28 de janeiro de 2008

Parada de Carnaval


"Cristo en el garage" (1981) de Antonio Berni
(Pintor argentino, 1905-1981)




Pois é, este blog ainda não conseguiu engrenar. O carnaval não ajuda, com seus blocos e latinhas de antartica. Por isso, vou publicando algumas pinturas de um argentino que eu descobri recentemente, o Antonio Berni, um dos maiores nomes das artes plásticas porteñas. Berni tem uma obra bastante heterogênea, com fases bastantes distintas: momentos cubistas, muralistas, outros mais abstratos e, sobretudo, muita coisa absolutamente original.

Por falar em pintura, no sábado aconteceu um evento super legal no centro do Rio, nos arredores da praça tiradentes. Três galerias, uma já antiga e duas novas, realizaram aberturas de exposições simultâneas. A chuva não atrapalhou o evento, que reuniu quase toda a galera interessada em artes plásticas da cidade. Teve sambinha em frente à galeria Gentil, a mais antiga das três e muita cerveja - gratuita, farta e distribuída sem confusão.

Há alguns anos que estudo artes plásticas, por puro prazer pela coisa. Já li alguns livros sobre o tema e sempre procuro me atualizar sobre o que há de novo. Acompanhei as polêmicas criadas pelo Affonso Romano de Santanna, na sua briga contra certos modismos da arte contemporânea. Sobretudo contra algumas vertentes da arte conceitual e do minimalismo. Eu mesmo já gastei alguma saliva invectivando contra o que eu considerava pilantragem conceitual.

Minha crítica, no entanto, nunca foi dogmática e sempre procurei esclarecer que eu defendia, em verdade, uma separação mais corajosa do joio do trigo. Na França, particularmente em Nice, tive oportunidade de ver trabalhos magníficos de arte contemporânea, muitos inclusive conceituais, o que serviu para refinar minha visão crítica e reafirmar minha convicção de que o problema da arte contemporânea não é o conceitual, e sim a falta de critério para distinguir uma arte conceitual boa de uma arte conceitual ruim.

Um sujeito pode colocar um bode empalhado no meio da sala, com um pneu pendurado no pescoço e fazer disso um belíssimo e intrigante trabalho artístico. Outro pode fazer a mesma coisa e chegar a um resultado medíocre. O importante é observar que a beleza, assim como o diabo, moram nos detalhes. O trabalho conceitual deve estar tão atento à voluptuosidade das cores e formas da mesma forma que uma pintura convencional. Essa é a diferença. O conceitual em si não é arte. Colar um tufo de pentelhos no meio de um quadro branco não é arte. Mas, com sensibilidade, pode-se perfeitamente fazer um excelente trabalho usando um tufo de pentelhos, desde que os elementos possuam a harmonia, a dissonância, o jogo de contrastes e símbolos, que causem aquela comichãozinha na alma que somente uma boa obra de arte causa.

Uma das leituras mais importantes que fiz foi a Crítica do Juízo, de Immanuel Kant, livro no qual ele discorre sobre o que é arte, e conclui dizendo que arte é apreendida intuitivamente pelo homem, assim como o próprio conhecimento tem sua origem na intuição. Naturalmente, os conceitualistas irão desconstruir e negar as teorias de Kant, mas eu, por enquanto, ainda confio mais no pontual pensador de Konigsberg do que nesses pós-estruturalistas americanos, que abusam de palavras como subversivo, revolução, crítica, e chancelam e produzem as obras mais absolutamente conservadoras.

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