(O massacre de inocentes, de Giotto)
Merval Pereira, outro dia, em sua coluna, comentava sobre problemas de "concordância verbal" nos textos de Protógenes Queiroz publicados em seu blog. É inacreditável. Um policial federal agora deve apresentar uma sintaxe que agrade ao julgamento estético de Merval Pereira! A raiva contra Protógenes é tanta que me faz pensar em medo. A mídia tem medo. Espero que ele revele logo o nome dos jornalistas vendidos a Dantas.
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Pressinto muita pilantragem no ar. Empresários se aproveitando da crise para demitir e arrancar dinheiro do governo. Confira abaixo um trecho do comentário mensal do IBGE sobre as vendas do comércio em janeiro, seguido de tabelas, que mostram uma vigorosa recuperação nos setores mais importantes da economia, desmentindo todas as previsões terríveis feitas pela Miriam Leitão. Repare que as vendas do item 6, de equipamento e material de comunicação e informática cresceram 32,6% no acumulado dos últimos 12 meses, até janeiro! Clique na tabela para ampliar.
Os dados mostram que o consumo interno no Brasil prossegue forte e crescendo, o que reforça suspeita de que empresários interromperam ou reduziram produção em virtude (ou falta de) das campanhas negativas na mídia.
O segmento de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo inicia o ano com resultado acima da média - variação de 7,0% no volume de vendas em janeiro sobre igual mês do ano anterior, sendo responsável pela principal contribuição (41%) da taxa global do varejo. Este desempenho foi motivado pelo aumento do poder de compra da população, decorrente do crescimento da massa de salários (8,3% sobre janeiro08, segundo Pesquisa Mensal de Emprego – PME). Quanto ao fato ter crescido acima da média nacional, a justificativa mais provável está na desaceleração dos preços dos alimentos no segundo semestre de 2008 (1,5% jul08 a jan09 contra 9,8% no primeiro semestre de 2008, conforme o IPCA, para o grupo Alimentação no domicilio). Em termos de acumulado nos últimos 12 meses, a atividade apresenta crescimento de 5,4%.
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Que o Nelson Motta virou um imbecil total, eu já sabia. Agora ele se somou à gritaria contra a Justiça do Trabalho, porque um juiz aceitou liminar em favor dos trabalhadores da Embraer. É incrível! De um lado, meia dúzia de sócios-milionários, a maioria estrangeiros; de outro, 4.200 trabalhadores brasileiros, altamente especializados; e Nelson Motta e o Globo alinham-se caninamente ao lado dos... milionários estrangeiros! E ainda fazem campanha contra o juiz e contra a própria Justiça do Trabalho! Hoje ele publica uma coluninha na página de Opinião do Globo que semelha um surto de um retardado nazista. Para ele, 4.200 empregos correspondem à "lei da oferta e da procura" e é normal uma empresa, dando-lhe na telha, demitir 4.200 pessoas. Uma empresa que, é importante recordar, foi privatizada em 1994, quando os tucanos já haviam se empoleirado no governo federal - com o Príncipe já ocupando o ministério da Fazenda; e vendida por 160 milhões de dólares, uma empresa que hoje fatura bilhões por ano. E o que é pior, foi vendida com dinheiro emprestado do BNDES e recebeu, depois de privatizada, mais de 11 bilhões de reais. Ou seja, enquanto era pública, o governo não investia nela. Virou privada, recebeu 11 bilhões. Assim até eu viro "eficiente"! Com 11 bilhões de dólares, o Óleo do Diabo ficaria mais importante que o New Yorker, The Economist e Le Monde juntos.
O pior, porém, vem aí. O Eduardo Guimarães se meteu num imbróglio com o Esgotão da Veja. Daí que fui lá ver o que era. E topei com quem? Com Nelson Motta! Pagando pau para o Esgoto! E ainda assinando: "Saudações militantes"! Carajo! Militante do quê? Não dá para acreditar! E ao mesmo tempo tudo faz mais sentido. Todos esses babaquinhas reacionários que se multiplicam como coelhos na grande mídia lêem e admiram o Esgotão.
