções (tecnológicas) que criaram as condições materiais (e psicológicas) para as pessoas consumirem mais. Da mesma forma, antes que os homens fossem desalojados do seus meios de produção, já havia uma “lógica pré-capitalista” que, obviamente, não mais possuía qualquer relação com a lógica feudal.


Enfim, o lado econômico desse debate entre “produtivistas” e os que advogam a anterioridade de uma revolução de consumo” pré-capitalista assume que ou as pessoas são, por definição, insaciáveis, ou que existe uma propensão natural a consumir. Porém, esta abordagem meramente econômica não consegue explicar a origem nem da “insaciabilidade” ou da “propensão natural a consumir”, idéias em que se baseiam grande parte da análise econômica de autores como Keynes e Marx. Geralmente, a abordagem econômica é “resolvida” apontando para aspectos psicológicos do ser humano (como apontado no texto, salvo melhor juízo) que não seria tarefa da economia investigar, mas apenas constatar.


Porém, “a insaciabilidade”, que constitui uma das características do capitalismo, e que alcança seu ápice na sociedade de consumo moderna, é o resultado de um processo histórico do qual podemos observar transformações desde dois séculos antes do século XVIII. Um antropólogo chamado Daniel Miller tem um artigo muito bom (Consumption as the Vanguard of History: A Polemic by Way of an Introduction) onde apresenta argumentos interessantes sobre o viés “produtivista”. Para ele, do ponto de vista do campo da economia, autores marxistas e não-marxista nunca estiveram em campos opostos. Para Miller, graças a esse consenso de não tratar do “fenômeno do consumo” por outro viés, que não apenas o da produção, é que esse milagre se torna possível, fazendo com que o capitalismo possa, ao mesmo tempo, ter uma face conservadora (keynesiana) e outra revolucionária (marxista) e a mesmo assim permanecer hegemônico.

(cont...)

Beteo

Anônimo disse...

Com isso, esquecemos outras mudanças históricas fundamentais que afetaram sim, de maneira decisiva a dimensão cultural do ocidente, e que resultou no sistema atual. Um outro antropólogo, Colin Campbell, em seu livro: “A ética romântica e o espírito do consumismo moderno” mostra que questões como por exemplo, o aparecimento do romance ficcional moderno, e aumento do grau de literariedade da população europeia interferiram, por incrível que pareça, neste complexo processo de surgimento da sociedade do consumo. Para Campbell, a origem da “insaciabilidade” do sistema capitalista estaria na alteração de padrão de gratificação das pessoas ocorrido em torno do século XVII.


Segundo este autor, nessa época teríamos passado do hedonismo tradicional para o moderno. O hedonismo tradicional se caracterizaria pelo prazer oriundo das sensações, ancorando-se nos sentidos e na satisfação que esses podem obter dos estímulos exteriores. Já o hedonismo moderno, se caracteriza pelo descolamento da preocupação primordial das sensações para as emoções. Nesta perspectiva, a atividade fundamental do consumo (evidentemente, não aquele associado exclusivamente a necessidade de sobrevivência, vida e morte) não é a seleção, a compra ou até mesmo o uso do produto, mas a procura do prazer imaginativo a que a imagem do produto se empresta, sendo o consumo, portanto, em grande parte, um resultado desse “hedonismo mentalístico”.


Ou seja, longe de querer “resolver a parada”, lembro apenas que precisamos estar atentos à outras questões, levantadas por outras áreas do campo (também no sentido bourdieusiano do termo) e que por sua vez, também apontam para alterações que embora não pareçam - num primeiro olhar – estão relacionadas com o tema em questão, interferindo historicamente nas alterações de paradigma político, econômico etc.


Quanto a “psicologia das massas” e as “correntes oceânicas” gostaria de escrever muitas outras bobagens. Porém, a fome e o cheiro da comida já a mesa me impedem neste momento. Quem sabe, num próximo domingo de chuva, ou numa mesa de bar ( de preferencia). Parabéns, e um grande abraço!!!

