Você nunca mais vai ler Dines do mesmo jeito. Esse seria o slogan. O título poderia ser Observando o Observatório, de um site, blog ou orkut, que alguém poderia criar, contendo artigos e ensaios relacionados aos textos do editor do Observatório da Imprensa. Se não existe, logo logo vai existir. Afinal, Dines vem conseguindo superar o príncipe do tucanismo desvairado, Diogo Mainardi, em matéria de sanha oposicionista. O grande trunfo de Dines é que ele não assumiu sua parcialidade, enquanto o colunista da Veja já cansou de repetir que seu objetivo é derrubar Lula. Essa franqueza de Mainardi, embora louvável, revelou-se uma tática equivocada, pois levou as pessoas a lerem sua coluna como quem lê uma história em quadrinhos: divertimento inconsequente. Assim como ver Jogos Sangrentos: revolta, provoca engulhos no estômago, mas resistimos pensando "é só um filme, é só um filme, é só um filme". Quer dizer, eu não, porque há muito tempo que parei de ler a coluna do Mainardi. Prefiro Jogos Sangrentos.
Enfim, Dines é mais esperto.
Entretanto, Dines tem um ponto fraco: seus leitores. Como raça inextinguível, eles continuam lendo seus artigos com atenção milimétrica e, o que é pior, comentando! Dines já tentou se livrar de seus leitores várias vezes, mas não consegue. Uma vez convidou (ou aceitou uma oferta, dá no mesmo) uma jornalista que publicou artigo tentando desclassificar, ou rotular por baixo, os leitores de Dines. Quando ela insinuou, um tanto levianamente como depois se viu, que "estava em curso uma pesquisa abrangente sobre os leitores deste OI", para saber porque pensam assim ou assado, porque criticam tanto Dines, aquilo soou quase como uma ameaça. Mas falhou. Os comentaristas do OI são uma nova força na internet. Por alguma razão, ali encontramos vida inteligente. Vá olhar os que comentam no Globo ou no Noblat: a boçalidade reina.
Em seu último artigo, Falta um Borat para gozar nossas hipocrisias, Dines supera a si mesmo. Não se trata mais de um mainardismo. Um mainardismo enlouquecido, poderíamos dizer, não fosse uma tremenda redundância. O ministro Mantega, sua esposa e filhos são assaltados. Os repórteres de nossa valorosa e imparcialíssima imprensa acorrem para entrevistar a senhora Mantega, que se dispõe, muito educada e ingenuamente, ainda sob o efeito do susto, a responder aos ansiosos e súbitos filósofos da segurança pública nacional. Algumas declarações depois, eles partem para suas redações felizes. Entregarão a seus editores, alguns valiosos petardos anti-governistas. O lema dos anarquistas italianos - "hay gobierno, soy contra" - agora pertence à mídia tupi, com algumas pequenas, imperceptíveis alterações, como "hay gobierno petista, soy contra".
Enfim, o jornal pertence a seu dono, certo? Então pronto. Dines pode escrever o que quiser, certo? Então pronto. A gente escreve também o que quiser, certo? Errado. Dines está sendo anti-ético, logo ele, que anda se arvorando paladino da nova MORAL BRASILEIRA. Porque, no artigo citado, ele reverbera e distorce, acintosamente, o que disse a senhora Mantega, dando à frases descontextualizadas, ditas sob forte impacto emocional, um sentido totalmente invertido. Pior, está usando a dor de uma senhora, mãe de família, que acabou de ver seus filhos sob ameaça de armas de fogo, para desenterrar a história de Dossiegate! Falta de cavalheirismo aguda, senhor Dines! Coisa feia! Dom Quixote deve estar se revirando na tumba contra o senhor. Não há partidarismo que justifique uma deselegância desse nível. Nem os piores pefelentos fariam tal.
