1 de março de 2009

Não esperava outra coisa de você, Chomsky

(Basquiat)


Há alguns anos, no começo do mandato de Lula, perguntaram a Chomsky o que ele achava do presidente brasileiro. Prudente, ele respondeu que ainda não podia afirmar nada de concreto sobre Lula. Ainda não pudera entender o que ele representava para o Brasil. A mídia - incluindo a alternativa - deu grande destaque às suas palavras por causa da interpretação negativa que sugeria, de que Chomsky era mais um daqueles que esnobavam de Lula porque ele não seria um "verdadeiro" esquerdista como Chávez, que sempre usa roupas vermelhas.

Entrementes, as rodas giraram. Chomsky era um intelectual considerado subversivo para a grande mídia americana. Quer dizer, respeitavam-no enquanto linguista, até porque nesta área é um dos maiores de todos os tempos, mas silenciavam absolutamente sobre seus ensaios de crítica à mídia. Chomsky denuncia as mentiras sistemáticas da mídia americana, simplesmente apontando suas contradições.

Agora temos uma novidade. Chomsky foi considerado o intelectual mais influente do mundo pelo New York Times. Isso em 2005. De lá para cá, ele só recebe mais ovações nos EUA. A mídia americana, depois do fiasco Bush e, sobretudo, após a crise financeira que se abateu sobre os jornais, deu o braço a torcer. O leão miou. A internet destronou os jornais de seu reinado absoluto sobre opinião pública. A imprensa americana precisou falir para entender. Suas primas no Brasil também precisarão chegar a esse ponto? Ou já chegaram?

Em entrevista à Revista Istoé desta semana, Chomsky fala sobre o Brasil, o governo brasileiro e a América Latina. Afirma que a América Latina é, hoje, o lugar mais interessante do mundo. É claro que ele se refere ao aspecto político. Diz que o Brasil está indo no caminho certo. Ou seja, derrotando o neoliberalismo (leia-se PSDB) e adotando políticas progressistas. A verdade é que a direita brasileira é composta (ia dizer combosta) por retardados ideológicos e econômicos, que não vêem a necessidade de melhorar a distribuição de renda para acelerar o desenvolvimento econômico, uma teoria óbvia mas que tem sido, ao longo da história, tão medievalmente combatida pelas elites que obrigou Celso Furtado a publicar uns cinquenta livros sobre o mesmo assunto.

A grande mídia, desta vez, irá repercutir a notícia, tão boa e positiva para autoestima nacional? Não vai, e se o fizer, será com muito menos ênfase do que em caso de uma eventual crítica negativa. Seguramente, não irá constar nos editorais ou colunas. Se qualquer intelectual estrangeiro disser um ai contra o Brasil, vira manchete. Quando o Wall Street Journal (direita) e Chomsky (esquerda) tecem loas ao governo brasileiro e, conseguintemente, aos 84% dos brasileiros que apoiam entusiasticamente seu presidente, a imprensa amordaça a informação. Censura a informação. Sim, porque se a informação é um bem vital para a sociedade e os grandes meios de comunicação estão concentrados em mãos de poucas famílias, e esses meios silenciam sobre notícias importantes para a sociedade brasileira saber como é vista por outros países, então há uma abominável censura. Uma censura imbecil, sectária, fruto de uma pequenez ideológica que agride qualquer brasileiro com um mínimo de autoestima e afeto por seu país.

A briga que a imprensa comprou contra Lula é suicida. Reflitam sobre os números. Não apenas Lula tem 84% de aprovação popular, mas na escala de notas de 0 a 10, ele não marca nenhum ponto no 0 e tem muitos pontos no 10. Ou seja, há um apoio realmente entusiástico. Isso é ótimo porque um governo popular ajuda o país a crescer, desde Julio Cesar e Napoleão até Roosevelt e Vargas. A imprensa tem que entrar na onda e ajudar o país a crescer! Agora, com a crise, é mais importante ainda reduzir os atritos extremistas e focar no desenvolvimento! Basta de cafonice conservadora!

O que estamos vendo, no entanto, é pior do que apenas a direitização da mídia. É a formação de uma máfia, corrupta, agressiva e reacionária, estruturada em torno do governador José Serra, do banqueiro Daniel Dantas, e do presidente do STF, Gilmar "Berlusconi" Mendes, aliada financeira e politicamente à mídia corporativa. Na rabeira da máfia, segue a classe média conservadora de sempre, os mesmos tontos que apoiaram a ditadura militar, os teleguiados com cérebros conectados à Matrix midiática.

O link para a entrevista do Chomsky está aqui.

*

A pintura é de Basquiat, outro americano de quem gosto muito.

3 comentarios

josaphat disse...

A gente precisa mudar a legislação, ou, se caso for, fazê-la ser cumprida. As TVs não são concessões públicas? (não sei se se aplica aos jornais impressos)
Sendo assim, não seria uma de suas funções zelar pelo bem público?
Eles, no entanto, têm é feito muito mal à sociedade brasileira...
Há muito,
ou desde sempre.

Anônimo disse...

Jornal e revista impressos não são concessão pública, porque o Estado concede à exploração privada é o direito de uso do éter, do ar.
O problema não me parece ser de legislação, mas de condições políticas de mudar a sistemática de concessões, haja vista a quantidade enorme de políticos que são donos de jornais e concessionários de outras formas de mídia, além do financiamento que o grande capital dá a esses órgãos da imprensa através dos anúncios. Não há como passar no Congresso mudança que altere o status quo. Só, provavelmente, com muita pressão de baixo. E bota pressão nisso.

Anônimo disse...

Confesso a VC, Miguel do Rosário: ultimamente tenho um pesadelo constante. Sonho que a turma do tucanodemo ganhou o próximo pleito eleitoral. Elegeu um presidente.
Até acordo assustada, no meio da noite.
Já imaginou que tragédia para o Brasil? Agora que passamos a conhecer o lado bom de Governar, queremos distância de vampiros e suas lucubrações maquiavélicas. Dá arrepios, só imaginar tal possibilidade.
UI!!!!XÔ vampirada!

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