24 de março de 2007
Cinema na Ville Rose
Em Toulouse, como em toda França, a liberté vale sobretudo para os cães, que além da boa vida de ócio sem culpa e amor sem cobranças, comendo e bebendo a custo zero, podem aliviar-se em qualquer parte, de preferência bem no meio da calçada, em frente às lojas ou mesmo dentro das lavanderias. Os cães franceses não ganham dinheiro do governo, como os jovens que completam 21 anos, mas podem cagar livremente e não votam na extrema-direita. Li numa revista que, em Amsterdam, inventaram recentemente a cerveja para cães. Só espero que alguém se lembre da característica diurética da cevada e da tendência dos bêbados de se tornarem agressivos. Se aturar um bêbado perdendo as estribeiras é complicado, que dirá um pitbul?
Amanhã (25), termina o Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, do qual participo como jornalista convidado. Ontem fui assistir a um filme cubano interessante, El Benny, do diretor Jorge Luiz Sanchez. Conta a história de Benny Moré (foto), um dos maiores cantores populares da ilha. O filme mostra a Cuba dos anos 40 e 50, antes do golpe militar - uma democracia vibrante abortada violentamente por Fulgêncio Batista, com dinheiro e armas doados pelo mesmo governo americano que, suprema ironia, se pretende hoje paladino da democracia. Depois de financiar golpes anti-democráticos em toda a América Latina, produzindo décadas de terror, censura, tortura e crise econômica, sem nunca terem pedido desculpas, os EUA reclamam de que ainda exista um ressentimento anti-americano no continente. Pior, depois de apoiarem o golpe de 2002 contra Chávez, presidente eleito e reeleito com larga maioria, ainda continuam acusando o líder venezuelano de atentar contra a democracia. Discurso que é submissamente aceito e difundido pela mídia corporativa tupi. Com apoio do Alberto Dines, lógico.
O protagonista, Benny, insere-se na categoria gênio bêbado e sedutor, na linha Jim Morrison ou Charlie Parker. Embora os avanços e recuos de tempo não tenham sido bem organizados, confundindo um pouco a cabeça do espectador, o filme é uma delícia, por causa das magníficas canções de salsa, mambo, bolero. Sempre românticas, picarescas, sensuais, vibrantes. Filme que você assiste mexendo pé e ombros, querendo dançar. Recorde de público em Cuba. A trilha sonora serve para uma boa festa.
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