21 de dezembro de 2005

Carta ao articulista Osvaldo Bertolino, do Vermelho

(Fonte: http://www.gutov.ru/portrets/large/Lenin.jpg)

(Acabei escrevendo uma carta tão longa que virou um artigo político,
por isso, movido pelos deveres cívicos, compartilho com todos)


Prezado Osvaldo Bertolino, antes de mais nada quero lhe agradecer pela excelência filosófica de seus artigos publicados no site Vermelho. São um bálsamo no oceano de merda no qual às vezes me sinto rodeado. Eu também milito na causa do jornalismo político e tenho grande admiração pelo PC do B. Atualmente até mais do que pelo PT, que é grande e popular e tal, mas ainda é muito inocente nas lides com as hostes inimigas. Não aprendeu ainda que é necessário estar com o olho no peixe fritando e outro no gato do lado, como diz o Zeca Pagodinho.

Em seu último artigo, tem um ponto que tenho a quase honra de discordar contigo e apontar-lhe o que certamente foi uma distração teórica sua. Em resumo, você fala da excelência da política externa brasileira, que está levantando o turismo, as exportações, a visão que o mundo tem do Brasil. Tudo isso é graças ao governo Lula, que promoveu uma mexida estratégica no Itamaraty, a começar pela nomeação do brilhante Celso Amorim, uma das figuras mais espertas que tivemos nessa área. Graças a Deus ele não se envolveu com a politicagem doméstica, que é sempre a pior parte da política de um governo brasileiro.

Como ia dizendo, o pagamento da última parcela da dívida com o FMI foi muito mal explicado pela imprensa. Em todos os jornais, falou-se: BRASIL VAI PAGAR ADIANTADO 15 BILHÕES AO FMI. Essa era a manchete principal em todos os jornais e também na televisão.

Ora, se eu pago adiantado o meu aluguel, eu sou um imbecil. É o que eles passaram. Não FRISARAM (essa palavra é chave no jornalismo) o fato principal. O ato de independência. Se houve ao menos um jornal de grande circulação que fosse mais.. digamos, progressista, daria a seguinte manchete:

BRASIL DÁ O ÚLTIMO ADEUS AO FMI ou

Brasil reforça independência no cenário internacional ou

Brasil paga dívida com FMI e se fortalece politicamente

Em suma, o pagamento da dívida com o FMI foi uma jogada de mestre. Futeboleiros, videogameiros ou xadrezistas sempre admiram uma boa jogada, seja ela da direita ou da esquerda. Os arautos da mídia não foram educados. Não cumprimentaram. A direita calou-se, rangendo os dentes. E o pior é que, como sempre, grande parcela da esquerda forma seu pensamento lendo Estadão e Globo. Reagem como se houvessem acreditado piamente no que a mdía disse. Não são nem ao menos críticos. Não tem malícia. Ou então é pura malícia, nada mais.

Agora, o que discordo de você é o seguinte:

Você desprezou o zagueiro desse time. Um zagueiro discreto, mas durão.

É, meu chapa, o papel do Palocci é o mais difícil de todos. Eu entendo porque o Lula colocou ele lá. Ele é o cara que sofre mais pressão para soltar uma grana que, no fundo, é pouca.

No entanto, quase dói dizer, mas é a matemática mais pura que você esqueceu, e isso constituiu a única (mas importante) falha teórica no seu artigo. Não fosse Palocci , o Brasil NUNCA pagaria a dívida. Para uma série de outras coisas, o Palocci foi um... desculpe o termo, filho-da-puta. Pra saúde pública e para as obras de infra-estrutura. Mas neste caso específico, fica totalmente contraditório detonar, no mesmo artigo, o Palocci e o pagamento final da dívida externa. Foi genial e vamos tirar o chapéu para o Palocci, pelo menos uma vez na vida.

Agora, eu acho que, com essa cartada final de pagar o FMI, o papel dele no governo está cumprido. Dele e do Meirelles. No segundo mandato do Lula, se houver um, acho que TEM que colocar outro ministro. Um cara verdadeiramente desenvolvimentista. No Banco Central então, nem se fala. Ou então enquadrá-los. Agora que o Brasil está realmente livre, pelo menos do ponto-de-vista jurídico internacional, agora é hora de começar a apertar o acelerador. Tenho a impressão que é isso que o Lula tá começando a fazer. Ele está pressionando pesadamente os ministros a executarem seus orçamentos e estimulando a Dilma Roussef nas pauladas contra o Palocci e o superávit.

O superávit não vai acabar em 2006, mas tenho quase a certeza que vai diminuir bastante. Ainda mais que o ano é eleitoral. Por mais que a Miriam Leitão vocifere contra qualquer ousadia de Lula como "estratégia eleitoral", não tem jeito, mêu. O governo Lula vai ter que usar todas as cartas que tem nas mangas em 2006. Por isso, acho muito precipitado o que setores da mídia e da direita estão fazendo: cantando vitória. Ah, claro, isso também é estratégia. Diga que vai vencer e vença! Garotinho já teve a arrogância de afirmar que o segundo turno de 2006 será ele, pelo PMDB e alguém do PSDB.

Tem outro fator ainda mais importante que a mídia e "os pensadores midiáticos" nunca lembram. Lula foi eleito com 52,8 milhões de votos, equivalente a 61% dos votos válidos. Foram 20 milhões de votos a mais que o segundo colocado, José Serra, que teve 33,3 milhões de votos. Tenho sérias dúvidas se o Arnaldo Jabor vai dar conta de tanta gente.

Cordialmente, Miguel do Rosário
oleododiabo.blogspot.com

4 comentarios

Anônimo disse...

Miguel, você já visitou o Outubro, o Blog do Nei Duclós? (http://outubro.blogspot.com/) Bom, se não, dê sempre uma passadinha por lá, só tem a ganhar. O homem entende de Arte & Política; ao meu ver, mais de Arte; mas quem é que entende mesmo essa política que está aí, hein? Boas festas, meu amigo. Posso chamá-lo de “meu amigo”? Se preocupe não, num sou lá um desses efe da pê de quem você possa envergonhar-se de ser amigo. Minha decência vai além da gravata. Um abraço e boas festas. Tudo de bom é o que lhe desejo.

Anônimo disse...

vou visitar, fernando, claro que voce é meu amigo!

Anônimo disse...

é trocar ou palocci, ou o palocci mudar. porque dá na mesma, não?

Anônimo disse...

é trocar ou palocci, ou o palocci mudar. porque dá na mesma, não?

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