4 de abril de 2007

Entrevista exclusiva com Ademir Assunção (arquivo)

(essa foi feita em meados de 2005)


Arte & Política - Pode descrever, em poucas frases, sua carreira literária (bibliografia, etc).
Sou um vagabundo que gosta de ler e escrever livros e trabalha muito mais do que gostaria. Assim, publiquei centenas de entrevistas, reportagens, resenhas e artigos nos jornais e revistas que trabalhei (Folha de Londrina, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Marie Claire, etc...), escrevi poemas musicados por Itamar Assumpção, Edvaldo Santana, Madan, etc, e publiquei cinco livros: LSD Nô, A Máquina Peluda, Cinemitologias, Zona Branca e Adorável Criatura Frankenstein.

Arte & Política - Como analisa o mercado editorial para poesia contemporânea?
Mercado editorial de poesia? Mas poesia não é mercadoria. Mercadoria é sabão em pó Omo, detergente Limpol e disco do Zezé di Camargo e Luciano, os novos ídolos de Caetano Veloso.

Arte & Política - Para você, em que a cultura do blog e da internet interfere na literatura?
Na literatura, em nada. Blogue é um suporte. Um bom espaço de guerrilha, para quem sabe manejar uma arma. Há gente que sabe manejar. Há outros que só enchem lingüiça e nunca acertam no alvo. De qualquer modo, a internet é um bom meio para furar os esquemas de controle de informação. Eu gostaria de fazer uma rádio virtual, que pudesse ser ouvida no mundo inteiro. Mas não vamos nos iludir: no momento em que a internet começar realmente a incomodar, o establishment resolve o problema rapidinho: corta a luz das residências.

Arte & Política - Você gosta de ler literatura na internet?
Não. Quando tem algum texto que me interessa, imprimo e leio no papel. Eu tenho o hábito de ler andando pela casa ou deitado no chão da sala, coçando a barriga da minha cachorra. Não dá para fazer isso e ler na tela de um computador ao mesmo tempo.

Arte & Política - Quais são seus autores contemporâneos preferidos, tirando seus amigos? E os clássicos?
São muitos: Samuel Beckett, Rodrigo Garcia Lopes, Jorge Luis Borges, Douglas Diegues, Maikovski, Claudio Daniel, Gary Snyder, Mario Bortolotto, Paulo Leminski, Nelson de Oliveira, William Burroughs, Marcelo Mirisola, Yukio Mishima, Marcia Denser, Ezra Pound, Sylvia Plath, Evandro Affonso Ferreira, Cecília Vicuña, Lourenço Mutarelli e alguns outros.

6 - Que acha do cinema contemporâneo nacional? Destacaria algum filme?
Não tenho uma visão inteira do cinema contemporâneo nacional. Não lembro de nenhum filme nacional (nem internacional) que tenha me nocauteado nos últimos tempos. Achei muito boa a porrada do “Quanto vale ou é por quilo?”, do Sérgio Bianchi, os quadrinhos do Lourenço Mutarelli no “Nina”, o ritmo e a trama do “O Invasor”, do Beto Brant. Gostei também do último filme do Carlão Reichenbah, embora “Filme, Demência”, de uns 10, 15 anos atrás seja bem melhor. Agora, o maior desastre do cinema brasileiro recente é “Carandiru”. Babenco fez filmes fantásticos, como “Pixote”, “Ironweed” e “Brincando nos Campos do Senhor”. Em “Carandiru”, enfiou o pé, a mão e a cabeça na jaca. Também não gosto de “Cidade de Deus”. Acho um filme muito bem feito, um tanto Tarantinesco, mas não acho um filme honesto. Detesto esses diretores que se formaram nos filmes publicitários e pensam que tudo está a venda, inclusive a barra pesada. Aqueles caras que raciocinam assim: “ah, precisamos de uma tomada aérea do Rio de Janeiro de 15 segundos. Quanto custa? R$ 300 mil? Só? Manda fazer.”

Arte & Política - E televisão? Algum programa que lhe chame a atenção?
Durante mais de 20 anos não tive televisão. Há um ano comprei uma e um aparelho de DVD. Por força de hábito, esqueço de ligá-la. Quando lembro, é uma desgraça. Cada vez que tento assistir televisão me convenço de que a raça humana realmente vai pro buraco.

Arte & Política - Acha que a visão política do autor influencia em seu modo de escrever?
De jeito nenhum. Um péssimo escritor pode ser fascista, comunista ou democrata. Um bom escritor, idem.

Arte & Política - Que tipo de literatura você definitivamente não gosta?
Literatura feita por caras que escrevem uns troços juvenis e andam por aí com o nariz empinado, pensando que são uma mistura de Norman Mailer com James Joyce.

Arte & Política - Pode falar um pouco de seus últimos projetos?
Acabei de lançar o CD Rebelião na Zona Fantasma. Quem quiser comprá-lo, pode pedir pelo seguinte email: zonafantasma@uol.com.br. Custa 25 pilas (já incluído frete postal).

Arte & Política - Que acha de São Paulo? Como descreveria a cidade?
Como Leminski a descreveu: um monstro com nome de santo.

Arte & Política - E o Brasil? Que acha do Brasil? Tem jeito?
Espero que sim. Não só o Brasil, o planeta. Se essa raça metida a besta (a humana, claro) continuar saqueando o planeta no ritmo em que está, acho que essa merda vai pro saco logo logo. Tem uma música no disco “Mr. Heartbreak”, de Laurie Anderson, que descreve um planeta fantasma, habitado por estranhos seres da era do gelo, sacolejando no imenso vazio. Sempre que ouço essa música tenho a nítida impressão que ela descreve a própria Terra.

Arte & Política - Se fosses obrigado a morar em outro país? Que país escolheria?
Egito. Gostaria muito de fumar um hash na tumba do faraó Ramsés III.

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