8 de setembro de 2004

Hoje, terça-feira 7 de setembro, realizou-se um evento no teatro rival muito interessante, sobre produção cultural independente. Não fui porque acho que faltou uma chamada à imprensa alternativa. Os defensores dos conceitos de independência de produção artística não podem nunca esquecer a necessidade de uma imprensa alternativa independente para se consolidar uma arte independente no país.

E o que é imprensa independente? Acho que isso significa jornalista independente, ou seja, dono do próprio nariz. Para isso, é preciso mudar o status quo do jornalista brasileiro de hoje. Nunca o jornalista foi tão desrespeitado pelas classes patronais. Sofrem demissões em massa, recebem salários de fome, não tem horas extras respeitadas. Trata-se de uma classe profissional que ainda não se sente como tal.

Eu mesmo entrei numa furada monumental esse ano. Fui contratado informalmente por um dono de site de política. Minha tarefa era incluir cinquenta notícias por semana além de escrever uma coluna semanal. Estava numa fase meio desesperada e aceitei um salário infame: 350 reais por mês. O cara começou a atrasar o meu salário um mês, dois meses, três meses. Sempre que eu começava a me enfezar, ele me ligava e dizia para que eu não me preocupasse, que nunca havia pensado em me dar o cano. Pois bem, ele esperou que eu estourasse, e quando isso aconteceu ele simplesmente disse que eu era um otário, um grosso, e tchau. Tomei um cano de mais de 800 reais. Tudo bem, vivendo e aprendendo. Mas se houvesse alguma entidade mais forte que pudesse me auxiliar, eu poderia ter me defendido, ou ele teria pensado duas vezes antes de fazer isso.

Então porque os jornalistas não querem o Conselho Federal de Jornalismo? Na realidade, há uma divisão de classe. Os jornalistas ricos e os jornalistas pobres. Os ricos não estão nem aí para sindicatos e não querem mudanças no status quo. Por outro lado, os pobres estão tão desorganizados e alienados por faculdades ruins e falta de tempo para estudos mais profundos, tão fragilizados diante de seus patrões, tão inseguros em relação a seus empregos, que não se arriscam nem a formar uma opinião independente que possa colocá-los numa posição de risco perante os chefes. Por isso, concordo com a revolta de Lula, ao chamá-los de "covardes". Aliás, aquilo foi uma deslealdade. Provocaram o presidente a um bate papo informal, induziram-no a dar sua opinião e depois usaram suas palavras para agradar seus patrões da Folha, Estadão e Globo, que se deliciam sempre que Lula comete uma gafe. Resultado, agora até aquele palhaço do Larry Rother usou a frase de Lula em seu artigo para o NYTimes. Mais um de seus artigos, diga-se de passagem, que constituem uma excelente aula de anti-jornalismo, com um viés tendencioso que faria corar até o passional Carlos Lacerda!

Talvez esse Conselho seja interessante sim, se implicar na melhoria das condições profissionais dos jornalistas, se for um meio de protegê-los dos donos de jornais.

Só sei que eu estou bem desiludido com a profissão de jornalismo. Tenho meus macetes para ganhar uns trocados mas me sentiria muito feliz se houvesse um ambiente mais propício ao desenvolvimento de um jornalismo plural, inteligente e livre.

É muito fácil pregar a liberdade de imprensa quando a mesma está em mãos de cinco ou seis famílias. Que liberdade é essa? Liberdade para o dono do jornal, isso sim.

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