2 de fevereiro de 2007

Cronica BD e resenha sobre o curta Super-herói fora de série

Uma das coisas que me impressionou em Paris, ao entrar na Gibert, a principal rede de livrarias (e cds, dvds, revistas, etc) da França, foi a quantidade de revistas em quadrinho, a maior parte destinadas ao público adulto. Eram tantas, com capas tão bonitas e títulos tão sugestivos que acabei por ficar horas nesta seção, esquecendo de subir para o segundo andar, onde ficavam os livros de literatura. Alguns dias depois, aconteceu de novo. Meu objetivo de folhear os novos autores da literatura francesa foi ofuscado por um súbito interesse em ler uma edição de Tin Tin, o mais famoso personagem dos quadrinhos franceses.

Há muitos anos, porém, que tenho andado distante dos quadrinhos. Fui um aficcionado, na tenra infância, por Maurício de Souza, com especial predileção pelo Cascão e Chico Bento. Devorei todo o Walt Disney disponível e, na casa de um primo, li a coleção inteira de Asterix. Outro personagem que me marcou foi o Fantasma, do qual acompanhei a trajetória completa. Diferentemente da maioria de outros aficcionados não cheguei ao X-Man, embora, posteriormente, tenha lido várias histórias da turma dos amigos do Wolverine.

Gostei muito do Batman, sobretudo as versões contemporâneas, em estilo gótico, mas o universo literário, as loucuras de verão e as revistas de mulher pelada passaram a ocupar a maior parte dos meus interesses. Lia Kafka e Dostoiéski, enchia a cara regularmente, e caçava mulheres nas ruas armado com vodka barata e cerveja em copo de plástico.

Um dia, ouvi falar que mataram o super-homem. Francamente, não dei a mínima.

Meus passeios pela seção de quadrinhos da Gibert, a super livraria parisiense, no entanto, me levaram a folhear clássicos dos quadrinhos adultos, os chamados Graphic Novels, Frank Miller, Alan Moore, Neil Gaiman, com seus enredos complexos, diálogos elaborados e riquezas plásticas, que os tornam verdadeira obras de arte.

Enfim, pensei na miséria da literatura brasileira, cuja causa primeira é o fato de que a leitura nunca ter se popularizado no país, e concluí que as BDs (Banda Desenhada, na sigla conhecida mundialmente) podem desempenhar um papel importantíssmo na educação de jovens e adultos, na produção de entretenimento de qualidade e no estímulo à leitura de forma geral.

Daí chego ao curta-metragem Super-Herói fora de série (20 minutos), dos paulistas Ale McHaddo e Paulo de Tarso, selecionado para o Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermond-Ferrand, cujo tema deste ano é... super-heróis.

O fime conta a história de um rapaz, hiper-aficcionado por quadrinhos, que, angustiado com sua existência vazia, decide incorporar um super-herói. Mesclando animação e filme convencional, o trabalho tem muito humor e diálogos divertidos. A trama ganha dinâmica com a entrada em cena de um inescrupuloso editor de BDs, um impostor que afirma na televisão ser ele o verdadeiro Homem-Mosca (título do nosso herói), visando aproveitar a súbita projeção midiática e grande popularidade do herói para lançar uma nova e lucrativa coleção de quadrinhos.

O autor parece, no entanto, ter ficado muito preso ao realismo. Poderia ter se arriscado mais. Aproveitado melhor a liberdade que os momentos de animação lhe proporcionavam e dado mais cordas à fantasia. Além disso, o ambiente do filme me pareceu asséptico. Embora esse ambiente se ajuste à personalidade do protagonista, um trabalho plástico com mais constrastes enriqueceria a construção do seu caráter tímido e obsessivo, ajudando a exprimir, de maneira mais orgânica, a alegada angústia existencial que o leva a tomar a intrépida decisão de se tornar um super-herói.

Há um esforço constante, no roteiro, de produzir uma espécie de paródia à cultura BD. Neste sentido, o filme é bem sucedido, porque, realmente, é muito engraçado.