Beto

Anônimo disse...

A "crise de representatividade" é natural, acredito eu. Por mais recente que seja o sistema representativo, já existe a consciência suficiente que ninguém é capaz de representar alguém na sua ausência, se pode representar ideias, perspectivas, visões, mas ainda assim, é defasado essa crença na representação, pior se levarmos em conta as sociedade de massas e complexas da atualidade. Fica inevitável apontar essa crise. Acredito que a preocupação de quem aponta essa crise deva ser no sentido de buscar criar canais e mecanismos mais eficazes de controle do representado pelo representante, apenas isso. Não é ir contra o sistema representativo, porque isso seria realmente infantil.

Anônimo disse...

Ops, mecanismos de controle do representante pelo representado e não o contrário como escrevi acima.

Felipe Vargas disse...

Subjetividade humana ser inesgotável é manero , não condiz com defeito de alma ,sendo de certa forma o marco social, um dos causadores do número elevado de ações inumanas ou autoritárias do ser humano.
O ser humano sob novas condiçõe sociais mundiais , mais harmonicas , responderia como coletivo com comportamentos municipais, digmos assim, e em embientes menores,a este mesmo avanço das relações entre governos.
Como um dominó a extensão destas relações mais avançadas formariamos um asociedade nacional emundial mais avançada ,fazendo a tremenda diferença que avalio que ocorreria , poderiamos ter aposentadoria ou pouquisimo apelo , aí sim para vários defeitos da alma , que como no caso de preconceitos , regimes autoritarios ameaças as liberdades individuais , quando deixam o cenário a humanidade só avança.
Até que ponto ou qual quantidade destes defeitos podem desaparecer do convivio humano, e quanto novas formas e regulações para extravasar outros que continuem a surgir entre os seres humanos podem diminuir ou praticamente acabar com os conflitos , no minimo os diminuindo muito de importancia e suas consequencias para a humamidade.
Não reli o texto, aliviem se estiver meio grotesca alinguistica , bom papo...Falou

Anônimo disse...

opa, bem original miguel, mandou bem cara

li os coments, mas ainda to na vibe do blogueiro...

isso pq vc nem entrou mais firme na onda da psicologia hein!

quanto aos "monstros bélicos", eu posicionaria ao lado das consequencias da concentração de propriedade privada apontada no texto... é esse meu pitaco

thiago

Remindo disse...

Desculpe, mas existem capitalistas em todas ideologias. É exatamente por não ser uma ideologia que ele consegue sobreviver em todas as ideologias.

Marco disse...

Miguel,

Partimos de leituras semelhantes, mas chegamos a conclusões distintas. Seria essa mais manifestação complicada do bicho homem?

O capitalismo não é um sistema econômico, nem um regime político e nem mesmo uma ideologia. É um modo de produção. E os modos de produção se sucedem à medida em que se tornam arcaicos e deixam de satisfazer as necessidades da humanidade. As categorias capital e trabalho existiam desde tempo imemoriais, bem como arremedos das instituições jurídicas típicas do capitalismo que você citou. Mas não ocupavam a centralidade das relações de produção.

O modo de produção capitalista só floresceu por se encontrar com a ideologia liberal, esta sim um movimento mais amplo, que subverteu a tradição cultural e política prevalecente na Idade Média.

Recorrendo a Marx, nunca a humanidade se propõe tarefas as quais não pode levar a cabo. Assim, a resposta liberal fazia todo sentido dentro daquela circunstância, de absolutismo político, estagnação e estratificação social, de supressão do âmbito individual, de sufocamento religioso, de atraso tecnológico, que caracterizou o Medievo.

Não quero dar uma de marxista de carteirinha - ate por que não sou - mas novamente me prendendo à máxima do parágrafo anterior, também vejo com ceticismo a conclusão de que a realidade orgânica é misteriosa porque não somos capazes de apreendê-la em sua plenitude. Ao invés de mistério, quando percebemos que somos 7 bilhões de infelizes, a solução do fim do capitalismo emerge translúcida no horizonte.

