26 de junho de 2008

A judaria do tenente

Fiquei, como o Brasil inteiro, estarrecido com o crime cometido por militares no morro da Providência, que prenderam três jovens e entregaram-nos a traficantes da Mineira para que fossem trucidados, e queria dizer o que penso sobre o episódio.

Em primeiro lugar, sou contra o uso de exército nos morros cariocas. A Força Nacional, que é militar, tudo bem, ela é preparada exatamente para esse tipo de coisa. Mas o exército não é.

Também não gostei do sentido dessa obra na Providência, patrocinada politicamente pelo senador Marcelo Crivella, contra quem tenho, confesso, bastante aversão. Suas primeiras tiradas durante a campanha à prefeitura do Rio, dizendo que o Gabeira era candidato que defendia "homem com homem" e "maconha", mostraram quem ele é.

O fato dele pertencer à base aliada não muda nada. Hoje em dia, até o diabo quer ser aliado de Lula. E Lula, como presidente da República, não é insano de renegar apoio político, ainda mais de um senador, visto que o Senado é o calcanhar de aquiles de seu governo.

No entanto, por mais que eu tenha aversão à Crivella e ao uso do exército nas favelas cariocas, acho um absurdo a politização barata de um crime hediondo. A culpa não é de Crivella nem do Exército. O tenente e os militares que o obedeceram cometeram um terrível crime contra a humanidade. Desculpe o termo chulo: foi uma inacreditável sacanagem.

Li há alguns dias um texto da Eliane Catanhede (colunista da Folha), infeliz como sempre, que o crime teria sido ainda mais grave porque seriam jovens trabalhadores, não ligados ao tráfico. Nada a ver. Não há nenhuma hierarquia moral aí. Se eles fossem traficantes, a sacanagem seria a mesma, ou ainda pior.

O que os militares fizeram revelou frieza e crueldade em tal escala que me apavora vê-las em qualquer ser humano e mais ainda em membros do exército brasileiro, cujo salários são pagos pela população para protegê-la. Foi uma judaria, uma traição à civilização.

A politização da morte desses jovens é tão podre quanto a que fizeram com o acidente da TAM. O crime foi hediondo e talvez usar o exército para dar proteção às obras na favela tenha sido uma péssima idéia. Mas obviamente Crivella não planejou isso. Nem o exército. E as obras, em si, são bem vindas. O César Maia disse que faria a mesma obra com R$ 3 milhões. Ora, porque não faz então? Por que não faz em outras favelas? A idéia de levar desenvolvimento urbano e social para as favelas é extraordinária. É a única forma de convencer as crianças e adolescentes dessas comunidades de que o Estado não existe apenas para reprimir, mas para ajudar também.

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Hoje fui ver um filme magnífico, O Segredo do Grão, que conta a história de membros de uma comunidade árabe numa cidade portuária francesa. O protagonista é um homem de 61 anos que, depois de ser demitido, resolve usar sua indenização para abrir um barco-restaurante.


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Qual o interesse da mídia em repetir interminavelmente que o tal advogado Roberto Teixeira é "compadre" de Lula? Não sabia que "compadre" era um parentesco tão importante assim. Até onde eu sei, poucas pessoas lembram-se de quem são seus "compadres" de batismo e vice-versa. E por acaso agora alguém é responsável pelos atos de seus "compadres"? Essa é boa. O incrível nesta novela sobre a Varig, é que não há nenhuma acusação clara. Tudo parte de denúncias, contraditórias e tendenciosas, da ex-diretora da ANAC, Denise Abreu, de que Dilma Roussef teria "pressionado" a agência para resolver logo o caso da Varig. Ora, agora pressão é crime? Se o governo é eleito pelo povo, ele tem o poder e o dever, previstos na Constituição, de pressionar quem ele bem entender. Pressão não é crime. Se a Denise Abreu acusasse o governo de ter prevaricado ou interferido diretamente em algum processo, poderíamos encontrar um problema. Qual o problema em pressionar? É o mínimo que se espera do governo. Essas agências não podem se tornar clusters isolados dos interesses nacionais.

1 comentário

Anônimo disse...

belo post

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