Por João Villaverde
Pesquisando sobre a imprensa escrita e a candidatura de Fernando Collor de Mello à presidência do Brasil, em 1989, me deparei com reportagem da revista IstoÉ, edição de 07 de março de 1990, sobre a futura ministra da Economia, Zélia Cardoso.
Como se sabe, Collor fora eleito presidente no finzinho de dezembro de 1989. Em seguida, viajou à Europa para festas de fim de ano e começou a discutir nomes para pôr seu projeto de "modernizar o Brasil" em prática. Graças aos mecanismos costurados pelo presidente José Sarney durante a Constituinte (1987-88), Collor assumiria ainda sob a regra antiga: no dia 15 de março. Até lá, nos primeiros 2 meses e meio de 1990, o presidente ainda era Sarney.
Collor viajava, conversava, pensava, costurava, escolhia, definia. Ao longo de janeiro e fevereiro, definiu os últimos nomes. Entre eles, o de Zélia como ministra da Economia (o nome anterior da pasta, Fazenda, tinha sido abolido, dentre outras mudanças cosméticas). Com isso - e com a hiperinflação destruindo o poder de compra dos salários - era importante conhecer a futura ministra.
Daí que a IstoÉ, sete dias antes da posse do novo presidente e da ministra Zélia, produz reportagem recontando a vida, a carreira e as negociações em torno de Zélia. Na capa, ela aparece olhando para cima, com feição esperançosa, com a manchete, em letras grandes, logo abaixo de seu rosto: "Confiante em Deus". Transcrevo a seguir, trechos da reportagem da revista.
Até este ponto, a matéria contava que Collor já decidira sobre boa parte de seu ministério, faltando ainda o nome da economia. O mais conhecido, dentre os apontados, era Mario Henrique Simonsen.
Ficaram faltando para a unanimidade, do lado dos que apoiaram Collor, O Globo e o favorito de O Globo, o ex-ministro Mário Henrique Simonsen - derrotado, segundo a versão do próprio jornal, porque radicalizou numa conversa com o presidente eleito a respeito da dívida externa. Simonsen, que é do board do nosso maior credor, o Citibank, não aceita a ideia de que o governo brasileiro retire seu aval na parcela da dívida que a União não contraiu diretamente.
Nesse sentido, aponta a reportagem da IstoÉ, Collor preferia uma linha semelhante a de Dilson Funaro, ministro da Fazenda de Sarney (o segundo, responsável pelo Plano Cruzado), que decretou a moratória da dívida externa. A reportagem segue:
Mas o candidato de O Globo pode ter se desgastado à toa, já que a ministra indicada não toca mais, publicamente, naquela promessa de campanha. Após o anúncio, Simonsen ficou quieto. O Globo, na sua ânsia de nomeação, noticiava, em janeiro, na companhia de seu rival Jornal do Brasil, um convite feito por Collor a Simonsen, durante encontro que, pelo que diziam os dois matutinos, ocorreu na exata hora em que o presidente eleito estava rigorosamente impossibilitado de pronunciar qualquer convite - Collor encontrava-se diante da broca de seu dentista, lá mesmo, no Rio de Janeiro. O episódio pulverizou as últimas esperanças dos cariocas de emplacarem o ministro da Economia - e consolidou uma vitória que começou a se desenhar na chamada batalha de Roma.
Tão logo se refugiou da tensão da campanha, na Europa, na passagem de ano, seu influente ex-sogro, Joaquim Monteiro de Carvalho, o interceptou na capital italiana, tendo a tiracolo o economista Daniel Dantas, funcionário gradualíssimo do banqueiro Antônio Carlos de Almeida Braga e outro ministeriável da facção Rio. Collor percebeu o perigo e imediatamente convocou Zélia a Roma.
Dantas, 35 anos, administrador da Icatu Participações - a holding que coordena os negócios de Almeida Braga - dispunha da torcida aberta do chefe, dos Monteiro de Carvalho, do dr. Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, e do ex-ministro Simonsen. Tinha muitas ideias na cabeça e uma franca disposição a divulgá-las na imprensa. Como eram bastante recessivas, provocaram reações dos sindicatos e deram a chance que Collor esperava: despachou Dantas para uma posterior conversa com Zélia, em São Paulo.
Dias depois, já de volta ao Brasil, Collor confidenciou que Dantas era 'um administrador de fortunas e o Brasil, um país de misérias'. Naquele momento, Zélia talvez ainda não estivesse escolhida - mas Collor deixava claro que tampouco era carta fora do baralho.
- A matéria da IstoÉ não foi assinada. O diretor de Redação era Mino Carta.
- Collor acabaria escolhendo Zélia, e, juntos, baixaram o Plano Collor, no dia seguinte à posse do presidente. O Plano, entre outros pontos trágicos, continha o confisco da poupança. A economia brasileira foi lançada em grave recessão ao longo de 90, 91 e 92. Zélia seria trocada, em 1991, por Marcílio Marques Moreira, o homem que instituiu o regime de taxas de juros explosivas no Brasil. Collor sofreu o impeachment, no fim de 1992.
- Daniel Dantas continuou no Icatu até 1993/94, quando fundou seu próprio negócio, o banco Opportunity, se embrenhando na mais obscura aventura empresarial do Brasil moderno, a partir da privatização da Telebrás, em 1998.
entao poderia ter começado ai a decepçao da Globo com F Collor,como
revelou a viuva de Roberto Marinho.
Depois, o apoio globento a campanha nacional do impeachment foi decisivo na rapidez do desfecho politico.
Porem ja imaginou se o alagoano tivesse aceitado Dantas? Eu nao consigo imaginar dantas, ministro da economia...
Caray, pq essas informações não pipocaram antes (até nos blogs)?
E os inocentados do FHC? Quem inocentou? Se há algo cada vez mais provado durante a CPI do Itagiba, é que faz parte da campanhazinha partidária (porra, prorrogar a partir de escritos num guardanapo de bêbado? Sim, sei que chamam de Veja e outros falam que é papel higiênico, não guardanapo, mas não fala pra eles que ver a boca da elite amarronzada é mais engraçado).
Ô menino, essa foi do baú mesmo. Por isso adoro seu blog!
Que pena...todos brilhantes, porém, bandidos.
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