E já que pelo menos aqui é permitido ser pretensioso, aponto que um dos erros de Marx, quando imaginou o fim do capitalismo por este ter esgotado todo desenvolvimento de suas forças produtivas, foi não captar a notável adaptabilidade do capitalismo e também não mensurar devidamente a capacidade sistêmica de criar e reproduzir novas necessidades.

Também sinto que você reluta em aceitar que a economia seja o fator determinante das demais relações sociais. Existe uma clara interconexão a infraestrutura, a estrutura e a superstrutura, mas prepondera a economia. Eu também acho que isso às vezes limita demais o arbítrio humano, mas quando olho desapaixonadamente, aceito sem reticências, tanto em macro-escala quanto amiúde.

Abraços,

Marco

contato disse...

Nessa análise parece ênfase não na preponderância de uma esfera ou outra, mas uma quase dicotomia entre economico e politico ou material e ideológico. Para uma sólida critica vale recorrer a Ellen Wood, Democracia contra Capitalismo (Boitempo).

contato disse...

Corrigindo: Nessa análise parece "haver" ênfase não na preponderância de uma esfera ou outra, mas uma quase dicotomia entre economico e politico ou material e ideológico. Para uma sólida critica vale recorrer a Ellen Wood, Democracia contra Capitalismo (Boitempo).

Anônimo disse...

O capitalismo pode não existir, mas o modo de produção capitalista tá ai escancarado e funcionando a todo vapor, independente da ideologia, sistema econômico, regime político, enfim. É um modo de produção incrível, nem Marx negou, desenvolveu e criou muitas coisas, a custa de muitas injustiças, é verdade. Mudar esse modo de produção acho complicado porque ele não só não se esgotou como continua em progressão. Resta à Política e ao Direito humanizar tal modo de produção contra os abusos à classe trabalhadora.

Anônimo disse...

Democracia existe?
Empreiteira com bilhões de lucro e patrimônio financia candidato, que vence. Faz obra inútil e superfaturada, dá lucro à empreiteira com $ do povo.
Então, a empreiteira financia a reeleição com $ do povo.
Claro, a mídia toda isenta...
Por que esse tal de povo escolhe sempre ser roubado?

Anônimo disse...

É comum ver as pessoas fazendo verdadeira confusão entre sistemas políticos e sistemas econômicos.
1. O sistema político refere-se ao poder e suas formas de representação. Assim temos a democracia, a monarquia, ditadura, etc. A democracia é caracterizada pela representação popular, manifestada pelo voto. É a escolha popular. Na monarquia, falamos dos governos passados, no poder absoluto dos monarcas, do rei, do imperador, da nobreza. Tudo é comandado pela vontade absoluta do rei. Entretanto cabe dizer que as monarquias atuais (Inglaterra, Espanha, Horanda, etc.)são democracias e, quase todas, parlamentaristas. O rei não governa, mas representa o estado. Nas ditaduras, mais recentes, o poder é exercido por um grupo dirigente, que pode se revezar e até manter o poder hereditario.
2. O sistema econômico trata das relações econômicas nas sociedades. Assim temos nas sociedades antigas o escravismo e posteriormente, o feudalismo. Mais recente o capitalismo e o socialismo. No escravisnmo, a sociedade tinha como força do trabalho o escravo. Povos eram escravizados para fazer todos os trabalhos. Na idade média, o feudalismo foi na europa ocidental dominante, e o servo representava a força de trabalho. No capitalismo o operário, que ganhava um salário, representa a força de trabalho e o capital, os recursos dos capitalistas, que detém os meios de produção, e tudo se baseia na maximização do lucro (ganância), que move todo o sistema. Quanto ao socialismo, é um regime econômico que tinha por filosofia o igualdade de oportunidades de todos os cidadãos, com os meios de produção na mãos do estado.