O filme peca porém por não conseguir incorporar melhor alguns personagens à narrativa. Por exemplo, a bela loura em quem ele esbarra ao sair da loja de revistas, cuja presença carece de uma justificativa mais consistente além do prazer animal de contemplá-la. Sei que existe uma razão para a sua presença, mas não me pareceu suficiente.

Algumas cenas me pareceram apressadas, conferindo ao trabalho um aspecto trash que o desvaloriza e que poderia ter sido evitado. Nada contra o trash, pelo contrário... O filme foi feito sem patrocinadores, o que explica sua simplicidade. Por outro lado, pressente-se uma inteligência cinematográfica que poderia ter obtido melhores resultados. A própria estética trash, quando assumida e bem manipulada - a história do cinema está cheia de exemplos - pode alcançar alturas surpreendentes.

O que não se pode negar no filme é a destreza com câmera e ritmo, um bom equilíbrio entre animação e imagens reais (com as ressalvas já ditas), muita criatividade no uso da trilha sonora, e a impressão de que os diretores conseguiram, com recursos mínimos, dar uma honesta contribuição ao curta-metragem nacional. Sem surpresas que o filme tenha ganhado o prêmio Canal Brasil do Festival de Curtas de São Paulo e tenha sido selecionado para Clermond-Ferrand, o maior festival do gênero no mundo. Sem surpresas se ganharem outros prêmios.

2 comentarios

Anônimo disse...

E a semana deve trazer novidades no relacionamento entre a governadora Yeda Crusius e seu vice, Paulo Feijó. Em entrevista ao Correio do Povo, neste domingo, Yeda diz que Feijó foi desleal e que não confia nele. Sem qualquer atribuição no governo, o vice segue sua cruzada contra o atual presidente do Banrisul, Fernando Lemos, ligado ao senador Pedro Simon (PMDB). Simon e o PMDB gaúcho já declararam guerra a Feijó e preparam chumbo quente contra o dito cujo. O vice-governador, por sua vez, aguarda a resposta de um pedido de audiência com Yeda para tratar do conteúdo da carta que enviou à mesma tratando do “risco de escândalo” envolvendo Lemos. Segue a íntegra da carta que Feijó enviou para Yeda na semana passada:

"Excelentíssima Senhora, Yeda Rorato Crusius - Governadora do Estado do Rio Grande do Sul - Prezada Governadora - Ao cumprimentá-la cordialmente. venho, através desta carta, abordar um assunto que considero da maior importância. Em conversa que tivemos, no dia 15 de dezembro de 2006, com a presença do futuro secretário Nelson Proença, no centro de treinamento da PROCERGS, tive a oportunidade de expor a vossa excelência que não lhe pediria cargos e também que não indicaria nomes para estatais ou secretarias em nosso governo. Apenas gostaria de ter a minha opinião considerada em relação a eventuais indicações que me parecessem não ser as ideais para fomentar o desenvolvimento responsável no nosso Estado. E a possibilidade da permanência do Sr. Fernando Lemos na presidência do Banrisul muito me preocupa. A questão é muito séria.

O fato é que não podemos arcar com o ônus de manter na direção do Banco do Rio Grande do Sul uma pessoa que muito em breve pode ter sua conduta questionada publicamente, manchando a imagem do nosso governo. Se, ao contrário, firmássemos a palavra empenhada em campanha, colocando na Presidência do Banrisul um técnico, funcionário de carreira, estaríamos afastando o risco de um escândalo desnecessário e ganhando, com certeza, a confiança dos servidores públicos. O nosso governo só teria a ganhar e a sociedade gaúcha teria um Banrisul administrado de forma mais responsável e eficiente. Paulo Afonso Girardi Feijó, Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul”.

Chico disse...

fala primo!

A Franca eh foda pra quadrinhos mesmo. Tintin, Asterix, Moebius e mais um bando que nem sei mas fazem arte de gente grande. Me lembro de quando pequeno eu lia as tuas colecoes de Batman. Tua ou do Pedro, nao sei. Eram varias do Batman. As melhores. De uma forma ou de outra foram essas leituras que me deram gas pros gibis que tenho hoje.

Abracao cara

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