Esse cara é uma falácia! Os comentários em seu blog são de débeis mentais balbuciantes e puxa-sacos. Não acompanho seu blog, mas é que nem novela das oito, a gente sempre sabe, de uma forma ou outra, o que está acontecendo. Nas Olimpíadas, o cara torceu contra o Brasil! Publicou apenas fotos do Michael Phelps! Valha-me Deus! Sua posição sobre aborto, drogas, qualquer assunto, corresponde ao mais tacanho conservadorismo! O cara defende o Papa, esse Papa! Defende a Guerra no Iraque! Defende a matança de Israel! É um neocon obsoleto, repugnantemente desonesto! Anacrônico até na "terra dos bravos".
Quando não se tem compromisso ético nenhum, quando se sabe blindado pela grande mídia e protegido pela classe dominante, ganha-se desenvoltura demoníaca.
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Wagner Moura está mais para Claudio do que pra Hamlet. A peça de Shakespeare, cujo ingresso custa 80 reais, foi patrocinada pela Lei Rouanet. Bonito, né? Não pára aí. O Wagner e turminha pegam o dinheiro, compram uma passagem aérea e vão pra Brasília fazer lobby pra acabar com meia entrada. Querem dinheiro público e ainda ferrar a vida dos estudantes e da terceira idade. Leiam o texto do Fabrício, da Revista Bacante, sobre a peça.
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O caso Protógenes, além do banqueiro bandido, o governo, juízes, Gilmar, PSOL, debates, agora envolve também o ex-ministro José Dirceu. O imbróglio tem elementos obscuros demais, e a mídia aparece como complicador, não como esclarecedora, por isso acho inoportuno que surjam julgamentos afoitos, a favor ou contra qualquer pessoa.
A perseguição midiática contra Protógenes significa que ele já foi condenado. Não importa a conclusão do relatório. Até porque é impossível que uma investigação complexa como a Satiagraha transcorra sem algum deslize operacional do delegado. São anos de investigação e se você esmiuçar cada detalhe, é claro que encontrará erros. O que me espanta é a inversão de valores. A procura de erros no trabalho do policial tem sido totalmente desproporcional em relação à quase nula curiosidade midiática pelos negócios e pelo conteúdo das denúncias contra Daniel Dantas.
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Essa vai para a série "Não somos racistas": novela do SBT, Revelação, não tem uma pessoa sequer morena. Parece filmada na Dinamarca. Todos 100% arianos. Até as empregadas domésticas são brancas.
Não gosto de filmes ou novelas em que se colocam personagem negros para "cumprir uma cota". Assim como me entediam mortalmente aqueles filmes norte-americanos só com negros. Mas negros e morenos fazem parte da realidade brasileira, muito mais do que na americana, e uma novela popular em que não há pessoa com um mínimo de melanina, me parece extremamente racista.
Por falar em brancos, vocês já repararam que no PSDB só tem branco 100%? Não existem tucanos amorenados - quando falo amorenado, refiro-me à saudável cor jambo, e não à pele bronzeada de um Aécio. E a maioria absoluta dos militantes também é de arianos puros.
Por outro lado, existe, na esquerda, uma variedade racial que espelha a realidade social brasileira de uma forma muito mais genuína do que se encontra nos partidos conservadores; a mesma coisa se repete em todos os países latino-americanos.
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O Azenha está fazendo uma reportagem muito pertinente, sobre a epidemia de meningite nos tempos da ditadura. Censurada, a imprensa não noticiou a tragédia, e milhares de pessoas morreram sem criação de nenhuma comoção pública. Por essas e outras que as pessoas mais velhas ainda acreditam que as coisas eram "melhores" nos tempos da ditadura. A abordagem de Azenha, além disso, é uma oportunidade dos cientistas sociais e políticos brasileiros compreenderem, de uma vez por todas, a estupidez conceitual que é afirmar que a ditadura matou apenas 380 pessoas. Quando se fala nas mortes causadas por Mao, Fidel ou Stálin, não se conta apenas os mortos pelas respectivas polícias políticas, mas também as vítimas colaterais dos regimes totalitários.