Dines está com umas obessões estranhas. Ele quer porque quer acreditar que o governo Lula alimenta uma negra conspiração para acabar com a mídia brasileira, essa pobre coitadinha que agora está galhardamente defendida pelo valente editor do OI. Vejam Chávez, aponta Dines, ele é amigo de Lula, e não renovou a concessão da Radio Nacional Venezuela. Ã? A RNTV participou do golpe contra a democracia venezuelana? Que tem isso? Nas republicas de banana, tvs e jornais podem tudo. Liberdade de imprensa é isso. O diretor de redação do Estadão matou sua namorada friamente? Liberdade,ora bolas! O cara está solto, e Dines está preocupado com os pobres diabos com menos de dezoito anos. A polícia paulista, reagindo bravamente ao PCC, matou mais de 600 pessoas no ano passado? Que tem isso? Liberdade! No Rio são mortas dezenas de pessoas por mês? Ora, ora... Liberdade! O negócio é a morte do menino João, esse sim, um caso que merece a atenção do governo, da mídia, do Congresso Nacional, para apertarmos as leis. O diretor do Estadão mata uma jovem jornalista (jornalista, héin!) friamente, calculadamente, e as leis estão certas em deixa-lo solto. Um bando de pé-rapados rouba um carro e matam barbara, mas involuntariamente, uma criança, e mudam-se as leis. Tudo bem, os caras são monstros, mas não percam de vista que eles nunca planejaram matar o garoto, enquanto o cara do Estadão sim. Esses são os valores da classe dominante brasileira e, visto que o senhor Dines agora está atacando o que, na opinião dele, seria a mania do "politicamente correto" dos jornais, ao não malharem, como deveriam - segundo Dines -, a senhora Mantega em editoriais e colunas políticas, permita-me ele então ser absolutamente politicamente incorreto e chamá-lo de "reacionario de mierda".
Última coisa: eu assisti a Borat, e realmente não entendi o que Dines quis dizer. Precisamos realmente de um sujeito anti-semita, ignorante, centrado no seu pequeno país de origem? Aliás, acho que Dines sabe muito bem que Borat é inglês, e que seu filme causou enorme constrangimento no Cazaquistão. O filme é bom, engraçado à pampa, mas não creio que o Brasil precisa de um Borat. Já temos bastante comediantes por aqui, da melhor estirpe, dos vulgares ao elegantes. Precisamos, isso sim, de um bom Observatório da Imprensa, quase como esse que está aí, mas com um editor menos obcecado pelo Lula.
28 de fevereiro de 2007
Dines e o mainardismo enlouquecido
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Miguel, você disse tudo. O Dines é mal intencionado e está recebendo grana dos EUA para ajudar a desestabilizar Lula e Chávez. Confira o link abaixo, com texto do jornalista Luiz Carlos Azenha:
"Vamos fazer caixinha e levar
Alberto Dines à Venezuela?"
http://viomundo.globo.com/site.php?nome=PorBaixoPano&edicao=545
Eu já tentei postar lá esse e mais alguns links que estão denunciando o OI, mas duvido que eles publicaram...
Concordo com vc. Acabei de entrar no blog de uma escritora, nunca lembro o seu nome pq nao sei que livros publicou. Ela é editora do Portal Literal. Ela escreveu no blog dela que o Lula gastou 1,8 bilhoes em passagens aereas e cita a fonte " o globo deste domingo" e critica com o elaborado pensamento: "eu nao sei muita matematica mas esse dinheiro era suficiente para investir em outras coisas".e para arrematar o texto de dez linhas entitulado
PAGAMOS AO ESTADO E EM TROCA ELE NOS DIZ "DEUS LHES PAGUE"
"acho que eu devo mesmo é parar de ler jornal"
Agora me pergunto, como que uma editora de um dos melhores sites de literatura do Brasil que é patrocinado pela Petrobras, se dar o direito de ser tao leviana e simplesmente reproduzir o que leu num jornal e ainda citar a fonte como um mero papagaio e pra se isentar.
Me pergunto tb se ela preferia o Fernando henrique q tentou vender a Petrobras.
Infelizmente no blog dela nao se pode fazer comentario. Talvez ela seja simpatizante da censura.
Miguel,
Já havia prometido a mim mesmo não ler mais as matérias do Alberto Dines no OI. Ele está se distanciando cada vez mais do mínimo de razoabilidade que se espera de um texto jornalístico. No entanto, a sua referência ao artigo dele despertou minha curiosidade e fiz uma concessão. A experiência não foi de todo ruim, porque boa parte dos comentários (entre os quais, o seu) consseguem fazer um bom contraponto ao texto.
Não posso afirmar que ele está superando o Diogo Mainard porque esse eu já não leio há muito tempo Deixei de ler a Veja em meados de 2002, se não me engano, e a coluna dele eu só li enquanto achava que aquela morbidez era apenas desabafo motivado por frustrações e problemas pessoais.
Quanto ao Dines, por mim ele já estaria falando sozinho.
PS. Aproveito para registrar meu contentamento por vê-lo postar artigos nesse blog com mais freqüência.
OLÁ MIGUEL. SÓ LEMBRANDO QUE O BLOG DO PAULO HENRIQUE AMORIM É PALAVRA AFIADA E NÃO FIADA.
ABRAÇÃO.
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