Deve ser considerado a realidade de que todos os governos de paises socialistas foram implantados através de revoluções populares, algumas com guerras que duraram muitos anos. E isto implicou em implantação de regimes de força. Há o desafio atual de termos democracia nos sistemas socialistas.

Anônimo disse...

Questões como representação política nas democracias, são influenciadas pelos seguintes fatores:
1. poder econômico. Provoca uma distorção enorme, pois os eleitos são geralmente escolhidos com a missão de defender os grande grupos e seus interesses;
2. Analfabetismo, ignorância e não participação nas ações políticas, permitem a escolha de políticos sem caráter, fichas sujas, que nunca vão tratar dos assuntos públicos com ética.
3. grupos organizados, como religiosos, etc. fazem valer seus interesses acima dos interesses da sociedade.

Anônimo disse...

De acordo com esse raciocínio Miguel não é só o capitalismo que não existe, mas todas as outras teorizações que a humanidade construiu. A democracia também não existe, porque por trás do sufrágio universal há os homens organicamente e inclassificavelmente agindo, por trás dos meios de produção organizados de forma a render o capital também há o poderoso mundo orgânico dos homens. Enfim, não sei se entendi bem o seu argumento, mas parece que qualquer teorização sobre o mundo concreto cai na inevitável contradição de não ser a realidade em si, o que faz sentido ser assim, no entanto podemos desconstruir tudo, não só o capitalismo.

Miguel do Rosário disse...

Olá anonimo, a democracia é um regime político bem claro, que envolve a realização de sufrágio universal e separação de poderes. Tem existência jurídica concreta. Já o "capitalismo", essa é minha crítica, é um regime econômico cujos fundamentos são muito antigos. Nasce a partir das trocas comerciais e de todas as leis derivadas. Não pode ser confundido, e vários comentaristas aqui me ajudaram a elucidar a questão, com um regime político. Um cientista político me recomendou o livro do Robert Dahl, Democracy, Capitalism.

Abraço

Anônimo disse...

Na decada de 50 e 60 uma das discussao era se o Brasil era feudal ou capitalista. Muitos intelectuais faziam essa discussao em razao de que existia um Brasil de latifundios e muito escambo e outro mais moderno, industrializado. Era uma discussao, vista ex post sem razao de ser, pois estavamos vivendo o capitalismo. Hoje mesmo nas condices objetivas do capitalismo ha permeando o sistema movimentos cooperativistas de producao e trabalho, que alguns ate podem dizer que e o socialismo dentro do capitalismo hegemonico. Muita discussao pode ser feita, sem que altere a situacao real para um imaginario ao gosto de alguns intelectuais.

Miguel do Rosário disse...

Pois é, anonimo, mas de fato existe uma imbricação (preciso mesmo ler esse livro do Robert Dahl, só vou voltar a escrever sobre o tema depois de fazê-lo) entre o regime político e a economia, mas essa relação é mal compreendida, e acho que foi isso que causou a derrocada do socialismo real e a sua degeneração totalitária, conforme se pode ver na China e na Coréia do Norte.

Anônimo disse...

Mas Miguel, veja bem. Estou partindo do pressuposto do seu argumento, pelo menos o que eu entendi ser o pressuposto do seu argumento. Seguindo essa linha de raciocinio a democracia em si também não existe, o que existe concretamente é o sufrágio universal e a dita separação de poderes, já a existência jurídica pode ser mais questionada ainda (por exemplo, temos um Estatuto da cidade e um Plano diretor garantidos juridicamente para fazer cumprir a função social das cidades e a gestão democráticas delas, isso desde 2001 e até agora não só isso não acontece como tais instrumentos jurídicos e
institucionais conquistados historicamente estão sendo deturpados pelo meio
privado que os manipula de acordo com seus interesses). Enfim, só to
apontando o pressuposto do raciocinio que ser for esse mesmo, as grandes
teorias, sejam elas sobre sistemas econômicos ou regimes políticos podem ser
facilmente desconstruídos. O capitalismo em si não existe, o que existe é o
modo de produção capitalista, a democracia em si não existe, o que existe é o
sufrágio universal, divisão de poderes e um arcabouço juridico, e assim por
diante em relação aos grandes temas, eles não existem em si, o que existe é o
mundo dos homens vivos, mundo esse que desafia qualquer grande regime ou
sistema teorico.

