O IBGE divulgou que o Brasil cresceu 2.9% em 2006. Tudo bem, foi pouco, admitiu Lula, mas foi melhor que o esperado. Na América Latina, só foi maior que o Haiti, vociferaram os críticos. Ok, vamos lá no Wikipédia ver o que é o Haiti: população, 8,5 milhões de habitantes; PIB, 12.94 bilhões de dólares em 2005. Agora o Brasil: 188 milhões de habitantes; PIB, 1.61 trilhão de dólares em 2006. A comparação, portanto, é besta. O Brasil é a nona economia do mundo. E, neste grupo, cresceu mais que Alemanha, França e Japão. Cresceu apenas um pouco menos que os EUA (+3,3%) e, claro, bem menos que a China, que tem uma população de 1,3 bilhão em pleno êxtase de descoberta do capitalismo.
Particularmente, sou bem desconfiado em relação à essa febre patriótica da mídia corporativa toda vez que se fala de crescimento do PIB. Nunca vejo essa mesma febre quando temos assuntos bem mais importantes: distribuição de renda, redução da miséria, aumento da renda do trabalhador e melhora dos índices de educação. O fato é que, nestes pontos, o Brasil está dando lição em toda América Latina. Notem que incluí o item educação. Explico. A educação pública brasileira ainda está uma porcaria. A ditadura militar e, depois, os governos liberais, destruiram a nossa educação, que nunca foi mesmo grande coisa. Tínhamos centros de excelência em algumas capitais e um nível razoável nas cidades médias pra cima. Mas não esqueçamos que, até os anos 60, o Brasil tinha uma analfabetismo de 40%. Hoje é uns 10%, embora esse número seja um tanto polêmico, por causa do conceito hoje mais em voga, do analfabetismo funcional, que chega a quase 70% no Brasil. Entretanto, tenho uma idéia sobre a educação que é a seguinte: a estabilização da economia e o aumento da renda dos professores (a custo de muitas greves), associado à melhora da situação econômica das camadas mais humildes, têm um potencial enorme para elevar o patamar cultural dessas últimas, possibilitando o surgimento de uma nova grande parcela de consumidores e produtores culturais que, por sua vez, pode contribuir positivamente para o fortalecimento da cultura e da educação no país.
O mais importante, porém, é que, se o PIB geral cresceu 2,9% em 2006, o PIB dos pobres cresceu muito mais. A renda média das famílias também cresceu bem mais que isso.
Leiam esse trecho do texto do IBGE, divulgado ontem (28/02), que mostra como o crescimento foi diversificado:
"A agropecuária teve, em 2006, um crescimento de 3,2%, recuperando-se em relação ao ano anterior, quando havia crescido 0,8%. Dentre os subsetores da indústria (3,0%), a maior alta ocorreu na extrativa mineral (5,6%). Em seguida, contribuindo para o crescimento do setor industrial, vieram a construção civil (4,5%) e os serviços industriais de utilidade pública (3,3%). A indústria de transformação teve elevação de 1,9%. Entre os serviços (2,4%), as maiores elevações foram registradas nos subsetores comércio (4,0%), instituições financeiras (2,6%) e outros serviços (2,5%). Também apresentaram crescimento os subsetores transporte (2,2%), aluguéis (2,2%) e administração pública (2,1%). O subsetor de comunicações foi o único com variação negativa (-0,9%)."
Na América Latina, os único países com quem podemos nos comparar são México e Argentina, e mesmo assim, com alguma reserva. O México tem uma população de 108,7 milhões e um PIB de 1,191 trilhão de dólares (2005), enquanto a Argentina tem 40,0 milhões de habitantes e PIB de 548,75 milhões de dólares (2005). Pelo tamanho de população, o México nos é mais próximo e, apesar dos crescentes laços com os EUA, cresceu apenas 3.2% no ano passado, sendo que uma boa parte do PIB mexicano é composto de remessas de imigrantes, legais e ilegais, que moram no poderoso vizinho do norte.
Já a Argentina, foi o país que mais cresceu em 2006, 8,7%, mas ela ainda se recupera de um verdadeiro colapso econômico, causado pelas mesmas políticas liberais que nossa mídia e nossa direita ainda defendem por aqui, e tem crescido seguindo o caminho oposto, com investimentos estatais pesados, aumento dos gastos públicos, elevação de salários à força de canetadas federais, e o governo Kirchnner é muito mais interventor na economia que o brasileiro.
A Venezuela, por sua vez, foi outro país que teve crescimento destacado em 2006, mais de 6%. Sobre ela, não digo muito, pois vocês estão cansados de ouvir falar dela, por conta do demônio vermelho - segundo a nossa imprensa - que a governa.
Em outras palavras, os países que mais cresceram na América Latina foram justamente aqueles cujos governos a nossa imprensa mais gosta de falar mal.
A guisa de conclusão, podemos dizer que o Brasil, por conta de sua população e PIB, teve um crescimento muito honesto em 2006, acompanhado de modesta mas firme queda na taxa de desemprego, uma vigorosa recuperação do salário mínimo, além do aumento dos investimentos sociais. E foi um crescimento saudável, com a menor inflação e a menor taxa de juros em décadas. Sem lamúrias, por favor. O momento vale uma modesta, feliz e orgulhosa comemoração.
PS: Nem vou comentar aqui a nova mesquinharia tupi, que é ficar comparando quanto gastou Lula em viagens internacionais com FHC. Enquanto FHC só viajava para EUA e Europa, muitas vezes para esmolar dinheiro do FMI, e seus ministros tiravam sapato e mostravam a bunda para autoridades americanas, Lula percorreu Africa (o primeiro a fazer isso), Oriente e América Latina e hoje o Brasil bate recordes de exportação e superávit - na época do FHC, era só déficit.
(na foto, Nelson Sargento, mostrando sua preocupação com o PIB brasileiro.
1 de março de 2007
Crescimento modesto mas saudável merece comemoração, não lamúrias
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Miguel, tanta diferença deve haver entre esta nossa mídia tucano-pefelenta e a mídia francesa. Tanta diferença mesmo. Vi esta diferença inclusive na forma como eles ( os franceses ) abordaram a questão do bárbaro e inaceitável assassinato do franceses. O cônsul francês, de forma comedida e sóbria, disse não entender o motivo do crime. Disse apenas isso, ao invés de sair por aí tirando conclusões apressadas ou atirando a torto e a direito, coisa típica dos nosso jornalistas.
Com relação à publicação do PIB brasileiro de 2006, os nossos jornalistas fizeram a festa. Foram à desforra. Aqui em Goiás fiquei bastante irritado ao ver, estampado nos jornais a manchete dando conta do PIB brasileiro à frente apenas do Haiti.
Isso faz parte sim, deste caldo de violência ao qual estamos submetidos. Respiramos violência. Uma violência provocada=originada, pricipalmente, por esta mídia tucano-pefelenta. Bando de idiotas, isso sim
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