Vamos fazer um bolão? Quantas pessoas morreram de fome no Brasil de 1964 a 1984? Garanto que foi muito mais gente que em outras ditaduras latino-americanas. O regime militar se caracterizou, sobretudo, por um conservadorismo atroz, ou seja, um governo de direita que não gastava com programas sociais. Investia apenas em grandes empresas privadas amigas dos militares ou públicas dirigidas por militares. O país crescia mas a partir de cima - a locomotiva do crescimento esmagava milhões de brasileiros.
Também é importante contabilizar a humilhação. A Argentina tem hoje 39 milhões de habitantes, e há vinte ou trinta anos tinha a metade disso, ou seja, 13 a 14 milhões de pessoas, enquanto nós já ultrapassávamos os 120 milhões. O analfabetismo no Brasil era maior do que nas ditaduras vizinhas, e esse é um fator que ajuda a manter o povo mais quieto, menos revoltado. Então, se a polícia política da ditadura brasileira matou menos gente, é porque nosso povo foi mais humilhado, pela fome, pelo analfabetismo, pela grande tragédia social que destrói as pessoas fisica e psicologicamente.
Nem sei o nome que se dá isso nas ciências políticas, nas ciências sociais ou na antropologia. Para mim o nome é humanismo e deve ser levado em conta na contabilidade das vítimas da ditadura.
O Jornal Nacional hoje deu uma boa repercussão sobre essa recuperação das vendas em janeiro/fevereiro.
é né. tem que dar. eles não rasgam dinheiro.
Miguel,
Quanto à questão da Embraer, uma pequena correção.
A Justiça do Trabalho não deu ( infelizmente...) ganho de causa aos trabalhadores. Trata-se de uma liminar.
Mas tudo indica que as demissões ocorreram de fato.
Falta-nos uma lei que regulamente ( e de certa forma coiba)demissões coletivas.
Do jeito que está, infelizmente, pouco resta fazer no ambito judicial. Talvez uma pressão dos sindicatos possa solucionar o impasse.
Quanto ao texto do Fabrício, que coisa mais boba. Ficar reparando nos perfumes das madames, nos comentários do público, e não dizer em momento algum o que achou do espetáculo em si. Da direção, dos atores (e por que o Wagner Moura, só por ser "global", ganhar prêmios, fazer um filme que eu detestei mas tantos gostaram, não pode ser ator de teatro, e ser julgado como tal?), da concepção do espetáculo, da tradução, essas coisas relevantes pra quem gosta de teatro. Francamente ...
valeu emmanuel, já acertei.
vera, você achou mesmo? eu li meio rápido demais, mas achei que aquilo eram tiradas irônicas. de resto, talvez você tenha razão. eu não vi a peça. uma amiga minha é que está com muita raiva do wagner porque ele participou da comitiva-lobby que foi a Brasília pedir o fim da meia-entrada. ela me atazanou a vida para incluir aqui algum tipo de protesto.
Miguel, e a manchete do O Globo de hoje, em letras garrafais? Você como ombudsman complusório do jornal, haverá de nos explicar, como é possível num dia ser anunciado a recuperação das vendas no Jornal Nacional, e no dia seguinte o consumo cair segundo o jornal O Globo, que é da mesma empresa dona da emissora.
Juliano, isso aí é fácil explicar. Jà ouvi diversos depoimentos falando que a televisão, por causa do custo imenso e da dependência absoluta da audiência grátis, o que inclui povo, não pode seguir, sempre, a linha conservadora, por isso eles de vez em quando assopram bastante. Mas é o jornal impresso diário O Globo que é o cérebro das Organizações. É lá que vocé encontra o pensamento do Dono, no caso meia dúzia de mauricinhos brigando uns com os outros, completamente alienados, sem a mínima noção da responsabilidade da função que eles, sem nenhum merecimento, herdaram.
Deveria ser proibido "herança" no terreno da comunicação de massa, que tem importância pública.
Isso dentre outras coisas.
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