Miguel do Rosário disse...

anonimo, a afirmação de que o capitalismo não existe é uma asserção irônica. claro que ele existe, mas não pode ser confundido com o complexo arcabouço político e econômico que configura as sociedades modernas. este arcabouço é um acúmulo de todas as experiências da raça humana, por isso é tão poderoso. os ideólogos da direita usam esse peso, essa experiência, essa complexidade da realidade econômico-social, chamando-a de capitalismo e opondo-o ao socialismo, o que é uma estratégia ideológica astuta. existe o capitalismo enquanto concepção ideológica do mundo, e existe o capitalismo enquanto arcabouço econômico e político. Este último não existe, ou antes, é uma farsa conceitual, uma armadilha na qual escorregaram muitos dos teóricos do socialismo, ou críticos do capitalismo.

Anônimo disse...

"Da mesma forma, portanto, que não se pode confundir o estudo da psicologia das massas com a psicologia das massas em si, o estudo da economia política não substitui a economia política. O estudo do ser é uma coisa, o ser propriamente dito é outra. Discursar sobre as correntes oceânicas é uma coisa, o oceano monstruoso e terrível é outra." É esse trecho do seu post que me intriga na verdade, o estudo da democracia é uma coisa, a democracia em si é outra coisa, o estudo do capitalismo é uma coisa, o capitalismo em si é outra coisa....enfim, nessa linha temos um poderoso argumento de desconstrução, apenas isso!

Anônimo disse...

Opa postei antes de ver a sua resposta, agora faz mais sentido o seu raciocinio, eu percebi a ironia, mas com essa sua explicação no comentário eu entendi mais o que você realmente quis dizer do que no texto do post, concordo contigo!

Anônimo disse...

Uma pessoa, admirado com a beleza de uma auto-estrada e suas obras de arte, perguntou quanto tempo havia gasto para construi-la. O engenheiro disse que foram milhões de anos e explicou que aquilo era o resultado de um acúmulo de conhecimento do homem no tempo e do avanço das técnicas de engenharia. É claro que não era essa a resposta que o homem simples queria ouvir, mas foi uma resposta baseada em uma visão diferente.
O que existe hoje no nosso mundo, resultado das ações humanas, ou mesmo no mundo virtual, do pensamento, não deixa de ser o acúmulo de conhecimento e experiências passadas. Por exemplo a idéia e a prática da democracia, entre os gregos, atenienses, ocorreu em alguns períodos de tempo. Entretanto era uma democracia relativa, somente para os cidadãos, e não envolviam os escravos. Na atualidade temos a maioria dos paises com regimes democráticos, embora também sejam uma democracia relativa, pois há muitas distorções vinculadas à representatividade. Inegavelmente a idéia de democracia hoje se impõe e é dominante no mundo, embora fosse comum ouvir, no início da década de 80, portanto não faz muito tempo, autoridades com frases como: "democracia é uma nau sem leme".
Isso vale também os modos de produção, portanto para as mudanças econômicas. Nada aparece por geração expontânea, tudo é movimento e acumulação quantitativas e qualitatias. Mas pode-se acelerar os movimentos. Por exemplo se houver um processo de radicalização da democracia pode-se ter como resultado transformações políticas e econômicas inimagináveis.

Valquer disse...

O homem é um ser social, que so pensa em si mesmo, mas sempre visando ser aceito pela sociedade.

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